Na fase terminal da nossa reunião de 24 de maio de 1956, tivemos a satisfação de receber a visita do Espírito Carlos Goiano, que foi nosso companheiro de ideal em São João del-Rei, Estado de Minas Gerais.
Suas observações, expressivas e simples, revestem-se de singular interesse para a nossa reflexão.
Alguém já disse que os espíritas desencarnados, quando aparecem à barra das comunicações mediúnicas, permanecem carregados de complexos de culpa, e tinha razão.
Quase todos nós, atravessado o pórtico do sepulcro, retornando aos nossos templos de serviço e de fé, somos portadores de preocupação e remorso…
Raros de nós conseguimos sustentar tranquilidade no semblante moral.
E, habitualmente, em nos fazendo sentir, denunciamos a posição de infelizes, entre a queixa e o desencanto, relacionando as surpresas que nos dilaceram a alma, o encontro de dores imprevistas, a identificação de problemas inesperados…
Topamos lutas com as quais não contávamos e derramamos lágrimas de aflição e arrependimento tardio…
Entretanto, isso acontece para demonstrar que, em nosso ideal redentor, esposamos a fé ao modo daqueles que se adaptam por fora a certas convicções intelectuais, guardando anquilosados por dentro velhos erros difíceis de remover.
“Procurai e achareis” — disse-nos o Mestre. (Mt
E na condição de espíritas esquecidos da necessidade de auto-regeneração, usamos a nossa Doutrina na conquista de facilidades temporais que nos falem de perto ao conforto, olvidando que nós mesmos é que deveríamos ser usados por ela na construção de nosso próprio bem, através do bem a todos aqueles que nos acompanham na Terra.
“Procurai e achareis”, sim… Mas procuramos a satisfação desordenada de nossos desejos e buscamos a acomodação com a nossa inferioridade, desfazendo-nos em múltiplos tentames de amparo às requisições de nossa existência materialona, entre os homens nossos irmãos, olvidando, quase que totalmente, os imperativos de nossa reforma, nos padrões do Cristo, que afirmamos acompanhar, e, daí, as tragédias encontradas na própria mente — a velha arquivista de nossos sentimentos, pensamentos, palavras e ações, antiga registradora de nossa vida real — a exibir-nos, à face da Lei, todos os quadros que nós mesmos plasmamos com invigilância deplorável.
Em verdade, como espíritas, fartamo-nos excessivamente no campo das bênçãos divinas.
Todos estamos informados, com respeito às próprias responsabilidades e obrigações, entregues ao nosso livre-arbítrio, sem autoridades religiosas que nos imponham pontos de vista, ou capazes de cercear-nos o voo no caminho ascensional da verdadeira espiritualização.
Sabemo-nos confiados a nós mesmos, diante de Nosso Senhor, para construir abençoado futuro, além da morte, com trabalho inadiável no bem, cada dia, mas sentimo-nos na posse desse tesouro de liberdade à maneira dos filhos perdulários de uma casa generosa e rica que malversam os bens recebidos, ao invés de utilizá-los em benefício próprio.
Assim pois, terminando a nossa arenga despretensiosa, propomo-nos simplesmente recordar outra assertiva do Nosso Divino Condutor: “Batei e abrir-se-vos-á.” (Mt
As palavras do Cristo não são dúbias. Constituem enunciado positivo. “Batei e abrir-se-vos-á.”
Esses verbos, porém, tanto se reportam às portas do Céu como se referem às portas do inferno…
Batamos, assim, à porta do estudo nobre, conquistando o conhecimento superior.
Insistamos à porta da caridade, incorporando a verdadeira alegria.
Procuremos a continência, a disciplina, a educação, e o serviço, com o dever retamente cumprido, para ingressarmos em esferas mais elevadas, a começar desde hoje.
Fala-vos humilde companheiro de ideal e de luta. Não tenho a presunção de ensinar, de recomendar, de salvar…
Auscultando as minhas necessidades, é que, finalizando a conversação, desejo apenas recorrer ainda ao aviso de nosso Eterno Benfeitor: “Ouça quem tiver ouvidos de ouvir!” (Mt
CARLOS GOIANO — Espírita militante, desencarnado no Estado de Minas Gerais.