Astronautas do Além

Capítulo XII

Vencendo o tóxico




Envio-lhe a mensagem recebida numa ligeira reunião de preces, formada com quatro amigos procedentes de cidade distante. Três deles acompanhavam um rapaz que enveredara nos tóxicos. Com ele completávamos um grupo de cinco pessoas. O jovem de vinte e dois anos de idade pediu para orarmos juntos, buscando a força de que se sentia necessitado para esquecer os euforizantes.

Depois da prece o amigo espiritual que lhe fora pai na Terra compareceu em nosso ambiente e escreveu ao filho a carta que vai anexa. O rapaz reconheceu a presença paterna, chorou comovido e levou consigo a mensagem no original. Alguns meses depois voltou ele com dois dos amigos que o trouxeram a,o nosso convívio pessoal. Mostrou-se plenamente refeito, corajoso para a vida. E, ao declarar-se reconduzido aos estudos que havia abandonado, entregou-me uma cópia da carta paterna por nós psicografada.

Os amigos que o seguiam sugeriram-me enviar essa página às suas mãos para a divulgação com nossos estudos conjuntos.

O rapaz também aceitou a ideia, solicitando apenas que o nome do genitor seja colocado em iniciais, por motivo de respeito filial.


Meu filho. Compreendemos, sim. Atiramos-te cedo à luta sem considerar-te a mentalidade em reformulação.

Quantas vezes tua mãe e eu te entregamos a mãos mercenárias e quase sempre irresponsáveis, quando despontavas do berço, à vista dos imperativos de relacionamento social! Noutras ocasiões, assim procedíamos de modo a desfrutarmos sozinhos as horas feriadas que nos surgissem, a título de refazimento ou distração. E, em regressando à casa, nunca te perguntamos pelo que viste ou ouviste, a fim de estabelecermos contigo um diálogo adequado para que se te pacificasse o espírito inquieto à frente da vida.

Enviamos-te à escola, no entanto, para falar a verdade, não expressávamos interesse permanente por teu currículo de lições. E quando nos apresentavas certos assuntos colhidos involuntariamente à margem do ensino, frequentemente dávamos de ombros, julgando-te a conversação demasiado infantil, afastando-nos sob pretexto de serviço urgente.

Largamos-te às impressões alheias, nem sempre as mais construtivas, de maneira a nos encasularmos no ócio doméstico.

Quiseste associar-nos às tuas companhias e leituras, caminhadas e afetos, mas, via de regra, recusamos-te o convite, com a desculpa de fazer dinheiro ou mobilizar providências para sustentar-te, qual se fosses um peso em nossa economia ao invés de abençoada luz do nosso amor. Distanciamo-nos de ti e deixamos-te a sós, impensadamente é verdade.

Achávamo-nos como que anestesiados pela obsessão de ganho para excessivo reconforto, incapazes de oferecer-te cobertura nos domínios do coração. A morte, entretanto apareceu quando nem havíamos começado a pensar convenientemente na vida, a transferir-nos de Plano e hoje, vemos-te em perigo, espiritualmente desprotegido, cansado, desiludido, enredado em desequilíbrio e doença. Somente agora reconhecemos o quanto te amamos, unicamente agora notamos que não teremos futuro sem ti. E porque nada conseguimos realizar de bom sem amor, ante a necessidade de nossa reintegração nos interesses e aspirações uns dos outros, abeiramo-nos com humildade do caminho em que segues hoje, tão longe de nós, para dizer-te simplesmente: — Considera o nosso engano e perdoa-nos, meu filho!…




As criaturas que se aturdem com a situação atual do mundo geralmente não sabem que ela repercute de maneira profunda no mundo espiritual, nesse universo paralelo que nos cerca e com o qual estamos em permanente comunicação. Em nossas reuniões mediúnicas, temos recebido a visita de “hippies” do Além, alguns ainda presos à sua desorientação terrena, outros já refeitos e que se portam como “hippies” no bom sentido, convertendo ao bem os seus hábitos e as suas expressões. A juventude transviada é o produto da desorientação dos pais, da maldade dos adultos, do egoísmo que corrói o coração das velhas gerações. Por isso, a revolta dessa juventude é um desafio à nossa falta de compreensão e à nossa falta de amor.

No episódio que hoje divulgamos temos a retratação de um pai que volta ao meio terreno, através da mediunidade de Chico Xavier, para pedir perdão ao filho que não soube compreender em vida. O resultado, como vimos, foi satisfatório, pois o coração do filho, sedento de amor, encontrou na mensagem paterna o bálsamo que lhe faltava. Graças a isso conseguiu vencer o seu desespero e reintegrar-se na vida e nos estudos que havia abandonado. Se os pais de hoje pudessem compreender o sentido e o objetivo da vida terrena que a mensagem espírita esclarece, esta fase de transição do nosso mundo seria menos trágica.

A civilização do conforto, do gozo, da ganância sem limites, apagou o espírito e lançou a criatura humana nas trevas. “Achávamo-nos como que anestesiados pela obsessão de ganho para excessivo conforto — escreve o pai nas garras do remorso — incapazes de oferecer-te cobertura nos domínios do coração”. () É essa a situação da maioria das criaturas nesta fase final de uma civilização que se devora a si mesma. Mas Deus não se esqueceu dos homens e os leva, pelo despertar mediúnico, à civilização do espírito, reacendendo na carne as luzes espirituais que espantarão as trevas.

Somos “bichos”, segundo a expressão “hippie”, preferindo a vida animal à espiritual. Buscamos “paz e amor”, mas a paz do conforto ilusório e o amor carnal. Mas os Espíritos ressuscitam a mensagem do Evangelho e provam, como o Cristo provou no seu tempo, com os dramas da obsessão e da possessão, que o nosso destino é espiritual e não material, que o nosso rumo é a transcendência e não a acomodação às condições animais do corpo.