Precedendo a nossa reunião pública, as opiniões em torno da palavra assumiam várias características. Principalmente no trato das criaturas que nos cercam, como seria melhor o nosso comportamento verbal? Assim diziam muitos dos nossos irmãos presentes. E as respostas diferenciadas iam surgindo.
Companheiros muitos afirmavam que é preciso destacar o mal a fim de extingui-lo, mostrando-lhe as cores agressivas. Outros asseveravam que é necessário dar ao palavrão liberdade completa para que a pessoa se desiniba. Outros diziam que a criatura deve alijar qualquer pensamento que lhe nasça no cérebro em forma de palavras, para descartar-se das impressões de que se veja objeto. E outros ainda optavam pelo controle de nossas possibilidades verbais a fim de nos educarmos para a vida.
Iniciada a reunião O Livro dos Espíritos nos deu para estudo a questão 918. () E o nosso amigo espiritual Albino Teixeira, na fase final, esteve presente com sua mensagem.
Sempre que a nossa palavra:
censura; justifica; levanta; rebaixa; deprecia; louva; depreda; restaura; complica; auxilia; apoia; fere; abençoa ou condena seja a quem for, |
estamos fazendo o nosso próprio retrato. E isso acontece porque sendo as atitudes, os pensamentos, as ideias, as emoções, os planos e as intenções dos outros, realidades dos outros — cujas origens autênticas não conseguimos penetrar — toda vez que nos referimos aos outros estamos sempre efetuando a projeção parcial ou total de nós mesmos.
Albino Teixeira não perdeu tempo. Diante das confusões do diálogo humano sobre a palavra deu um aparte rápido, desfechou a martelada final. Nada mais disse nem lhe foi perguntado. A mensagem incisiva acertou no meio do alvo. A palavra é projeção da alma. A gente fala do que o coração está cheio, diz o provérbio. (Mt
Santo Agostinho diz, na sua resposta a Kardec, que Deus colocou os inimigos ao nosso lado como espelhos, pois eles dizem o que sentem a nosso respeito sem o disfarce piedoso dos amigos. () Albino Teixeira considerou a palavra como auto-retrato parcial ou total. Ambos mostram-nos a importância da palavra como forma de revelação do que somos. Os inimigos dão-nos o seu próprio retrato nas ofensas que nos dirigem, mas como refração do retrato pessoal que lhes demos em nossas palavras.
O palavrão empregado como catarse, como desabafo, não é apenas isso. É também confissão das sujeiras que trazemos por dentro. E confissão não basta para limpar a alma. Não podemos esquecer que as modernas teorias da desinibição partem de psicólogos materialistas que nada entendem dos problemas da alma, que consideram os problemas psíquicos em termos de reflexos orgânicos. A própria Parapsicologia atual condena essas psicologias sem alma que perderam o seu objeto, como lembrou o Prof. Rhine, classificando-as como simples ecologias, estudos da relação entre sujeito e meio.
No outro extremo do assunto temos o farisaísmo da palavra fingida, adocicada a ponto de dar enjoo. Nem tanto ao sal, nem tanto ao açúcar. No meio é que está o certo, a dosagem correta. Por isso ensinou Jesus: (Mt
A pergunta 919 de O Livro dos Espíritos refere-se ao meio mais eficaz de nos melhorarmos. A resposta é dada por Santo Agostinho que encarece a importância de nosso exame diário de consciência sobre o que fizemos e dissemos durante o dia.