Astronautas do Além

Capítulo XXII

Receio e desânimo




As tarefas da noite foram precedidas por muitas alegações de receio e desânimo, frente às lutas da vida na atualidade, por parte de dezenas de amigos que nos visitavam. Muitos episódios tristes, muitos casos de provação.

O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu o item 19 do capítulo XXIV para estudo. () E o nosso amigo espiritual, Emmanuel, complementando as lições da noite, escreveu por nosso intermédio a página Vencerás.


Não desanimes. Persiste mais um tanto.

Não cultives pessimismo. Centraliza-te no bem a fazer.

Esquece as sugestões do medo destrutivo.

Segue adiante, mesmo varando a sombra dos próprios erros.

Avança ainda que seja por entre lágrimas.

Trabalha constantemente. Edifica sempre.

Não consintas que o gelo do desencanto te entorpeça o coração.

Não te impressiones à dificuldade.

Convence-te de que a vitória espiritual é construção para o dia a dia.

Não desistas da paciência.

Não creias em realização sem esforço.

Silêncio para a injúria.

Olvido para o mal.

Perdão às ofensas.

Recorda que os agressores são doentes.

Não permitas que os irmãos desequilibrados te destruam o trabalho ou te apaguem a esperança.

Não menosprezes o dever que a consciência te impõe.

Se te enganaste em algum trecho do caminho, reajusta a própria visão e procura o rumo certo.

Não contes vantagens nem fracassos.

Estuda buscando aprender.

Não te voltes contra ninguém.

Não dramatizes provações ou problemas.

Conserva o hábito da oração para que se te faca luz na vida íntima.

Resguarda-te em Deus e persevera no trabalho que Deus te confiou.

Ama sempre, fazendo pelos outros o melhor que possas realizar.

Age auxiliando. Serve sem apego.

E assim vencerás.




Todos sabemos que a vida é uma luta. Não estamos na Terra para sofrer nem para gozar, mas para vencer. Lutamos contra o meio ambiente, contra os desajustes da estrutura social, contra doenças e incompreensões, contra a maldade humana e a agressividade dos elementos, contra as influências espirituais negativas, mas principalmente contra as nossas próprias deficiências, contra as nossas ambições e o nosso egoísmo. O desânimo nos assalta quando nos consideramos injustiçados, esquecidos por Deus, submetidos a penas que não afligem os outros. É o momento em que o nosso egoísmo se manifesta na revolta do orgulho.

O exemplo de Jesus devia lembrar-nos a técnica da vitória. Ele tomou a sua cruz sem nada dever e na hora suprema do sacrifício injusto orou ao Pai em favor dos seus algozes. Alguns dentre nós, mesmo os mais aparentemente evoluídos, poderiam considerar-se mais dignos da atenção de Deus do que Jesus? Ele não nos mandou tomar a nossa cruz e avançar sozinhos, mas segui-lo. Porque à frente de todos nós seguiu Ele ao peso da cruz que não merecia. Sua missão era transformar o mundo, salvar os homens da maldade, libertá-los do egoísmo que os fazia arrogantes e impiedosos. Sua técnica não foi a da revolta mas a da resignação e da fé.

Não há dúvida de que a fé pode vacilar no coração do homem que suporta pesadas provas, mormente quando essa fé é apenas emocional e não racional. Mas os que já, aprenderam que a vida tem um sentido, tem uma finalidade, e que as provas da vida correspondem às necessidades evolutivas de cada um — devem possuir uma fé mais vigorosa. No meio do torvelinho lembremo-nos de que as forças desencadeadas tendem obrigatoriamente a restabelecer-se no equilíbrio natural. Tudo na vida humana é passageiro, nada permanece para sempre. Por que nos desesperarmos quando sopra a ventania, se sabemos que ela passará inevitavelmente?

Emmanuel nos lembra- ainda o poder do amor, o maior de todos os poderes, que podemos usar em nossa defesa. A confiança em Deus — pois Deus é amor, como ensinou o apóstolo João (1Jo 4:8) — e o conhecimento da lei do amor devem socorrer-nos nas horas de aflição. Usando esses recursos da técnica da vitória, nada temos a temer. Os que se entregam e sucumbem são desertores.



O item citado do capítulo XXIV é um breve comentário de Kardec ao ensino de Jesus: “Se alguém quiser seguir-me, negue-se a si mesmo e tome a sua cruz e siga-me”. O comentário acentua o sentido espiritual desse trecho evangélico, lembrando que enfrentamos na Terra as vicissitudes necessárias ao nosso desenvolvimento espiritual.