Astronautas do Além

Capítulo XXIII

Reclamações amargas




A nossa reunião pública era integrada por grande número de pessoas em luta com familiares e companheiros que estavam ausentes. Pais inimizados com os filhos, genros e noras queixando-se dos sogros, sócios em desavença, depois de abraçarem, juntos, os interesses das empresas em que se harmonizavam, irmãos contra irmãos.

Tratava-se de uma noite de sábado. E a nossa visita em grupo a diversos lares de irmãos em necessidades materiais e espirituais, maiores do que as nossas, estava pontilhada de reclamações amargas.

Um dos amigos, na caminhada de fraternidade, chegou a dizer que pedira ao espírito de Cornélio Pires, alguma página de consolo e esclarecimento, pois dizia-se ameaçado de receber humilhações de antigos associados da firma comercial que fundara.

Iniciadas as tarefas espirituais para o encerramento dá nossa peregrinação da noite, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu a estudar a página intitulada Ódio, no item 10 do capítulo XII. () E, com grande reconforto para nós todos, o nosso Cornélio veio e escreveu a mensagem que intitulou Ódio e Vida.



Recebi o seu bilhete,

Meu caro Joaquim Lorena.

Respondo: — ódio é loucura

Que nunca valeu a pena.


Sei que você tem sofrido

Muita pedrada encoberta…

Mas não se vingue. Perdoe.

O tempo tudo conserta.


Quem apanha aguenta feras,

Assim qual você me diz,

Mas quem ofende ou maltrata

É muito mais infeliz.


Para quantos nos imponham

Golpe, injustiça, pesar,

Injúria ou perseguição,

A desforra é perdoar.


Assim é, porquanto a vida

Não faz princípios em vão.

E a vida extingue as discórdias

Na Lei da Reencarnação.


Veja o problema de Amélia:

Por ódio arrasou com Benta,

Mas Benta nasceu de novo,

É a filha que ela amamenta.


Numa aversão prolongada,

Ninica matou Concheta…

E eis que a vítima voltou,

São agora avó e neta.


Numa briga provocada

Cristino apagou Léo Gama…

Léo, porém, tornou à Terra,

É o filho que ele mais ama.


Prejudicavam-se em ódio,

Rosendo e Janjão de Tuta…

Morreram e renasceram,

Dois irmãos gêmeos em luta.


Lalau em longa demanda

Matou Quincas da Moenda…

Quincas voltou, é o netinho

Que vai herdar-lhe a fazenda.


Por ódio ao genro, o Trajano

Caminha de mal em mal,

Sempre esgotado e nervoso,

De hospital para hospital.


Se você quer ser feliz

Nunca se arrede do bem,

Auxiliando e servindo,

Não pense mal de ninguém.


Perante a Bênção da Vida

Perdão é saúde e fé,

Ame e perdoe, caro amigo,

Deus é Amor, isso é que é.


Cornélio Pires


Psicólogos modernos sustentam que o ódio é uma necessidade que tanto devemos amar como odiar. E alguns, mais ferozes na sua concepção da vida, chegam mesmo a afirmar que devemos odiar com o máximo de intensidade e externar o ódio para que ele não nos envenene. O conceito do homem que essa psicologia nos apresenta é em si mesmo um grave sintoma de enfermidade mental. A imagem desse homem animalesco decorre de uma visão mórbida da criatura humana esmagada pelos instintos animais. Não obstante, a própria Psicanálise; imantada inicialmente ao conceito da libido, já desde Freud encontrou a válvula da sublimação. E seus avanços posteriores, ao lado de progressos notáveis da Psiquiatria e das pesquisas psicológicas em vários campos, confirmaram a teoria espírita dos instintos espirituais que orientam a nossa formação humana,

Querer extinguir o ódio com a prática da odiosidade é o mesmo que pretender apagar o fogo com gasolina. Ódio gera ódio. Por isso, como Cornélio Pires ilustra nas suas quadras, o incêndio do ódio, que alimentarmos em nós e nos outros, terá de ser apagado pelos princípios da vida através da reencarnação. O Evangelho do Cristo substituiu a lei bíblica do olho por olho e dente por dente pela lei do amor ao próximo, incluindo no próximo os próprios inimigos. Onde não existir a luz do perdão as reencarnações dolorosas se processarão em círculo vicioso. Ficaremos presos à roda viva dos resgates penosos, por séculos e milênios, até aprendermos a amar os inimigos.

O ódio é destruidor, é o ácido corrosivo da inferioridade espiritual. O homem que odeia se animaliza, rebaixa-se ao nível das feras. O amor é a força criadora que distingue o homem do bicho. A desforra do homem inferior é a injúria, a agressão, a vingança, o assassinato. A desforra do homem superior é o perdão. Quando perdoamos, desarmamos o adversário, ajudamo-lo a fazer-se criatura humana, a ser gente. Toda a cultura humana se assenta no amor: O ódio é a negação da cultura, o domínio da barbárie, como vemos diariamente no mundo do crime. Só os loucos defendem e pregam o ódio, porque a mente desequilibrada semeia o desequilíbrio.



Aos sábados Chico Xavier realiza a tradicional Peregrinação que consiste numa visita coletiva a famílias necessitadas. A cada lar é levado um pequeno auxílio material, fazendo-se no momento da entrega, a leitura de uma mensagem espiritual. Chico conversa com os visitados, dando conselhos e orientação espiritual. Grande número de pessoas de outras cidades participam dessas visitas.