As opiniões sobre o feminismo explodiam nos comentários que precederam a nossa reunião pública. Era noite de sábado. Em nossa visita aos lares de vários irmãos, os grupos de companheiros procedentes de cidades diversas falavam da posição da mulher na atualidade.
De todos os pareceres sobressaiam, felizmente, as considerações sobre a maternidade e sua importância evidente para o mundo e a vida. Mas, apesar disso, definições estranhas eram formuladas por várias irmãs que discutiam os problemas do feminismo acaloradamente.
Quando terminou a visitação em que nos empenhávamos, foi iniciada a parte final de nossas tarefas com a reunião habitual, quando se comunicam os nossos Benfeitores Espirituais. Depois do estudo rápido da codificação kardequiana, feita a prece inicial. O Livro dos Espíritos nos ofereceu à meditação a questão 890. () E ao término de nossos ligeiros estudos foram várias as poetisas desencarnadas que se comunicaram, dando-nos pela psicografia as trovas a que denominaram Notas de Mulher.
NOTAS DE MULHER.Na estrada mais rotineira O homem, por mais que valha, Quando perde a companheira A vida se lhe atrapalha. Sócrates, César, Cervantes… Homens de brilho imortal… De todos esses gigantes A mulher é o pedestal. Muito Espírito no Além, Sonhando a luz do porvir, Pede um corpo de mulher Para aprender a servir. Conceito sábio e profundo De inspiração lapidar: O homem levanta o mundo, A mulher sustenta o lar. É preciso andar sem corpo, Vagando de alma ferida, Para saber quanto vale Um colo de mãe na vida. Um berço que a vida empresta Para elevar o destino, É Deus que se manifesta No coração feminino. Mulher errada de todo?!… Mera injúria ao que não há. Joga a semente no lodo Que o lodo florescerá. No mar revolto da vida, Ao sabor de vento e vaga, Por mais largada e esquecida, Mãe é luz que não se apaga. Entre as criaturas mortais, Ante ilusões e empecilhos, Irmãs, não vos esqueçais Que os homens são nossos filhos. Mães e mãos — harpas de amor De poder incontroverso Com que Deus cria o trabalho Por música do Universo. Enquanto a mulher for mãe, Por mais que o mundo a degrade, Isto é sinal de que Deus Confia na Humanidade. |
O problema do feminismo foi solucionado pelo Espiritismo, em meados do século passado. A questão 890 de O Livro dos Espíritos () trata do amor maternal e a questão 822 () coloca o problema da igualdade entre o homem e a mulher. A solução é simples e precisa: igualdade de direitos e diversidade de funções. Homem e mulher se complementam na vida terrena, são formas de encarnação com funções diversificadas na dinâmica da evolução. Na forma masculina, o Espírito enfrenta experiências que lhe desenvolvem as faculdades viris; na forma feminina, as que lhe aprimoram as faculdades afetivas. Por mais que se acentuem as mudanças sociais no mundo, haverá sempre a diversidade de funções entre homem e mulher, mas a igualdade de direitos se acentuará com o desenvolvimento da civilização.
É o que ressalta de uma análise de conjunto das trovas mediúnicas dessas onze poetisas desencarnadas, todas elas conhecidas em nossas letras. Antonieta Saldanha define bem a situação, nos versos: O homem levanta o mundo / A mulher sustenta o lar. () No campo dos direitos, a mulher pode desempenhar encargos até há pouco só reservados aos homens, mas, no campo das funções, cada qual tem a sua posição biológica e social bem definida e irreversível. Um poeta espiritual soprou-nos a seguinte trova que parece esclarecer a questão:
Homem e mulher — dois tempos
Do verbo amar sobre a Terra
Em que as almas se conjugam
Na vida que se descerra.
O feminismo exacerbado é tão insensato como o machismo. Ambos representam posições extremas que revelam incompreensão do problema. O homem que escraviza a mulher diminui a si mesmo, e a mulher que pretende sobrepor-se ao homem nada mais faz do que aviltar-se. Quando a mulher assume na vida social uma função masculina, o seu dever não é competir com o homem, mas dar-lhe o exemplo de desempenho equilibrado dessa função em que o homem, pelo seu machismo ridículo, em geral se desmanda. As mãos da mulher, como acentua Julinda Alvim, na sua trova, () devem semear notas de amor na função em que o homem só tem desferido marteladas.
Alguns espíritas não aceitam a tese doutrinária da encarnação do Espírito ora como homem, ora como mulher. São criaturas sistemáticas e convencidas da suposta superioridade masculina. Mas a verdade espírita é uma só: o espírito não tem sexo e as suas encarnações dependem das exigências da evolução espiritual; não se sujeitando à tolice dos preconceitos humanos. Basta lembrarmos que, sem a mulher, o homem não poderia existir e, sem o homem, a mulher também não existiria.