A nossa reunião pública, integrada por vários grupos de companheiros, teve por tema central a questão 745 de O Livro dos Espíritos. () Os comentaristas presentes falaram sobre os quadros aflitivos das guerras do passado e daquelas que ainda hoje acontecem no mundo. Figuras destacadas dos conflitos humanos foram lembradas. E o assunto como que envolveu todos os amigos presentes, suscitando opiniões diversas.
Ao término da reunião, foi o nosso caro Emmanuel quem escreveu os apontamentos finais da noite na página Paz e Amor.
Lembra os que passaram no mundo, antes de ti, agindo e auxiliando para que a vida se fizesse melhor.
Por outro lado, reflitamos que não restam senão cinzas daqueles outros que instalaram ódio e vingança em si mesmos, perseguindo os próprios irmãos… Esses transitaram nos caminhos terrestres disseminando viuvez e orfandade. Vestiram-se muitas vezes de ouro e púrpura, assinalando, porém, a retaguarda com as marcas infelizes do luto e da opressão. Foram considerados vencedores e, no entanto, desapareceram largando penúria e morte nos próprios passos.
Aqueles, porém, que te legaram o recanto acolhedor em que estagias no mundo, caminharam sofrendo e abençoando, desculpando e servindo. Considera tudo aquilo que possuis de bom e belo na própria alma e reconhecerás que as ideias mais elevadas te surgem da mente à maneira de fontes inspiradoras, jorrando diretrizes, através das memórias que te deixaram, semelhantes a mosaicos de luz…
Aqui, é a dedicação dos pais orientando-te os dias primeiros; ali, é a tolerância dos benfeitores que te apoiaram na escola; adiante, é o coração amigo que te deu a bênçãos do afeto por mensagem de segurança; mais adiante, é o amor de alguém que partiu para a Vida Maior hipotecando-te confiança e carinho; e, às vezes, mais além, é uma criança que te entregou o berço vazio, depois de pousar contigo por algum tempo, a doar-te, em beijos de ternura, os anseios da Vida Imperecível.
Não te aflijas pela obtenção de tarefas enormes.
Agradece a todos os que te proporcionaram os testemunhos de paz e amor com que sonhas entretecer o futuro melhor e não esmoreças no trabalho de elevar e construir.
O Senhor não nos roga o impossível, mas espera sejamos, ainda hoje, a frase que reconforta, o silêncio que compreende, o abraço fraterno que levanta a coragem dos tristes ou o apoio dos que vagueiam ao desamparo.
Efetivamente, são ainda muito grandes as labaredas de inquietação que varrem a Terra. Observa, no entanto, que ninguém te reclama prodígios capazes de redimir o mundo de um instante para outro. E nem Deus nos pede espetáculos de grandeza. Onde estiveres, estende o tijolo do amor que possas oferecer ao edifício da paz e, a fim de extinguir o incêndio das aflições humanas, dá teu copo de água fria.
Tijolo a tijolo o homem constrói a sua casa, destinada a ser o seu refúgio no mundo. Ali dentro procurará desenvolver as intuições que traz da vida espiritual, na criação paciente do lar, no convívio amoroso da esposa e dos filhos. A casa é o seu ninho de amor. É o meio adequado à germinação das sementes divinas semeadas por Deus no seu coração. O ego solitário e duro como pedra, que caracteriza a individualização, será rompido como as lajes da calçada pelo poder sereno e suave da relva.
Primeiro a mulher que o atrai pelo magnetismo da espécie e, depois os filhos, que o prendem pelos laços da afinidade, forçam naturalmente a expansão do seu egoísmo que é o amor em semente, fechado em si mesmo. Como a semente, o seu ego se rompe e pelas brechas da casca o amor começa a germinar. É o processo de socialização que se desenvolve. Do lar o amor se expandirá para os demais familiares, para o meio social, para a Humanidade.
Mas antes de atingir o grau superior do amor ao próximo, ensinado por Jesus, a planta em desenvolvimento se enroscará no muro ou na cerca e se enrolará como trepadeira espinhosa, defendendo o seu reduto. É a fase do sociocentrismo, do apego ao meio familiar e social, quando os outros não aparecem como nossos semelhantes, mas como estranhos. A reencarnação se incumbirá de romper mais essa barreira. E de casa em casa, de família em família o homem se abrirá finalmente para a amplitude universal do amor.
As guerras e as aflições da guerra provém dos resíduos do egoísmo. Para superá-las no plano social temos primeiro de superar o orgulho, a vaidade, a arrogância, a auto-suficiência, esses restos da casca da semente que ainda persistem em separar-nos dos outros. Temos de nos desapegar da nossa vida para encontrarmos a verdadeira vida, como lemos no Evangelho. A nossa vida é um fragmento da vida abundante, do oceano de vida que anima o Universo. Sem compreendermos isso nunca teremos paz.
A expressão de Emmanuel: () “o tijolo do amor” nos mostra que só o amor constrói, mas não constrói para prender-nos de novo entre muros e cercas de espinhos e sim para libertar-nos. O “copo de água fria”, por sua vez, é a água da paz que damos aos outros e que no simples gesto da doação apaga “o incêndio das aflições humanas”. Essa receita exige a nossa reflexão.