Mensagem do Amor Imortal (A)

CAPÍTULO 4

LEPROSO E SAMARITANO



Lucas 17:12-19

Eram dias de inefável alegria.

A música da esperança cantava no ar todos os poemas de encantamento e de expectativa, inundando os corações de paz e de alegria de viver.

As aragens da Era Nova sopravam gentilmente por toda parte, amenizando a aspereza dos tempos rudes, ora suavizados pela presença do Mestre entre as criaturas.

As jornadas sucediam-se ricas de encantamento e de expectativa.

Aqueles dias mornos de primavera transcorriam como bênçãos que descessem dos Céus à Terra, felicitando os corações.

Nunca houvera antes movimentação humana tão expressiva. As massas esfaimadas de pão, de saúde e de amor acorriam aos lugares mais distantes ou de difícil acesso, a fim de vê-lO, de ouvi-lO, de receber-Lhe as dádivas incomuns da misericórdia.

Jesus sintetizava todas as informações escriturísticas anteriores, que anunciavam o advento do Messias ao planeta sofrido, aos homens e mulheres ansiosos por paz e por motivos para viver.

Não é de estranhar-se que Ele sempre estivesse cercado pelas multidões que O buscavam aflitas, desesperadas.

À semelhança do Sol, todos necessitavam do calor da Sua palavra, da Sua presença, do Seu inefável sentimento de amor, com que se nutriam e se encorajavam para prosseguir na jornada encetada.

A estada em Jerusalém fora rica de bênçãos. A Sua figura incomum cativara muitos corações e apavorara os covardes dominadores do povo.

Religiosos e políticos buscaram-se com ansiedade, a fim de encontrarem um meio de silenciar-Lhe a voz, de anular-Lhe a presença.

O Seu verbo penetrava as mentes e os corações, desatando emoções represadas que marchavam para a morte. E por isso, todos aqueles que O sentiam, experimentavam uma renovação incomum, alentadora.

Jesus jamais se permitia demorar-se onde o ministério não se fizesse de urgência. Logo concluía o labor que estabelecera para aquele período, seguia adiante como rio tranquilo que segue na direção do mar. O Seu era o oceano da misericórdia do Pai Incomparável. Por isso mesmo, Ele deixara Jerusalém com os companheiros e seguira na direção da Galileia, passando pela atormentada Samaria.

As aldeias sucediam-se, pobres e esquecidas pelos poderosos.

O poder temporal centralizava o seu interesse apenas nas cidades-capitais onde estavam as sedes da governança, com absoluto desinteresse pelo povo, pelos lavradores, pescadores, vinhateiros, produtores dos recursos que mantinham o país.

Banqueteavam-se na luxúria sob todos os aspectos considerada.

O abuso do poder estabelecera a indiferença pelos que deles dependiam.

A avareza e o desperdício caracterizavam a sua frieza e morbidez.

Como consequência, os pobres estorcegavam nas garras da miséria crescente e tombavam no desfalecimento ou na alucinação.

Aquela era uma das muitas aldeias anônimas e infelizes da sofrida Samaria.

Ali se misturavam as enfermidades irrecuperáveis, os sofrimentos inenarráveis, a indiferença mórbida pela dor do próximo, a que todos se acostumaram, todos que eram, de alguma forma, desventurados também.

A lepra, que ceifava muitas vidas, não atingia apenas os que já eram infelizes socioeconômicos, mas também aqueloutros que eram portadores de chagas morais, embora a situação privilegiada de que desfrutavam no mundo. Não, porém, os havia ali, porquanto o lugar era realmente insignificante.

O Mestre, que amava os infelizes de todos os matizes, optara por passar pela região, desejando diminuir-lhe as exulcerações espirituais, que se manifestavam na organização física ultrajada pelas enfermidades.

Desse modo, logo chegou, de longe, dez leprosos, com as feridas em chaga viva e sabendo do Seu poder, suplicaram-Lhe ajuda aos gritos.

Tomado de infinita compaixão, penetrou-os com o Seu olhar e lhes ordenou que fossem apresentar-se aos sacerdotes e aos responsáveis pela comunidade. E quando eles seguiam ansiosos, as úlceras foram desaparecendo dos tecidos que se recuperaram, provocando-lhes grande, infinito júbilo.

Seguiram, então, adiante, tomados de contentamento incontrolável, menos um, aquele que retornou para agradecer.

O dia salmodiava emoções de felicidade em toda parte, quando ele, glorificando a Deus em alta voz, prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, dando-Lhe graças.


Não obstante os discípulos estivessem acostumados com o Amigo, que sempre socorria a dor conforme se Lhe apresentasse, foram tomados também de contentamento. Jesus, porém, interrogou o paciente:

-Não foram limpos os dez? E os nove, onde estão? Não se achou quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?

Os ingratos, aqueles que se houveram beneficiado, e eram duros de coração, seguiram adiante, sem terem sequer o sentimento de gratidão Àquele que os limpara da cruel enfermidade.

Os ingratos prosseguem em todos os segmentos da sociedade, nos diferentes períodos da Humanidade. Sempre aguardam receber, jamais se preocupam em retribuir, pelo menos em palavras, em hosanas. Sentem-se credores de todo merecimento, e, por isso mesmo, a soberba e a presunção os intoxicam, saindo de um para outro problema, de uma para outra dificuldade.


Sensibilizado com o gesto daquele samaritano, detestado e combatido pelos judeus, Jesus lhe confirmou a cura, determinando:

— Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.

O incomparável poder de Jesus confundiria sempre os Seus inimigos, que O considerariam endemoninhado, como se o mal pudesse operar o bem e o adversário se dedicasse a auxiliar aquele a quem deveria perseguir.

Paradoxo do comportamento humano! Na impossibilidade ou na indiferença para crescer, a fim de entender quanto ignora, descobrindo a realidade que se encontra além da forma, da aparência, procura justificativas absurdas para apoiar a sua descrença, as suas mórbidas suspeitas, os seus sentimentos contraditórios.

Ninguém que haja podido agir conforme Jesus, que permanece insuperado.

Aqueles dias, que não mais retornaram, foram o prólogo da Era que se estabelecerá na Terra, em ocasião oportuna, quando os seres humanos se resolverem pelo amor e pela renovação íntima, trabalhando os metais da indiferença moral e modelando-os, a fim de que se permeiem de sentimentos enobrecedores.

São encontráveis em todo lugar os ingratos, os déspotas, os perversos. Buscam soluções para os problemas que geram, ficando impermeáveis à renovação moral, que os tornaria receptivos à felicidade. E porque não operam a transformação moral de dentro para fora, mesmo quando ajudados e conduzidos ao caminho do bem, retrocedem às posturas anteriores, permanecendo amargos, insaciáveis, exceto algum samaritano, que dá glória a Deus e segue o roteiro novo da verdade.

Eram dez os leprosos, e um deles era samaritano, o que voltou para agradecer a Jesus, e por isso adquiriu a cura permanente, real. . .


Miami-USA, em 26. 02. 2003.


AMÉLIA RODRIGUES