A sinfonia de bênçãos pairava no ar, mesmo após encerrada a sua execução.
O Sermão da Montanha jamais silenciaria a sublime voz do Cantor Celeste, musicando a Humanidade e direcionando-lhe os passos no rumo da perfeição.
Jamais alguém dissera ditos indizíveis como aqueles. A ostentação e o vício sempre haviam elegido o poder e a dominação, a fim de permanecerem em triunfo, o que era comum e repetitivo.
A ilusão dourada, em todos os tempos, havia entorpecido o entendimento das pessoas de tal forma, que felicidade e ambição arrimavam-se uma à outra na façanha de conquistar o maior número de aficionados.
A inferioridade latente no ser humano permanecia em franco desenvolvimento, impedindo o surgimento das faculdades nobres, em face das concepções equivocadas em torno da existência terrestre.
As diretrizes religiosas que deveriam libertar as mentes e os sentimentos jaziam asfixiadas nas fórmulas e extravagâncias dos cultos externos que a hipocrisia dos sacerdotes sabia preservar.
As massas volumosas e sofredoras jornadeavam a esmo, sem roteiro nem conhecimento do próprio destino.
Submetiam-se, inermes, aos poderosos, assimilando-lhes as torpezas e mesquinharias, imitando-lhes as condutas reprocháveis.
O predomínio do instinto criara a ética do vitorioso sobre o vencido, do senhor sobre o escravo, mais confundindo a conduta moral subserviente e interesseira a serviço do dominador.
Jesus, porém, veio, e fez-se o Libertador.
Entoou o hino da fraternidade, unindo todos os seres humanos, enquanto abraçava o sofrimento em rudes triunfos em toda parte, esmagando uns, submetendo outros, vítimando a sociedade. . .
Arrebentou os grilhões da hipocrisia e desnudou a crueldade disfarçada como justiça infeliz, estabelecida pela cegueira da força.
Inspirou ternura e inaugurou o período desconhecido do amor.
Acostumadas à dureza da Lei antiga e do Decálogo, as pessoas estorcegavam sob as chibatadas da impiedade severa para os pobres e os fracos, benigna para os que se refestelavam na abundância e no poder de mentira.
Enquanto Ele, porém, sofria a suspeita dos maus e a desconfiança dos hipócritas, as Suas ações confirmavam-Lhe a ascendência moral e a procedência espiritual.
Esmagados pela miséria de toda sorte - moral, econômica, social, orgânica, espiritual — experimentaram a grandeza dos Seus recursos ante as enfermidades, as provações e expiações mais rudes que se Lhe submetiam ao comando, modificando-se totalmente.
Mesmo os Espíritos desditosos e perversos, ignorantes e déspotas, despertavam ante o Seu verbo sublime, obedecendo-Lhe as determinações libertadoras e felizes.
Apesar de todos esses valores, foi, porém, naquele inolvidável sermão que Ele reverteu a ordem vigente, quando estabeleceu o esquema dos reais significados que transcenderam ao estabelecido.
Propôs, então, a mudança das hierarquias poderosas e vigentes, qualificando os indivíduos pelo seu despojamento e não pelas cargas de coisas nenhumas, pela sua realidade moral e não em razão da posição social temporária, tendo em vista o interior desconhecido em detrimento do exterior tumultuado. . .
Naquele momento, que nunca mais voltaria a acontecer, no pentagrama que se fez sinfonia, as notas musicais foram diferentes: os pobres em espírito, os puros e simples de coração, os misericordiosos, os humildes e humilhados, os perseguidos por amor da Justiça, os esquecidos do mundo. . .
Foi uma explosão de bênçãos que aturdiu, logo cedendo lugar aos júbilos inefáveis do coração, que jamais haviam experimentado anteriormente.
Foi-se a nuvem pressaga de desgraças, surgindo a claridade da esperança em forma de incomparável alegria.
Jamais será esquecido aquele dia, nunca mais se repetirá o que aconteceu naquelas horas, fazendo que o mundo e as criaturas se tornassem diferentes, direcionando os destinos em outro rumo, modificando as expectativas em face das promessas dantes nunca apresentadas.
saiu inebriada e somente no futuro, num futuro mais distante repetiria as estrofes, os cânticos imortais.
Reencarnar-se-iam muitas vezes, aquelas testemunhas, até que o alimento absorvido, nutriente, se exteriorizasse, ressurgindo nas eras sucessivas, felicitando os demais indivíduos que ali não estiveram presentes.
(. . .) E até hoje, aquela melodia balsâmica e reconfortante, vem alcançando os ouvidos cerrados dos homens e das mulheres fascinados pela mentira e pela ilusão, tentando despertá-los.
-Desde quando surgiste na minha e na vida dos amigos — Sol em noite escura e tormentosa! — Alteraram-se-me os sentimentos, e hoje, ante a magnitude das Tuas lições, acontece-me uma revolução interior musicada pela felicidade que desconhecia, enquanto uma dor pungente também me invade, por não saber o que ou como fazer a partir de agora. "Ajuda-me, dizendo-me qual o primeiro passo que deverei dar na conquista do novo caminho";
-Ensina-nos a amar, a mim e a todos aqueles que Te seguimos.
-Perdoa sempre e sempre a tudo e a todos, até mesmo àquilo e àquele que aparentemente não mereçam perdão. O braço da Divina Justiça utiliza-se, às vezes, da aparente injustiça para corrigir e educar os infratores das Soberanas Leis. Ninguém vive no corpo apenas uma vez.
E os delitos que foram na carne praticados, hoje ou mais tarde nela serão resgatados. "Nunca te permitas dúvidas a respeito da Lei de Causa e Efeito.
Conforme a tua semeadura, assim se te apresentará a colheita.
Ninguém passa no mundo indene ao sofrimento no seu processo de depuração das tendências inferiores, lapidando as arestas morais e espirituais do ser humano. "Desse modo, tudo possui uma razão própria de ser. Quanto a ti, porém, faze sempre o bem, o melhor que estiver ao teu alcance, não esperando aplauso, nem temendo reproche. "(. . .) E já estarás amando. . . " O luar espraiava sobre os montes e toda a paisagem o seu delicado véu, realçando o brilho dos demais astros.
—Bem-aventurado sejas, Simão, filho de Jonas, quando passares a amar!
A excelsa orquestração daquele dia alcança estes dias, repetindo a eloquência do amor, ao convidar: Bem-aventurados, pois, sejam todos aqueles que se apequenam, que se humilham, que preservam puro o coração, que se tornam misericordiosos, para que Jesus ressurja e os tome nos braços conduzindo-os a Deus.
Paramirim-BA, em 23. 07. 2005.
AMÉLIA RODRIGUES