A autenticidade desses ensinamentos e realizações faz-se natural, exatamente por não obedecer a um critério lógico, apresentado por escritor meticuloso.
Aqueles que anotaram as informações e eventos eram portadores de culturas diferentes e utilizaram-se das próprias, como das reminiscências das personagens envolvidas, elaborando, assim, um todo constituído de partes fragmentárias.
A harmonia que ressuma dos textos comove, ora pela profundidade, ora pelas sutilezas que encerra, biografando um Homem Superior que se deu, a fim de que todos tivéssemos vida.
Sem dúvida, a sua movimentação foi incessante.
Ele percorreu toda a Galileia, visitando Jerusalém, vá- rias vezes, onde morreu; transitou pela Judeia e foi além, à Fenícia, às cidades de Tiro e de Sídor. venceu o Tiberíades e alcançou a Decápole, especialmente a cidade de Gadara; também foi à Batanéia, à Cesareia de Filipe e atravessou a Samaria repetidamente. . .
Não há documentação histórica, nem apoio escriturístico para encontrá-lo na índia, no Egito - na idade adulta - entre os essênios. Se a esses últimos visitou, foi para ensiná-los, desvelar-se-lhes. . .
Ele não conheceu repouso.
Raramente demorava-se no mesmo lugar.
À semelhança de uma aragem perfumada, percorreu as distâncias sem cessar.
Não havia tempo a perder.
As multidões acolhiam-nO, seguiam-nO.
A sua voz arrebatava, a sua lógica perturbava os astu-
tos, que O queriam pegar em equívoco, dúbios e venais. . . . E das suas mãos as energias renovavam, curando, libertando os enfermos e os infelizes.
Nunca a Terra experimentou presença igual. E não voltaria a tê-la, incorporada às demais criaturas.
Ele fazia-se semelhante a todos, e agigantava-se. Buscava apagar-se, e refulgia.
Calava, e o silêncio comovia.
Falava, e alterava o comportamento dos ouvintes. Ninguém que O encontrasse ficava-lhe indiferente, jamais O esqueceria.
Picados pelo despeito da própria inferioridade, ou O detestavam, afastando-se, ou, abrasados pelo Seu amor, se Lhe entregavam.
Indiferença é a morte da emoção, decadência da vida.
Com Jesus, não havia meio termo: aceitação ou recusa, entrega ou distância.
Novamente Jesus visitou Caná da Galileia, onde deixara as evidências do seu ministério, sensibilizando os convidados presentes no casamento.
Antes da sua chegada, vieram as notícias do que realizara em Jerusalém, durante a festa. . . Ali residia um régulo, que O buscara por diferentes lugares, ansioso por encontrá-lO, pois era pai, e o seu filho estava enfermo em Cafarnaum.
Tomado de júbilo e ansiedade, foi procurá-lO, solicitando socorro para o doente, para que Ele descesse à sua casa e curasse o jovem, que estava a morrer.
Penetrando-lhe a alma sofrida, Jesus disse-lhe:
– Se não virdes milagres e prodígios não acreditareis!
O homem angustiado, porém, suplicou:
– Senhor, vem, antes que o meu filho morra.
As lágrimas escorriam-lhe dos olhos em borbotões, e a voz apagava-se nas constrições do sofrimento.
O Mestre penetrou-lhe os sentimentos angustiados. Tomado de compaixão, o Mestre redarguiu-lhe com ternura:
– Vai, o teu filho vive.
Os olhos brilhavam como estrelas divinas na sua face.
O homem, convencido da sua força, retirou-se, e voltou ao lar.
Cantavam na sua alma expectativas de alegria e de ansiedade.
Antes de chegar a casa, acercaram-se alguns servos, que lhe vieram dizer que o filho estava vivo e passava bem.
Recordando-se do diálogo com o Rabi, indagou-lhes a que hora sucedera a sua recuperação, e eles responderam:
– Foi ontem, à hora sétima, que a febre o deixou.
Aquela havia sido, exatamente, a hora em que Jesus lhe afirmara que o seu filho estava vivo. Esse admirável fenômeno de cura a distância foi o segundo que Jesus realizou ao voltar da Judeia para a Galileia.
Há volumosa necessidade de fenômenos no mundo. O homem sensorial quer ver, tocar para crer, quando, em realidade, é imperioso primeiro crer, para depois ver.
Os sentidos físicos, em razão de sua pequena capacidade de percepção, se enganam, perdem detalhes e profundidades, para permanecerem na superfície.
O mais importante é sempre invisível aos olhos nus e, não raro, muito daquilo que se vê, já não existe mais naquela forma.
Certas estrelas vistas hoje fulgurantes, desintegraram-se ou consumiram-se há milênios. . .
O maior fenômeno produzido por Jesus, e mais importante, é o da renovação do ser, da sua transformação moral para melhor.
A integração da criatura harmonizada no equilíbrio cósmico é a sua meta.
As vestes orgânicas decompõem-se, são substituídas ou transformadas, mas o ser que as mantém é imperecível.
A mensagem essencial, profunda, é a que produz o bem eterno, impregnando de paz e de sabedoria. E ela se encontra ínsita no amor, do qual ninguém foge para sempre.
Agora ele não mais se detém. Já não há silêncio.
Os fenômenos multiplicam-se ali: a cura do morfético, a pesca maravilhosa, a recuperação do paralítico descido pelo telhado. . .
As multidões se avolumavam à sua volta, exigentes, sedentas.
A leviandade aplaudia os feitos e não escutava as palavras, que curavam por dentro, quando assimiladas e vividas. O entusiasmo cercava os seus passos, e a inveja e a malícia preparavam armadilhas.
Conjurações entre fariseus e herodianos faziam-se mais frequentes.
Desejavam matar o Idealista, porque não conseguiam apagar as ideias, deter a marcha do pensamento.
Tal é o recurso dos homens pequenos, dos pigmeus diante do gigantes.
Inimigos entre si, uniam-se contra Jesus, pois que os seus eram interesses comuns - manter a treva, aumentar a ignorância, dividir para governar.
Os acordos políticos interesseiros pareciam ameaçá-lO. . . A astúcia era posta em vigília para vencer a razão.
O ódio crescente surgia para afogar o amor.
vãs tentativas de vitória aparecem como infelizes triunfos da ilusão.
O mundo transitório sonhava esmagar a vida perene. As ideias que Ele espalhava aos ouvidos das multidões vencem as distâncias.
Mercadores e viajantes, pastores e agricultores, prín-
cipes de sinagogas, soldados vulgares e publicanos, fariseus hipócritas e sacerdotes, chegados de todo lugar desejando vê-lO, após ouvirem falar a seu respeito, escutavam os seus conceitos, com reações diferentes.
O Semeador semeava, e a semente era luz.
Jamais se apagaria essa claridade, multiplicando-se na sucessão dos tempos.
O inverno cedia lugar à primavera e esta ao verão, enquanto a Presença prosseguia outono afora, anunciando uma eterna primavera.
O reino dos Céus está dentro de vós.
Vedes o argueiro no olho do vosso próximo e não vedes a trave no vosso.
Nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá.
Ninguém entrará no reino dos Céus sem pagar a dívida ceitil por ceitil.
As virgens prudentes aguardam os noivos e poupam o azeite das suas lâmpadas, enquanto as loucas. . .
Prudência e loucura!
A canção incomparável estava vibrando no ar. Tempos novos surgiam que logo se instalariam. vitória da vida, em forma de ressurreição após a morte. Toda aquela trajetória Ele a planejara antes de mergu-
lhar nos fluidos densos do planeta terrestre.
. . . E antes que Abraão fosse eu já era.
Construtor do mundo, veio, Ele próprio, caminhar e conviver com as pessoas, experimentar suas lutas e estoicismos, suas misérias e grandezas, suas mesquinharias e altruísmos.
A estrela brilhava no charco à noite e o Astro-Rei o beneficiava durante o dia.
Jamais será esquecido o seu ministério!
João 4:43-54