À medida que os acontecimentos faziam-se conhecidos, acercavam-se do Mestre os mais diversos tipos humanos.
A notoriedade atrai os aventureiros e os estúpidos, os astutos e os simples.
Cercam as pessoas que se celebrizam no conceito geral, por esta ou aquela razão, curiosos e interessados em recolher favores, benefícios, desfrutando regalias, aparecendo-lhes ao lado.
Eram, aqueles, como hoje, dias difíceis.
O homem deseducado procura ser lobo do homem, esquecido da Divina Paternidade que a todos fez-nos irmãos.
Porque convivem o explorador com o explorado, o senhor com o escravo, o sadio e o doente, o rico e o pobre, os injustiçados e os cobradores, chegavam ao Senhor todos os tipos de problemas, quase sempre ocultando paixões mesquinhas, ambições subalternas.
Uns tentavam-nO para O experimentar; outros para vê-lO cair na antipatia farisaica ou romana. . . Entre esses multiplicavam-se os infelizes de todo porte, necessitados de pão e de amor, de saúde e de esperança.
Jesus distinguia-os pela irradiação de que se faziam condutores.
Suas almas, suas vidas.
O que pensavam, revelava mais do que diziam.
O íntimo real era o que importava.
E por isso, muitas vezes atendia não à solicitação que Lhe chegava, mas ao que era mais importante e Lhe não era pedido.
As palavras que vestem as ideias, não raro, camuflam os sentimentos.
Há o verbo que revela e o que oculta.
O que se diz, nem sempre reflete o que se pensa.
Quanto se sente, raramente se pode ou deve dizer.
A presença do Senhor diluía a mentira na luz da verdade.
Mesmo assim, alguns, mais loucos sem o saberem ou mais pertinazes pela condição em que transitavam, hipnotizados pelas suas ideias e ansiedades, insistiam, tendenciosos.
Ainda agora ocorrem fatos idênticos.
"alma.
Sabe-se como fazer e por onde seguir, no entanto, fica-se onde melhor agora compraz, sem esforço por avançar. . .
Os meses de mais intensa pregação deveriam ensinar aos milênios futuros, a fim de que os problemas do porvir já se apresentassem equacionados desde então, isto é: o que viesse ocorrer, já houvesse, de alguma forma, acontecido e ensinado como se deveria agir corretamente.
A decisão é o passo importante para o cometimento.
Atuar com acerto exige hábito de reflexão e estado de vigilância.
Nem sempre a questão se apresenta conforme é.
Saber identificar o seu lado oculto representa discernimento claro e rápido.
— Mestre, manda que meu irmão reparta comigo a herança.
— Homem, quem me constituiu juiz ou partidor entre vós?
Aquela era a oportunidade da divina herança, dos bens que não se consomem, nem passam de mão, não sendo usurpados, jamais perdidos e o interlocutor pensava, ambicionava as moedas, que se gastam e geram ódios, despertam cobiça, levam à morte.
— Olhai e guardai-vos de toda avareza, porque a vida de um homem não consiste na abundância das coisas.
A vida, em si mesma, é simples.
Os atavios e complexidades perturbam-lhe a marcha natural, dando margem a dissabores, receios e ansiedades desnecessários.
O indispensável é de fácil aquisição e não exaure.
O supérfluo aflige e enlouquece.
A ganância armazena em poucas mãos o que falta em muitas bocas e responde pela miséria econômica da sociedade.
A miséria moral dos que retêm, não se enriquece de paz na razão em que mais possui.
— As terras de um homem rico produziam muito fruto.
Ante a abundância pensava consigo: Que hei de fazer, pois que não tenho onde os recolher? Concluiu: derrubarei os meus celeiros e os construirei maiores aí guardando toda a colheita e os meus bens, dizendo à minha alma: tens muitos bens em depósito para largos anos; descansa, come, bebe, regala-te. . .
Mas Deus disse-lhe: Insensato, esta noite te exigirão a tua alma; e as coisas que ajuntaste, para quem serão?
Assim é aquele que entesoura para si e não é rico para com Deus.
A urna de luz, que é a parábola, guarda a essência do ensino que se faz vida duradoura, determinando os objetivos essenciais do comportamento humano.
Quem dá possui mais do que aquele que acumula.
O socorro que se movimenta produz bens eternos que se espalham pelo caminho em sombras, deixando claridade em bênçãos.
Feliz é o doador, enquanto permanece desventurado quem asfixia em cofres e armazéns.
A avareza mata em volta e enlouquece o avaro.
Sabia-o Jesus que, possuidor de todos os bens, viveu em simplicidade e renúncia, repartindo as dádivas da saúde perfeita e da paz, as mais importantes para uma vida feliz. 14 - Simão: fraqueza e força A simples evocação mental do Mestre produz sentimentos de ternura e amor, que mimetizam o ser, dulcificando a vida.
Causa espécie recordar que a Sua convivência plenificasse de imediato os que O cercavam, fazendo-os convencidos, para logo depois os mesmos tombarem nos tormentosos conflitos das dúvidas; felizes, dando lugar a inquietações afligentes; devotados, ao mesmo tempo receosos. . .
A infância espiritual do homem atém-no, ainda hoje, aos condicionamentos primeiros do instinto em detrimento das lucilações espirituais que o impelem na direção dos Altos Cimos.
O entusiasmo que empolgava os discípulos após cada ação do Mestre produzindo inusitadas curas nos enfermos, ou decorrente da Sua palavra fulgurante que embaraçava os astutos famanazes dos interesses mesquinhos, que abria horizontes infinitos de invulgar beleza, ou a doçura que dEle se exteriorizava, cedia lugar ao fácil abatimento, às angústias e aos temores difíceis de explicados. . .
Não era fácil para eles abandonarem os quefazeres habituais a fim de se integrarem na empresa do Reino dos Céus. No entanto, eram Espíritos convocados à luta árdua, de modo a cooperarem com o Senhor na obra de construção do Mundo Melhor.
Todas as vacilações de que davam provas humanas, reiteradas vezes, ao lado do Mestre, transformaram-nas em inteireza moral e vigor de fé que os levariam aos supremos testemunhos.
Jesus, que os conhecia em profundidade, confiava na sua abnegada dedicação no momento próprio, e porque se apresentavam dúbios ou falhos, discutidores ou tímidos, não os amava menos, antes vitalizava-os com a Sua coragem, a fim de evitar que desfalecessem no instante máximo.
O importante não era vencer todas as pequenas batalhas, mas aquela decisiva, que definiria os rumos do Evangelho.
Fazia-se imperioso que não passassem imunes, nem intactos, porém que carregassem as feridas e marcas dos sofrimentos adquiridos no afã das lutas.
— Simão, Simão, eis que Satanás obteve permissão para vos joeirar como o trigo. (Lucas
Ninguém atinge as plataformas dos cimos sem a vitória sobre as anfractuosidades das escarpas, nem a lenta conquista dos impedimentos à subida.
Moldam-se os metais nas altas temperaturas que os depuram e os aprimoram. A fornalha e a forja são-lhes benfeitoras ignoradas.
Não há exceção no processo evolutivo, passando todos os Espíritos pelo mesmo cadinho transformador.
Aquela advertência é lição que define a lei de igualdade a que estão submetidas todas as criaturas, enquanto na Terra.
O homem fortalece o ânimo diante da aspereza do compromisso e identifica-se o ideal pela firmeza com que o mesmo é vivido enquanto o apresenta.
— Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. . .
Na jornada do progresso espiritual, todos aqueles que marcham na retaguarda possuem anjos tutelares à frente.
São eles a estrela polar de todas as vidas brilhando e convidando à permanência no rumo.
Retardam-se para socorrer e sofrem por amar.
Intercedem junto aos Supremos Governantes em favor dos seus afetos.
Constituem o estímulo constante e o forte ímã que os atrai na direção correta.
Porque identificava a natureza humana fraca do apóstolo querido, Jesus permitiu que ele fosse visitado pela tentação, lecionando humildade e submissão a todos os estudiosos da Boa Nova, no futuro, porém intercedeu junto ao Pai, de modo que a dor, a visitar o coração do amigo, não lhe queimasse o combustível das forças permitindo-lhe perecer a fé.
Permanecia, o Senhor, vigilante, apoiando o discípulo, por enquanto sem a plena visão da realidade da vida espiritual.
Destinava-lhe responsabilidades específicas nas horas futuras de grande importância, para que ele balizasse as fronteiras das almas na larga convivência que lhe seria permitida com os homens.
— E tu, uma vez arrependido, fortalece teus irmãos.
A trágica lição deveria converter-se numa sinfonia emoldurando de esperanças e belezas todas as vidas.
Somente aqueles que palmilham as estradas do sofrimento possuem resistência para a dor e autoridade para o ensino da verdade.
Quem percorre uma estrada pode melhor falar dela, porque a conhece, sabendo onde o caminho é impérvio e quais os perigos a defrontar.
Com o espinho dò arrependimento cravado na mente, a doer no coração, o discípulo se deixaria agora joeirar pelo sacrifício e se tornaria uma bandeira desfraldada, simbolizando a coragem que deveria infundir nos irmãos que lastreariam os solos das outras vidas com o martírio de si mesmos.
Sem as suas doações plenas o futuro teria olvidado o holocausto do Justo.
Simão protestou, porém, fidelidade ao Senhor.
Apesar disso, titubeou e caiu, não uma vez, mas, três vezes. . .
Todavia, teve a coragem de levantar-se sob os açoites vigorosos do arrependimento, diariamente trucidado pela lembrança amarga da ingratidão para com o Amigo.
Joeirando-se, entretanto, na fé augusta e no sacrifício, sustentou os irmãos com todas as forças da alma, evitando dissensões com a sua humildade e autoridade, infundindo ânimo até o momento em que, integrado ao espírito do Cristo, deixou-se arrastar à rude crucificação, da qual se ergueu em asas de luz, símbolo que se fez da fraqueza momentânea e da resistência veraz diante de toda e qualquer tentação.