(João
As convulsões produzidas despertariam os mais controvertidos sentimentos.
Os galileus eram considerados desprezíveis na própria pátria e os que se originavam da Nazaré pequenina, menos respeito mereciam.
As paixões sectárias haviam dividido aquele povo reduzido em facções que se detestavam e, por isso, Israel sofrerá demorados e cruentos jugos através dos tempos, que lhe depauperaram a alma, não a aniquilando, graças ao fervor religioso e ao ascético monoteísmo que lhe impunha sacrifícios e sofrimentos acerbos.
Jesus já estivera por mais de uma vez em Jerusalém, a cidade áspera dos profetas, desde que iniciara o messianato.
Nos intervalos da ação, retornara à Galileia gentil, passando pela Samaria e divulgando as notícias do "Reino de Deus".
Na oportunidade, o Seu verbo ressoara na ação prodigiosa das curas, que comoviam e convocavam seguidores para o Seu rebanho de pastor das almas.
Há pouco, liberara o jovem filho de uma autoridade que, à morte, produzia terrível sofrimento na família. Nem mesmo o viu, sequer. A sua ordem, a distância, o rapaz sarou do mal que o consumia, deixando o pai e todos os seus, afervorados e reconhecidos.
A cidade febricitante regurgitava, naquela oportunidade, com a presença de muitos peregrinos.
As festas anuais atraíram visitantes de toda parte, o que ocasionava balbúrdia, agitação e fervor religioso.
Adentrando-se pela porta das ovelhas, parou, um pouco, junto à piscina da Bezatha, ou Betsaida, famosa pelos seus cinco pórticos, onde os enfermos, paralíticos e infelizes estagiavam, aguardando milagres e socorros...
Uma velha tradição informava com viso de verdade que, vez por outra, um anjo lhe movimentava as águas, o que propiciava a cura de todas as mazelas orgânicas.
Certamente, o movimento no seio se originava dos minadouros que a vitalizavam com o fluxo da correnteza.
Um paralítico, no entanto, que se lamentava sobre um catre de vergonha e desespero, anunciava a todos que, apesar de ali vir diariamente, fazia trinta e oito anos, nunca se pudera beneficiar do favor divino, porque, tão logo as águas se moviam alguém se lhe arrojava antes, por não ter quem o ajudasse a mergulhar naquelas correntes curativas...
— Ergue-te, toma da tua cama e vai!
Fascinado, comovido por aquele Homem de olhar penetrante e dulçoroso, o paralítico moveu-se, pôs-se de pé, e, exultante, tomou do leito, logo saindo a clamar hosanas.
Quantos lhe perguntavam quem era aquele que o libertara, não o sabia dizer.
Passeando a felicidade por toda parte, foi ao Templo para que todos o vissem, quando ali reencontrou o Benfeitor e o apontou, sorridente, aos que o inquiriam sobre o acontecimento inusitado.
A inveja farisaica, escrava da ortodoxia e do formalismo, porque soubesse que a cura se dera num sábado, numa violação ao artigo legal que prescrevia o repouso nesse dia, não podendo negar o fato em evidência, arremeteu contra aquele que realizava o que eles, os tecelões da intriga, não conseguiam, indagando, hipócritas: — "Por que curas no sábado, todo ele dedicado ao repouso?" Sem preocupar-se com as suas mesquinharias, o Senhor redarguiu-lhes: — "O Pai trabalha continuamente e eu também trabalho"- como a dizer que a preservação das Leis que regem o Cosmo e a vida, exige, também, trabalho.
O escândalo que as Suas ações produziam acumularia ódios que se voltariam contra Ele...
Na impossibilidade de O superarem, perseguiam-nO, arranjando motivos para desmerecê-lO.
A mesquinhez compete contra a grandeza, tentando solapar-lhe as bases.
Em todos os tempos, os pigmeus em espírito agredirão os gigantes do bem que não se deterão a responder-lhes ou mesmo a defender-se.
A inveja detestará sempre a honra e a beleza, disseminando calúnias.
O ódio seguirá as pegadas da ação dignificante, ateando os fogos da destruição para alcançá-la.
A hipocrisia engendrará tramas contra a lealdade, por lhe não suportar os testemunhos superiores.
(...) No entanto, acima de todas as vicissitudes o bem triunfará sobre o mal, assim como a luz diluirá a treva sem alarde...
As coisas, os dias, estão na escola do mundo para que o homem os utilize no empenho de crescimento para Deus e não o homem que esteja para submeter-se às suas conjunturas.
Sempre será sábado para os ociosos e negligentes, mas, para os obreiros da verdade, cada hora de todo dia é sempre bênção para a renovação e o trabalho libertador.
Iniciada a tarefa evangélica, desatavam-se as cadeias do futuro e o pleno amor instalava, na Terra, o reino da felicidade, que jamais se acabará...