Homens simples, desacostumados aos louros da popularidade, subitamente viram-se situados em posição de destaque, tornando-se motivo de comentários acirrados.
Jamais se haviam afastado daquela região bucólica, com raras exceções. Acostumaram-se à faina exaustiva das tarefas cotidianas, sem acalentar qualquer ambição, além daquela renda modesta para a convivência familiar, a comunhão com os amigos modestos e desataviados, quanto eles mesmos, que não se atreviam sequer a examinar as complexidades da vida, nas minudências dos seus comentários sem florilégios...
Tudo acontecera, porém, tão repentinamente, que não tiveram tempo de despertar para o retorno à realidade anterior.
Em alguns momentos, acreditavam-se alucinados, vítimas de estranho sortilégio que os fazia delirar.
Por tradição, conheciam os escritos sagrados, cujo conteúdo, rico de sutilezas, passava-lhes despercebido.
Acreditavam em Deus e na Sua justiça, sem outras excogitações de qualquer ordem.
Bastavam-se a si mesmos no campo da fé ingênua, longe das tricas e interpretações do agrado farisaico e sacerdotal.
Suas aspirações máximas não excediam os limites do que já possuíam, habituados às necessidades supridas pelas conquistas do esforço pessoal.
Seguiam a Lei antiga, mais por tradição do que por consciência, deixando-se arrastar pela esperança da felicidade ao lado de Jehová.
Ele, o Estranho, chegara, discreto e dominara-os.
Convidara-os, um a um, para o não esperado ministério, fascinando-os, depois, com a tônica de um amor dantes nunca experimentado.
Dizia-se o Messias, e eles temiam.
Iodos desejavam, é certo, o Esperado, no entanto, pensava-se que Ele seria poderoso e prepotente, dominador e arbitrário, enquanto este se fazia meigo, na doçura de que dava mostras em todas as atitudes.
Poderoso, era, porém, manso, portador de uma bondade que impregnava de forma inapagável.
Todos O viam e não podiam crer no que Ele fazia, alterando todos os critérios até então conhecidos e utilizados.
Nenhum profeta fora mais frágil e mais forte do que Ele o era.
Frágil, a ponto de comover-se ante a paisagem pura ou diante de uma criança em sofrimento que Ele socorria com os olhos nublados de pranto. E forte, porque não temia os poderosos da Terra, que O não alcançavam na Sua grandeza, enfrentando os hábeis tecelões da intriga e da hipocrisia com dignidade e sem qualquer temor.
A Sua força mudara as estruturas da conduta humana...
Cegos, ante o Seu toque, recuperavam a visão, o mesmo ocorrendo com os surdos, que voltavam a ouvir, com os enfermos, que recobravam a saúde... Mesmo os Espíritos inferiores respeitavam—No e fugiam, quando Ele chegava, bradando em altas vozes o que lhes ia no imo atormentado.
Não se jactava, porém, de qualquer feito, muitas vezes impondo aos Seus beneficiários que a "ninguém contasse nada" a respeito da ocorrência surpreendente.
Amavam-No, portanto, mas não se sentiam preparados para aquela Era Nova a que Ele se reportava com frequência.
Foi, portanto, sob estes sentimentos contraditórios que, num momento que lhes pareceu azado, buscaram o Mestre e, através de João, por quem Ele nutria especial carinho, graças à sua juventude imaculada, apresentaram-Lhe os receios e, por que não dizer, também as suas ansiedades.
— A Era Nova encontra-se no limiar. Cumpre-se projetá-la nas mentes e nos corações, abrindo espaços para os que virão no futuro. "Será caracterizada pelo amor de plenitude e pela compaixão total a benefício dos seus opositores. "Terá início no país de cada coração, espraiando-se em derredor como um aroma sutil e penetrante que jamais será olvidado. "Levantar-se-ão contra, os dominadores das consciências humanas, que as exploram, porque a liberdade romperá todas as algemas da escravidão às paixões mais vis. Os que se comprazem em manipular as vidas a benefício pessoal, volver-se-ão, arbitrários, para impedir-lhe o crescimento, a dilatação de fronteiras. "Em razão disso, cabe-nos instaurar o primado do bem, sempre gentis e fraternos, vivendo mais a lição que a preconizando para os outros. "Ovelhas mansas, que somos, deveremos conquistar os lobos ferozes, ao invés de os temer, e arrastá-los para o mesmo rebanho. "Reuniremos, sob o mesmo cajado de amor, os homens enganadores e suas vítimas, os vingadores e seus prejudicados, concitando-os à mesma marcha pela paz. "Demonstrando a sobrevivência da vida ao fenômeno da morte, batalharemos para que a existência corporal seja considerada apenas como um ensejo para a aquisição de valores para utilização na vida verdadeira... "Esse esforço dependerá mais dos que amam, dos que têm puro o coração e são pobres das ambições pelas coisas nenhumas, vanglorias por quase todos disputadas como herança da loucura. "Vós sois convidados para este mister. "Por agora, vedes e entendeis o que pode realizar o Pai, através do Filho, poder este que vos é transferido e por vós conquistado, se porfiardes até o fim. "Posteriormente, quando sairdes a edificar os alicerces da Era Nova, e fordes perseguidos, odiados e até assassinados, por amardes, a Humanidade já estará vivendo os primeiros passos do novo período. "Não temais! Crede, por enquanto, abrindo-vos ao amor e deixando-vos arrastar pelas correntezas da esperança. "Ninguém vos molestará, mesmo porque sabeis donde viestes e para onde ides, enquanto os algozes o ignoram. "Estais sob uma governança superior que dirige os iludidos nos comandos humanos. "Vede as nuvens que passam e se modificam, mudando de rumo conforme as correntes de ar. Não se lhes pode prever com muita antecipação o rumo que tomarão. "Sois conduzidos pelas correntezas do divino amor, levados a destino adredemente estabelecido. "Tende coragem! "Nunca vos deixarei, nem mesmo após o fim dos evos terrenos, quando estaremos no Reino da perene felicidade. " Um silêncio de paz caiu sobre os ouvintes atentos e, a partir de então, agigantaram-se, saindo a colocar os marcos fronteiriços do Reino de Deus, de fácil identificação para os que "têm olhos de ver" e "ouvidos de ouvir".
Partiram daquele limiar para a felicidade que se estabelece, embora, aparentemente, nestes dias, o caos e a desesperação se manifestem dominadores. Todavia, assim ocorre, porque já não há tempo para as indecisões, por isso os comprometidos com Jesus não se detêm, seguindo adiante e implantando as diretrizes da Era de paz e de amor, pela qual todos, afinal, anelam e buscam, na tentativa feliz de libertarem-se do sofrimento.