1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
Pobres homens, num mundo em convulsão,
Com oração secai os prantos,
E não temais ruja o trovão,
Perto de vós há os anjos santos.
Deus é tão bom. Deus vosso Pai,
A todos vós sempre quis dar
Um pequeno anjo que não cai
No esforço de vos proteger.
Escutai nossa voz amiga.
Oh! Ver-vos cheios de alegria;
E após a dor que vos fustiga
Ao céu levar-vos com valia!
Pudésseis vós sorrir nos ver
Da vossa infância nos primeiros passos,
Vossos olhos, mortais, nos nossos olhos ler
Podiam nossa dor ao ver-vos nos maus laços!
Mas escutai: Vos temos que ensinar
O segredo, no bem, de vossa integração,
Que a vós também, há de chegar
Serdes, um dia, anjo guardião.
Sim, quando terminar a vossa prova
Deus vos receberá o Espírito esmerado,
E vos enviará, na Terra, a uma alma nova,
Um belo nascituro a quem sereis levado.
Amai-o bem e que vossa assistência,
O pobrezinho tenha cada dia
De seu anjo guardião maternal companhia;
Por vossa vez, guiai com paciência
Vosso pupilo e irmão à dos céus moradia.
Ass. Dulcis.
Observação. – Este trecho e um outro, de certa extensão e não menos notável, intitulado: A Criança e o Ateu, que incluiremos no próximo número, foram publicados no Echo de Sétif † (Argélia), de 31 de julho de 1862, precedidos da seguinte nota:
“Um dos nossos assinantes enviou-nos as duas poesias que se seguem, recebidas por um médium de Constantina, † nos primeiros dias deste mês. Mesmo não os considerando isentos de crítica, do ponto de vista das regras de versificação, nós os reproduzimos porque explicam, pelo menos em parte, a Doutrina Espírita, que tende a se espalhar cada vez mais por toda a superfície do globo.”
Esse médium parece ter a especialidade da poesia. Já recebeu grande número de versos, que escreve com incrível facilidade, sem nenhuma rasura, embora não tenha noção das regras da versificação. Vimos um dos membros da Sociedade de Constantina, em presença do qual foram escritos.
Um belo ser, ateu se proclamando,
Passeava um dia ao lado de um rapaz
Às margens de um regato, às quais sombreando,
De um sol forte os livravam vegetais.
Ao ver jorrar água tão pura,
Diz ao jovem seu sábio companheiro:
Aonde pensas tu que porventura
Vai conduzir-lhe o curso o vale inteiro?
Responde-lhe o rapaz: “Talvez um lago
De suas águas ganhe-lhe o tributo,
Que ao término de esforço amargo e vago
De todos os riachos é o fim bruto.”
Pobre criança! O mestre diz, sorrindo,
Como enganado está teu ser;
Aprende, pois, tudo no mundo é findo,
Tudo se acaba no morrer.
Quando se afasta da nascente,
Onde os filetes vão jorrando,
É para achar seu termo, finalmente,
Para sempre nos mares terminando.
É de nós todos essa a dura imagem;
Quando deixamos deste mundo a estada
Eis o que resta então de uma curta passagem,
Nos encontrarmos ante o nada.
Oh! Meu Deus! Diz o moço em desolada voz,
Essa é a verdade, então, tal nossa sorte?
Que! E minha mãe, só somos nós,
Terei tudo perdido em sua morte?
Eu que supunha que sua alma querida
Podia proteger sua criança,
Com ela partilhar as penas desta vida,
Tê-la perto de Deus não é minha esperança?
“Guarda sempre contigo a doce crença.”
Sussurra-lhe o bom anjo com bondade,
Sim, bom menino, a fé te seja imensa,
Sem ela, sobre a Terra, onde a felicidade?
E o tempo se esgotou; correram anos
Nosso sábio afinal desencarnou,
Mantendo-os fiel aos seus loucos enganos,
Creu-se morto a dizer que Deus nunca encontrou.
Quanto ao menino, veio-lhe a velhice
E sem receio recebeu a morte,
Porque mantendo a fé da meninice,
Nas mãos do Eterno Pai lhe redimiu a sorte.
Vede que multidão que ora apressada
Deixa o céu para o vir cá receber;
E de Espíritos bons turma sagrada
Que a um exilado irmão enfim torna a rever.
Mas quem é aquela alma só e triste
Que se esforça afinal por se ocultar?
Do desgraçado sábio é o ser que a tudo assiste
Que tudo vê e não pode aí se misturar.
Foi muito amarga a sua pena,
Por ter a Deus um dia então negado,
Deus lhe surge afinal, não juiz que condena,
Em majestade sublimado.
Oh! quanto pranto por herança
Vieram quebrar dessa alma a empáfia dura!
Ele que outrora rira da esperança
De um pobre rapazelho além da sepultura.
Mas do Senhor a bênção paternal
Não pune para sempre o pecador;
Em breve pois a alma imortal
Devolve à Terra com Amor.
Por sua vez purificada,
Em cujos erros já não cai,
De luz e glória inebriada
Vai repousar aos pés do Eterno Pai.
Assinado: Ducis.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
O homem, ou Espírito encarnado, pode estar na Terra em missão, em progressão e em punição.
Isto posto, é preciso saibais, uma vez por todas, que o estado de missão, progressão ou punição deve, sob pena de recomeçar a prova, chegar ao termo fixado pelos desígnios da suprema justiça.
Adiantar por si mesmo, ou por provocação, o instante fixado por Deus para o retorno ao mundo dos Espíritos é, pois, enorme crime. O duelo é ainda um crime maior, porque não só é um suicídio, mas, além disso, um assassinato premeditado.
Com efeito, pensais que o provocado e o provocador não se suicidem moralmente ao se exporem voluntariamente aos golpes mortais do adversário? Credes que não sejam ambos assassinos, no momento em que procuram mutuamente tirar a vida por eles mesmos escolhida ou imposta por Deus como expiação ou como prova?
Sim, eu to digo, meu amigo: os duelistas são duplamente criminosos aos olhos de Deus; duas vezes terrível será a punição, porquanto nenhuma desculpa será admitida, desde que tudo calcularam com frieza e premeditação.
Leio em teu coração, meu filho, porque também foste um pobre transviado, e eis minha resposta.
Para não sucumbir a essa terrível tentação não necessitais senão de humildade, sinceridade e caridade para com vosso irmão em Deus. Ao contrário, só sucumbireis pelo orgulho e pela ostentação.
Aquele que, por humildade, como o Cristo tiver suportado o maior ultraje e, por amor de Deus, perdoado de coração, além das recompensas celestes da outra vida, terá a paz de coração nesta e uma alegria inconcebível por haver respeitado duas vezes a obra de Deus.
Aquele que, por caridade para com o próximo, lhe houver provado seu amor fraterno, terá na outra vida a santa proteção e o concurso todo-poderoso da gloriosa mãe do Cristo, pois ela ama e abençoa os que cumprem os mandamentos de Deus, os que seguem e praticam os ensinos de seu Filho.
Aquele que, a despeito de todos os ultrajes, tiver respeitado a sua e a existência de seu irmão, encontrará, ao retornar ao mundo etéreo, milhões de legiões de bons e puros Espíritos que virão, não honrá-lo por sua ação, mas provar, por seu desvelo em lhe facilitar os primeiros passos na nova existência, a simpatia que soube atrair e os verdadeiros amigos que fez entre eles, seus irmãos. Todos em conjunto elevarão a Deus sinceras ações de graça por sua misericórdia, que permitiu ao seu irmão resistir à tentação.
Aquele, digo eu, que tiver resistido a essas tristes tentações, pode esperar, não a mudança dos desígnios de Deus, que são imutáveis, mas contar com a sincera e afetuosa benevolência do Espírito de Verdade — o filho de Deus — o qual de maneira incomparável inundará sua alma com a felicidade de compreender o Espírito de justiça perfeita e bondade infinita e, por conseguinte, salvaguardá-lo de qualquer outra emboscada semelhante.
Ao contrário, aqueles que, provocados ou provocadores, tiverem sucumbido, podem estar certos de que experimentarão as maiores torturas morais pela presença incessante do cadáver de sua vítima e do seu próprio; durante séculos serão consumidos pelo remorso por haverem transgredido tão gravemente os decretos celestes e serão perseguidos, até o dia da expiação, pelo espectro terrível das duas horrendas visões de seus cadáveres ensanguentados.
Felizes ainda se eles próprios aliviarem os sofrimentos por um arrependimento sincero e profundo, que lhes abra os olhos da alma, porque, então, ao menos entreverão um termo para as suas penas, compreenderão a Deus e lhe pedirão força de não mais provocar sua justiça terrível.
As palavras dever, honra, coração, muitas vezes são postas à frente pelos homens para justificar suas ações e seus crimes.
Compreenderão sempre tais palavras? Não resumem as intenções do Cristo? Por que, então, lhe mutilar o sentido? Por que, então, regredir ao barbarismo?
Infelizmente, na sua generalidade, os homens ainda se acham sob a influência do orgulho e da ostentação. Para se justificarem aos próprios olhos, fazem soar bem alto as palavras dever, honra e coração, sem suspeitarem de que estes significam cumprimento dos mandamentos de Deus, sabedoria, caridade e amor. Entretanto, com tais palavras degolam seus irmãos; com elas se suicidam e com elas se perdem.
Como estão cegos! julgam-se fortes por terem arrastado um infeliz, mais fraco que eles. Estão cegos, quando creem que a aprovação de sua conduta por outros cegos e maus como eles próprios lhes suscitará a consideração humana! A mesma sociedade onde vivem os reprova e em breve os amaldiçoará, pois chega o reino da fraternidade. Entretanto, deles fogem os homens sensatos, como se fugissem das feras.
Examinemos alguns casos e veremos se o raciocínio justifica sua interpretação das palavras dever, honra e coração.
Um homem tem o coração trespassado de dor e a alma cheia de amargura, porque surpreendeu provas irrefutáveis da má conduta da esposa. Provoca um dos sedutores dessa pobre e infeliz criatura. Tal provocação seria resultado de seus deveres, de sua honra, de seu coração? Não, porquanto sua honra não lhe será devolvida, sua honra pessoal não foi nem pode ter sido atingida. Isto será vingança.
Melhor ainda. Para provar que sua pretensa honra não está em jogo, é que muitas vezes sua infelicidade é mesmo ignorada e assim ficaria se não fosse propalada por mil vozes provocadas pelo escândalo que sua vingança ocasiona.
Enfim, se sua desventura fosse conhecida, seria sinceramente lamentada por todos os homens sensatos, resultando numerosas provas de verdadeira simpatia, e contra ele não haveria o riso dos corações maliciosos e endurecidos, mas desprezíveis.
Num e noutro caso sua honra não seria devolvida nem retirada.
Assim, o orgulho é, sozinho, o mentor de quase todos os duelos, e não a honra.
Credes que, por uma palavra, a falsa interpretação de uma frase, o roçar insensível e involuntário de um braço ao passar, enfim por um sim ou um não e até, por vezes, por um olhar que não lhe era dirigido, seja o duelista impelido por um sentimento de honra, a exigir uma pretensa reparação pelo assassinato e o suicídio? Oh! não duvideis: o orgulho e a certeza de sua força são seus únicos móveis, muitas vezes corroborados pela ostentação. Porque ele quer exibir-se, dar prova de coragem, de saber e, às vezes, de generosidade: Ostentação!!!
Ostentação, repito, porque seus conhecimentos em duelos são os únicos verdadeiros; sua coragem e sua generosidade são mentirosas.
Quereis; realmente, provar esse espadachim corajoso? Ponde-o em frente a um rival, de reputação infernal acima da sua, embora, talvez, de saber inferior: ele empalidecerá e tudo fará para evitar o combate. Ponde-o, ao contrário, em frente a um mais fraco que ele, ignorante dessa ciência duplamente mortal, e o vereis impiedoso, altivo e arrogante, mesmo quando constrangido a ter piedade. Isto é coragem?
A generosidade! Oh! falemos disto. Ora, será generoso o homem que, confiante em sua força, depois de ter provocado a fraqueza, a. esta concede a continuação de uma existência ultrajada e levada a ridículo? Será generoso aquele que, para conseguir uma coisa desejada e ambicionada, provoca seu frágil possuidor para a obter a seguir, como recompensa de sua generosidade? Será generoso aquele que, usando seus talentos criminosos, poupa a vida de seres fracos que injuriou? Será, ainda, generoso quando dá semelhante prova de generosidade ao marido ou ao irmão, a quem ultrajou indignamente, e assim o expor, pelo desespero, a um segundo suicídio?
Oh! meus amigos! crede todos que o duelo é uma horrenda e terrível invenção dos Espíritos maus e perversos, digna do estado de barbárie, que aflige ao máximo o nosso pai, o Deus tão bom.
Cabe a vós, espíritas, combater e destruir esse triste hábito, esse crime digno dos anjos das trevas; compete a vós, acima de tudo, dar o nobre exemplo da renúncia a tão funesto mal; a vós, espíritas sinceros, cabe fazer compreender a sublimidade destas palavras: dever, honra e coração; e Deus falará por vossa boca. Cabe-vos, enfim, a felicidade de semear entre vossos irmãos aquele grão tão precioso, que ignoramos em nossa existência terrena: o Espiritismo.
Teu pai, ANTÔNIO.
Observação. – Os duelos tornam-se cada vez mais raros – pelo menos na França – e se vemos ainda, de vez em quando, dolorosos exemplos, seu número não é comparável aos de outrora. Antigamente um homem não saía de casa sem prever um encontro e, em consequência, tomava todas as precauções. Um sinal característico dos costumes da época e dos povos estava no uso do porte habitual, ostensivo ou oculto, de armas ofensivas e defensivas. A abolição deste uso testemunha o abrandamento dos costumes, e é curioso seguir-lhe a gradação desde aquela época, em que os cavaleiros jamais cavalgavam sem armadura e armados de lança, até o simples porte da espada, mais como ornamento e acessório do brasão, do que arma agressiva. Um outro traço dos costumes é que outrora os combates particulares ocorriam em plena rua, perante a multidão que se afastava para deixar o campo livre, e hoje são ocultos. Atualmente a morte de um homem é um acontecimento que comove; outrora não se lhe prestava atenção. O Espiritismo varrerá estes últimos vestígios da barbárie, inculcando nos homens o espírito de caridade e de fraternidade.
O homem, ou Espírito encarnado, pode estar na Terra em missão, em progressão e em punição.
Isto posto, é preciso saibais, uma vez por todas, que o estado de missão, progressão ou punição deve, sob pena de recomeçar a prova, chegar ao termo fixado pelos desígnios da suprema justiça.
Adiantar por si mesmo, ou por provocação, o instante fixado por Deus para o retorno ao mundo dos Espíritos é, pois, enorme crime. O duelo é ainda um crime maior, porque não só é um suicídio, mas, além disso, um assassinato premeditado.
Com efeito, pensais que o provocado e o provocador não se suicidem moralmente ao se exporem voluntariamente aos golpes mortais do adversário? Credes que não sejam ambos assassinos, no momento em que procuram mutuamente tirar a vida por eles mesmos escolhida ou imposta por Deus como expiação ou como prova?
Sim, eu to digo, meu amigo: os duelistas são duplamente criminosos aos olhos de Deus; duas vezes terrível será a punição, porquanto nenhuma desculpa será admitida, desde que tudo calcularam com frieza e premeditação.
Leio em teu coração, meu filho, porque também foste um pobre transviado, e eis minha resposta.
Para não sucumbir a essa terrível tentação não necessitais senão de humildade, sinceridade e caridade para com vosso irmão em Deus. Ao contrário, só sucumbireis pelo orgulho e pela ostentação.
Aquele que, por humildade, como o Cristo tiver suportado o maior ultraje e, por amor de Deus, perdoado de coração, além das recompensas celestes da outra vida, terá a paz de coração nesta e uma alegria inconcebível por haver respeitado duas vezes a obra de Deus.
Aquele que, por caridade para com o próximo, lhe houver provado seu amor fraterno, terá na outra vida a santa proteção e o concurso todo-poderoso da gloriosa mãe do Cristo, pois ela ama e abençoa os que cumprem os mandamentos de Deus, os que seguem e praticam os ensinos de seu Filho.
Aquele que, a despeito de todos os ultrajes, tiver respeitado a sua e a existência de seu irmão, encontrará, ao retornar ao mundo etéreo, milhões de legiões de bons e puros Espíritos que virão, não honrá-lo por sua ação, mas provar, por seu desvelo em lhe facilitar os primeiros passos na nova existência, a simpatia que soube atrair e os verdadeiros amigos que fez entre eles, seus irmãos. Todos em conjunto elevarão a Deus sinceras ações de graça por sua misericórdia, que permitiu ao seu irmão resistir à tentação.
Aquele, digo eu, que tiver resistido a essas tristes tentações, pode esperar, não a mudança dos desígnios de Deus, que são imutáveis, mas contar com a sincera e afetuosa benevolência do Espírito de Verdade — o filho de Deus — o qual de maneira incomparável inundará sua alma com a felicidade de compreender o Espírito de justiça perfeita e bondade infinita e, por conseguinte, salvaguardá-lo de qualquer outra emboscada semelhante.
Ao contrário, aqueles que, provocados ou provocadores, tiverem sucumbido, podem estar certos de que experimentarão as maiores torturas morais pela presença incessante do cadáver de sua vítima e do seu próprio; durante séculos serão consumidos pelo remorso por haverem transgredido tão gravemente os decretos celestes e serão perseguidos, até o dia da expiação, pelo espectro terrível das duas horrendas visões de seus cadáveres ensanguentados.
Felizes ainda se eles próprios aliviarem os sofrimentos por um arrependimento sincero e profundo, que lhes abra os olhos da alma, porque, então, ao menos entreverão um termo para as suas penas, compreenderão a Deus e lhe pedirão força de não mais provocar sua justiça terrível.
As palavras dever, honra, coração, muitas vezes são postas à frente pelos homens para justificar suas ações e seus crimes.
Compreenderão sempre tais palavras? Não resumem as intenções do Cristo? Por que, então, lhe mutilar o sentido? Por que, então, regredir ao barbarismo?
Infelizmente, na sua generalidade, os homens ainda se acham sob a influência do orgulho e da ostentação. Para se justificarem aos próprios olhos, fazem soar bem alto as palavras dever, honra e coração, sem suspeitarem de que estes significam cumprimento dos mandamentos de Deus, sabedoria, caridade e amor. Entretanto, com tais palavras degolam seus irmãos; com elas se suicidam e com elas se perdem.
Como estão cegos! julgam-se fortes por terem arrastado um infeliz, mais fraco que eles. Estão cegos, quando creem que a aprovação de sua conduta por outros cegos e maus como eles próprios lhes suscitará a consideração humana! A mesma sociedade onde vivem os reprova e em breve os amaldiçoará, pois chega o reino da fraternidade. Entretanto, deles fogem os homens sensatos, como se fugissem das feras.
Examinemos alguns casos e veremos se o raciocínio justifica sua interpretação das palavras dever, honra e coração.
Um homem tem o coração trespassado de dor e a alma cheia de amargura, porque surpreendeu provas irrefutáveis da má conduta da esposa. Provoca um dos sedutores dessa pobre e infeliz criatura. Tal provocação seria resultado de seus deveres, de sua honra, de seu coração? Não, porquanto sua honra não lhe será devolvida, sua honra pessoal não foi nem pode ter sido atingida. Isto será vingança.
Melhor ainda. Para provar que sua pretensa honra não está em jogo, é que muitas vezes sua infelicidade é mesmo ignorada e assim ficaria se não fosse propalada por mil vozes provocadas pelo escândalo que sua vingança ocasiona.
Enfim, se sua desventura fosse conhecida, seria sinceramente lamentada por todos os homens sensatos, resultando numerosas provas de verdadeira simpatia, e contra ele não haveria o riso dos corações maliciosos e endurecidos, mas desprezíveis.
Num e noutro caso sua honra não seria devolvida nem retirada.
Assim, o orgulho é, sozinho, o mentor de quase todos os duelos, e não a honra.
Credes que, por uma palavra, a falsa interpretação de uma frase, o roçar insensível e involuntário de um braço ao passar, enfim por um sim ou um não e até, por vezes, por um olhar que não lhe era dirigido, seja o duelista impelido por um sentimento de honra, a exigir uma pretensa reparação pelo assassinato e o suicídio? Oh! não duvideis: o orgulho e a certeza de sua força são seus únicos móveis, muitas vezes corroborados pela ostentação. Porque ele quer exibir-se, dar prova de coragem, de saber e, às vezes, de generosidade: Ostentação!!!
Ostentação, repito, porque seus conhecimentos em duelos são os únicos verdadeiros; sua coragem e sua generosidade são mentirosas.
Quereis; realmente, provar esse espadachim corajoso? Ponde-o em frente a um rival, de reputação infernal acima da sua, embora, talvez, de saber inferior: ele empalidecerá e tudo fará para evitar o combate. Ponde-o, ao contrário, em frente a um mais fraco que ele, ignorante dessa ciência duplamente mortal, e o vereis impiedoso, altivo e arrogante, mesmo quando constrangido a ter piedade. Isto é coragem?
A generosidade! Oh! falemos disto. Ora, será generoso o homem que, confiante em sua força, depois de ter provocado a fraqueza, a. esta concede a continuação de uma existência ultrajada e levada a ridículo? Será generoso aquele que, para conseguir uma coisa desejada e ambicionada, provoca seu frágil possuidor para a obter a seguir, como recompensa de sua generosidade? Será generoso aquele que, usando seus talentos criminosos, poupa a vida de seres fracos que injuriou? Será, ainda, generoso quando dá semelhante prova de generosidade ao marido ou ao irmão, a quem ultrajou indignamente, e assim o expor, pelo desespero, a um segundo suicídio?
Oh! meus amigos! crede todos que o duelo é uma horrenda e terrível invenção dos Espíritos maus e perversos, digna do estado de barbárie, que aflige ao máximo o nosso pai, o Deus tão bom.
Cabe a vós, espíritas, combater e destruir esse triste hábito, esse crime digno dos anjos das trevas; compete a vós, acima de tudo, dar o nobre exemplo da renúncia a tão funesto mal; a vós, espíritas sinceros, cabe fazer compreender a sublimidade destas palavras: dever, honra e coração; e Deus falará por vossa boca. Cabe-vos, enfim, a felicidade de semear entre vossos irmãos aquele grão tão precioso, que ignoramos em nossa existência terrena: o Espiritismo.
Teu pai, ANTÔNIO.
Observação. – Os duelos tornam-se cada vez mais raros – pelo menos na França – e se vemos ainda, de vez em quando, dolorosos exemplos, seu número não é comparável aos de outrora. Antigamente um homem não saía de casa sem prever um encontro e, em consequência, tomava todas as precauções. Um sinal característico dos costumes da época e dos povos estava no uso do porte habitual, ostensivo ou oculto, de armas ofensivas e defensivas. A abolição deste uso testemunha o abrandamento dos costumes, e é curioso seguir-lhe a gradação desde aquela época, em que os cavaleiros jamais cavalgavam sem armadura e armados de lança, até o simples porte da espada, mais como ornamento e acessório do brasão, do que arma agressiva. Um outro traço dos costumes é que outrora os combates particulares ocorriam em plena rua, perante a multidão que se afastava para deixar o campo livre, e hoje são ocultos. Atualmente a morte de um homem é um acontecimento que comove; outrora não se lhe prestava atenção. O Espiritismo varrerá estes últimos vestígios da barbárie, inculcando nos homens o espírito de caridade e de fraternidade.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
Venho a vós pobres extraviados que deslizais numa terra escorregadia, cuja súbita inclinação não espera senão que deis alguns passos para vos precipitardes no abismo. Como bom pai de família, venho vos estender a mão caridosa para vos salvar do perigo. Meu maior desejo é conduzir-vos para a casa paterna e divina, a fim de vos fazer sentir o amor de Deus e do trabalho, pela fé e pela caridade cristã, pela paz e pelos prazeres e doçuras do lar. Como vós, meus caros filhos, conheci alegrias e sofrimentos e sei todas as dúvidas dos vossos Espíritos e as lutas dos vossos corações. É para vos premunir contra vossos defeitos e vos mostrar os escolhos contra os quais podereis vos aniquilar que serei justo, mas severo.
Do alto das esferas celestes que percorro, meu olhar mergulha com alegria em vossas reuniões e é com vivo interesse que acompanho as vossas santas instruções. Mas, ao mesmo tempo que minha alma se regozija por um lado, experimenta por outro um desgosto bem amargo, quando penetra em vossos corações e ainda aí vê tanto apego às coisas terrestres. Para a maioria, o santuário de nossas lições é tido como sala de espetáculo e esperais sempre de nossa parte alguns fatos maravilhosos. Não estamos encarregados de vos fazer milagres; nossa missão é trabalhar os vossos corações, abrindo neles grandes sulcos para lançar a mancheias a semente divina. Dedicamo-nos incessantemente a torná-la fecunda, porque sabemos que suas raízes devem atravessar a terra de um a outro polo, cobrindo-lhe toda a superfície. Os frutos que daí saírem serão tão belos, tão suaves e tão grandes que subirão até os céus.
Felizes os que tiverem sabido colhê-los para se saciar, porque os Espíritos bem-aventurados virão ao seu encontro, cingirão a sua fronte com a auréola dos eleitos, fá-lo-ão subir os degraus do trono majestoso do Eterno e lhe dirão que participe da felicidade incomparável, dos prazeres e das delícias sem-fim das falanges celestes.
Infeliz daquele a quem foi dado ver a luz e ouvir a palavra de Deus e que tiver fechado os olhos e tapado os ouvidos; o Espírito das trevas o envolverá com suas lúgubres asas e o transportará para o seu tenebroso império, a fim de o fazer expiar, durante séculos, por tormentos sem conta, sua desobediência ao Senhor. É o momento de aplicar a sentença de morte do profeta Oseias: Cœdam eos secundum auditionem cœtus eorum (Eu os farei morrer conforme o que tiverem ouvido). Que estas breves palavras não sejam uma fumaça a evolar-se nos ares, mas, sim, que cativem a vossa atenção, para que as mediteis e reflitais seriamente. Apressai-vos por aproveitar os poucos instantes que vos restam para os consagrar a Deus. Um dia, viremos vos pedir conta do que tiverdes feito dos nossos ensinos e como tereis posto em prática a doutrina sagrada do Espiritismo.
A vós, pois, espíritas de Paris, que muito podeis por vossa posição social e por vossa influência moral, a vós, digo, a glória e a honra de dar o exemplo sublime das virtudes cristãs. Não espereis que o infortúnio venha bater à vossa porta. Ide à frente de vossos irmãos sofredores, dai ao pobre o óbolo do dia, enxugai as lágrimas da viúva e do órfão com palavras doces e consoladoras. Levantai o ânimo abatido do velho, curvado ao peso dos anos e sob o jugo de suas iniquidades, fazendo luzir em sua alma as asas douradas da esperança numa vida futura melhor. Por toda parte, à vossa passagem, prodigalizai o amor e a consolação. Assim, elevando as vossas boas obras à altura dos vossos pensamentos, merecereis dignamente o título glorioso e brilhante que mentalmente vos conferem os espíritas da província e do estrangeiro, cujos olhos estão fixados sobre vós e que, tocados de admiração à vista das ondas de luz que escapam de vossas assembleias, vos chamarão o sol da França.
Lacordaire.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
Por que, em nossas conversas com os Espíritos das pessoas que nos foram muito queridas, sentimos um embaraço, uma frieza mesmo, que jamais teríamos sentido quando elas eram vivas?
Resposta. – Porque sois materiais e nós não mais o somos. Vou fazer uma comparação que, como todas as comparações, não será absolutamente exata; contudo, o será bastante para o que quero dizer.
Suponho que experimentes por uma mulher uma dessas paixões que só os romancistas imaginam entre vós e que considerais exageradas, enquanto para nós parecem pouco diferir, pelo menos das que conhecemos na vastidão infinita.
Continuo supondo. Depois de ter tido, por algum tempo, a felicidade inefável de falar diariamente com essa mulher e de a contemplar tanto quanto possível, uma circunstância qualquer faz com que não mais a possas ver e que deves contentar-te apenas em ouvi-la. Crês que teu amor resistiria sem nenhuma brecha a uma situação desse gênero, prolongada indefinidamente? Confessa que ele sofreria alguma modificação, ou aquilo que chamaríamos uma diminuição.
Vamos mais longe. Não só não poderás mais ver esta bela amiga, mas nem mesmo poderás ouvi-la. Não deixam que te aproximes dela. Prolonga essa situação durante alguns anos e vê o que acontecerá.
Agora, mais um passo. A mulher que amas está morta; há muito tempo encontra-se sepultada nas trevas do sepulcro. Nova mudança em ti. Não quero dizer que a paixão esteja morta com o seu objeto, mas sustento que, pelo menos, transformou-se. E de tal modo que, se por um favor celeste, a mulher que tanto lamentas e por quem sempre choras viesse apresentar-se à tua frente, não na odiosa realidade do esqueleto que repousa no cemitério, mas sob a forma que amavas e adoravas até o êxtase, estás bem seguro de que o primeiro efeito da aparição imprevista não seria um sentimento de profundo terror?
Como vês, meu amigo, as paixões, as afeições vivas não são possíveis em toda a sua plenitude senão entre pessoas da mesma natureza, entre mundanos e mundanos, entre Espíritos e Espíritos. Com isto não pretendo dizer que toda afeição deva apagar-se com a morte, mas que muda de natureza e toma outro caráter. Numa palavra, quero dizer que em vossa Terra conservais uma boa lembrança daqueles a quem amastes, mas que a matéria, no meio da qual viveis, só vos permite compreender e praticar amores materiais; que, sendo tal gênero necessariamente impossível entre vós e nós, sois tão desajeitados e frios nas vossas relações conosco. Se queres convencer-te, relê algumas conversas espíritas entre parentes, amigos ou conhecidos; nelas encontrarás tanto gelo que fará com que os habitantes dos pólos sintam frio.
Não o queremos, nem nos entristecemos por isso, desde que sejamos suficientemente elevados na hierarquia dos Espíritos para perceber e compreender; mas, naturalmente, isto não deixa de ter alguma influência sobre a nossa maneira de ser para convosco.
Lembra-te da história de Hanifa † que, podendo entrar em comunicação com a filha querida, que tanto pranteava, faz-lhe esta primeira pergunta: Há um tesouro oculto nesta casa? Só obteve como resposta uma bela mistificação, que ela mesma provocou!
Penso, meu amigo, ter dito o bastante para que bem sintas a causa do mal-estar que necessariamente existe entre vós e nós. Poderia ter dito mais. Por exemplo, que vemos todas as vossas imperfeições e impurezas do corpo e da alma e que, do vosso lado, tendes a consciência de que o vemos. Confessa que é embaraçoso para ambos os lados. Coloca dois amantes apaixonadíssimos nessa caixa de vidro onde tudo aparece, tanto no moral como no físico e pergunta a ti mesmo o que acontecerá.
Quanto a nós, animados por um sentimento de caridade que não podeis compreender, somos, em relação a vós, como a boa mãe, a quem as enfermidades e as traquinadas do filho chorão que lhe tira o sono não a fazem esquecer, nem mesmo por um instante, os sublimes instintos da maternidade. Nós vos vemos fracos, feios, maus e, contudo, vos amamos, porque nos esforçamos por melhorar-vos. Mas não nos fazeis justiça, temendo-nos mais do que nos amando.
Désiré Léglise.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.
1. — A respeito da questão dos milagres do Espiritismo, que nos tinha sido proposta e que foi tratada em nosso último número [O Espiritismo é provado por milagres?], também nos propuseram esta pergunta: “Os mártires selaram com o próprio sangue a verdade do Cristianismo. Onde estão os mártires do Espiritismo?”
Tendes, pois, muita pressa em ver os espíritas na fogueira e atirados às feras, o que leva a supor que boa vontade não vos faltaria se isto ainda pudesse acontecer. Quereis, a todo custo, promover o Espiritismo à categoria de uma religião! Notai que ele jamais teve essa pretensão; nunca se colocou como rival do Cristianismo, do qual declara ser filho; que combate seus mais cruéis inimigos: o ateísmo e o materialismo. Ainda uma vez, é uma filosofia que repousa sobre as bases fundamentais de toda religião e na moral do Cristo; se renegasse o Cristianismo, ele se desmentiria e se suicidaria. São seus inimigos que o apresentam como uma nova seita, que lhe deram sacerdotes e sumo-sacerdotes. De tanto gritarem que é uma religião, as pessoas acabarão por crer. É preciso ser uma religião para possuir seus.mártires? A Ciência, as artes, o gênio, o trabalho e as ideias novas não tiveram, em todas as épocas, os seus mártires?
Não ajudam a fazer mártires os que apontam os espíritas como reprovados, como párias de quem se deve fugir ao contato? os que sublevam contra eles a populaça ignorante a ponto de lhes tirar os meios de subsistência, esperando vencê-los pela fome, em falta de boas razões? Bela vitória se o conseguissem! Mas a semente está lançada e germina em toda parte; se for abafada num ponto, crescerá em cem outros. Tentai, pois, ceifar a terra inteira!
Deixemos, porém, que falem os Espíritos encarregados de responder à questão.
2. — Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas.
O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus.
Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!
Santo Agostinho.
3. — O progresso do tempo substituiu as torturas físicas pelo martírio da concepção e do nascimento cerebral das ideias que, filhas do passado, serão as mães do futuro. Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade.
Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.
Lázaro.
4. — Como bem dizeis, em todos os tempos a crença tem produzido mártires. Mas, também — é preciso que se diga – muitas vezes o fanatismo estava de ambos os lados e então, quase sempre, corria sangue. Hoje, graças aos moderadores das paixões, aos filósofos ou, antes, graças a essa filosofia que começou com os escritores do século dezoito, o fanatismo apagou o seu facho e embainhou a espada. Em nosso tempo é difícil imaginar a cimitarra de Maomé, a forca e a roda da Idade Média, suas fogueiras e torturas de toda sorte, assim como não fazemos ideia das feiticeiras e dos magos. Outros tempos outros costumes, diz um sábio provérbio. Como vedes, a palavra costumes tem aqui acepção muito ampla; conforme a sua etimologia latina, significa: hábitos, maneira de viver. Ora, em nosso século, nossa maneira de ser não é de cobrir-se com cilício, ir às catacumbas nem de subtrair suas preces aos procônsules e aos magistrados da cidade de Paris. † O Espiritismo, pois, não verá erguer-se o machado, nem a chama das fogueiras devorarem os seus adeptos. A gente se bate a golpes de ideias, a golpes de livros, a golpes de comentários, a golpes de ecletismo e a golpes de teologia, mas a noite de São Bartolomeu não mais se repetirá. [v. Os gritos da noite de São Bartolomeu.] Certamente poderá haver algumas vítimas nas nações atrasadas; contudo, somente a ideia será combatida e ridicularizada nos centros civilizados. Assim, pois, nada de machado, de feixe de varas, de óleo fervente; mas atentai para o espírito voltaireano mal compreendido: eis o carrasco. É preciso preveni-lo, mas não temê-lo: ele ri, em vez de ameaçar; lança o ridículo, em vez da blasfêmia e seus suplícios são as torturas do espírito que sucumbe à opressão do sarcasmo moderno. Mas, sem desagradar aos pequenos 5oltaires de nossa época, a juventude compreenderá facilmente essas três palavras mágicas: liberdade, igualdade, fraternidade. Quanto aos sectários, estes são mais para temer, porque são sempre os mesmos, malgrado o tempo e apesar de tudo; podem fazer o mal algumas vezes, mas são incoerentes, fingidos, velhos e impertinentes. Ora, vós que passais pela fonte de Juventa, † e cuja alma remoça e se revigora, não os temais, porque o seu próprio fanatismo os perderá.
Lamennais.