Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862

Capítulo LXXXVII

Novembro - Remédio dado pelos espíritos

Novembro

Este título vai provocar o riso dos incrédulos. Que importa! Eles riram de muitas outras coisas, o que não impediu fossem reconhecidas como verdades. Os bons Espíritos se interessam pelo sofrimento da Humanidade. Não é, pois, de admirar que nos procurem aliviar, e em muitas ocasiões provaram que o podem, quando bastante elevados para terem os necessários conhecimentos, pois veem o que não veem os olhos do corpo e preveem o que o homem não pode prever.

O remédio de que se trata foi dado nas circunstâncias seguintes, à senhorita Ermance Dufaux[1], a qual nos remeteu a fórmula, autorizando a sua publicação, em favor dos que dela pudessem necessitar. Um de seus parentes, falecido há muito tempo, tinha trazido da América a receita de um unguento ou pomada, de maravilhosa eficácia para toda sorte de chagas ou feridas. Com sua morte, perdeu-se a receita, que não tinha sido dada a ninguém.

A senhorita Dufaux estava afetada de um mal na perna, muito grave e muito antigo, e que havia resistido a todo tratamento. Cansada do emprego inútil de tantos remédios, um dia perguntou a seu Espírito protetor se para ela não haveria cura possível.

─ Sim, ─ respondeu ele. ─ Serve-te da pomada de teu tio.

─ Mas vós sabeis que a receita se perdeu.

─ Eu vou te dar ─ disse o Espírito. Depois ditou o seguinte:

“Açafrão - 20 centigramas

“Cominho - 4 gramas

“Cera amarela - 31 a 32 gramas

“Óleo de amêndoas doces - uma colher

“Derreter a cera e depois juntar o óleo de amêndoas doces; juntar o açafrão e o cominho num saquinho de pano fino e ferver durante dez minutos em fogo brando. Espalhar a pomada num pedaço de pano e cobrir com ele a parte doente. Renovar diariamente o tratamento.

“Antes da aplicação do unguento é preciso lavar a ferida com água de malva ou outra loção refrescante”

Tendo seguido a prescrição, em pouco tempo a perna da senhorita Dufaux estava cicatrizada, a pele restaurada e, desde então, não sobreveio qualquer acidente.

Também sua lavadeira foi, felizmente, curada de mal idêntico.

Um operário se havia ferido com um fragmento de foice, que penetrou profundamente na ferida, produzindo inchação e supuração. Falavam em amputarlhe a perna. Com o emprego daquela pomada, a inchação desapareceu, parou a supuração e o pedaço de ferro saiu da ferida. Em oito dias aquele homem recuperouse e pôde voltar ao trabalho.

Aplicada sobre furúnculos, abscessos, panarícios, ela faz supurar em pouco tempo e cicatrizar. Atua tirando da chaga os princípios mórbidos, saneando-a e provocando, se for o caso, a saída de corpos estranhos, como esquírolas de ossos, de madeira, etc.

Parece que é também eficaz para os dartrosos, e em geral para todas as afecções da pele.

Sua composição, como se vê, é muito simples, fácil e, em todo caso, inofensiva. Pode-se, pois, experimentar sem receio.



[1] Médium que escreveu a história de Joana d’Arc