Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862

Capítulo 324

Março Conversas de Além-túmulo

Março

1. — Depois de sua morte, o Sr. Jobard comunicou-se várias vezes na Sociedade, em sessões a que diz assistir quase sempre. Antes de as publicar, preferimos esperar ter uma série de manifestações, formando um conjunto que permitisse melhor apreciá-las. Tínhamos a intenção de o evocar na sessão de 8 de novembro quando, informado do nosso desejo, manifestou-se espontaneamente. (Vide o seu necrológio, publicado na Revista Espírita do mês de dezembro de 1861.)


2. DITADO ESPONTÂNEO.


(Sociedade Espírita de Paris, 8 de novembro de 1861. – Médium: Sra. Costel.)

Eis-me aqui, eu que ides evocar e quero manifestar-me, primeiramente por este médium, que em vão solicitei até agora.

Antes de mais, quero contar minhas impressões no momento da separação de minha alma. Senti um abalo estranho; de repente lembrei-me do meu nascimento, de minha juventude, de minha idade madura. Toda a minha vida delineou-se claramente em minha memória. Experimentava um piedoso desejo de encontrar-me nas regiões reveladas por nossa querida crença; depois, todo esse tumulto se acalmou. Eu estava livre e meu corpo jazia inerte. Ah! meus caros amigos, que encanto desvencilhar-se do peso do corpo! Que deleite abarcar o espaço! Contudo, não imagineis que de repente me tenha tornado um eleito do Senhor; não, estou entre os Espíritos que, tendo aprendido pouco, devem ainda muito aprender. Não demorei a me lembrar de vós, meus irmãos no exílio e, eu vo-lo asseguro, toda a minha simpatia, todos os meus votos vos envolveram. Tive logo o poder de me comunicar e o teria feito por este médium, que teme ser enganada; mas que ela sossegue, pois nós a amamos.

Quereis saber quais os Espíritos que me receberam? quais as minhas impressões? Meus amigos foram todos os que nós evocamos, todos os irmãos que compartilharam dos nossos trabalhos. Vi o esplendor, mas não o posso descrever. Apliquei-me em distinguir o que era verdadeiro nas comunicações, pronto a retificar todas as asserções errôneas; enfim, pronto para ser o cavaleiro da verdade no outro mundo, como o fui no vosso. Assim, conversaremos muito e isto não passa de um preâmbulo para mostrar ao caro médium meu desejo de ser evocado por ela, e a vós minha boa vontade para responder às perguntas que ireis me dirigir.


Jobard.


3. ENTREVISTA.


1. Em vida tínheis recomendado que vos chamásseis quando houvésseis deixado a Terra. Fazemo-lo não só para nos conformar ao vosso desejo, mas, sobretudo, para vos renovar o testemunho de nossa mui viva e sincera simpatia e, também, no interesse de nossa instrução, porquanto, melhor que ninguém, estais em condições de nos dar ensinamentos precisos sobre o mundo em que vos encontrais. Assim, ficaremos felizes se vos dignardes responder às nossas perguntas.

Resposta. – A esta hora o que mais importa é a vossa instrução. Quanto à vossa simpatia, eu a vejo e não a compreendo mais apenas pelos ouvidos, o que constitui um grande progresso.


2. Para fixar nossas ideias e não falar vagamente, assim como para a instrução das pessoas estranhas à Sociedade e presentes à sessão, perguntaremos, antes de mais, em que lugar estais aqui e como nós vos veríamos, se o pudéssemos?

Resposta. – Estou perto do médium. Ver-me-íeis com a aparência do Jobard que se assentava à vossa mesa, porque os vossos olhos mortais não descerrados só podem ver os Espíritos sob sua aparência mortal.


3. Teríeis a possibilidade de vos tornardes visível para nós? Em caso contrário, o que se opõe a isto?

Resposta. – A disposição que vos é inteiramente pessoal. Um médium vidente me veria; os outros não me percebem.


4. Este lugar é o que ocupáveis em vida, quando assistíeis às nossas sessões e que vos tínhamos reservado. Aqueles, pois, que vos viram, devem imaginar que vos veem tal qual éreis então. Se aí não estais com o corpo material, estais com o corpo fluídico, que tem a mesma forma; se não vos vemos com os olhos do corpo, vemos com os do pensamento; se não vos podeis comunicar pela palavra, podeis fazê-lo pela escrita com a ajuda de um intérprete. Portanto, nossas relações convosco não estão interrompidas pela vossa morte e podemos conversar convosco tão fácil e completamente como outrora. É exatamente assim que são as coisas?

Resposta. – Sim, e o sabeis há muito tempo. Muitas vezes ocuparei este lugar, mesmo sem o perceberdes, porquanto o meu Espírito habitará entre vós.


5. Não faz muito tempo, estáveis sentado neste mesmo lugar. As condições em que agora estais vos parecem estranhas? Que efeito essa mudança produziu em vós?

Resposta. – Elas não me parecem estranhas, pois não senti perturbação e meu Espírito desencarnado desfruta de uma clareza que não deixa na sombra nenhuma das questões que encara.


6. Recordai-vos de haver estado nas mesmas condições antes da vossa última existência e encontrais algo mudado?

Resposta. – Lembro-me de minhas existências anteriores e acho que estou melhorado. Veja e assimilo o que percebo. Quando de minhas precedentes encarnações, Espírito perturbado, só divisava lacunas terrestres.


7. Lembrai-vos de vossa penúltima existência, da que precedeu o Sr. Jobard?

Resposta. – Em minha penúltima existência fui um operário mecânico, atormentado pela miséria e pelo desejo de aperfeiçoar o meu trabalho. Como Jobard, realizei os sonhos do pobre operário e louvo a Deus por sua bondade infinita, ao fazer germinar a planta, cuja semente havia depositado em meu cérebro.


(11 de novembro. Sessão particular. – Médium: Sra. Costel.)

8. Evocação.

Resposta. – Estou aqui, encantado por ter oportunidade de te falar (ao médium) e a vós também.


9. Parece-nos que tendes um fraco pelo médium.

Resposta. – Não me censureis, porque foi preciso que me tornasse Espírito para o testemunhar.


10. Já vos comunicastes alhures?

Resposta. – Pouco me comuniquei. Em muitos lugares um Espírito toma o meu nome; algumas vezes eu estava perto dele, mas não podia manifestar-me diretamente. Minha morte é tão recente que ainda sofro certas influências terrestres. É preciso uma simpatia perfeita, a fim de que eu possa exprimir o pensamento. Em pouco tempo agirei indistintamente; não o posso ainda, repito. Quando morre um homem um pouco conhecido, chamam-no de todos os lados; milhares de Espíritos se apressam em revestir-se de sua individualidade; foi o que me aconteceu em muitas circunstâncias. Asseguro-vos que logo depois da libertação poucos Espíritos podem comunicar-se, mesmo por um médium de sua preferência.


11. Vossas ideias se modificaram um pouco de sexta-feira para cá?

Resposta. – São absolutamente as mesmas de sexta-feira. Pouco me ocupei das questões puramente intelectuais, no sentido em que as tomais. Como o poderia eu, deslumbrado, arrastado pelo maravilhoso espetáculo que me cerca? O mais poderoso laço do Espiritismo, que vós homens não podeis conceber, só pode atrair meu ser para a Terra, que abandono não com alegria, pois seria uma impiedade, mas com o profundo reconhecimento pela libertação.


12. Vedes os Espíritos que aqui estão conosco?

Resposta. – Vejo principalmente Lázaro e Erasto; depois, mais afastado, o Espírito de Verdade, planando no espaço; mais adiante, uma multidão de Espíritos amigos que vos cercam, pressurosos e benevolentes. Sede felizes, amigos, porque as boas influências vos disputam às calamidades do erro.


13. Ainda uma pergunta, por obséquio. Conheceis as causas de vossa morte?

Resposta. – Não me faleis disto ainda.


Observação. – A Sra. Costel diz ter recebido uma comunicação em sua casa, pela qual lhe anunciavam que o Sr. Jobard tinha morrido porque queria ultrapassar o limite atualmente fixado ao Espiritismo. Assim, sua partida teria sido precipitada por este motivo [v.comunicação espontânea do Espírito A Verdade]. Pessoalmente, o Sr. Jobard ainda não se explicou a respeito. Várias outras comunicações parecem corroborar a opinião acima. Mas o que ressalta de certos fatos é uma espécie de mistério sobre as causas de sua morte precipitada que, conforme dizem, será explicada mais tarde.


(Sociedade, 22 de novembro de 1861.)

14. Quando vivo, partilháveis a opinião de que a formação da Terra se dera pela incrustação de quatro planetas, que se haviam soldado; ainda conservais a mesma crença?

Resposta. – É um erro. As novas descobertas geológicas provam as convulsões da Terra e sua formação sucessiva. Como todos os planetas, a Terra teve sua vida própria e Deus não necessita dessa grande desordem ou dessa agregação de planetas. A água e o fogo são os únicos elementos orgânicos da Terra.


15. Também pensáveis que os homens podiam entrar em catalepsia durante um tempo ilimitado e, que dessa maneira, o gênero humano tinha sido trazido à Terra.

Resposta. – Ilusão de minha imaginação, que sempre ultrapassava os limites. A catalepsia pode ser longa, mas não indefinida. Tradições, lendas ampliadas pela imaginação oriental. Meus amigos: já sofri muito ao repassar as ilusões de que se nutria o meu Espírito. Não vos enganeis mais. Muito tinha aprendido e, posso dizê-lo, minha inteligência, pronta para assenhorear-se de seus vastos e diversos estudos, tinha guardado da última encarnação o amor ao maravilhoso e ao conjunto tirado da imaginação popular.


(Bordeaux, 24 de novembro de 1861. – Médium: Sra. Cazemajoux.)

16. Evocação.

Resposta. – Teremos sempre de recomeçar? Muito bem! eis-me aqui. Que desejais?


17. Acabamos de saber de vossa morte. Como um dos campeões de nossa doutrina, poderíeis responder a algumas de nossas perguntas?

Resposta. – Olha, eu não sei bem com quem estou, mas os Espíritos me dizem que este médium recebeu algumas mensagens inseridas na Revista e que me agradaram. É preciso, por minha vez, que eu lhe dê algumas. Não faz muito tempo que me ausentei da Terra; dentro de alguns anos a ela voltarei para retomar o curso da missão que aí deveria cumprir, pois ela foi interrompida pelo anjo da libertação.


18. Falais de uma missão que deveríeis realizar na Terra. Poderíeis torná-la conhecida?

Resposta. – Missão de progresso intelectual e moral em estado de germe. A doutrina ou ciência espírita contém os elementos fecundos que devem desenvolver, fazer crescer e amadurecer as modernas ideias de liberdade, de unidade e de fraternidade. É por isso que não se deve temer de lhe dar um vigoroso impulso, que a fará transpor os obstáculos com uma força que nada poderá dominar.


19. Marchando mais rápido que o tempo não é de temer prejudicar a doutrina?

Resposta. – Derrubaríeis os adversários. Vossa lentidão lhes deixa ganhar terreno. Não gosto do passo vagaroso e pesado da tartaruga; prefiro o voo audacioso do rei dos ares.

Observação. – Isto é um erro. Os partidários do Espiritismo ganham terreno diariamente, enquanto seus adversários o perdem. O Sr. Jobard é sempre entusiasta; não compreende que, com a prudência, se alcança o objetivo com mais segurança, ao passo que nos arriscamos a comprometer a sua causa quando nos atiramos violentamente contra os obstáculos. A. K.


20. Então, como explicar os desígnios de Deus, em vos arrancando da Terra de maneira tão súbita, se tinha em vós o instrumento necessário à marcha rápida da Humanidade para o progresso moral e intelectual?

Resposta. – Oh! que alavanca seria uma parte dos espíritas com minhas ideias! Mas não; o medo os paralisa!


21. Podeis nos explicar os desígnios de Deus vos chamando antes do término de vossa missão?

Resposta. – Não me aborreci; vejo e aprendo para estar mais forte quando soar a hora da luta. Redobrai de fervor e zelo pela nobre e santa causa da Humanidade. Uma só existência não é suficiente para ver realizar-se a crise que deve transformar a sociedade e muitos dentre vós, que preparais os caminhos, revivereis depois de algum tempo para ajudar novamente a obra santa e bendita. Creio que já vos disse o bastante por esta noite. Mas estou à vossa disposição; voltarei, porque sois bom e fervoroso adepto. Adeus. Nesta noite quero assistir à sessão de nosso caro mestre Allan Kardec.


22. Não respondestes à pergunta sobre os desígnios de Deus vos chamando antes do término de vossa missão.

Resposta. – Somos instrumentos adequados para ajudar seus desígnios. Ele nos dobra à sua vontade e nos põe novamente em cena quando julga útil. Submetamo-nos, pois, aos seus desígnios sem procurar aprofundá-los, porque ninguém tem direito de rasgar o véu que oculta aos Espíritos os decretos imutáveis.

Adeus!

Jobard.


(Passy, 20 de dezembro de 1861. – Médium: Sra. Dozon.)

23. Evocação.

Resposta. – Não sei por que me evocais. Nada sou para vós; assim, nada vos devo. Também nada responderei sem o Espírito de Verdade, que me diz que foi Kardec quem vos pediu para que eu viesse até vós. Pois bem! aqui estou. Que vos devo dizer?


24. Com efeito, o Sr. Allan Kardec nos pediu que vos evocássemos, com vistas a controlar diversas comunicações vossas, comparando-as entre si. É um estudo, e esperamos que vos presteis a isso, no interesse da ciência espírita, descrevendo a vossa situação e as vossas impressões desde que deixastes a Terra.

Resposta. – Eu não estava certo de tudo na vida terrestre; começo a saber. Depurando-se da perturbação, minhas ideias chegam a uma nova claridade e, desde já, volto dos erros de minhas crenças. Isto é uma graça da bondade de Deus, mas um pouco tardia. O Sr. Allan Kardec não tinha uma simpatia total por meu Espírito, e assim devia ser: ele é positivo na sua fé. Muitas vezes eu sonhava e rebuscava, ao lado da realidade. Não sei ao certo o que eu queria, a não ser uma vida melhor do que a que tinha. O Espiritismo me veio mostrá-la e o mais esclarecido dos espíritas me ergueu o véu da vida dos Espíritos. Foi A Verdade quem o inspirou; O Livro dos Espíritos fez uma verdadeira revolução em minha alma e um bem impossível de dizer. Mas houve em meu Espírito dúvidas sobre muitas coisas que a mim se mostram hoje sob uma luz completamente diversa. Já vos dissera no começo desta comunicação: desembaraçando-se da perturbação, o Espírito mostra-me o que eu não via. O Espírito se afasta; seu desprendimento ainda não é total; entretanto, já se comunicou várias vezes. Mas – coisa bizarra, talvez para vós – é a mudança que se faz aos olhos dos evocadores nas comunicações do Espírito Jobard.


Em seguida o mesmo médium recebeu a comunicação espontânea:

Jobard era um Espírito pesquisador, querendo subir, sempre subir. As ideias espíritas pareciam-lhe um panorama por demais acanhado. Jobard representava o espírito de curiosidade; queria saber, sempre saber. Essa necessidade, essa sede o impeliram a pesquisas que excediam os limites daquilo que Deus quer que saibais. Não tenteis, pois, arrancar o véu que cobre os mistérios de seu poder! Jobard empunhou o arco e foi fulminado. Isto é um ensinamento: buscai o Sol, mas não sejais audaciosos a ponto de o fixar, pois ficareis cegos. Deus não vos dá bastante, enviando-vos os Espíritos? Deixai, pois, à morte o poder que Deus lhe concedeu: o de erguer o véu a quem o merece. Então podereis olhar a Deus, Sol dos céus, sem serdes enceguecidos nem fulminados pelo poder que vos diz: “Não vades mais longe.” Eis o que vos devo dizer.


A Verdade.


4. (Sociedade, 3 de janeiro de 1862. – Médium: Sra. Costel.)


Nota. – O Sr. Jobard manifestou-se várias vezes em casa do Sr. e da Sra. P…, membros da Sociedade. Uma vez, e sem que tivessem pensado nele, ele se mostrou espontaneamente a uma sonâmbula, que o descreveu de maneira muito exata e disse seu nome, embora jamais o tivesse conhecido. Tendo-se estabelecido uma conversa entre ele e o Sr. P…, por intermédio da sonâmbula, o Sr. Jobard lembrou diversas particularidades, de modo a não deixar qualquer dúvida quanto à sua identidade. Uma coisa, sobretudo, os havia chocado: é que, na única ocasião que o viram na Sociedade, ele mantivera os olhos fixos neles, como se procurasse pessoas conhecidas, circunstância que haviam esquecido e que o Espírito do Sr. Jobard lhes recordou, por intermédio da sonâmbula. O Sr. e a Sra. P…, que jamais haviam tido contato com ele em vida, desejavam saber o motivo da simpatia que lhes parecia manifestar. Foi com esse propósito que ele ditou a seguinte comunicação:

“Incrédulo! tu tinhas necessidade dessa confirmação da sonâmbula para acreditar em minha identidade! Ingrato! esqueceste-me durante muito tempo sob o pretexto de que os outros se recordam mais. Porém, deixemos as censuras e falemos.. Abordemos o assunto para o qual me fizestes evocar. Posso explicar facilmente por que minha atenção se havia excitado à vista daquele casal que me era estranho, mas que uma espécie de instinto, de dupla vista, de presciência me levava a reconhecer. Depois de minha libertação vi que nos tínhamos conhecido precedentemente e eu voltei para eles: é a palavra.

“Começo a viver espiritualmente, mais tranquilo e menos perturbado pelas evocações por vias indiretas que choviam sobre mim. A moda impera, mesmo entre os Espíritos. Quando a moda Jobard ceder lugar a um outro e eu tiver entrado no nada do esquecimento humano, então pedirei aos amigos sérios – e com isto entendo as inteligências que não esquecem – que me evoquem. Então aprofundaremos questões tratadas muito superficialmente, e o vosso Jobard, completamente transfigurado, vos poderá ser útil, o que ele deseja de todo o coração.”


Jobard.


(Ao médium, Sra. Costel.) – “Volto. Desejas saber por que manifesto preferência por ti. Quando eu era mecânico, tu eras poeta, e te conheci no hospital onde morreste, senhora!


Jobard.


5. (Montreal. – Canadá, 19 de dezembro de 1861.)


O Sr. Henri Lacroix nos escreve de Montreal que havia dirigido três cartas ao Sr. Jobard, mas este não recebeu senão duas, pois a terceira chegara tarde demais. Só a primeira foi respondida. Tendo tomado conhecimento de sua morte pelos jornais, o Sr. Lacroix recebeu comunicações de vários Espíritos, assinadas por Voltaire, Volney, Franklin, garantindo que a notícia era falsa e que o Sr. Jobard se encontrava muito bem. A Revista Espírita acaba de afastar suas dúvidas, confirmando o acontecimento. Foi então que o Espírito do Sr. Jobard, ao ser evocado, deu a seguinte comunicação, cuja exatidão pede o Sr. Lacroix que controlemos.

“Meu caro mestre: como dizeis, morri, mas não estou morto, pois vos falo. Aqueles que se incumbiram de vos dizer que eu não havia falecido talvez quisessem pregar-vos uma peça. Não os conheço ainda, mas os conhecerei e saberei o motivo por que agiram assim. Escrevei a Kardec e eu vos responderei. Penso que não poderei responder pela mesa, mas, em todo o caso, tentai e farei o que puder. As duas cartas que recebi de vossa parte contribuíram fortemente para me causar a morte. Mais tarde sabereis como.”


Jobard.


6. — Evocado a respeito, a 10 de janeiro, na Sociedade de Paris, o Sr. Jobard respondeu que se reconhecia como o autor da comunicação, mas que o suposto retrato, feito a seguir, não era ele, nem dele, o que acreditamos sem dificuldade, pois não se parece nem um pouco com ele.


1. – Como puderam contribuir para a vossa morte as duas cartas que recebestes?

Resposta. – Não posso e nem quero dizer aqui senão uma coisa: a leitura dessas duas cartas após a refeição determinou a congestão que me levou, ou, se preferis, que me libertou.


Observação. – Enquanto o médium escrevia esta resposta, e antes que fosse lida, outro médium recebeu de seu guia particular a seguinte resposta:

“Explicação difícil, que ele não dará em detalhes. Há coisas que Jobard não pode dizer aqui.”


2. – O Sr. Lacroix deseja saber por que razão vários Espíritos vieram espontaneamente desmentir a notícia de vossa morte.

Resposta. – Se ele tivesse prestado mais atenção, teria reconhecido facilmente o embuste. Quantas vezes será preciso repetir que devemos desconfiar, quase de modo absoluto, das comunicações espontâneas dadas a propósito de um fato, afirmando ou negando com intenção deliberada! Os Espíritos só enganam os que se deixam enganar.”


Observação. – Durante esta resposta outro médium escreveu o seguinte:

“Espíritos que gostam de tagarelar sem se importarem com a verdade. Há Espíritos que são como os homens; tomam conhecimento de uma notícia, afirmando-a ou desmentindo-a com a mesma facilidade.”

É evidente que os nomes que assinaram o desmentido da morte do Sr. Jobard são apócrifos. Para o reconhecer, bastava considerar que Espíritos como Franklin, Volney e Voltaire têm coisas mais sérias com que se ocupar e que semelhantes detalhes são incompatíveis com o seu caráter. Só isto já deveria inspirar a dúvida quanto à sua identidade e, conseguintemente, sobre a veracidade das comunicações. Nunca repetiremos em demasia: somente um estudo prévio, completo e atento da ciência espírita pode oferecer os meios de frustrar as mistificações dos Espíritos enganadores, a que estão expostos todos os noviços que não possuem a necessária experiência.


3. – Só respondestes à primeira carta do Sr. Lacroix. Ele deseja obter resposta das duas últimas, sobretudo da terceira que, como diz, tinha um cunho particular que só por vós poderia ser compreendida.

Resposta. – Ele a terá mais tarde. No momento não o posso. Seria inútil provocá-la; de outro modo, ele poderia estar certo de que não seria eu que responderia.


7. (Sociedade Espírita de Paris, 21 de fevereiro de 1862. – Médium: Srta. Estefânia.)


Quando a Sociedade abriu a subscrição em favor dos operários de Lyon, um sócio depositou 50 francos, dos quais 25 por sua conta e 25 em nome do Sr. Jobard. A propósito, este último deu a seguinte comunicação:

“Ainda uma vez vou responder, meu caro Kardec. Estou sensibilizado e reconhecido por não ter sido esquecido entre meus irmãos espíritas. Obrigado ao coração generoso que vos levou a oferta que eu vos teria feito se ainda habitasse no vosso mundo. Naquele onde agora vivo não há necessidade de moeda. Assim, foi preciso tirá-la da bolsa da amizade para dar provas materiais de que estava tocado pelo infortúnio dos meus irmãos de Lyon. Bravos trabalhadores, que ardentemente cultivais a vinha do Senhor, quanto deveis crer que a caridade não é uma palavra vã, pois os pequenos e os grandes vos demonstraram simpatia e fraternidade. Estais na grande via humanitária do progresso; possa Deus nela vos manter e possais vós ser mais felizes. Os Espíritos amigos vos sustentarão e triunfareis!”


Jobard.


8. SUBSCRIÇÃO PARA ERIGIR UM MONUMENTO À MEMÓRIA DO SR. JOBARD.


Tendo os jornais anunciado uma subscrição para erigir um monumento ao Sr. Jobard, o Sr. Allan Kardec comunicou o fato à Sociedade na sessão de 31 de janeiro último, acrescentando que se propunha a falar do assunto na Revista, mas que tinha achado melhor adiar o anúncio dessa subscrição, considerando que teria pouca possibilidade de sucesso, a exemplo daquela em favor dos operários; que refletissem que mais valeria dar pão aos vivos do que pedras aos mortos.

Interrogado sobre o que pensava, o Sr. Jobard respondeu: “Certamente. Mas refleti: quereis saber se gosto de estátuas. Começai por dar vosso dinheiro aos pobres; e se, por acaso, nos vossos bolsos restarem algumas moedas de 5 francos, mandai erigir uma estátua; isto sempre dará para um artista viver.”

Em consequência, a Sociedade receberá os donativos que lhe forem feitos para esse fim e depositará os valores no escritório do jornal La Propriété industrielle, rue Bergère, 21, onde a subscrição está aberta.