O sacrifício da carne foi severamente condenado pelos grandes filósofos da antiguidade. O Espírito elevado revolta-se à ideia do sangue e, sobretudo, à ideia de que o sangue é agradável à Divindade. E notai bem que aqui não se trata absolutamente de sacrifícios humanos, mas tão só de animais oferecidos em holocausto. Quando o Cristo veio anunciar a Boa Nova, não ordenou o sacrifício do sangue: ocupou-se unicamente do Espírito. Os grandes sábios da antiguidade igualmente tinham horror a estas espécies de sacrifícios e eles próprios só se alimentavam de frutos e raízes. Na Terra os encarnados têm uma missão a cumprir; têm um Espírito, que deve ser nutrido pelo Espírito, e um corpo, que deve ser alimentado pela matéria; mas a natureza da matéria influi sobre a espessura do corpo e, em consequência, sobre as manifestações do Espírito, o que é facilmente compreensível. Os temperamentos bastante fortes para viver como os anacoretas fazem bem, porque o esquecimento da carne leva mais facilmente à meditação e à prece. Mas para viver assim, em geral seria necessária uma natureza mais espiritualizada que a vossa, o que é impossível com as condições terrestres. E como, antes de tudo, a Natureza jamais age com disparate, é impossível ao homem submeter-se impunemente a essas privações. Pode ser-se bom cristão e bom espírita e comer a seu gosto, contanto que seja razoável. É uma questão um tanto leviana para os nossos estudos, mas não menos útil e proveitosa.
Lamennais.
Allan Kardec.
Nota. – Esta comunicação foi dada a propósito de uma senhora cega, que assistia à sessão.
Meus bons amigos, não venho muito entre vós, mas hoje eis-me aqui. Por isso agradeço a Deus e aos bons Espíritos que vêm ajudar-vos a marchar pelo novo caminho. Por que me chamastes? Terá sido para que eu imponha as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui e a cure? Ah! que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a vista e as trevas a envolveram. Pobre filha! Que ore e espere. Não sei fazer milagres, eu, sem que Deus o queira. Todas as curas que tenho podido obter e que vos foram assinaladas não as atribuais senão àquele que é o Pai de todos nós. Nas vossas aflições, volvei sempre para o céu o olhar e dizei do fundo do coração: “Meu Pai, cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a brancura que possuía quando a criaste.” Após essa prece, meus amigos, que o bom Deus ouvirá sempre, dadas vos serão a força e a coragem e, quiçá, também a cura que apenas timidamente pedistes, em recompensa da vossa abnegação.
Contudo, uma vez que aqui me acho, numa assembleia onde principalmente se trata de estudos, dir-vos-ei que os que são privados da vista deveriam considerar-se os bem-aventurados da expiação. Lembrai-vos de que o Cristo disse convir que arrancásseis o vosso olho se fosse mau, e que mais valeria lançá-lo ao fogo, do que deixar se tornasse causa da vossa condenação. Ah! quantos há no mundo que um dia, nas trevas, maldirão o terem visto a luz! Oh! sim, como são felizes os que, por expiação, vêm a ser atingidos na vista! Os olhos não lhes serão causa de escândalo e de queda; podem viver inteiramente a vida das almas; podem ver mais do que vós que tendes límpida a visão!… Quando Deus me permite descerrar as pálpebras a algum desses pobres sofredores e lhes restituir a luz, digo a mim mesmo: Alma querida, por que não conheces todas as delícias do Espírito que vive de contemplação e de amor? Não pedirias, então, que se te concedesse ver imagens menos puras e menos suaves, do que as que te é dado entrever na tua cegueira!
Oh! bem-aventurado o cego que quer viver com Deus. Mais ditoso do que vós que aqui estais, ele toca, ele vê as almas e pode alçar-se com elas às esferas espirituais que nem mesmo os predestinados da Terra logram divisar. Abertos, os olhos estão sempre prontos a causar a falência da alma; fechados, estão prontos sempre, ao contrário, a fazê-la subir para Deus. Crede-me, bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, ao passo que a vista é, com frequência, o anjo tenebroso que conduz à morte.
Agora, algumas palavras dirigidas a ti, minha pobre sofredora. Espera e tem ânimo! Se eu te dissesse: Minha filha, teus olhos vão abrir-se, quão jubilosa te sentirias! Mas, quem sabe se esse júbilo não ocasionaria a tua perda! Confia no bom Deus, que fez a ventura e permite a tristeza. Farei tudo o que me for consentido a teu favor; mas, a teu turno, ora e, ainda mais, pensa em tudo quanto acabo de te dizer.
Meus bons amigos: antes que me afaste, vós que aqui estais, recebei minha bênção; eu a dou a todos, aos loucos, aos sábios, aos crentes e aos infiéis desta assembleia. Que ela sirva a cada um de vós!
Vianney, cura d’Ars.
Nota. – Perguntamos se esta é a linguagem do demônio e se ofendemos o cura d’Ars atribuindo-lhe tais pensamentos. Uma camponesa sem instrução, sonâmbula natural, que vê muito bem os Espíritos, tinha vindo à sessão em estado sonambúlico. Não conhecia o cura d’Ars nem mesmo de nome e, entretanto, o viu ao lado do médium e lhe fez o retrato com perfeita exatidão.
Ouvistes o ruído confuso do mar, retumbando quando o vento norte infla as ondas e elas se quebram, rugindo suas lâminas de prata sobre a praia? Ouvistes o fragor sonoro do raio nas nuvens sombrias ou o murmúrio da floresta ao sopro do vento do entardecer? Ouvistes nos recônditos da alma essa múltipla harmonia, que não fala aos sentidos senão para os atravessar e chegar até o ser pensante e amante? Se, pois, nem ouvistes nem compreendestes estas mudas palavras, não sois filhos da revelação e ainda não credes. A esses direi: “Saí da cidade nessa hora silenciosa, em que os raios estrelados descem do céu e, colhendo em vós mesmos os pensamentos íntimos, contemplai o espetáculo que vos cerca e chegareis antes da aurora a partilhar a fé dos vossos irmãos.” Aos que já creem na grande voz da Natureza, direi: “Filhos da nova aliança, é a voz do Criador e do conservador dos seres que fala no tumulto das ondas, no ribombar do trovão; é a voz de Deus que fala no sopro dos ventos. Amigos, escutai ainda, escutai algumas vezes, escutai muito tempo, escutai sempre, e o Senhor vos receberá de braços abertos.” Ó vós, que já ouvistes a sua potente voz aqui na Terra, vós a compreendereis melhor no outro mundo.
Galileu.
Nós vos demos a entrever a aurora da regeneração humana. Nisto, como em toda a marcha da Humanidade através das idades, deveis ver o dedo de Deus.
Já vo-lo dissemos muitas vezes: Tudo que acontece aqui na Terra, como tudo quanto se passa no Universo inteiro, está submetido a uma lei geral: a do progresso.
Inclinai-vos ante ela todos vós que, orgulhosos e soberbos, pretendeis colocar-vos acima dos desígnios do Todo-Poderoso! Buscai por toda parte a causa de vossas desgraças, como de vossos prazeres, e aí reconhecereis sempre o dedo de Deus.
Mas, direis, então o dedo de Deus é o fatalismo! Ah! guardai-vos de confundir essa palavra ímpia com as leis que a Providência vos impôs, essa mesma Providência que vos deve ter deixado o livre-arbítrio, para, ao mesmo tempo, vos deixar o mérito de vossos atos, mas que lhes tempera o rigor por essa voz, tantas vezes desconhecida, que vos adverte do perigo a que vos expondes.
O fatalismo é a negação do dever, porquanto, sendo nossa sorte fixada previamente, não nos cabe mudá-la.
Em que se tornaria o mundo com essa horrível teoria, que abandonaria o homem às pérfidas sugestões das piores paixões? Onde estaria o objetivo da criação? onde a razão de ser da ordem admirável que impera no Universo?
Ao contrário, o dedo de Deus é a punição sempre suspensa sobre a cabeça do culpado; é o remorso que corrói o coração, censurando-lhe os crimes a cada instante do dia; é o horrendo pesadelo que o tortura durante longas noites insones; é esse rastro sangrento que o segue em todos os lugares, como para reproduzir aos seus olhos, incessantemente, a imagem de sua malvadez; é a febre que atormenta o egoísta; são as perpétuas angústias do mau rico, que vê em todos que dele se aproximam espoliadores dispostos a lhe roubar um bem mal adquirido; é a dor que experimenta em sua última hora por não poder levar seus inúteis tesouros!
O dedo de Deus é a paz do coração reservada ao justo; é o suave perfume que vos repleta a alma após uma boa ação; é esse doce prazer que se experimenta sempre ao fazer o bem; é a bênção do pobre que se assiste; é o doce olhar de uma criança cujas lágrimas enxugamos; é a prece fervorosa de uma pobre mãe, a quem se proporcionou o trabalho que a deve arrancar da miséria; é, numa palavra, o contentamento consigo mesmo.
O dedo de Deus, enfim, é a justiça grave e austera, temperada pela misericórdia! o dedo de Deus é a esperança, que não abandona o homem em seus mais cruéis sofrimentos, que o consola sempre e deixa entrever ao mais criminoso, a quem o arrependimento tocou, um recanto da morada celeste, do qual se julgava rejeitado para sempre!
Espírito Familiar.
Ouvistes o ruído confuso do mar, retumbando quando o vento norte infla as ondas e elas se quebram, rugindo suas lâminas de prata sobre a praia? Ouvistes o fragor sonoro do raio nas nuvens sombrias ou o murmúrio da floresta ao sopro do vento do entardecer? Ouvistes nos recônditos da alma essa múltipla harmonia, que não fala aos sentidos senão para os atravessar e chegar até o ser pensante e amante? Se, pois, nem ouvistes nem compreendestes estas mudas palavras, não sois filhos da revelação e ainda não credes. A esses direi: “Saí da cidade nessa hora silenciosa, em que os raios estrelados descem do céu e, colhendo em vós mesmos os pensamentos íntimos, contemplai o espetáculo que vos cerca e chegareis antes da aurora a partilhar a fé dos vossos irmãos.” Aos que já creem na grande voz da Natureza, direi: “Filhos da nova aliança, é a voz do Criador e do conservador dos seres que fala no tumulto das ondas, no ribombar do trovão; é a voz de Deus que fala no sopro dos ventos. Amigos, escutai ainda, escutai algumas vezes, escutai muito tempo, escutai sempre, e o Senhor vos receberá de braços abertos.” Ó vós, que já ouvistes a sua potente voz aqui na Terra, vós a compreendereis melhor no outro mundo.
Galileu.
Nós vos demos a entrever a aurora da regeneração humana. Nisto, como em toda a marcha da Humanidade através das idades, deveis ver o dedo de Deus.
Já vo-lo dissemos muitas vezes: Tudo que acontece aqui na Terra, como tudo quanto se passa no Universo inteiro, está submetido a uma lei geral: a do progresso.
Inclinai-vos ante ela todos vós que, orgulhosos e soberbos, pretendeis colocar-vos acima dos desígnios do Todo-Poderoso! Buscai por toda parte a causa de vossas desgraças, como de vossos prazeres, e aí reconhecereis sempre o dedo de Deus.
Mas, direis, então o dedo de Deus é o fatalismo! Ah! guardai-vos de confundir essa palavra ímpia com as leis que a Providência vos impôs, essa mesma Providência que vos deve ter deixado o livre-arbítrio, para, ao mesmo tempo, vos deixar o mérito de vossos atos, mas que lhes tempera o rigor por essa voz, tantas vezes desconhecida, que vos adverte do perigo a que vos expondes.
O fatalismo é a negação do dever, porquanto, sendo nossa sorte fixada previamente, não nos cabe mudá-la.
Em que se tornaria o mundo com essa horrível teoria, que abandonaria o homem às pérfidas sugestões das piores paixões? Onde estaria o objetivo da criação? onde a razão de ser da ordem admirável que impera no Universo?
Ao contrário, o dedo de Deus é a punição sempre suspensa sobre a cabeça do culpado; é o remorso que corrói o coração, censurando-lhe os crimes a cada instante do dia; é o horrendo pesadelo que o tortura durante longas noites insones; é esse rastro sangrento que o segue em todos os lugares, como para reproduzir aos seus olhos, incessantemente, a imagem de sua malvadez; é a febre que atormenta o egoísta; são as perpétuas angústias do mau rico, que vê em todos que dele se aproximam espoliadores dispostos a lhe roubar um bem mal adquirido; é a dor que experimenta em sua última hora por não poder levar seus inúteis tesouros!
O dedo de Deus é a paz do coração reservada ao justo; é o suave perfume que vos repleta a alma após uma boa ação; é esse doce prazer que se experimenta sempre ao fazer o bem; é a bênção do pobre que se assiste; é o doce olhar de uma criança cujas lágrimas enxugamos; é a prece fervorosa de uma pobre mãe, a quem se proporcionou o trabalho que a deve arrancar da miséria; é, numa palavra, o contentamento consigo mesmo.
O dedo de Deus, enfim, é a justiça grave e austera, temperada pela misericórdia! o dedo de Deus é a esperança, que não abandona o homem em seus mais cruéis sofrimentos, que o consola sempre e deixa entrever ao mais criminoso, a quem o arrependimento tocou, um recanto da morada celeste, do qual se julgava rejeitado para sempre!
Espírito Familiar.
Minha filha, venho dar um ensinamento médico aos espíritas. Aqui a Astronomia e a Filosofia têm eloquentes intérpretes; a moral conta tantos escritores quantos médiuns. Por que a Medicina, em seu lado prático e fisiológico, seria negligenciada? Fui o criador da renovação médica, que hoje penetra até as fileiras dos sectários da antiga medicina. Ligados contra a homeopatia, por mais que lhe criassem diques sem número, por mais que lhe gritassem: “Não irás mais longe!”, a jovem medicina triunfante, transpôs todos os obstáculos. O Espiritismo lhe será poderoso auxiliar; graças a ele, ela abandonará a tradição materialista que, durante tanto tempo, lhe retardou o desenvolvimento. O estudo médico está inteiramente ligado à pesquisa das causas e dos efeitos espiritualistas; ela disseca os corpos e deve, também, analisar a alma. Deixai, pois, um velho médico justificar os fins e o objetivo da doutrina que propagou, e que vê estranhamente desfigurada neste mundo pelos praticantes, e no Além por Espíritos ignorantes que usurpam o seu nome. Gostaria que minha palavra ouvida tivesse o poder de corrigir os abusos que alteram a homeopatia, impedindo-a, assim, de ser tão útil quanto devia.
Se eu falasse num centro prático, onde os conselhos pudessem ser ouvidos com proveito, eu me levantaria contra a negligência de meus colegas terrestres, que desconhecem as leis primordiais do Organon, exagerando as doses e, sobretudo, não dando à trituração tão importante dos medicamentos, os cuidados que indiquei. Muitos esquecem que cem, e às vezes duzentos golpes, são absolutamente necessários à liberação do princípio médico apropriado a cada uma das plantas ou venenos que formam o nosso arsenal curador. Nenhum remédio é indiferente, nenhum medicamento é inofensivo; quando o diagnóstico mal observado o faz dar fora de propósito, ele desenvolve os germes da doença que era chamado a combater.
Mas eu me deixo arrastar por meu assunto e eis-me propenso a dar um curso de homeopatia a um auditório que não deve interessar-se por esta questão. Entretanto, não creio seja inútil iniciar os espíritas nos princípios fundamentais da ciência, a fim de os premunir contra as decepções que possam sofrer, quer da parte dos homens, quer mesmo da dos Espíritos.
Samuel Hahnemann.
Observação. – Esta observação foi motivada pela presença à sessão de um médico homeopata estrangeiro, que desejava a opinião de Hahnemann sobre o estado atual da ciência. Faremos observar que ela foi dada através de uma jovem senhora que não fez estudos médicos, e à qual são estranhos, necessariamente, muitos termos especiais.