Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Capítulo XXVII

Março - Fotografia dos Espíritos

Março

O Courrier du Bas-Rhin de sábado, 3 de janeiro de 1863, (parte alemã) traz o seguinte artigo, sob o título Fotografia espectral:


“Os americanos, que nos vão à frente em muitas coisas, certamente nos ultrapassam na arte fotográfica e da evocação dos Espíritos. Em Boston, hoje, os defuntos não são apenas chamados pelos médiuns mas ainda fotografados. A descoberta maravilhosa é devida a um Sr. William Mumler, de Boston.

“É ele próprio que conta: Há algum tempo eu experimentava em meu laboratório um novo aparelho fotográfico, fazendo meu próprio retrato. De súbito senti certa pressão no braço direito e uma lassidão em todo o corpo. Mas quem descreveria o meu espanto quando vi meu retrato reproduzido e encontrei à direita a imagem de uma segunda pessoa, que não era outra senão minha prima morta? A semelhança do retrato, ao que dizem os que conheceram aquela senhora, nada deixa a desejar.

“Segue-se que, desde então, o Sr. Mumler não dá aos clientes apenas sessões espíritas, mas ainda tira fotografias dos defuntos evocados. Elas são geralmente um pouco descoradas e nevoentas e os traços bem difíceis de reconhecer, o que não impede os habitantes de Boston, esclarecidos, de declará-los verdadeiros, autênticos. Quem consideraria tão próximas as imagens espectrais!”

Caso fosse real, semelhante descoberta por certo teria imensas consequências e seria um dos fatos mais notáveis de manifestações. Contudo, aconselhamos acolhêla com prudente reserva. Os americanos que, no dizer do articulista, nos ultra passam em tantas coisas, nos ensinaram que eles também se distanciaram de nós na invenção de patranhas.

Para quem quer que conheça as propriedades do perispírito, à primeira vista a coisa não parece materialmente impossível. Veem-se surgir tantas coisas extraordinárias que de nada nos devemos admirar. Os Espíritos anunciaram manifestações de nova ordem, ainda mais surpreendentes do que as que já vimos. Esta estaria, incontestavelmente, nesse número. Mas, ainda uma vez, até uma constatação mais autêntica que o relato de um jornal, é prudente ficar com a dúvida. Se a coisa for verdadeira, será vulgarizada; enquanto se espera, é preciso evitar acreditar em todas as histórias maravilhosas que os inimigos do Espiritismo se comprazem em espalhar para torná-lo ridículo, bem como os que as aceitam muito facilmente. Além disso, é preciso observar as coisas mais detidamente, antes de atribuir aos Espíritos todos os fenômenos insólitos que não se pode explicar. Um exame atento mostra, na maioria dos casos, uma causa inteiramente material que não tinha sido notada. É uma recomendação expressa que fazemos em O Livro dos Médiuns.

Em apoio ao que acabamos de dizer, e a propósito da fotografia espírita, citaremos o artigo seguinte, tirado do la Patrie de 23 de fevereiro de 1863. Ele ajuda a nos guardarmos contra os julgamentos precipitados.

“Um jovem lord, portador de um dos nomes mais antigos e ilustres da câmara alta, cujo gosto apaixonado pela fotografia proporciona grandes e felizes sucessos a essa arte que talvez seja ainda mais uma ciência que uma arte, um jovem lord, dizia eu, acabara de perder sua irmã que ele amava com extrema ternura. Ferido no coração e lançado em profundo desânimo que muitas vezes a mágoa produz, deixou os seus aparelhos fotográficos, deixou a Inglaterra, fez uma longa viagem pelo continente e só voltou à sua residência quase real de Lancashire depois de uma ausência de quase quatro anos.

“Como sói acontecer, seu desespero havia passado do estado agudo ao crônico, isto é, sem ter perdido a intensidade, havia perdido a violência, que pouco a pouco se transformava em resignação.

“Quando os que sofrem procuram consolo, a princípio se dirigem a Deus, depois ao trabalho. Assim, pouco a pouco o jovem lord tomou o caminho do laboratório e voltou aos seus aparelhos fotográficos.

“Por uma espécie de transação com sua dor, a primeira imagem que pensou em reproduzir foi o interior da capela onde repousavam os restos mortais de sua irmã. Obtido o negativo, entrou no laboratório, submeteu a placa à preparação ordinária e expôs o clichê à luz para ter uma prova.

“Lançando os olhos sobre a prova, quase caiu sem sentidos. O interior da capela tinha vindo com grande nitidez, mas a cabeça da jovem moça defunta aparecia vagamente na parte menos iluminada da fotografia. Distinguiam-se perfeitamente seus traços suaves e belos, e até os longos panejamentos do vestido. Contudo, através desses panejamentos, os menores detalhes da capela apareciam claramente.

“O primeiro movimento do lord foi crer numa aparição. Mas logo sorriu tristemente balançando a cabeça. Com efeito, lembrou-se que alguns anos antes, sobre a mesma chapa, tinha feito uma fotografia da irmã. Não tendo o retrato saído bom, o tinha apagado, provavelmente apagado mal, pois os contornos vagos hoje se confundiam com a nova imagem impressa na chapa.

“Na Inglaterra alguns artistas exploram essa bizarra aplicação da fotografia: fabricam e vendem retratos duplos, cuja montagem produz efeitos estranhos, ou engraçados. Entre outros, mostraram-nos um castelo em ruínas, embaixo do qual transparecia seu parque, suas fachadas e seus torreões, como deveriam ter sido antes de serem destruídos.

“Fazem ainda retratos de velhos, através dos quais se veem seus rostos tais quais eles eram nos mais belos tempos da juventude.”