Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Capítulo VIII

Janeiro - Barbárie na civilização

Janeiro

HORRÍVEL SUPLÍCIO DE UM NEGRO

Uma carta de Nova Iorque, datada de 5 de novembro e dirigida à Gazette des Tribunaux, contém os seguintes e horríveis detalhes da terrível tragédia ocorrida em Dalton, condado de Carolina, no Maryland:

“Recentemente um jovem negro foi preso sob a acusação de atentado ao pudor, na pessoa de uma jovem branca. Graves suspeitas pesavam sobre ele. A mocinha, objeto de suas violências criminosas, declarava reconhecê-lo perfeitamente. O acusado tinha sido recolhido à prisão de Dalton. Ali estava apenas há algumas horas, quando uma grande multidão, aos gritos de cólera e vingança, reclamava a entrega do pobre negro.

“Os representantes da ordem e da autoridade, vendo a impossibilidade de defender, à viva força, o seu prisioneiro contra a multidão irritada, em vão tentaram acalmá-la com insistentes discursos. Suas palavras em favor da lei e da justiça regular foram recebidas com assovios.

“A massa, cujo número crescia sem cessar, começou a atirar pedras na cadeia. Alguns tiros de pistola foram disparados contra os agentes da autoridade, sem atingilos. Compreendendo que a resistência era impossível, abriram as portas da prisão. Após um imenso hurrah! de satisfação, a multidão precipitou-se com furor. Apoderou-se do prisioneiro e arrastou-o, em meio aos gritos de cólera dos assistentes e de súplicas da vítima, para o centro da praça principal da cidade.

“Constituiu-se um júri imediatamente. Depois de examinados pro forma os fatos do processo, o acusado foi declarado culpado e condenado à forca, imediatamente. Passaram uma corda por uma árvore e o executaram. Enquanto o negro se debatia nas convulsões da morte, era vítima dos insultos e violências dos espectadores. Deram-lhe vários tiros de pistola, assim aumentando a tortura da morte.

“Ébria de cólera e de vingança, a multidão não esperou que o corpo estivesse completamente imóvel para tirá-lo da corda, e desfilou com o seu troféu ignóbil pelas ruas de Dalton. Homens e mulheres, e até crianças, aplaudiam os ultrajes feitos ao cadáver do pobre negro.

“Mas o furor do povo não devia parar aí. Depois de percorrer a cidade de Dalton em todos os sentidos, eles foram para a frente de uma igreja de negros. Foi feita uma enorme fogueira, e depois de cortado e mutilado o cadáver, a multidão, em meio a ruidosas manifestações, lançou nas chamas os membros e os fragmentos de carne”.

Este relato deu lugar à seguinte pergunta, feita na Sociedade Espírita de Paris, a 28 de novembro de 1862:

“Compreende-se exemplos de ferocidade isolados e individuais entre gente civilizada. O Espiritismo os explica, dizendo provirem de Espíritos inferiores, de certo modo extraviados numa sociedade mais avançada. Mas, nesse caso, tais indivíduos, em toda a sua vida, revelaram a sua baixeza de instintos.

O que se compreende com mais dificuldade é que uma população inteira, que deu provas da superioridade de sua inteligência, e mesmo, em outras circunstâncias, de sentimentos humanitários, que professa uma religião de suavidade e de paz, possa ser tomada por tal vertigem sanguinária, e se repaste, com raiva selvagem, nas torturas de uma vítima. Eis aqui um problema moral sobre o qual pediremos aos Espíritos a bondade de nos instruir”.








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(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, 28 DE NOVEMBRO DE 1
862) (Médium: Sr. A. de B...)

O sangue derramado nas regiões célebres até hoje por suas tendências para o progresso humano é uma chuva de maldição, e a ira do Deus justo não tardará muito a se abater sobre a região onde, com tanta frequência, se realizam abominações semelhantes a esta cuja leitura acabaram de ouvir. Em vão tenta-se dissimular para si mesmo as consequências que elas forçosamente determinam. Em vão quer-se atenuar a importância do crime. Se ele é por si mesmo horroroso, não o é menos pela intenção que levou a cometê-lo com tão horríveis refinamentos e com encarniçamento tão bestial. O interesse! O interesse humano! Os prazeres sensuais, as satisfações do orgulho e da vaidade foram também seu móvel, como em outras ocasiões, e as mesmas causas originarão efeitos semelhantes, causas, por sua vez, dos efeitos da cólera celeste, de que são ameaçadas tantas iniquidades.

Credes que não haja progresso real senão o da indústria, de todos os recursos e de todas as artes que tendem a atenuar os rigores da vida material e a aumentar os prazeres de que se querem saciar? Não. Não se resume nisso o progresso necessário à elevação dos Espíritos, que só temporariamente são humanos e que não devem ligar às coisas humanas senão o interesse secundário que elas merecem. O aperfeiçoamento do coração; as luzes da consciência; a difusão dos sentimentos de solidariedade universal dos seres e da fraternidade entre os humanos, são as únicas marcas autênticas que distinguem um povo na marcha do progresso geral.

Só por estes caracteres se reconhece uma nação como a mais adiantada. Mas, aquelas que em seu seio alimentam sentimentos de orgulho exclusivo e que não veem tal porção da Humanidade senão como uma raça servil, feita para obedecer e sofrer, essas experimentarão, não tenhais dúvidas, o nada de suas pretensões e o peso da vingança do Céu.

Teu pai, V. de B...

Junho DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)



Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)



Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)



Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)



Outubro DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Outubro

Minha lembrança acaba de ser evocada por meu retrato e meus versos. Duas vezes tocada em minha vaidade feminina e em meu amor-próprio, venho agradecer a vossa benevolência, esboçando em largos traços a silhueta dos falsos devotos, que são para a religião o que é para a sociedade a mulher pseudo-honesta. O assunto entra no âmbito de meus estudos literários, do qual Lady Tartufe - Google Books, exprimia uma nuança.

Os falsos devotos se consagram às aparências e traem a verdade; têm o coração seco e os olhos úmidos, a bolsa fechada e a mão aberta; falam de bom grado ao próximo, criticando-lhe as ações de maneira afetada, isto é, exagerando o mal e subestimando o mérito. Muito voltados à conquista dos bens materiais ou mundanos, agarram-se a tesouros imaginários, que a morte dispersa, e negligenciam os verdadeiros bens, que servem ao fim do homem e são a riqueza da eternidade. Os hipócritas da devoção são os répteis da natureza moral; vis, baixos, evitam as faltas castigadas pela vindita pública e na sombra cometem atos sinistros. Quantas famílias desunidas, espoliadas! quantas confianças traídas! quantas lágrimas e, mesmo, quanto sangue!…

A comédia é o inverso da tragédia. Atrás do celerado marcha o bufão, e os falsos devotos têm por acólitos seres ineptos, que só agem por imitação: à maneira dos espelhos, refletem a fisionomia de seus vizinhos. Tomam-se a sério, enganam-se a si próprios, a timidez os faz zombar daquilo em que não acreditam, exaltam o que duvidam, comungam com ostentação e acendem às escondidas pequenas velas, às quais atribuem muito mais virtude do que à santa hóstia.

Os falsos devotos são os verdadeiros ateus da virtude, da esperança, da Natureza e de Deus; negam o verdadeiro e afirmam o falso. A morte, todavia, os levará lambuzados de cosméticos e cobertos de ouropéis, que os disfarçam, e os lançará ofegantes em plena luz.


Delphine de Girardin.




Agosto Conversas familiares de além-túmulo

Agosto


1. — O Sr. Cardon tinha passado uma parte de sua vida na marinha mercante, como médico de um baleeiro, e havia adquirido hábitos e ideias um pouco materialistas. Retirado para o vilarejo de J…, ali exercia a modesta profissão de médico rural. Desde algum tempo adquirira a certeza de que sofria uma hipertrofia do coração e, sabendo que tal doença é incurável, o pensamento da morte o mergulhava em sombria melancolia, da qual nada o podia distrair. Com cerca de dois meses de antecedência, predisse o seu fim em dia fixo; quando se viu perto de morrer, reuniu a família para lhe dar o último adeus. Sua esposa, sua mãe, seus três filhos e outros parentes estavam em volta de seu leito. No momento em que a esposa tentava erguê-lo, ele se prostrou, tornou-se de um azul lívido, os olhos fecharam e o deram por morto; a esposa colocou-se à frente para ocultar o espetáculo aos filhos. Após alguns minutos abriu os olhos; seu rosto, por assim dizer iluminado, tomou uma expressão de radiosa beatitude e exclamou: “Oh! meus filhos, como é belo! como é sublime! Oh! a morte! que benefício! que coisa suave! Eu estava morto e senti minha alma elevar-se bem alto; mas Deus me permitiu voltar para vos dizer: Não temais a morte; é a libertação… Não vos posso descrever a magnificência do que vi e as impressões de que me senti penetrado! Mas não o compreenderíeis… Oh! meus filhos, conduzi-vos sempre de maneira a merecer essa inefável felicidade, reservada aos homens de bem; vivei segundo a caridade; se tiverdes alguma coisa, dai àqueles a quem falta o necessário… Querida esposa, deixo-te numa posição que não é feliz; devem-nos dinheiro, mas eu te suplico, não atormentes os que nos devem; se estiverem em dificuldades, espera que possam pagar, e aos que não puderem, faze o sacrifício: Deus te recompensará. E tu, meu filho, trabalha para sustentar tua mãe; sê sempre um homem honesto e guarda-te de fazer algo que possa desonrar nossa família. Toma esta cruz que vem de minha mãe; não a deixes e que ela te lembre sempre meus últimos conselhos… Meus filhos, ajudai-vos e sustentai-vos mutuamente; que a boa harmonia reine entre vós; não sede vãos, nem orgulhosos; perdoai aos vossos inimigos, se quiserdes que Deus vos perdoe.” Depois, tendo feito os filhos se aproximarem, estendeu as mãos para eles e acrescentou: “Meus filhos, eu vos abençoo.” E, desta vez, seus olhos se fecharam para sempre; mas seu rosto conservou uma expressão tão imponente que, até o momento em que foi enterrado, uma multidão numerosa o veio contemplar com admiração.


2. — Esses interessantes detalhes nos foram transmitidos por um amigo da família, levando-nos a pensar que uma evocação poderia ser instrutiva para todos e, ao mesmo tempo, para o Espírito.


1. Evocação.

Resposta. – Estou ao vosso lado.


2. Contaram-nos os vossos últimos instantes, os quais nos encheram de admiração. Teríeis a bondade de descrever, o melhor possível, o que vistes no intervalo do que se poderia chamar vossas duas mortes?

Resposta. – Poderíeis compreender o que vi? Não sei, pois não encontraria expressões capazes de tornar compreensível o que vi durante os poucos instantes em que me foi possível deixar meus despojos mortais.


3. Dai-vos conta de onde estivestes? É longe da Terra, num outro planeta ou no espaço?

Resposta. – O Espírito não conhece o valor das distâncias, tal como as considerais. Levado não sei por que agente maravilhoso, vi o esplendor de um céu como só nossos sonhos poderiam realizá-lo. Essa excursão através do infinito se fez de modo tão rápido que não posso precisar os instantes gastos por meu Espírito.


4. Atualmente desfrutais da felicidade que vislumbrastes?

Resposta. – Não; bem queria poder fruí-la, mas Deus assim não me pode recompensar. Muitas vezes me revoltei contra os abençoados pensamentos ditados pelo coração, e a morte me parecia uma injustiça. Médico incrédulo, tinha adquirido na arte de curar um aversão contra a segunda natureza, que é o nosso movimento inteligente, divino; a imortalidade da alma era uma ficção própria para seduzir as naturezas pouco elevadas; a despeito disto, o vazio me aterrorizava, pois maldizia muitas vezes esse agente misterioso que fere sempre e sempre. A filosofia me desviara, sem me dar a compreender toda a grandeza do Eterno, que sabe repartir a dor e a alegria para o ensino da Humanidade.


5. Quando de vossa verdadeira morte, logo vos reconhecestes?

Resposta. – Não; reconheci-me durante a transição feita por meu Espírito para percorrer lugares etéreos; mas, após a morte real, não; foram necessários alguns dias para o meu despertar.

Deus me havia concedido uma graça. Vou dizer-vos a sua razão:

Minha incredulidade inicial não mais existia; antes da morte eu já tinha acreditado, porquanto, depois de ter cientificamente sondado a matéria pesada que me fazia definhar, eu só encontrara razões divinas. Elas me tinham inspirado, consolado, e minha coragem era mais forte que a dor. Eu bendizia o que havia amaldiçoado; o fim me parecia a libertação. O pensamento de Deus é grande como o mundo! Oh! que suprema consolação na prece que dá enternecimentos inefáveis; ela é o elemento mais seguro de nossa natureza imaterial; por ela compreendi, acreditei firmemente, soberanamente, e é por isto que Deus, enxergando minhas abençoadas ações, houve por bem recompensar-me antes que se me findasse a encarnação.


6. Poder-se-ia dizer que da primeira vez estáveis morto?

Resposta. – Sim e não. Tendo deixado o corpo, naturalmente a carne se extinguia; mas o Espírito, ao retomar a posse de minha morada terrena, fez voltasse ao corpo a vida que tinha sofrido uma transição, um sono.


7. Nesse momento sentíeis os laços que vos prendiam ao corpo?

Resposta. – Sem dúvida. O Espírito tem um laço difícil de desatar, fazendo-se necessário um último estremecimento da carne para que retorne à sua vida natural.


8. Como se explica, durante a vossa morte aparente e no curso de alguns minutos, que vosso Espírito pudesse desprender-se instantaneamente e sem dificuldade, ao passo que a morte real foi seguida de uma perturbação de alguns dias? No primeiro caso, subsistindo mais que no segundo os laços entre a alma e o corpo, parece que o desprendimento deveria ser mais lento; e foi o contrário que se deu.

Resposta. – Muitas vezes fizestes a evocação de um Espírito encarnado e recebestes respostas reais. Eu estava na situação desses Espíritos. Deus me chamava e seus servidores me tinham dito: “Vem…” Obedeci e agradeço a Deus a graça especial que ele se dignou de me fazer. Pude ver a infinitude de sua grandeza e dela me dar conta. Agradeço a vós por me terdes permitido, antes da morte real, ensinar aos meus, a fim de que tenham boas e justas encarnações.


9. De onde vos vinham as belas e boas palavras que, por ocasião do vosso retorno à vida, dirigistes à vossa família?

Resposta. – Eram o reflexo do que tinha visto e ouvido. Os bons Espíritos inspiravam-me a voz e davam vida ao meu rosto.


10. Que impressão julgais que a vossa revelação tenha causado nos assistentes e, de modo especial, nos vossos filhos?

Resposta. – Extraordinária, profunda; a morte não é mentirosa e os filhos, por mais ingratos que possam ser, inclinam-se ante a partida dos que se vão. Se se pudesse perscrutar os seus corações junto a um túmulo entreaberto, só se sentiriam batidas de sentimentos verdadeiros, profundamente tocados pela mão secreta dos Espíritos que a todos ditam os pensamentos: Tremei, se estiverdes em dúvida; a morte é a reparação, a justiça de Deus; e eu vo-lo asseguro, malgrado os incrédulos, meus amigos e minha família acreditarão nas palavras que minha voz pronunciou antes de morrer. Eu era o intérprete de um outro mundo.


11. Dissestes que não desfrutais da felicidade que entrevistes. Sois infeliz?

Resposta. – Não, pois acreditava antes de morrer, e isto na alma e na consciência. A dor aperta neste mundo, mas reedifica para o futuro espírita. Notai que Deus soube levar em conta as minhas preces e minha crença absoluta nele; estou no caminho da perfeição e chegarei ao fim que me foi permitido entrever. Orai, meus amigos, por esse mundo invisível que preside aos vossos destinos; este intercâmbio fraterno é caridade; é uma poderosa alavanca, que põe em comunicação os Espíritos de todos os mundos.


12. Gostaríeis de dirigir algumas palavras à vossa esposa e aos vossos filhos?

Resposta. – Rogo a todos os meus que creiam em Deus, poderoso, justo, imutável; na prece que consola e alivia; na caridade, que é o ato mais puro da encarnação humana; que se lembrem que se pode dar pouco: o óbolo do pobre é o mais meritório perante Deus, que sabe que um pobre dá muito dando pouco. É preciso que o rico dê muito e muitas vezes para merecer tanto quanto aquele.

O futuro é a caridade, a benevolência em todas as ações; é crer que todos os Espíritos são irmãos, jamais se prevalecendo de todas as vaidades pueris.

Família bem-amada, tereis rudes provas; mas sabei suportá-las corajosamente, pensando que Deus vos vê.

Dizei sempre esta prece:

Deus de amor e de bondade, que dás tudo e sempre, concede-nos essa força que não recua ante nenhum sofrimento; torna-nos bons, mansos e caridosos, pequenos pela fortuna, grandes pelo coração; que nosso Espírito seja espírita na Terra, para melhor te compreender e te amar.

Que teu nome, ó meu Deus, emblema de liberdade, seja o objetivo consolador de todos os oprimidos, de todos os que têm necessidade de amar, perdoar e crer.


Cardon.



Outubro DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Outubro

Minha lembrança acaba de ser evocada por meu retrato e meus versos. Duas vezes tocada em minha vaidade feminina e em meu amor-próprio, venho agradecer a vossa benevolência, esboçando em largos traços a silhueta dos falsos devotos, que são para a religião o que é para a sociedade a mulher pseudo-honesta. O assunto entra no âmbito de meus estudos literários, do qual Lady Tartufe - Google Books, exprimia uma nuança.

Os falsos devotos se consagram às aparências e traem a verdade; têm o coração seco e os olhos úmidos, a bolsa fechada e a mão aberta; falam de bom grado ao próximo, criticando-lhe as ações de maneira afetada, isto é, exagerando o mal e subestimando o mérito. Muito voltados à conquista dos bens materiais ou mundanos, agarram-se a tesouros imaginários, que a morte dispersa, e negligenciam os verdadeiros bens, que servem ao fim do homem e são a riqueza da eternidade. Os hipócritas da devoção são os répteis da natureza moral; vis, baixos, evitam as faltas castigadas pela vindita pública e na sombra cometem atos sinistros. Quantas famílias desunidas, espoliadas! quantas confianças traídas! quantas lágrimas e, mesmo, quanto sangue!…

A comédia é o inverso da tragédia. Atrás do celerado marcha o bufão, e os falsos devotos têm por acólitos seres ineptos, que só agem por imitação: à maneira dos espelhos, refletem a fisionomia de seus vizinhos. Tomam-se a sério, enganam-se a si próprios, a timidez os faz zombar daquilo em que não acreditam, exaltam o que duvidam, comungam com ostentação e acendem às escondidas pequenas velas, às quais atribuem muito mais virtude do que à santa hóstia.

Os falsos devotos são os verdadeiros ateus da virtude, da esperança, da Natureza e de Deus; negam o verdadeiro e afirmam o falso. A morte, todavia, os levará lambuzados de cosméticos e cobertos de ouropéis, que os disfarçam, e os lançará ofegantes em plena luz.


Delphine de Girardin.




Outubro

Minha lembrança acaba de ser evocada por meu retrato e meus versos. Duas vezes tocada em minha vaidade feminina e em meu amor-próprio, venho agradecer a vossa benevolência, esboçando em largos traços a silhueta dos falsos devotos, que são para a religião o que é para a sociedade a mulher pseudo-honesta. O assunto entra no âmbito de meus estudos literários, do qual Lady Tartufe - Google Books, exprimia uma nuança.

Os falsos devotos se consagram às aparências e traem a verdade; têm o coração seco e os olhos úmidos, a bolsa fechada e a mão aberta; falam de bom grado ao próximo, criticando-lhe as ações de maneira afetada, isto é, exagerando o mal e subestimando o mérito. Muito voltados à conquista dos bens materiais ou mundanos, agarram-se a tesouros imaginários, que a morte dispersa, e negligenciam os verdadeiros bens, que servem ao fim do homem e são a riqueza da eternidade. Os hipócritas da devoção são os répteis da natureza moral; vis, baixos, evitam as faltas castigadas pela vindita pública e na sombra cometem atos sinistros. Quantas famílias desunidas, espoliadas! quantas confianças traídas! quantas lágrimas e, mesmo, quanto sangue!…

A comédia é o inverso da tragédia. Atrás do celerado marcha o bufão, e os falsos devotos têm por acólitos seres ineptos, que só agem por imitação: à maneira dos espelhos, refletem a fisionomia de seus vizinhos. Tomam-se a sério, enganam-se a si próprios, a timidez os faz zombar daquilo em que não acreditam, exaltam o que duvidam, comungam com ostentação e acendem às escondidas pequenas velas, às quais atribuem muito mais virtude do que à santa hóstia.

Os falsos devotos são os verdadeiros ateus da virtude, da esperança, da Natureza e de Deus; negam o verdadeiro e afirmam o falso. A morte, todavia, os levará lambuzados de cosméticos e cobertos de ouropéis, que os disfarçam, e os lançará ofegantes em plena luz.


Delphine de Girardin.




Junho DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)



Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)



Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)



Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)



Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)



Abril DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Abril

Esta é a noite em que, no mundo cristão, se festeja a Natividade do Menino Jesus. Mas vós, meus irmãos, deveis também vos alegrar e festejar o nascimento da nova Doutrina Espírita. Vê-la-eis crescer como esta criança; como ele, ela virá esclarecer os homens e mostrar-lhes o caminho que devem percorrer. Logo vereis os reis, como os magos, virem também a esta doutrina pedir o socorro que já não encontram nas ideias antigas. Não mais vos trarão incenso e mirra, mas se prosternarão de coração ante as ideias novas do Espiritismo. Já não vedes brilhar a estrela que os deve guiar? Coragem, pois, meus irmãos, coragem; em breve podereis, com o mundo inteiro, celebrar a grande festa da regeneração da Humanidade.

Meus irmãos, durante muito tempo encerrastes no coração o germe desta doutrina; mas eis que hoje ele se manifesta em plena luz com o apoio de um tutor solidamente plantado e não deixará que se verguem seus frágeis ramos. Com esse suporte providencial, crescerá dia a dia e tornar-se-á a árvore da criação divina. Dessa árvore colhereis frutos, não só para vós, mas para os vossos irmãos que tiverem fome e sede da fé sagrada. Oh! então apresentai-lhes esse fruto e gritai-lhes do fundo do coração: “Vinde, vinde partilhar conosco o que alimenta o nosso Espírito e alivia as nossas dores físicas e morais.”

Mas não esqueçais, meus irmãos, que Deus vos fez levedar o primeiro germe; que esse germe cresceu e que já se tornou uma árvore capaz de dar frutos. Resta-vos algo a utilizar: são os galhos que podeis transplantar; antes, porém, vede se o terreno no qual confiais esse germe não oculta sob sua camada aparente algum verme roedor, que poderia devorar aquilo que o Mestre vos confiou.


Assinado: São Luís.




Junho DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)



Setembro DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Setembro

A religião católica nos mostra o purgatório como um lugar onde a alma, sofrendo terríveis expiações, alivia suas faltas e, pela dor, pouco a pouco reivindica seus direitos ao sol da vida eterna. Imagem esplêndida! a mais verdadeira, a mais perfeita da grande trindade dogmática do inferno, do purgatório e do paraíso. Malgrado suas severidades desesperadoras, compreendeu a Igreja que era preciso um meio-termo entre a danação eterna e a felicidade eterna. Nessa estranha combinação, entretanto, ela confundiu o tempo infinito e progressivo, que é apenas um, com três situações limitadas e incompreensíveis. À religião, ou antes, ao ensino inteiramente humanitário e progressivo do Cristo, o Espiritismo adiciona os meios de realizar esta humanidade ideal. Nos desvios filosóficos de nossa época, há mais de um germe espírita; e tal filósofo céptico, que não aconselha para a felicidade definitiva da Humanidade senão o afastamento e a destruição de toda crença humana e divina trabalha mais do que se pensa para a tendência universal do Espiritismo. Somente é uma rota em que o céu pouco aparece, a existência futura quase não aparece, mas onde, pelo menos, a tranquilidade material e, por assim dizer, egoística desta vida é compreendida com a clareza do legislador e, se não do santo, pelo menos de um filantropo humanitário.

Ora, no estado latente, a bem dizer, da vida extracorpórea, e que poderia ser chamada intravital, tratar-se-ia de saber se, com a medida de conhecimentos e de sagacidade clarividente que possuem os Espíritos superiores, o progresso universal é tão eficaz quanto o progresso terrestre. Esta questão, fundamental para o Espiritismo até o presente, é resolvida por detalhes que não satisfazem. Já não é apenas, como diz a Igreja, um lugar de expiação, mas um foco universal onde as almas que aí circulam receiam angustiadas ou aceitam esperançosas as existências que se lhes desvelam. Aí está, segundo nós, apenas o começo do que se chama o purgatório. A erraticidade, esta fase importante da vida da alma, não nos parece de modo algum explicada, nem mesmo mencionada pelos dogmas católicos.

Lamennais.




Junho DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Junho

Perguntas-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não ocupará somente um lugar, mas preencherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na Natureza. É a pedra angular do edifício social. Podes pressagiar o seu futuro por seu passado e seu presente. O Espiritismo é obra de Deus. Vós, homens, lhe destes um nome e Deus vos deu a razão quando chegou o tempo, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Desde que o homem teve inteligência Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, enviou à Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram foi porque a inteligência humana ainda não se achava bastante aperfeiçoada; mas nem por isso desistiram de implantar a ideia, deixando atrás de si seus nomes e seus atos, quais marcos indicadores numa estrada, a fim de que o viajante pudesse achar seu caminho. Olha para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como melhoramento moral.

Que era o Cristianismo há dezoito séculos, senão Espiritismo? Só o nome é diferente, mas o pensamento é o mesmo. Apenas o homem, com o livre-arbítrio, desnaturou a obra de Deus.

A natureza foi preponderante e o erro veio implantar-se nessa preponderância. Depois, o Espiritismo esforçou-se por germinar, mas o terreno era inculto e a semente partiu-se, ferindo a fronte dos semeadores que Deus havia encarregado de espalhá-la. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pôde ser arroteado, porquanto se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha; até os mais incrédulos o compreendem e, se não o confessam, e se fecham os olhos, é que a luz ofuscante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, a sustenta com seu poderoso olhar, a encoraja, e logo todos os povos serão espíritas, porque aí se encontra a universalidade de todas as crenças.

O Espiritismo é o grande nivelador, que avança para aplanar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor, a fraternidade; avança sem abalos e sem revolução. Nada vem destruir, nada vem subverter na organização social: vem renovar tudo. Não vejas nisso uma contradição: tornando-se melhores, os homens cogitarão de leis melhores; compreendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá leis mais amenas e mais sábias nas suas transações comerciais; as próprias relações sociais se transformarão muito naturalmente entre a fortuna e a mediocridade. Não podendo o Espírito constituir-se em herdeiro, sentirá o espírita que algo há de mais importante para si que a riqueza, libertando-se da ideia de acumular, que gera a cupidez e, certamente, o pobre ainda aproveitará essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haja rebeldes a essas ideias e que todos devam crescer, fecundados universalmente pela onda do Espiritismo. Ainda existirão refratários e anjos decaídos, pois o homem tem o livre-arbítrio e, a despeito de não lhe faltarem conselhos, muitos deles, não vendo senão de seu ponto de vista, que restringe o horizonte da cupidez, não quererão render-se à evidência. Infelizes! Lamentai-os, esclarecei-os, pois não sois juízes e só Deus tem autoridade para lhes censurar a conduta.

Pelo futuro que vos mostro para o Espiritismo, podeis julgar da influência que ele exercerá sobre as massas. Como estais organizados, moralmente falando? Fizestes a estatística de vossos defeitos e de vossas qualidades? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da Terra. Os benevolentes representam a maioria? É duvidoso; mas entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem pôr os dois na bandeja da benevolência, que é o primeiro degrau que os pode conduzir rapidamente às regiões mais adiantadas. Ainda há no globo uma parcela de seres maus que, no entanto, tende a diminuir a cada dia. Quando os homens estiverem perfeitamente imbuídos da ideia de que a pena de talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, lei muito mais terrível que vossas mais terríveis leis terrestres, bem mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometer um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a ideia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na Terra, um dia ele terá de pagar muito caro por essa impunidade. Então todos esses crimes odiosos, que de vez em quando vêm marcar indelevelmente a fronte da Humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia, à fraternidade que há séculos vos são apregoadas. Vossa legislação se abrandará na razão do melhoramento moral, e a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como lembrança das torturas da Inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais; não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que muitas vezes exigem o concurso de várias inteligências, desenvolver-se-ão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, contanto que o bem se produza!” Porque, com efeito, quem muitas vezes detém os vossos sábios em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.


(Um filósofo do outro mundo.)