Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1866

Capítulo XXIII

Abril - Da revelação

Abril

Da revelação

No sentido litúrgico, a revelação implica uma ideia de misticismo e de maravilhoso. O materialismo a repele naturalmente, porque ela supõe a intervenção de poderes e de inteligências extra-humanas. Fora da negação absoluta, muita gente hoje faz estas perguntas: Houve ou não uma revelação? A revelação é necessária? Trazendo aos homens a verdade acabada, não teria por efeito impedi-los de fazer uso de suas faculdades, pois ela lhes pouparia o trabalho da pesquisa? Essas objeções nascem da falsa ideia que se faz da revelação. Para começar, tomemo-la na sua acepção mais simples, para segui-la até seu ponto mais alto.

Revelar é dar a conhecer uma coisa desconhecida; é ensinar a alguém aquilo que ele não sabe. Deste ponto de vista, há para nós uma revelação por assim dizer incessante. Qual o papel do professor perante os alunos, senão o de um revelador? Ele lhes ensina o que não eles sabem, o que não teriam tempo nem possibilidade de descobrirem por si mesmos, porque a Ciência é obra coletiva dos séculos e de uma multidão de homens que trouxeram, cada um, o seu contingente de observações de que aproveitam os que vêm depois deles. O ensino é, pois, na realidade, a revelação de certas verdades científicas ou morais, físicas ou metafísicas, feitas por homens que as conhecem, a outros que as ignoram, e que sem isto as teriam ignorado sempre. Seria mais lógico deixar que eles mesmos procurassem essas verdades? Esperar que eles inventassem a mecânica para lhes ensinar a servir-se do vapor? Não se poderia dizer que, em lhes revelando o que os outros acharam, impede-se o exercício de suas faculdades? Não é, ao contrário, apoiando-se no conhecimento das descobertas anteriores que eles chegam a novas descobertas? Ensinar ao maior número possível de pessoas a maior soma possível de verdades conhecidas é, então, provocar a atividade da inteligência em vez de abafá-la e impelir ao progresso. Sem isto o homem ficaria estacionário.

Mas o professor só ensina o que aprendeu; é um revelador de segunda ordem. O homem de gênio ensina o que ele próprio achou; é o revelador primitivo. Foi ele que trouxe a luz que pouco a pouco se vulgarizou. Onde estaria a Humanidade sem a revelação dos homens de gênio que aparecem de vez em quando?

Mas, que são os homens de gênio? Por que são homens de gênio? De onde eles vêm? Em que se tornam? Notemos que, em sua maioria, eles trazem, ao nascer, faculdades transcendentes e conhecimentos inatos que basta um pouco de trabalho para desenvolver. Eles pertencem realmente à Humanidade, pois nascem, vivem e morrem como nós. Onde, então, beberam esses conhecimentos que não puderam adquirir em vida? Dir-se-á, com os materialistas, que o acaso lhes deu a matéria cerebral em maior quantidade e melhor qualidade? Neste caso, eles não teriam mais mérito que um legume maior e mais saboroso que outro.

Dirão, com certos espiritualistas, que Deus os dotou de uma alma mais favorecida que os homens comuns? Suposição também ilógica, pois acusaria Deus de parcialidade. A única solução racional deste problema está na preexistência da alma e na pluralidade das existências. O homem de gênio é um Espírito que viveu mais tempo, que consequentemente adquiriu mais e progrediu mais que os menos adiantados. Encarnando-se, traz o que sabe, e como sabe muito mais que os outros sem ter necessidade de aprender, é o que se chama um homem de gênio. Mas o que sabe não deixa de ser fruto de um trabalho anterior e não o resultado de um privilégio. Antes de renascer ele era, portanto, um Espírito adiantado; reencarna-se para que os outros aproveitem o que ele sabe ou para adquirir mais conhecimentos.

Incontestavelmente os homens progridem por si mesmos e pelos esforços de sua inteligência; mas, entregues às suas próprias forças, esse progresso é muito lento, se não forem ajudados por homens mais adiantados, como o escolar o é por seus professores. Todos os povos têm tidos os seus homens de gênio, que vieram em diversas épocas dar um impulso e tirá-los da inércia.

Como se admite a solicitude de Deus por suas criaturas, por que não se admitiria que Espíritos capazes, por sua energia e pela superioridade de seus conhecimentos, fizessem avançar a Humanidade, encarnando-se, pela vontade de Deus, visando ajudar o progresso num determinado sentido? Que recebessem uma missão, como um embaixador a recebe de seu soberano? Tal é o papel dos grandes gênios. O que vêm eles fazer, senão ensinar aos homens verdades que estes ignoram, e que ainda teriam ignorado por longos períodos, a fim de lhes fornecer um trampolim com a ajuda do qual poderão elevarse mais rapidamente? Esses gênios, que aparecem através dos séculos, como estrelas brilhantes, e que deixam depois de si uma longa esteira luminosa sobre a Humanidade, são missionários ou, se preferirem, messias. Se não ensinassem aos homens senão o que estes sabem, sua presença seria completamente inútil. As coisas novas que eles ensinam, seja na ordem física, seja na ordem moral, são revelações.

Se Deus suscita reveladores para as verdades científicas, com mais forte razão pode suscitá-las para as verdades morais, que são um dos elementos essenciais do progresso. Tais são os filósofos, cujas ideias atravessam os séculos.

No sentido especial da fé religiosa, os reveladores são mais geralmente designados sob o nome de profetas ou messias. Todas as religiões têm tido seus reveladores, e embora todos estejam longe de haver conhecido toda a verdade, tinham sua razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao gênio particular dos povos aos quais falavam, e aos quais eram relativamente superiores. Malgrado os erros de suas doutrinas, não deixaram de abalar os espíritos e, por isso mesmo, semearam germes do progresso que mais tarde deviam expandir-se, ou se expandirão um dia, à luz do Cristianismo. É, pois, erradamente que lhes atiram o anátema, em nome da ortodoxia, porque dia virá em que todas as crenças, tão diversas pela forma, mas que repousam realmente num mesmo princípio fundamental ─ Deus e a imortalidade da alma ─ fundir-se-ão numa grande e vasta unidade, quando a razão tiver triunfado dos preconceitos.

Infelizmente, em todos os tempos as religiões foram instrumentos de dominação. O papel de profeta tentou as ambições secundárias e viu-se surgir uma multidão de pretensos reveladores ou messias que, com o favor do prestígio desse nome, exploraram a credulidade em proveito de seu orgulho, de sua cupidez ou de sua preguiça, achando mais cômodo viver às custas de seus enganados. A religião cristã não esteve ao abrigo desses parasitas. A esse respeito, chamamos a atenção séria sobre o capítulo XXI de O Evangelho segundo o Espiritismo: “Haverá falsos cristos e falsos profetas.” A linguagem simbólica de Jesus favoreceu singularmente as interpretações mais contraditórias; esforçando-se cada um em distorcer o sentido, julgou aí encontrar a sanção de seus pontos de vista pessoais, muitas vezes até a justificação das doutrinas mais contrárias ao espírito de caridade e de justiça, que é a sua base. Esse abuso desaparecerá pela própria força das coisas, sob o império da razão. Isto não é o de que nos temos que ocupar aqui. Apenas destacamos as duas grandes revelações sobre as quais se apoia o Cristianismo: a de Moisés e a de Jesus, porque elas tiveram uma influência decisiva na Humanidade. O Islamismo pode ser considerado como um derivado de concepção humana do Mosaísmo e do Cristianismo. Para valorizar a religião que queria fundar, Maomé teve que se apoiar sobre uma suposta revelação divina.

Há revelações diretas de Deus aos homens? É uma questão que não ousaríamos resolver nem afirmativa nem negativamente, de maneira absoluta. A coisa não é radicalmente impossível, mas nada lhe dá a prova certa. O que não poderia ser posto em dúvida é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição, se penetram de seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e o grau de seu saber pessoal, eles podem colher suas instruções em seus próprios conhecimentos, ou recebê-los de Espíritos mais elevados, até mesmo de mensageiros diretos de Deus. Esses, falando em nome de Deus, por vezes podem ter sido tomados pelo próprio Deus.

Essas espécies de comunicações nada têm de estranho para quem quer que conheça os fenômenos espíritas e a maneira pela qual se estabelecem as relações entre os encarnados e os desencarnados. As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela inspiração pura e simples, pela audição da palavra, pela visão dos Espíritos instrutores, nas visões e aparições, seja no sonho, seja no estado de vigília, como há muitos exemplos na Bíblia, no Evangelho e nos livros sagrados de todos os povos. Portanto, é rigorosamente exato dizer que a maior parte dos reveladores são médiuns inspirados, auditivos ou videntes. Daí não se segue que todos os médiuns sejam reveladores e, ainda menos, intermediários diretos da Divindade ou de seus mensageiros.

Só os puros Espíritos recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la. Mas agora sabe-se que os Espíritos estão longe de ser todos perfeitos, e que há os que tomam falsa aparência. Foi o que fez São João dizer: “Não creiais em todo Espírito, mas verificai antes se são de Deus.” (1ª Ep. Cap. IV, v. 4).

Pode, pois, haver revelações sérias e verdadeiras, como as há apócrifas e mentirosas. O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade. Toda revelação manchada de erro ou sujeita a mudança não pode emanar de Deus, porque Deus não pode enganar conscientemente nem enganar-se. É assim que a lei do Decálogo tem todos os caracteres de sua origem, ao passo que as outras leis mosaicas, essencialmente transitórias, por vezes em contradição com a lei do Sinai, são obra pessoal e política do legislador hebreu. Suavizados os costumes do povo, essas leis caíram em desuso, ao passo que o Decálogo ficou de pé, como o farol da Humanidade. O Cristo dele fez a base de seu edifício, enquanto aboliu as outras leis. Se elas tivessem sido obra de Deus, ele teria evitado nelas tocar. O Cristo e Moisés são os dois grandes reveladores que mudaram a face do mundo, e aí está a prova de sua missão divina. Uma obra puramente humana não teria tal poder.

Uma nova e importante revelação se opera na época atual. É a que nos mostra a possibilidade de comunicação com os seres do mundo espiritual. Este conhecimento não é novo, sem dúvida, mas até os nossos dias ficou de certo modo no estado de letra morta, isto é, sem proveito para a Humanidade. A ignorância das leis que regem essas relações a tinha abafado sob a superstição; o homem era incapaz de tirar dela qualquer dedução salutar; estava reservado à nossa época desembaraçá-la de seus acessórios ridículos, compreender o seu alcance e dela fazer sair a luz que devia iluminar o caminho do futuro.

Não sendo os Espíritos outra coisa senão as almas dos homens, comunicando-nos com eles não saímos da Humanidade, circunstância capital a considerar. Os homens de gênio, que foram os fachos da Humanidade, saíram, pois, do mundo dos Espíritos, como para lá voltaram ao deixar a Terra. Considerando-se que os Espíritos podem comunicar-se com os homens, esses mesmos gênios lhes podem dar instruções sob a forma espiritual, como o fizeram sob a forma corporal; podem instruir-nos após a sua morte, como o faziam em vida; são invisíveis, em vez de serem visíveis, eis toda a diferença. Sua experiência e seu saber não devem ser menores, e se, como homens, sua palavra tinha autoridade, não deve ter menos por estarem no mundo dos Espíritos.

Mas não são apenas os Espíritos superiores que se manifestam, são também os Espíritos de todas as ordens, e isto era necessário para nos iniciar no verdadeiro caráter do mundo dos Espíritos, no-lo mostrando sob todas as suas facetas. Assim, as relações entre o mundo visível e o mundo invisível são mais íntimas e a conexão é mais evidente; vemos mais claramente de onde vimos e para onde vamos. Tal o objetivo essencial dessas manifestações. Todos os Espíritos, seja qual for o grau a que tenham chegado, nos ensinam, pois, alguma coisa, mas como eles são mais ou menos esclarecidos, cabe-nos discernir o que há de bom e de mau em seus ensinamentos, e tirar o proveito que eles comportam. Ora, todos, sejam quais forem, podem nos ensinar ou revelar coisas que ignoramos e que, sem eles, não saberíamos.

Os grandes Espíritos encarnados são individualidades poderosas, sem contradita, mas cuja ação é restrita e necessariamente lenta para se propagar. Se um só dentre eles, ainda que fosse Elias ou Moisés, tivesse vindo nestes últimos tempos revelar aos homens o estado do mundo espiritual, quem teria provado a veracidade de suas asserções, neste tempo de ceticismo? Não o teriam olhado como um sonhador ou um utopista? E admitindo que estivesse com a verdade absoluta, séculos ter-se-iam passado antes que suas ideias fossem aceitas pelas massas. Em sua sabedoria, Deus não quis que assim fosse. Ele quis que o ensino fosse dado pelos próprios Espíritos, e não pelos encarnados, a fim de convencer de sua existência e que ocorresse simultaneamente em toda a Terra, fosse para propagar mais rapidamente, fosse para que se visse na coincidência do ensino uma prova da verdade, de tal forma que cada um teria os meios de se convencer por si próprio. Tais são o objetivo e o caráter da revelação moderna.

Os Espíritos não vêm libertar o homem do trabalho, do estudo e das pesquisas; não lhe trazem nenhuma ciência acabada; naquilo que ele pode achar por si mesmo, eles o deixam entregue às suas próprias forças. É o que hoje os espíritas sabem perfeitamente. Há muito tempo a experiência demonstrou o erro da opinião que atribuía aos Espíritos todo conhecimento e toda a sabedoria, e que bastava dirigir-se ao primeiro Espírito que se apresentasse para conhecer todas as coisas. Saídos da Humanidade corporal, os Espíritos são uma de suas faces; como na Terra há os superiores e os vulgares, muitos sabem, pois, científica e filosoficamente, menos que certos homens. Eles dizem o que sabem, nem mais nem menos. Como entre os homens, os mais adiantados nos podem ensinar mais coisas e dar-nos conselhos mais judiciosos que os atrasados. Pedir conselhos aos Espíritos não é, pois, dirigir-se às forças sobrenaturais, mas aos seus semelhantes, àqueles mesmos a que se teriam dirigido quando vivos, aos pais, aos amigos, ou a indivíduos mais esclarecidos do que nós. Eis o de que importa persuadir-se e o que ignoram os que não tendo estudado o Espiritismo fazem uma ideia completamente falsa sobre natureza do mundo dos Espíritos e das revelações de além-túmulo.

Qual é, pois, a utilidade dessas manifestações, ou, se se quiser, dessa revelação, se os Espíritos não sabem mais do que nós, ou se não nos dizem tudo o que sabem? Para começar, como dissemos, eles se abstêm de nos dar o que nós podemos adquirir pelo trabalho; em segundo lugar, há coisas que não lhes é permitido revelar, porque nosso grau de adiantamento não as comporta. Mas, isto à parte, as condições de sua nova existência estende o círculo de suas percepções; eles veem o que não viam na Terra; livres dos entraves da matéria e das preocupações da vida corpórea, julgam as coisas de um ponto de vista mais elevado e, por isto mesmo, mais corretamente; sua perspicácia abarca um horizonte mais vasto; eles compreendem os seus erros, retificam suas ideias e se desembaraçam dos preconceitos humanos. É nisto que consiste a sua superioridade sobre a Humanidade corporal e porque seus conselhos podem ser, em relação ao seu grau de progresso, mais judiciosos e mais desinteressados que os dos encarnados. O meio em que se encontram lhes permite, além disso, nos iniciar nas coisas da vida futura, que ignoramos e que não podemos aprender neste em que estamos.

Até hoje o homem só tinha feito hipóteses sobre o seu futuro, por isto suas crenças, nesse ponto, foram divididas em sistemas tão numerosos e tão divergentes, desde o niilismo até as fantásticas descrições do inferno e do paraíso. Hoje são as testemunhas oculares, os próprios atores da vida de alémtúmulo que nos vêm dizer o que a coisa é, o que só eles poderiam fazer. Assim, essas manifestações serviram para nos dar a conhecer o mundo invisível que nos rodeia e do qual não suspeitávamos. Só esse conhecimento seria de uma importância capital, supondo que os Espíritos fossem incapazes de algo nos ensinar a mais.

Uma simples comparação fará compreender melhor a situação.

Um navio carregado de emigrantes parte para longe; leva homens de todas as condições, parentes e amigos dos que ficam. Sabe-se que o navio naufragou; não restou um traço, nenhuma notícia chegou sobre a sua sorte; pensa-se que todos os viajantes pereceram, e todas as famílias se cobrem de luto. Contudo, toda a equipagem, sem faltar um só homem, chegou a uma terra desconhecida, abundante e fértil, onde todos vivem felizes, sob um céu clemente. Mas o ignoram. Ora, eis que certo dia outro navio aborda essa terra e encontra os náufragos sãos e salvos. A feliz notícia se espalha com a rapidez do relâmpago. Todos dizem: “Então nossos amigos não estão perdidos!” E dão graças a Deus. Eles não podem ver-se, mas se correspondem. Eles trocam testemunhos de afeição, e eis que a alegria sucede à tristeza.

Tal é a imagem da vida terrena e da vida de além-túmulo, antes e depois da revelação moderna. Esta, semelhante ao segundo navio, nos traz a boa nova da sobrevivência dos que nos são caros, e a certeza de encontrá-los um dia; a dúvida sobre a sorte deles e sobre a nossa não mais existe; o desânimo se apaga ante a esperança.

Mas outros resultados vêm fecundar esta revelação. Deus, julgando a Humanidade madura para penetrar o mistério de seu destino e contemplar com sangue-frio novas maravilhas, permitiu que o véu que separava o mundo visível do mundo invisível fosse levantado. O fato das manifestações nada tem de extra-humano; é a Humanidade espiritual que vem conversar com a Humanidade corporal e lhe dizer:

“Nós existimos, portanto o nada não existe; observai o que somos e vede o que sereis; o futuro vos pertence, como nos pertence. Caminháveis nas trevas; nós vimos clarear a vossa rota e vos franquear o caminho; íeis ao acaso, nós mostramos a meta. A vida terrena era tudo para vós, porque nada víeis além; nós vimos dizer-vos, mostrando a vida espiritual: A vida terrena nada é. Vossa vista parava no túmulo; nós vos mostramos além um horizonte esplêndido. Não sabíeis por que sofreis na Terra; agora, no sofrimento, vedes a justiça de Deus. O bem não tinha frutos aparentes para o futuro; de agora em diante terá um objetivo e será uma necessidade. A fraternidade era apenas uma bela teoria; agora assenta-se numa lei da Natureza. Sob o império da crença de que tudo acaba com a vida, a imensidade é vazia, o egoísmo reina entre vós como senhor, e vossa palavra de ordem é: ‘Cada um por si’; com a certeza do futuro, os espaços infinitos se povoam ao infinito, o vazio e a solidão não estão em parte alguma, a solidariedade liga todos os seres além e aquém do túmulo; é o reino da caridade, com a divisa: ‘Um por todos e todos por um’. Enfim, no termo da vida dizíeis um eterno adeus aos que vos são caros; agora dizeis: ‘Até logo!’”

Tais são, em resumo, os resultados da nova revelação. Ela veio encher o vazio cavado pela incredulidade; levantar a coragem abatida pela dúvida ou pela perspectiva do nada e dar a todas as coisas uma razão de ser. Esse resultado, então, não tem importância, considerando-se que os Espíritos não vêm resolver os problemas da Ciência nem dar o saber aos ignorantes, e aos preguiçosos o meio de enriquecer sem trabalho? Entretanto, os frutos que o homem dele deve colher não são apenas para a vida futura; ele os colherá na Terra pela transformação que essas novas crenças devem necessariamente operar sobre o seu caráter, os seus gostos, as suas tendências e, por consequência, sobre os hábitos e as relações sociais. Pondo fim ao reino do egoísmo, do orgulho e da incredulidade, elas preparam o reino do bem, que é o reino de Deus.

A revelação tem, pois, por objetivo pôr o homem na posse de certas verdades que ele não poderia adquirir por si mesmo, e isto visando ativar o progresso. Estas verdades se limitam, em geral, a princípios fundamentais destinados a pô-lo no caminho das pesquisas, e não a conduzi-lo pela mão; são balizas que lhe mostram o objetivo. Cabe-lhe a tarefa de estudá-las e deduzir-lhes as aplicações. Longe de libertá-lo do trabalho, são novos elementos fornecidos à sua atividade.