1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. — Sob o título de O diabo do moinho, o Moniteur de l’Indre de fevereiro de 1867 contém o seguinte relato:
“O Sr. François Garnier é fazendeiro e moendeiro no burgo de Vicq-sur-Nahon. † É, gostamos de pensar, um homem pacífico e, contudo, desde o mês de setembro, seu moinho é teatro de fatos miraculosos, próprios a fazer supor que o diabo, ou pelo menos um Espírito brincalhão, ali elegeu o seu domicílio. Por exemplo, parece fora de dúvida que, diabo ou Espírito, o autor dos fatos que vamos narrar gosta de dormir à noite, porque só trabalha de dia.
“Nosso Espírito gosta de fazer malabarismos com as cobertas das camas. Toma-as sem que ninguém o perceba, leva-as e vai escondê-las, ora nas vigas do teto, ora no forno, ora sob montes de feno. Transporta de uma cavalariça para a outra os lençóis da cama do rapaz, e mais de uma hora depois são encontrados sob o feno ou nas grades da manjedoura. Para abrir as portas, o Espírito Vicq-sur-Nahon não precisa de chave. Um dia o Sr. Garnier, em presença de seus empregados, fechou com duas voltas a porta da padaria e pôs a chave no bolso; mesmo assim, a porta abriu-se quase imediatamente, aos olhos de Garnier e dos criados, sem que pudessem explicar como.
“Outra vez, a 1º de janeiro — maneira inteiramente nova de fazer votos de feliz ano-novo a alguém — um pouco antes da noite, o leito de penas, os lençóis, os cobertores de uma cama situada num quarto são levantados sem que a cama se desarrume e encontram esses objetos no chão, perto da porta do quarto. Garnier e os seus imaginam, então, na esperança de conjurar toda esta feitiçaria, mudar as camas de quarto, o que de fato ocorre; mas, feita a troca, os fatos diabólicos que acabamos de contar recomeçam com mais intensidade. Por diversas vezes, um rapaz da cavalariça encontra aberta sua arca, onde guarda seus objetos pessoais, e estes espalhados na cocheira.
“Mas eis duas circunstâncias em que se revela toda a diabólica habilidade do Espírito. No número dos domésticos do Sr. Garnier encontra-se uma mocinha de 13 anos, chamada Marie Richard. Um dia, estando esta menina num quarto, de repente viu surgir sobre o leito uma pequena capela, e todos os objetos colocados sobre a chaminé, 4 vasos, 1 Cristo, 3 copos, 2 xícaras, numa das quais havia água-benta, e uma pequena garrafa também cheia de água-benta, ir sucessivamente, como se obedecesse à ordem de um ser invisível, tomar lugar sobre o altar improvisado. A porta do quarto estava entreaberta, e a mulher do irmão da pequena Richard, perto da porta. Uma sombra saiu da capela, no dizer da pequena Richard, aproximou-se dela e a encarregou de convidar os donos a dar um pão bento e mandar dizer uma missa. A menina promete; durante nove dias reina a calma no moinho. Garnier manda rezar a missa pelo cura de Vicq, oferece um pão bento e a partir do dia seguinte, 15 de janeiro, as diabruras recomeçam.
“As chaves das portas desaparecem; as portas, deixadas abertas, aparecem fechadas; um serralheiro, chamado para abrir a porta do moinho, não o consegue e se vê na necessidade de desmontar a fechadura. Estes últimos fatos se passavam a 29 de janeiro. No mesmo dia, por volta do meio-dia, quando os empregados tomavam sua refeição, a menina Richard toma um cântaro de bebida, serve-se, e o relógio do Sr. Garnier, pendurado a um prego na chaminé, cai em seu copo. Repõem o relógio na chaminé; mas a menina Richard, tomando um prato servido sobre a mesa, traz o relógio com sua colher. Pela terceira vez penduram o relógio em seu lugar e, pela terceira vez, a pequena Richard o encontra numa panela que fervia ao fogo, assim como uma garrafinha de remédio, cuja rolha lhe salta ao rosto.
“Em suma, o terror se apodera dos habitantes do moinho; ninguém mais quer ficar numa casa enfeitiçada. Por fim Garnier toma o partido de prevenir o Sr.comissário de polícia de Valençay, † que se dirige a Vicq, acompanhado de dois guardas. Mas o diabo não quis mostrar-se aos agentes da autoridade. Apenas estes aconselharam Garnier que despedisse a mocinha Richard, o que logo fez. Esta medida terá bastado para pôr o diabo em debandada? Esperemo-lo, para tranquilidade da gente do moinho.”
Num número posterior, o Moniteur de l’Indre contém o que segue:
“Contamos, no devido tempo, todas as diabruras que se passaram no moinho de Vicq-sur-Nahon, cujo locatário é o Sr. Garnier. Até agora cômicas, essas diabruras começam a virar tragédia. Depois das farsas, dos malabarismos, das prestidigitações, eis que o diabo recorre ao incêndio.
“No dia 12 deste mês ocorreram duas tentativas de incêndio, quase que simultaneamente, nas cavalariças do Sr. Garnier. A primeira aconteceu pelas cinco horas da tarde. O fogo tomou a palha, ao pé da cama dos rapazes moendeiros. O segundo incêndio surgiu cerca de uma hora depois, mas em outra estrebaria. O fogo surgiu igualmente ao pé de uma cama e na palha.
“Felizmente esses dois incêndios foram extintos pelo pai de Garnier, de oitenta anos, e seus empregados, prevenidos pela citada Marie Richard.
“Nossos leitores devem lembrar-se de que essa mocinha de quatorze anos, era sempre a primeira que percebia as feitiçarias que ocorriam no moinho, não obstante, seguindo os conselhos que lhe tinham sido dados, Garnier houvesse despedido a pequena Richard. Quando os dois incêndios surgiram, essa jovem tinha voltado há quinze dias à casa do Sr. Garnier. Foi ela ainda a primeira a notar os dois incêndios de 12 de março.
“Conforme as pesquisas feitas no moinho, as suspeitas caíram sobre duas empregadas.
“A família Garnier está de tal modo chocada com os acontecimentos de que seu moinho foi teatro, que se persuadiu de que o diabo, ou pelo menos algum Espírito malfazejo, fixou domicílio em sua morada.”
2. — Um dos nossos amigos escreveu ao Sr. Garnier, pedindo que lhe informasse se eram reais ou contos para divertir, os fatos relatados no jornal e, em todo o caso, o que podia haver de verdadeiro ou de exagerado na história.
O Sr. Garnier respondeu que tudo era perfeitamente exato e conforme à declaração que ele próprio havia feito ao comissário de polícia de Valençay. Confirma, também, os dois incêndios e acrescenta: O jornal nem contou tudo. De acordo com sua carta, os fatos se produziam há quatro ou cinco meses, e se viu forçado a fazer a declaração porque não conseguiu descobrir o autor. Termina dizendo: “Não sei, senhor, com que propósito me pedis estas informações; mas se tiverdes algum conhecimento dessas coisas, peço-vos participar de minhas penas, pois vos asseguro que não estamos à vontade em nossa casa. Se puderdes encontrar um meio de descobrir o autor de todos esses fatos escandalosos, prestar-nos-eis um grande serviço.”
Um ponto importante a esclarecer era saber qual podia ser a participação da mocinha, seja voluntariamente por malícia, seja inconscientemente por sua influência. Sobre esta questão, o Sr. Garnier disse que a jovem, só tendo estado ausente da casa durante quinze dias, não tinha podido julgar o efeito de sua ausência; mas que não lhe tem nenhuma suspeita, como malevolência, nem sobre os outros empregados; que quase sempre ela tinha anunciado o que se passava fora de seu alcance; que, assim, dissera várias vezes: “Eis a cama que se desarruma em tal quarto” e que, aí entrando sem a perder de vista, encontravam o leito desarrumado; que também preveniu os dois incêndios, ocorridos depois de sua volta.
Como se vê, esses fatos pertencem ao mesmo gênero de fenômenos dos de Poitiers (Revista de fevereiro e março de 1864; dem, maio de 1865); de Marselha (abril de 1865); de Dieppe (março de 1860), e tantos outros que podem ser chamados manifestações barulhentas e perturbadoras.
De início faremos notar a diferença que existe entre o tom deste relato e o do jornal de Poitiers, por ocasião do que se passou naquela cidade. Lembre-se o dilúvio de sarcasmos que, a respeito, fizeram chover sobre os espíritas, e sua persistência em sustentar, contra a evidência, o que só podia ser obra de gracejadores de mau gosto, que não tardariam a ser descobertos, mas que, em definitivo, jamais descobriram. O Moniteur de l’Indre, mais prudente, limita-se a um relato, que não é temperado por nenhuma troça descabida, e que antes implica uma afirmação que uma negação.
Uma outra observação é que fatos deste gênero ocorreram muito antes que se cogitasse do Espiritismo e que, desde então, quase sempre se passaram entre pessoas que não o conheciam nem de nome, o que exclui qualquer influência devida à crença e à imaginação. Se acusassem os espíritas de simular essas manifestações com vistas à propaganda, perguntar-se-ia quem os poderia produzir antes que houvesse espíritas.
Não conhecendo o que se passou no moinho de Vicq-sur-Nahon senão pelo relato que fizeram, limitamo-nos a constatar que aqui nada se afasta daquilo cuja possibilidade o Espiritismo admite, nem das condições normais nas quais semelhantes fatos podem produzir-se; que esses fatos se explicam por leis perfeitamente naturais e, por conseguinte, nada têm de maravilhoso. Só a ignorância dessas leis pôde, até hoje, fazer que fossem consideradas como efeitos sobrenaturais, como tem ocorrido com quase todos os fenômenos cujas leis mais tarde a Ciência revelou.
O que pode parecer mais extraordinário, e se explica menos facilmente é o fato das portas abertas, depois de cuidadosamente fechadas a chave. As manifestações modernas disto oferecem vários exemplos. Um fato análogo passou-se em Limoges, † há alguns anos (Revista de agosto de 1860). Mesmo que o estado de nossos conhecimentos ainda não nos permita dar-lhe uma explicação concludente, isto nada prejulga, porque estamos longe de conhecer todas as leis que regem o mundo invisível, todas as forças que encerra este mundo, nem todas as aplicações das leis que conhecemos. O Espiritismo ainda não disse a última palavra; longe disso: nem sobre as coisas físicas, nem sobre as coisas espirituais. Muitas das descobertas serão fruto de observações ulteriores. De certo modo o Espiritismo não fez, até agora, senão fincar as primeiras balizas de uma ciência cujo alcance é desconhecido. Com o auxílio do que já descobriu, abre aos que vierem depois de nós, o caminho das investigações numa ordem especial de ideias. Só procede por observações e deduções, e jamais por suposição. Se um fato é constatado, diz-se que deve ter uma causa e que esta causa só pode ser natural; então ele a procura. Em falta de uma demonstração categórica, pode dar uma hipótese, mas até que seja confirmada, não a dá senão como hipótese, e não como verdade absoluta. Em relação ao fenômeno das portas abertas, como ao dos transportes através de corpos rígidos, ainda está reduzido a uma hipótese, baseada nas propriedades fluídicas da matéria, muito imperfeitamente conhecidas, ou, melhor dizendo, apenas suspeitadas. Se o fato em questão for confirmado pela experiência, deve ter, como dissemos, uma causa natural; se se repetir, não é uma exceção, mas a consequência de uma lei. A possibilidade da libertação de São Pedro de sua prisão, referida nos At, capítulo 12, seria assim demonstrada sem que houvesse necessidade de recorrer ao milagre.
De todos os efeitos mediúnicos, as manifestações físicas são as mais fáceis de simular. Por isso, deve-se evitar aceitar muito levianamente, como autênticos, os fatos deste gênero, sejam espontâneos, como os do moinho de Vicq-sur-Nahon, sejam conscientemente provocados pelo médium. A imitação, é verdade, só poderia ser grosseira e imperfeita, mas com habilidade pode-se enganar facilmente, como outrora fizeram com a dupla vista, aos que não conheciam as condições nas quais os fenômenos reais podem produzir-se. Vimos supostos médiuns de rara habilidade simulando transportes, escrita direta e outros gêneros de manifestações. Assim, só se deve admitir com conhecimento de causa a intervenção dos Espíritos nessas espécies de coisas.
No caso de que se trata não afirmamos esta intervenção; limitamo-nos a dizer que ela é possível. Apenas os dois princípios de incêndio poderiam fazer suspeitar um ato humano, suscitado pela malevolência, que sem dúvida o futuro levará a descobrir. Todavia, é bom notar que, graças à clarividência da jovem, suas consequências puderam ser evitadas. Com exceção deste último fato, os demais não passaram de travessuras sem maior importância. Se são obra dos Espíritos, só podem provir dos Espíritos levianos, divertindo-se com os terrores e as impaciências que causam. Sabe-se que os há de todos os caracteres, como na Terra. O melhor meio de se desembaraçar deles é não se inquietar com eles e esgotar a sua paciência, que jamais é tão longa quando veem que ninguém se preocupa com eles, o que se lhes prova rindo de suas malícias e os desafiando a fazer mais. O meio mais seguro de os excitar a perseverar é atormentar-se e encolerizar-se contra eles. Pode-se ainda livrar-se deles evocando-os com o auxílio de um bom médium e orando por eles; então, entretendo-se com eles, pode saber-se o que são e o que' querem, e os fazer escutar a razão.
Aliás, estes tipos de manifestações têm um resultado mais sério: o de propagar a ideia do mundo invisível que nos rodeia, e afirmar a sua ação sobre o mundo material. É por isto que elas se produzem de preferência entre pessoas estranhas ao Espiritismo, antes que nos espíritas, que delas não necessitam para se convencerem.
A fraude, em semelhante caso, por vezes pode ser apenas inocente brincadeira, ou um meio de se dar importância, fazendo crer numa faculdade que não se possui, ou se a possui imperfeitamente. Mas na maioria dos casos ela tem por móvel um interesse patente ou dissimulado, e por objetivo explorar a confiança das pessoas demasiado crédulas ou inexperientes. É então uma verdadeira fraude. Seria supérfluo insistir em dizer que os que se tornam culpados de quaisquer enganos deste gênero, mesmo que fossem solicitados apenas pelo amor-próprio, não são espíritas, ainda que se deem como tais. Os fenômenos reais têm um caráter sui generis, e se produzem em circunstâncias que desafiam toda suspeição. Um conhecimento completo desses caracteres e dessas circunstâncias pode facilmente levar a descobrir a trapaça.
Se essas explicações chegarem ao conhecimento do Sr. Garnier, ele aí encontrará a resposta ao pedido que faz em sua carta.
3. — Um de nossos correspondentes nos transmite o relato, escrito por uma testemunha ocular, de manifestações análogas ocorridas em janeiro último, no burgo da Basse-Indre † (Loire-Inférieure). Consistiam em batidas com obstinação, durante várias semanas e que puseram em polvorosa todos os habitantes de uma casa. As pesquisas e investigações feitas pela autoridade para lhes descobrir a causa não conduziram a nada. Aliás, este fato não apresenta nenhuma particularidade mais notável, a não ser, como todas as manifestações espontâneas, chamar a atenção para os fenômenos espíritas.
Como fato de manifestações físicas, as que se produzem assim espontaneamente exercem sobre a opinião pública uma influência infinitamente maior que os efeitos provocados diretamente por um médium, seja porque têm maior repercussão e notoriedade, seja porque dão menos ensejo às suspeitas de charlatanismo e de prestidigitação.
Isto nos lembra um fato que se passou em Paris, no mês de maio do ano passado. Ei-lo, tal como foi referido na ocasião, pelo Petit Journal.
Um fato singular se repete frequentemente no bairro de Ménilmontant, † sem que se tenha ainda podido explicar sua causa.
“O Sr. X…, fabricante de bronzes, mora num pavilhão ao fundo da casa; aí se entra pelo jardim. Os ateliês estão à esquerda e a sala de jantar à direita. Uma campainha está colocada acima da porta da sala de jantar; naturalmente o cordão está à porta do jardim. A aleia é bastante longa para que uma pessoa, tendo tocado, possa fugir antes que tenham vindo abrir.
“Várias vezes o contramestre, tendo ouvido a campainha, foi à porta e não viu ninguém. A princípio pensaram numa mistificação; mas, por mais que espreitassem e se assegurassem de que não havia nenhum fio que levasse à campainha, nada descobriram, e a artimanha continuava sempre. Um dia a campainha se agitou enquanto o Sr. e a Sra. X… achavam-se precisamente embaixo e um aprendiz estava na aleia diante do cordão. O fato se repetiu três vezes na mesma noite. Acrescente-se que por vezes a campainha tocava bem baixinho e outras vezes de maneira muito barulhenta.
“Desde alguns dias o fenômeno tinha cessado, mas anteontem à noite renovou-se com mais persistência.
“A Sra. X… é uma mulher muito piedosa. Há uma crença em sua região que os mortos veem reclamar preces dos parentes. Ela pensou numa tia morta e julgou ter achado a explicação. Mas preces, missas, novenas, nada resolveu: a campainha toca sempre.
“Um distinto metalurgista, a quem o fato foi contado, pensou que fosse um fenômeno científico e que uma certa quantidade de água-forte e de vitríolo, que se achava na oficina, podia desprender uma força bastante grande para mover o fio de ferro. Mas, afastadas as substâncias, o fato não cessou de se produzir.
“Não procuraremos explicá-lo, pois é assunto dos cientistas, diz a Patrie, que bem poderia enganar-se. Essas espécies de mistérios muitas vezes terminam se explicando sem que a Ciência aí constate o menor fenômeno ainda desconhecido.”
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. — Um médico, que designaremos sob o nome de doutor Claudius, conhecido de alguns dos nossos colegas, e cuja vida tinha sido uma profissão de fé materialista, morreu há algum tempo de uma afecção orgânica, que ele sabia incurável. Atraído, sem dúvida, pelo pensamento dos que o haviam conhecido e que desejavam conhecer sua posição, manifestou-se espontaneamente por intermédio do Sr. Morin, um dos médiuns da Sociedade, em estado de sonambulismo espontâneo. Já várias vezes esse fenômeno se produziu por esse médium e por outros adormecidos no sono espiritual.
O Espírito que assim se manifesta apodera-se do médium, serve-se de seus órgãos como se ainda estivesse vivo. Então não é mais uma fria comunicação escrita; é a expressão, a pantomima, a inflexão de voz do indivíduo que se tem diante dos olhos.
Foi nestas condições que se manifestou o doutor Claudius, sem ter sido evocado. Sua comunicação, que publicamos textualmente a seguir, é instrutiva por várias razões, principalmente quando descreve os sentimentos que o agitam; a dúvida ainda constitui o seu tormento; a incerteza de sua situação o mergulha numa terrível perplexidade, e aí está a sua punição. É um exemplo a mais que vem confirmar o que se viu muitas vezes em casos semelhantes.
2. — Após uma dissertação sobre outro assunto, o médium absorvido se recolhe alguns instantes; depois, como se despertasse penosamente, assim se exprime, falando a si mesmo:
Ah! ainda um sistema!… Que há de verdadeiro e de falso na existência humana, na Criação, na criatura, no Criador?… A coisa é?… A matéria é mesmo verdade?… A Ciência é uma verdade?… O saber, uma aquisição?… A alma… a alma existe?
O Criador, a Divindade, não é um mito?… Mas, que digo eu?… por que essas blasfêmias multiplicadas?… Por que, em face da matéria, não posso crer, ó meu Deus, não posso ver, sentir, compreender?…
Matéria!… matéria!… mas sim, tudo é matéria… Tudo é matéria!!… e, contudo, a invocação a Deus veio-me à boca!… Por que, então, eu disse: ó meu Deus?… Por que esta palavra, já que tudo é matéria?… Sou eu?… Não é um eco do meu pensamento, que ressoa e se escuta?… Não são as últimas badaladas do sino que eu tocava?
Matéria!… Sim, a matéria existe, eu o sinto!… A matéria existe; eu a toquei!… mas!… nem tudo é matéria e, contudo… contudo tudo foi auscultado, palpado, tocado, analisado, dissecado fibra a fibra, e nada!… Nada senão a carne, a matéria sempre que, desde o instante em que o grande movimento se deteve, também parou!… O movimento para, o ar não chega mais… Mas!… se tudo é matéria, por que ela não mais se põe em movimento, desde que tudo o que existia quando ela se agitava, existe ainda?… E, contudo, ele não existe mais!…
Mas se existo!… nem tudo acabou com o corpo!… Na verdade… estou mesmo morto?… entretanto, esse corrosivo que alimentei, que cuidei com minhas mãos, não me perdoou!… É verdade; estou morto!… Mas esta doença que vi nascer… crescer… tinha uma alma?
Ah! a dúvida! sempre a dúvida!… em resposta a todas as minhas secretas aspirações!… Mas, se sou eu, ó meu Deus, se sou eu… ah! fazei que eu me reconheça!… fazei que vos pressinta!… porque, se sou eu, que longa sucessão de blasfêmias!… que longa negação de vossa sabedoria, de vossa bondade, de vossa justiça!… Que imensa responsabilidade de orgulho assumi sobre minha cabeça, ó meu Deus!… Mas, se ainda tenho um eu, eu que nada queria admitir fora do possível ao toque… Duvidei de vossa sabedoria, ó meu Deus! é justo que eu duvide!… Sim, duvidei; a dúvida me persegue e me castiga.
Oh! é preferível mil mortes à dúvida em que vivo!… Vejo, encontro antigos amigos… e, contudo, todos morreram antes! Méry, meu pobre louco!… mas não seria eu o louco?… o epíteto de louco se adapta à sua personalidade? – Vejamos, então. O que é a loucura?…
A loucura!… A loucura!… decididamente, a loucura é universal!… todos os homens são loucos num grau maior ou menor… mas sua loucura, a dele [referência ao poeta Méry: Uma lembrança de existências passadas], não era sabedoria ao lado de minha própria loucura?… Para ele, os sonhos, as imagens, as aspirações do além… mas, é justiça!… Conhecia eu esse desconhecido, que a mim se apresenta inopinadamente? Não, não, o nada não existe, porque se existisse, esta encarnação de negação, de crimes, de infâmia, não me torturaria assim!… Vejo, mas vejo tarde demais, todo o mal que fiz!… Vendo-o hoje, e reparando-o pouco a pouco, talvez um dia eu seja digno de ver e de fazer o bem!…
Sistemas!… sistemas orgulhosos, produtos de cérebros humanos, eis para onde nos conduzis!… Num, é a divindade; noutro, a divindade material e sensual; noutro ainda, o nada, nada!… Nada, divindade material, divindade espiritual são palavras? Oh! eu peço para ver, meu Deus!… e se eu existo, se vós existis, concedei-me o favor que vos peço; aceitai minha prece, porque vos peço, ó meu Deus, que me façais ver se eu existo, se eu sou!… (Estas últimas palavras foram ditas com uma inflexão dilacerante).
Observação. – Se o Sr. Claudius perseverou até o fim na sua incredulidade, não foram os meios de se esclarecer que lhe faltaram. Como médico, tinha necessariamente o espírito culto, a inteligência desenvolvida, um saber acima do vulgo e, no entanto, isto não lhe bastou. Em suas minuciosas investigações da natureza morta e da natureza viva, não entreviu Deus, não entreviu a alma! Vendo os efeitos, não soube remontar à causa! ou, melhor dizendo, tinha concebido uma causa à sua maneira, e seu orgulho de sábio o impedia de confessar a si mesmo, sobretudo de confessar à face do mundo que podia se ter enganado. Circunstância digna de nota, morreu de um mal orgânico que sabia, por sua própria ciência, ser incurável. Esse mal, que ele tratava, era uma advertência permanente; a dor que lhe causava era uma voz que lhe gritava incessantemente para pensar no futuro. Entretanto, nada pôde triunfar de sua obstinação; fechou os olhos até o último momento. Será que esse homem jamais teria podido tornar-se espírita? Certamente não. Nem fatos, nem raciocínios teriam podido vencer uma opinião preconcebida, e da qual estava decidido a não se desviar. Ele era desses homens que não querem render-se à evidência, porque neles a incredulidade é inata, como a crença em outros. O sentido pelo qual um dia poderão assimilar os princípios espirituais ainda não despontou; são para a espiritualidade quais cegos de nascença para a luz: não a compreendem.
Assim, não basta a inteligência para conduzir pelo caminho da verdade; ela é como o cavalo que nos carrega, e que segue a rota na qual o lançaram. Se esta rota conduz a um atoleiro, ele aí precipita o cavaleiro; mas, ao mesmo tempo, lhe dá os meios de se reerguer.
Tendo o Sr. Claudius morrido voluntariamente como cego espiritual, não é de admirar que não tenha visto a luz imediatamente; que não se reconheça num mundo que não quis estudar; que, morto com a ideia do nada, duvide da própria existência, incerteza pungente que constitui o seu tormento. Caiu no precipício para onde o impeliu o seu corcel. Mas pode levantar-se desta queda, e já parece entrever um clarão que, se o seguir, o conduzirá ao porto. É em seus louváveis esforços que deve ser sustentado pela prece. Quando uma vez tiver gozado dos benefícios da luz espiritual, terá horror às trevas do materialismo; e se um dia voltar à Terra, será com intuições e aspirações muito diversas das que tinha em sua última existência.
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.
1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.
2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.
Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.
Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.
Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.
Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.
Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?
Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.
3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.
Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.
Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.
4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.
Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:
– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.
5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!
6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?
7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.
Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.
[Sem nome.]
Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.
Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.
Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.