1. — A Sociedade Espírita de Paris † acaba de sofrer nova perda na pessoa do Sr. Charles-Julien Leclerc, antigo mecânico, de cinquenta e sete anos, morto subitamente de um ataque de apoplexia fulminante, em 2 de dezembro, no momento em que entrava na ópera. Tinha morado muito tempo no Brasil e foi ali que colheu as primeiras noções do Espiritismo, para o que o havia preparado a doutrina de Fourrier, da qual era zeloso partidário. Voltando à França, depois de haver conquistado uma posição de independência por seu trabalho, devotou-se à causa do Espiritismo, cujo elevado alcance humanitário e moralizador para a classe operária ele entrevira facilmente. Era um homem de bem, estimado e lamentado por todos que o conheceram, um espírita de coração, esforçando-se para pôr em prática, em benefício de seu avanço moral, os ensinamentos da doutrina, um desses homens que honram a crença que professam.
2. — A pedido da família, fizemos junto ao túmulo a prece pelas almas que acabam de deixar a Terra (O Evangelho segundo o Espiritismo), seguida das seguintes palavras:
“Caro Sr. Leclerc, sois um exemplo da incerteza da vida, pois na antevéspera de vossa morte estáveis entre nós, sem que nada deixasse pressentir uma partida tão súbita. São advertências divinas para que estejamos sempre prontos a prestar contas do emprego que fizemos do tempo que passamos na Terra. Deus nos chama no momento em que menos esperamos. Que seu nome seja bendito por vos ter poupado as angústias e os sofrimentos que por vezes acompanham o trabalho da separação.
“Fostes reunir-vos aos colegas que vos precederam e que, sem dúvida, vieram receber-vos no limiar da nova vida; mas essa vida, com a qual estáveis identificado, em nada vos deve surpreender; nela entrastes como num país conhecido, e não duvidamos que aí gozeis da felicidade reservada aos homens de bem, aos que praticaram as leis do Senhor.
“Vossos colegas da Sociedade Espírita de Paris se honram de vos ter contado em suas fileiras, e vossa memória lhes será sempre cara. Por minha voz eles vos oferecem a expressão de seus sentimentos, muito sinceros, da simpatia que soubestes granjear. Se alguma coisa suaviza nosso pesar por esta separação, é o pensamento de que sois feliz como o merecíeis, e a esperança de que não deixareis de vir participar dos nossos trabalhos.
“Que o Senhor, caro irmão, derrame sobre vós os tesouros de sua infinita bondade. Nós lhe pedimos que vos conceda a graça de velar por vossos filhos e de os dirigir no caminho do bem que havíeis seguido.”
3. — Prontamente desprendido, como o supúnhamos, o Sr. Leclerc pôde manifestar-se na Sociedade, na sessão que se seguiu ao seu enterro. Por conseguinte, não houve nenhuma interrupção em sua presença, já que ele tinha assistido à sessão precedente. Além do sentimento de afeição que nos ligava a ele, esta comunicação devia ter o seu lado instrutivo; seria interessante conhecer as sensações que acompanham esse gênero de morte.
Nada do que possa esclarecer sobre as diversas fases desta passagem, que todo o mundo deve transpor, poderia ser indiferente. Eis a comunicação:
Posso, enfim, por minha vez, vir a este mesa! Embora minha morte seja recente, já fui tomado de impaciência mais de uma vez; mas eu não podia apressar a marcha do tempo. Eu também vos devia agradecer a prontidão em cercar os meus despojos mortais e os pensamentos simpáticos que prodigalizastes ao meu Espírito. Oh! mestre, obrigado por vossa benevolência, pela profunda emoção que sentistes, acolhendo meu amado filho. Como eu seria ingrato se não vos conservasse uma eterna gratidão!
Meu Deus, obrigado! meus votos estão realizados. Este mundo, que eu não conhecia senão através das comunicações dos Espíritos, hoje posso apreciar a sua beleza. Em certa medida, experimentei as mesmas emoções ao chegar aqui, mas infinitamente mais vivas do que as que senti ao atracar pela primeira vez nas terras da América. Eu não conhecia esse país senão pelo relato dos viajantes e estava longe de fazer uma ideia de suas luxuriantes produções. Deu-se o mesmo aqui. Como este mundo é diferente do nosso! Cada rosto é a reprodução exata dos sentimentos íntimos; nenhuma fisionomia mentirosa; impossível a hipocrisia; o pensamento se revela inteiramente ao olhar, benévolo ou malevolente, conforme a natureza do Espírito.
Pois bem! Aqui ainda sou castigado por minha falta principal, a que combatia com tanto trabalho na Terra, e que tinha conseguido dominar em parte; a impaciência que tinha de me ver entre vós perturbou-me a tal ponto que já não sei exprimir minhas ideias com lucidez, embora esta matéria que outrora tanto me arrastava à cólera não mais exista! Mas, vamos, é preciso que eu me acalme.
Oh! fiquei muito surpreso com este fim inesperado! Eu não temia a morte e, desde muito tempo, a considerava como o fim da provação; mas essa morte tão imprevista não deixou de me causar um profundo abalo… Que golpe para minha pobre mulher!… Como o luto sucedeu rapidamente ao prazer! Eu sentia verdadeira satisfação em ouvir boa música, mas não pensava estar tão cedo em contato com a grande voz do infinito… Como a vida é frágil!… Um glóbulo sanguíneo se coagula, a circulação sanguínea perde sua regularidade e tudo está acabado!… Eu teria querido viver ainda alguns anos, ver meus filhos todos encaminhados, mas Deus decidiu de outro modo. Que seja feita a sua vontade!
No momento em que a morte me feriu, recebi como que uma bordoada na cabeça; um peso esmagador me derrubou; de repente senti-me livre, aliviado. Planei acima de meus despojos; considerei com espanto as lágrimas dos meus e, enfim, dei-me conta do que me tinha acontecido. Reconheci-me prontamente. Vi meu segundo filho acorrer, chamado pelo telégrafo. Ah! bem que tentei consolá-los; soprei-lhes meus melhores pensamentos e vi, com certa felicidade, alguns cérebros refratários pouco a pouco inclinados para o lado da crença que fez toda a minha força nestes últimos anos, à qual devia tão bons momentos. Se venci um pouco o homem velho, a quem o devo, senão ao nosso caro ensino, aos reiterados conselhos de meus guias? E, contudo, eu corava, não obstante Espírito, deixando-me ainda dominar por esse maldito defeito: a impaciência. Por isso sou castigado, porque estava pressuroso para me comunicar e vos contar mil detalhes, que sou obrigado a adiar. Oh! serei paciente, mas com pesar. Estou tão feliz aqui, que me custa deixar-vos. Entretanto, bons amigos estão junto de mim e eles próprios se uniram para me acolher: Sanson, Baluze, Sonnez, o alegre Sonnez, de cuja verve satírica eu tanto gostava, depois Jobard, o bravo Costeau e tantos outros. Em último lugar a Sra. Dozon; depois um pobre infeliz, muito para lastimar, e cujo arrependimento me toca. Orai por ele, como por todos os que se deixaram dominar pela prova.
Em breve voltarei para me entreter novamente e, ficai certos, não serei menos assíduo às nossas caras reuniões, como Espírito, do que o era como encarnado.
Leclerc.
1. — Nota – Entre as comunicações obtidas na última sessão da Sociedade, antes das férias, esta apresenta um caráter particular, que foge da forma habitual. Vários Espíritos dos que são assíduos às sessões e aí se manifestam algumas vezes, vieram sucessivamente dirigir algumas palavras aos membros da Sociedade antes de sua separação, por meio do Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo. Era como um grupo de amigos vindo se despedir e dar testemunho de simpatia, no momento da partida. A cada interlocutor que se apresentava, o intérprete mudava de tom, de atitude, de expressão, de fisionomia e, pela linguagem, se reconhecia o Espírito que falava, antes que fosse nomeado. Era bem ele que falava, servindo-se dos órgãos de um encarnado, e não o seu pensamento, traduzido mais ou menos fielmente ao passar por um intermediário; assim, a identidade era patente e, salvo a semelhança física, tinha-se diante de si o Espírito como em sua vida. Depois de cada alocução o médium ficava absorto durante alguns minutos; era o tempo de substituição de um Espírito por outro; depois, voltando a si pouco a pouco, retomava a palavra num outro tom. O primeiro que se apresentou foi o nosso antigo colega Leclerc, falecido em dezembro do ano passado:
2. — Alguns de vossos irmãos que partiram vêm aproveitar a ocasião para vos manifestar a sua simpatia, no momento de vossa separação.
A morte nada é, quando tem como resultado fazer nascer uma vida muito maior, muito mais larga, muito mais útil que a vida humana!… Sobrevém um atordoamento, segue-se uma prostração (alusão à maneira por que morreu) e me levanto mais livre e feliz ao entrar neste mundo invisível, que minha alma havia pressentido, que todo o meu ser desejava!… Livre!… planar no espaço!… Vi, observei, e minha alegria delirante só era temperada pelo exagerado pesar dos meus, pela ausência de minha personalidade material; mas hoje, que lhe pude provar a minha existência, e que demonstrei que se meu corpo não mais estava lá, meu Espírito lá estava mais ainda, sou feliz, muito feliz; porque o que não pôde fazer o encarnado, pôde obter no estado de espiritualidade. Hoje sou útil, muito útil, e graças à simpática afeição dos que me conheceram, minha utilidade é mais eficaz.
Como é bom poder servir aos irmãos e assim ser útil à Humanidade inteira! Como é bom, como é doce à alma poder fazer participar a Humanidade no pouco saber que se adquiriu pelo sofrimento! Eu que, outrora aprisionado neste corpo obtuso, hoje sou grande, e se não fosse o medo do vosso ridículo, eu me admiraria; porque, vede, ser bom é participar de Deus; e esta bondade eu a possuía? oh! respondei-me; vosso testemunho será uma felicidade a mais, aliada à felicidade que desfruto; mas, preciso de vossas palavras? não posso ler em vossos corações e ver os vossos sentimentos mais íntimos? Hoje, graças à minha desmaterialização, não posso ver os vossos mais secretos pensamentos?
Oh! Deus é grande e sua bondade é sublime! Meus amigos, inclinai-vos, como eu, ante a sua majestade; trabalhai para a realização de seus desígnios, fazendo mais e melhor do que eu mesmo pude fazer.
Leclerc.
3. — Para a alma que aspira à liberdade, como é longo o tempo na Terra, e como se faz esperar o momento tão sonhado! Mas, também, uma vez rompido o laço, com que rapidez o Espírito corre e voa para o reino celeste, que em vida via em sonhos e ao qual aspirava sem cessar! O belo, o infinito, o impalpável, todos os sentimentos mais puros, eis o apanágio dos que desprezam os tesouros humanos, querendo marchar na vida santa do bem, da caridade e do dever. Tenho minha recompensa e sou muito feliz, porque agora não mais espero as visitas dos que me são caros; agora não há mais limites para a minha vista, e esse sofrimento, esse longo emagrecimento do corpo acabou; sou alegre, contente, cheia de vivacidade. Não espero mais os visitantes: vou visitá-los.
Ernestine Dozon.
4. — São muito felizes os que hoje podem vir sem envergonhar-se ao vosso meio, comunicar-vos a sua alegria, o seu prazer ao entrarem aqui! Mas eu, que tomei o caminho dos covardes para evitar o caminho trilhado; eu, que entrei de surpresa num mundo que não me era desconhecido; eu, que quebrei a porta da prisão, em vez de esperar que ela me fosse largamente aberta, é em razão dessa mesma vergonha que me cobre o rosto, que venho a esta mesa, porque aqui encontro o meio de vos dizer: Obrigado por vosso perdão sincero, obrigado por vossas preces, pelo interesse que me prodigalizastes e que abreviaram os meus sofrimentos! Obrigado, ainda, pelos pensamentos de futuro, que vejo germinar em vossos corações, pela coletividade fraterna de vossas simpatias, das quais .me beneficiarei!
Hoje, o clarão apenas entrevisto tornou-se um farol luminoso, de raios largos e brilhantes; doravante vejo o caminho, e se vossas preces me sustentarem, como pressinto, se minha humildade e meu arrependimento não se desmentirem, podeis contar com mais um viajante nesta larga estrada que se chama o bem.
D.
5. — Fali… pequei… pequei muito!… E, contudo, se Deus coloca no cérebro de um homem uma inteligência e ao lado põe desejos a saciar, inclinações impossíveis de superar, por que faria o Espírito suportar as consequências desses obstáculos que não pôde vencer?… Mas eu me perco, blasfemo!… porque, desde que me tinha dado uma inteligência, era o instrumento com a ajuda do qual eu podia vencer os obstáculos… Quanto maior era essa inteligência, menos escusável sou…
Minha própria inteligência, sobretudo minha presunção, me perderam… Sofri moralmente todas as minhas decepções, muito mais que fisicamente, e não é dizer pouco!… Fazendo-vos estas confissões, sofro o passado e todos os sofrimentos dos meus, que vêm aumentar a bagagem dos males que já me esmagam… Oh! orai por mim! Hoje é um dia de indulgência. Pois bem! reclamo a vossa. Que me perdoem aqueles a quem ofendi e desprezei!
X.
6. — Espectador invisível, desde algum tempo assisto aos vossos estudos com uma felicidade muito grande! Vossos trabalhos ainda absorvem mais as minhas faculdades intelectuais do que quando eu era vivo. Vejo, observo, estudo, e hoje que as minhas fibras cerebrais não são mais obstruídas pela matéria, abri os olhos espirituais e posso ver os fluidos, que em vão tinha procurado perceber em vida.
Pois bem! se pudésseis ver essa imensa teia, esse emaranhado fluídico, vossos raios visuais se aniquilariam de tal modo que só perceberíeis as trevas. Eu vejo, sinto, ressinto!… e nessas moléculas fluídicas, átomos impalpáveis, distingo as diferentes forças propulsoras; analiso-as, delas formo um todo que emprego ainda em benefício dos pobres corpos sofredores; reúno, aglomero os fluidos simpáticos, e vou simplesmente, gratuitamente, derramá-los sobre os que deles necessitam.
Ah! o estudo dos fluidos é uma bela coisa! E compreenderíeis quanto todos esses mistérios são preciosos para mim, se, como eu, tivésseis consagrado em vão toda a vossa existência em os penetrar. Graças ao Espiritismo, o aparente caos desses conhecimentos foi posto em ordem; o Espiritismo distinguiu o que é do domínio físico daquilo que pertence ao mundo espiritual; reconheceu duas partes bem distintas no magnetismo; tornou seus efeitos fáceis de reconhecer, e Deus sabe o que o futuro lhe reserva!
Mas, percebo que absorvo todo o vosso tempo em meu benefício, quando outros Espíritos ainda vos desejam falar. Voltarei, pela escrita, para continuar a vos desenvolver minhas ideias sobre esses estudos com que, em vida, tanto gostei de me entreter.
E. Quinemant.
7. — Meus caros filhos: O ano social espírita foi proveitoso para os vossos estudos, e venho com prazer testemunhar toda a minha satisfação. Muitos fatos foram analisados, muitas coisas incompreendidas foram elucidadas, e tocastes em certas questões que não tardarão a ser admitidas em princípio. Estou, ou antes, estamos satisfeitos.
Não obstante todo o ardor empregado até aqui, no meio de vós e por vossos inimigos, contra as vossas boas intenções, vossa falange foi a mais forte; se o mal fez algumas vítimas, é que nelas a lepra já existia. Mas já a chaga se cicatriza; entram os bons, e os maus se vão. E para os maus, que ficam no meio de vós, mais tarde o remorso será terrível, porque às suas taras juntam a da hipocrisia. Mas os que são sinceros, os que hoje se juntam a vós, os que trazem o seu devotamento à verdade e o desejo de a comunicar a todos, esses, meus filhos, eu vos digo que serão abençoados, porque levarão a felicidade não só para si, mas para todos os que os escutam. Olhai em vossas fileiras e vereis que os vazios criados pelas defecções são bem depressa preenchidos com vantagem por novas individualidades, e estas fruirão os benefícios que serão o apanágio da geração futura.
Ide, meus filhos! vossos estudos ainda são muito rudimentares; mas cada dia traz os meios de aprofundar mais e, para isto, novos instrumentos virão juntar-se aos que já tendes. Tereis instruções mais extensas e isto para maior glória de Deus e para maior bem-estar da Humanidade.
Há entre vós vários desses instrumentos, que tomarão lugar à vossa mesa, na reabertura; ainda não ousam declarar-se; mas encorajai-os; trazei ao vosso lado os tímidos e os orgulhosos, que julgam fazer melhor que os outros, e então veremos se os tímidos têm medo e se os orgulhosos não terão que refrear suas pretensões.
São Luís.
8. — A epidemia que vem dizimar o mundo em certos momentos, e que conviestes chamar cólera, fere de novo e por golpes redobrados a Humanidade; seus efeitos são prontos e sua ação rápida. Sem nenhum aviso, o homem passa da vida à morte, e aqueles, mais privilegiados, poupados por sua mão fulminante, ficam estupefatos, trêmulos, ante as espantosas consequências de um mal desconhecido em suas causas, e cujo remédio se ignora completamente.
Nesses tristes momentos, o medo se apodera dos que apenas encaram a ação da morte, sem pensar no além, e que, só por este fato, com mais facilidade oferecem o flanco ao mal. Mas como a hora de cada um de nós está marcada, há que partir, a despeito de tudo, se ela tiver soado. A hora está marcada para bom número dos habitantes do universo terrestre; partem todos os dias; pouco a pouco o flagelo se espalha e vai estender-se sobre toda a superfície do globo.
Este mal é desconhecido e talvez o seja mais ainda hoje, porque, à sua constituição própria, juntam-se diariamente outros elementos que confundem o saber humano e impedem de achar o remédio necessário para deter a sua marcha. Assim, a despeito de sua ciência, os homens devem sofrer as suas consequências, e esse flagelo destruidor é muito simplesmente um dos meios para ativar a renovação humanitária, que se deve realizar.
Mas não vos inquieteis; para vós espíritas, que sabeis que morrer é renascer, se fordes atingidos e partirdes, não ireis à felicidade? Se, ao contrário, fordes poupados, agradecei-o a Deus, que assim vos permitirá aumentar a soma dos vossos sofrimentos e pagar mais pela prova.
De um lado como de outro, quer a morte vos fira, quer vos poupe, só tendes a ganhar; ou, então, não vos digais espíritas.
Doutor Demeure.
9. — Isto é para ele (o médium fala de si na terceira pessoa). — Vede, foi dito que virá um momento em que ele poderia ver, ouvir e repousar por sua vez. Pois bem! esse momento é chegado, para vós e não para os outros; na reabertura ele não adormecerá mais, salvo alguns casos excepcionais, nos quais a sua utilidade se fizer sentir; neste momento ele o lamenta, mas, daqui a pouco, quando despertar e souber, ficará muito contente… o egoísta!… Contudo, ele ainda tem muito a fazer; daqui até lá, ele dormirá; raramente felicitará e fustigará muitas vezes: é a sua tarefa. Orai para que ela lhe seja fácil, para que sua palavra leve a paz, a consolação e a conciliação, aonde se fizerem necessárias. Ajudai-o com o vosso pensamento; ao retornar ele porá toda a sua boa vontade em vos secundar, e o fará de todo o coração; mas sustentai-o, pois precisa muito. Aliás, as circunstâncias excepcionais em que irá dormir talvez não sejam, infelizmente, muitas vezes motivadas. Enfim, dizei como ele: Que a vontade de Deus seja feita!
Morin.
Allan Kardec.
1. — Nota – Entre as comunicações obtidas na última sessão da Sociedade, antes das férias, esta apresenta um caráter particular, que foge da forma habitual. Vários Espíritos dos que são assíduos às sessões e aí se manifestam algumas vezes, vieram sucessivamente dirigir algumas palavras aos membros da Sociedade antes de sua separação, por meio do Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo. Era como um grupo de amigos vindo se despedir e dar testemunho de simpatia, no momento da partida. A cada interlocutor que se apresentava, o intérprete mudava de tom, de atitude, de expressão, de fisionomia e, pela linguagem, se reconhecia o Espírito que falava, antes que fosse nomeado. Era bem ele que falava, servindo-se dos órgãos de um encarnado, e não o seu pensamento, traduzido mais ou menos fielmente ao passar por um intermediário; assim, a identidade era patente e, salvo a semelhança física, tinha-se diante de si o Espírito como em sua vida. Depois de cada alocução o médium ficava absorto durante alguns minutos; era o tempo de substituição de um Espírito por outro; depois, voltando a si pouco a pouco, retomava a palavra num outro tom. O primeiro que se apresentou foi o nosso antigo colega Leclerc, falecido em dezembro do ano passado:
2. — Alguns de vossos irmãos que partiram vêm aproveitar a ocasião para vos manifestar a sua simpatia, no momento de vossa separação.
A morte nada é, quando tem como resultado fazer nascer uma vida muito maior, muito mais larga, muito mais útil que a vida humana!… Sobrevém um atordoamento, segue-se uma prostração (alusão à maneira por que morreu) e me levanto mais livre e feliz ao entrar neste mundo invisível, que minha alma havia pressentido, que todo o meu ser desejava!… Livre!… planar no espaço!… Vi, observei, e minha alegria delirante só era temperada pelo exagerado pesar dos meus, pela ausência de minha personalidade material; mas hoje, que lhe pude provar a minha existência, e que demonstrei que se meu corpo não mais estava lá, meu Espírito lá estava mais ainda, sou feliz, muito feliz; porque o que não pôde fazer o encarnado, pôde obter no estado de espiritualidade. Hoje sou útil, muito útil, e graças à simpática afeição dos que me conheceram, minha utilidade é mais eficaz.
Como é bom poder servir aos irmãos e assim ser útil à Humanidade inteira! Como é bom, como é doce à alma poder fazer participar a Humanidade no pouco saber que se adquiriu pelo sofrimento! Eu que, outrora aprisionado neste corpo obtuso, hoje sou grande, e se não fosse o medo do vosso ridículo, eu me admiraria; porque, vede, ser bom é participar de Deus; e esta bondade eu a possuía? oh! respondei-me; vosso testemunho será uma felicidade a mais, aliada à felicidade que desfruto; mas, preciso de vossas palavras? não posso ler em vossos corações e ver os vossos sentimentos mais íntimos? Hoje, graças à minha desmaterialização, não posso ver os vossos mais secretos pensamentos?
Oh! Deus é grande e sua bondade é sublime! Meus amigos, inclinai-vos, como eu, ante a sua majestade; trabalhai para a realização de seus desígnios, fazendo mais e melhor do que eu mesmo pude fazer.
Leclerc.
3. — Para a alma que aspira à liberdade, como é longo o tempo na Terra, e como se faz esperar o momento tão sonhado! Mas, também, uma vez rompido o laço, com que rapidez o Espírito corre e voa para o reino celeste, que em vida via em sonhos e ao qual aspirava sem cessar! O belo, o infinito, o impalpável, todos os sentimentos mais puros, eis o apanágio dos que desprezam os tesouros humanos, querendo marchar na vida santa do bem, da caridade e do dever. Tenho minha recompensa e sou muito feliz, porque agora não mais espero as visitas dos que me são caros; agora não há mais limites para a minha vista, e esse sofrimento, esse longo emagrecimento do corpo acabou; sou alegre, contente, cheia de vivacidade. Não espero mais os visitantes: vou visitá-los.
Ernestine Dozon.
4. — São muito felizes os que hoje podem vir sem envergonhar-se ao vosso meio, comunicar-vos a sua alegria, o seu prazer ao entrarem aqui! Mas eu, que tomei o caminho dos covardes para evitar o caminho trilhado; eu, que entrei de surpresa num mundo que não me era desconhecido; eu, que quebrei a porta da prisão, em vez de esperar que ela me fosse largamente aberta, é em razão dessa mesma vergonha que me cobre o rosto, que venho a esta mesa, porque aqui encontro o meio de vos dizer: Obrigado por vosso perdão sincero, obrigado por vossas preces, pelo interesse que me prodigalizastes e que abreviaram os meus sofrimentos! Obrigado, ainda, pelos pensamentos de futuro, que vejo germinar em vossos corações, pela coletividade fraterna de vossas simpatias, das quais .me beneficiarei!
Hoje, o clarão apenas entrevisto tornou-se um farol luminoso, de raios largos e brilhantes; doravante vejo o caminho, e se vossas preces me sustentarem, como pressinto, se minha humildade e meu arrependimento não se desmentirem, podeis contar com mais um viajante nesta larga estrada que se chama o bem.
D.
5. — Fali… pequei… pequei muito!… E, contudo, se Deus coloca no cérebro de um homem uma inteligência e ao lado põe desejos a saciar, inclinações impossíveis de superar, por que faria o Espírito suportar as consequências desses obstáculos que não pôde vencer?… Mas eu me perco, blasfemo!… porque, desde que me tinha dado uma inteligência, era o instrumento com a ajuda do qual eu podia vencer os obstáculos… Quanto maior era essa inteligência, menos escusável sou…
Minha própria inteligência, sobretudo minha presunção, me perderam… Sofri moralmente todas as minhas decepções, muito mais que fisicamente, e não é dizer pouco!… Fazendo-vos estas confissões, sofro o passado e todos os sofrimentos dos meus, que vêm aumentar a bagagem dos males que já me esmagam… Oh! orai por mim! Hoje é um dia de indulgência. Pois bem! reclamo a vossa. Que me perdoem aqueles a quem ofendi e desprezei!
X.
6. — Espectador invisível, desde algum tempo assisto aos vossos estudos com uma felicidade muito grande! Vossos trabalhos ainda absorvem mais as minhas faculdades intelectuais do que quando eu era vivo. Vejo, observo, estudo, e hoje que as minhas fibras cerebrais não são mais obstruídas pela matéria, abri os olhos espirituais e posso ver os fluidos, que em vão tinha procurado perceber em vida.
Pois bem! se pudésseis ver essa imensa teia, esse emaranhado fluídico, vossos raios visuais se aniquilariam de tal modo que só perceberíeis as trevas. Eu vejo, sinto, ressinto!… e nessas moléculas fluídicas, átomos impalpáveis, distingo as diferentes forças propulsoras; analiso-as, delas formo um todo que emprego ainda em benefício dos pobres corpos sofredores; reúno, aglomero os fluidos simpáticos, e vou simplesmente, gratuitamente, derramá-los sobre os que deles necessitam.
Ah! o estudo dos fluidos é uma bela coisa! E compreenderíeis quanto todos esses mistérios são preciosos para mim, se, como eu, tivésseis consagrado em vão toda a vossa existência em os penetrar. Graças ao Espiritismo, o aparente caos desses conhecimentos foi posto em ordem; o Espiritismo distinguiu o que é do domínio físico daquilo que pertence ao mundo espiritual; reconheceu duas partes bem distintas no magnetismo; tornou seus efeitos fáceis de reconhecer, e Deus sabe o que o futuro lhe reserva!
Mas, percebo que absorvo todo o vosso tempo em meu benefício, quando outros Espíritos ainda vos desejam falar. Voltarei, pela escrita, para continuar a vos desenvolver minhas ideias sobre esses estudos com que, em vida, tanto gostei de me entreter.
E. Quinemant.
7. — Meus caros filhos: O ano social espírita foi proveitoso para os vossos estudos, e venho com prazer testemunhar toda a minha satisfação. Muitos fatos foram analisados, muitas coisas incompreendidas foram elucidadas, e tocastes em certas questões que não tardarão a ser admitidas em princípio. Estou, ou antes, estamos satisfeitos.
Não obstante todo o ardor empregado até aqui, no meio de vós e por vossos inimigos, contra as vossas boas intenções, vossa falange foi a mais forte; se o mal fez algumas vítimas, é que nelas a lepra já existia. Mas já a chaga se cicatriza; entram os bons, e os maus se vão. E para os maus, que ficam no meio de vós, mais tarde o remorso será terrível, porque às suas taras juntam a da hipocrisia. Mas os que são sinceros, os que hoje se juntam a vós, os que trazem o seu devotamento à verdade e o desejo de a comunicar a todos, esses, meus filhos, eu vos digo que serão abençoados, porque levarão a felicidade não só para si, mas para todos os que os escutam. Olhai em vossas fileiras e vereis que os vazios criados pelas defecções são bem depressa preenchidos com vantagem por novas individualidades, e estas fruirão os benefícios que serão o apanágio da geração futura.
Ide, meus filhos! vossos estudos ainda são muito rudimentares; mas cada dia traz os meios de aprofundar mais e, para isto, novos instrumentos virão juntar-se aos que já tendes. Tereis instruções mais extensas e isto para maior glória de Deus e para maior bem-estar da Humanidade.
Há entre vós vários desses instrumentos, que tomarão lugar à vossa mesa, na reabertura; ainda não ousam declarar-se; mas encorajai-os; trazei ao vosso lado os tímidos e os orgulhosos, que julgam fazer melhor que os outros, e então veremos se os tímidos têm medo e se os orgulhosos não terão que refrear suas pretensões.
São Luís.
8. — A epidemia que vem dizimar o mundo em certos momentos, e que conviestes chamar cólera, fere de novo e por golpes redobrados a Humanidade; seus efeitos são prontos e sua ação rápida. Sem nenhum aviso, o homem passa da vida à morte, e aqueles, mais privilegiados, poupados por sua mão fulminante, ficam estupefatos, trêmulos, ante as espantosas consequências de um mal desconhecido em suas causas, e cujo remédio se ignora completamente.
Nesses tristes momentos, o medo se apodera dos que apenas encaram a ação da morte, sem pensar no além, e que, só por este fato, com mais facilidade oferecem o flanco ao mal. Mas como a hora de cada um de nós está marcada, há que partir, a despeito de tudo, se ela tiver soado. A hora está marcada para bom número dos habitantes do universo terrestre; partem todos os dias; pouco a pouco o flagelo se espalha e vai estender-se sobre toda a superfície do globo.
Este mal é desconhecido e talvez o seja mais ainda hoje, porque, à sua constituição própria, juntam-se diariamente outros elementos que confundem o saber humano e impedem de achar o remédio necessário para deter a sua marcha. Assim, a despeito de sua ciência, os homens devem sofrer as suas consequências, e esse flagelo destruidor é muito simplesmente um dos meios para ativar a renovação humanitária, que se deve realizar.
Mas não vos inquieteis; para vós espíritas, que sabeis que morrer é renascer, se fordes atingidos e partirdes, não ireis à felicidade? Se, ao contrário, fordes poupados, agradecei-o a Deus, que assim vos permitirá aumentar a soma dos vossos sofrimentos e pagar mais pela prova.
De um lado como de outro, quer a morte vos fira, quer vos poupe, só tendes a ganhar; ou, então, não vos digais espíritas.
Doutor Demeure.
9. — Isto é para ele (o médium fala de si na terceira pessoa). — Vede, foi dito que virá um momento em que ele poderia ver, ouvir e repousar por sua vez. Pois bem! esse momento é chegado, para vós e não para os outros; na reabertura ele não adormecerá mais, salvo alguns casos excepcionais, nos quais a sua utilidade se fizer sentir; neste momento ele o lamenta, mas, daqui a pouco, quando despertar e souber, ficará muito contente… o egoísta!… Contudo, ele ainda tem muito a fazer; daqui até lá, ele dormirá; raramente felicitará e fustigará muitas vezes: é a sua tarefa. Orai para que ela lhe seja fácil, para que sua palavra leve a paz, a consolação e a conciliação, aonde se fizerem necessárias. Ajudai-o com o vosso pensamento; ao retornar ele porá toda a sua boa vontade em vos secundar, e o fará de todo o coração; mas sustentai-o, pois precisa muito. Aliás, as circunstâncias excepcionais em que irá dormir talvez não sejam, infelizmente, muitas vezes motivadas. Enfim, dizei como ele: Que a vontade de Deus seja feita!
Morin.
Allan Kardec.
…É preciso, meus filhos, que o sangue depure a Terra; terrível luta, ainda mais horrível pelo esplendor da civilização em cujo meio ela rebenta. Que, Senhor! quando tudo se prepara para apertar os laços dos povos de um extremo a outro do mundo! quando na aurora da fraternidade material se veem as linhas de demarcação de raças, costumes e linguagem tenderem para a unidade, chega a guerra com seu cortejo de ruínas, de incêndios, de profundas divisões, de ódios religiosos. Sim, tudo isto porque nada em nosso progresso foi segundo o Espírito de Deus; porque vossos laços não foram apertados nem pela bondade, nem pela lealdade, mas apenas pelo interesse; porque não é a verdadeira caridade que impõe silêncio aos ódios religiosos, mas a indiferença; porque as barreiras não foram diminuídas em vossas fronteiras pelo amor de todos, mas pelos cálculos mercantis; enfim, porque as vistas são humanas e instintivas, e não espirituais e caridosas; porque os governantes só buscam os seus proveitos, e cada um, entre os povos, faz outro tanto.
Sublime desinteresse de Jesus e de seus apóstolos, onde estás? — Ficais tristes, meus filhos, quando algumas vezes pensais na rude missão desses Espíritos sublimes, que vêm levantar a coragem da Humanidade e morrer na tarefa, depois de ter esvaziado o cálice amargo das ingratidões humanas. Gemeis por ver que o Senhor, que os enviou, parece abandoná-los no momento em que sua proteção parece mais necessária. Não vos falaram das provas que sofrem os Espíritos elevados no momento de transpor um degrau mais alto na iniciativa espiritual? Não vos disseram que cada grau da hierarquia celeste se compra pelo mérito, pelo devotamento, como entre vós, no exército, pelo sangue derramado e pelos serviços prestados? Pois bem! é o caso em que se encontram os Messias nesta terra de dores; são sustentados enquanto dura sua obra humanitária, enquanto trabalham pelo homem e para Deus, mas, quando só eles estão em jogo, quando sua prova se torna individual, o socorro visível se afasta, a luta se mostra áspera e rude quando o homem deve sofrê-la.
Eis a explicação desse aparente abandono, que vos aflige na vida dos missionários de todos os graus de vossa Humanidade. Não penseis que Deus abandone jamais a sua criatura por capricho ou impotência; não, mas no interesse de seu adiantamento ele a deixa às suas próprias forças, ao completo emprego de seu livre-arbítrio.
Cura D’Ars.
…É preciso, meus filhos, que o sangue depure a Terra; terrível luta, ainda mais horrível pelo esplendor da civilização em cujo meio ela rebenta. Que, Senhor! quando tudo se prepara para apertar os laços dos povos de um extremo a outro do mundo! quando na aurora da fraternidade material se veem as linhas de demarcação de raças, costumes e linguagem tenderem para a unidade, chega a guerra com seu cortejo de ruínas, de incêndios, de profundas divisões, de ódios religiosos. Sim, tudo isto porque nada em nosso progresso foi segundo o Espírito de Deus; porque vossos laços não foram apertados nem pela bondade, nem pela lealdade, mas apenas pelo interesse; porque não é a verdadeira caridade que impõe silêncio aos ódios religiosos, mas a indiferença; porque as barreiras não foram diminuídas em vossas fronteiras pelo amor de todos, mas pelos cálculos mercantis; enfim, porque as vistas são humanas e instintivas, e não espirituais e caridosas; porque os governantes só buscam os seus proveitos, e cada um, entre os povos, faz outro tanto.
Sublime desinteresse de Jesus e de seus apóstolos, onde estás? — Ficais tristes, meus filhos, quando algumas vezes pensais na rude missão desses Espíritos sublimes, que vêm levantar a coragem da Humanidade e morrer na tarefa, depois de ter esvaziado o cálice amargo das ingratidões humanas. Gemeis por ver que o Senhor, que os enviou, parece abandoná-los no momento em que sua proteção parece mais necessária. Não vos falaram das provas que sofrem os Espíritos elevados no momento de transpor um degrau mais alto na iniciativa espiritual? Não vos disseram que cada grau da hierarquia celeste se compra pelo mérito, pelo devotamento, como entre vós, no exército, pelo sangue derramado e pelos serviços prestados? Pois bem! é o caso em que se encontram os Messias nesta terra de dores; são sustentados enquanto dura sua obra humanitária, enquanto trabalham pelo homem e para Deus, mas, quando só eles estão em jogo, quando sua prova se torna individual, o socorro visível se afasta, a luta se mostra áspera e rude quando o homem deve sofrê-la.
Eis a explicação desse aparente abandono, que vos aflige na vida dos missionários de todos os graus de vossa Humanidade. Não penseis que Deus abandone jamais a sua criatura por capricho ou impotência; não, mas no interesse de seu adiantamento ele a deixa às suas próprias forças, ao completo emprego de seu livre-arbítrio.
Cura D’Ars.
“Sábado (6 de julho) — diz a Presse — o imã ou grão-capelão do sultão, Hairoulah-Effendi, fez uma visita ao monsenhor Chigi, núncio apostólico, e ao monsenhor arcebispo de Paris.”
A viagem do sultão a Paris é mais que um acontecimento político, é um sinal dos tempos, o prelúdio do desaparecimento dos preconceitos religiosos que por tanto tempo levantaram uma barreira entre os povos e ensanguentaram o mundo. Vindo o sucessor de Maomé, de sua livre-vontade, visitar um país cristão, fraternizando com um soberano cristão, teria sido, de sua parte e não há muito tempo, um ato audacioso. Hoje o fato parece muito natural. O que é ainda mais significativo é a visita do Imã, seu grão-capelão, aos chefes da Igreja. A iniciativa que tomou nessa circunstância, já que o cerimonial a isto não o obrigava, é uma prova do progresso das ideias. Os ódios religiosos são anomalias no século em que estamos, e é de bom augúrio para o futuro ver um dos príncipes da religião muçulmana dar o exemplo de tolerância e abjurar as prevenções seculares.
Uma das consequências do progresso moral será certamente um dia a unificação das crenças; ela ocorrerá quando os diferentes cultos reconhecerem que há um só Deus para todos os homens, e que é absurdo e indigno d’Ele lançar-se anátemas por não se O adorar da mesma maneira.