1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.
1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.
1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.
1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.
1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
Assim como o corpo tem seus órgãos de locomoção, de nutrição, de respiração, etc., também o Espírito tem faculdades variadas, que se relacionam respectivamente com cada situação particular de seu ser. Se o corpo tem sua infância, se os membros desse corpo são fracos e débeis, incapazes de mover fardos que mais tarde erguerão sem esforço, o Espírito possui, antes de mais, faculdades que devem, como tudo o que existe, passar da infância à juventude e da juventude à idade madura. Pediríeis à criança no berço que agisse com a rapidez, a segurança e a habilidade do homem feito? Não; seria loucura, não é? Não se deve exigir de cada um senão o que entra no quadro de suas forças e de seus conhecimentos. Pedir àquele que jamais tocou num livro de Matemática ou de Física, que raciocine sobre um ramo qualquer dos conhecimentos que dependem dessas ciências, seria tão pouco lógico quanto pretender exigir uma descrição exata de um país longínquo a um parisiense que jamais deixou os limites de sua terra natal e, por vezes de seu bairro!
É, pois, necessário, para julgar uma coisa sensatamente, ter dessa coisa um conhecimento tão completo quanto possível. Seria absurdo submeter a um exame de leitura corrente aquele que apenas começa a soletrar; e, contudo!… contudo o homem, esse humanimal dotado de raciocínio, esse poderoso da Criação, para quem tudo é obstáculo no livro dos mundos, essa criança terrível que apenas balbucia as primeiras palavras da verdadeira ciência, esse mistificado da aparência, pretende ler, sem hesitação, as mais indecifráveis páginas do manual que a Natureza diariamente apresenta aos seus olhos. O desconhecido nasce sob os seus passos; esbarra aos seus lados; à frente, atrás, em toda parte, em tudo, não são senão problemas sem solução, ou cujas soluções conhecidas são ilógicas e irracionais, e a criança grande desvia os olhos do livro, dizendo: Eu te conheço; para um outro!… Ignorante das coisas, liga-se às causas dessas coisas e, sem bússola, sem compasso, embarca no mar tempestuoso dos sistemas preconcebidos, que o conduz fatalmente ao naufrágio, cujo resultado são a dúvida e a incredulidade! O fanatismo, filho do erro, o tem sob o seu cetro; porque, sabei-o bem, o fanático não é aquele que crê sem provas e que, por uma fé incompreendida, daria a sua vida. Há fanáticos da incredulidade, como há fanáticos da fé!
O caminho da verdade é estreito e é necessário sondar o terreno antes de avançar, para não se precipitar nos abismos que o ladeiam, à direita e à esquerda.
Apressa-te devagar, diz a sabedoria das nações; e, como sempre, quando está de acordo com o bom-senso, a sabedoria das nações tem razão. — Não deixes inimigo atrás de ti, e não avances senão quando estiveres seguro de não seres obrigado a retroceder. — Deus é paciente porque é eterno; o homem, que tem a eternidade diante de si, também pode ser paciente.
Que julgue pelas aparências, que se engane e reconheça seu erro no futuro, é lógico; mas que pretenda não poder enganar-se, que marque um limite qualquer ao entendimento humano, a criança reaparece sobre a água com seus caprichos e suas cóleras impotentes!… O potro ainda não fez diabruras; irrita-se, empina-se! O sangue ferve em suas veias!… Deixai-o fazer: a idade saberá acalmar o seu ardor sem o destruir e disso ele tirará proveito, medindo mais sabiamente os seus gastos!
Ao nascer, o homem viu uma planície formada de terra e de rocha estender-se sem limite sob os seus passos; uma planície azul, salpicada de fogos cintilantes estendia-se sobre a sua cabeça e parecia mover-se regularmente; daí concluiu que a Terra era um vasto planalto acidentado, encimado por uma cúpula animada de um movimento constante. Referindo tudo a si, fez-se o centro de um sistema por ele criado, e a Terra imutável contemplou o Sol girando na planície celeste. Hoje o Sol não gira mais e a Terra se pôs em movimento; o primeiro ponto talvez não fosse difícil de elucidar segundo a Bíblia, porque se Josué um dia mandou o Sol parar, em parte alguma se vê que lhe tenha mandado retomar o seu curso.
Hoje a inteligência humana dá um desmentido aos trabalhos das inteligências de uma época mais recuada e, assim, de idade em idade até a origem; e, contudo, malgrado as lições do passado, embora se aperceba, pelos precedentes, que a utopia de ontem muitas vezes é a realidade de amanhã, o homem se obstina a dizer: Não! não irás mais longe! Quem poderia fazer mais que nós? A inteligência está no topo da escada; depois de nós não se pode senão descer!… E, no entanto, os que dizem isto são as testemunhas, os propagadores e os promotores das maravilhas realizadas pela ciência atual. Fizeram numerosas descobertas, que modificaram singularmente as teorias de seus predecessores; mas, que importa!… O eu neles fala mais alto que a razão. Gozando de uma realeza de um dia, não podem admitir que amanhã sejam submetidos a um poder que o futuro mantém ao abrigo de seus olhares.
Negam o Espírito, como negavam o movimento da Terra!… Lamentemo-los e consolemo-nos de sua cegueira, dizendo-nos que o que é não pode ficar eternamente oculto; a luz não pode tornar-se sombra; a verdade não pode tornar-se erro; as trevas se desfazem diante da aurora.
Ó Galileu!… onde quer que estejas, tu te alegras porque ela se move… e podemos alegrar-nos, nós também, porque nossa Terra, nosso mundo, a inteligência, o Espírito também tem seu movimento incompreendido, desconhecido, mas que logo se tornará tão evidente quanto os axiomas reconhecidos pela Ciência.
François Arago.
1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.
Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.
Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.
2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.
O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.
E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.
3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.
Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.
Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.
[Sem nome.]
Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.
Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.