A propósito da gênese
Nosso correspondente de Sens, do qual publicamos no número precedente a observação a propósito do partido espírita, em sua carta juntou uma outra, a propósito do aumento do volume da Terra e que a abundância de matérias nos obrigou a adiar.
“Peço-vos ainda, senhor, permissão para vos submeter uma reflexão que me veio, ao ler a vossa última obra sobre a Gênese. Na página 161 há isto: “Na época em que o globo terrestre era uma massa incandescente, ele não continha um átomo a mais nem a menos do que hoje.” Entretanto, os Espíritos disseram que não há duas leis diferentes para a formação dos corpos principais e dos corpos secundários; e, depois, li algures que as plantas dão à Terra mais do que dela recebem. Não sei se isto está bem constatado e cientificamente demonstrado, mas segundo este e outros dados, sem falar dos aerólitos, que hoje são um fato inconteste, não poderia ser que um dia se descobrisse que o nosso globo adquire ainda maior volume, o que contradiria essa asserção?”
É muito certo que as plantas dão ao solo mais do que dele tiram, mas o globo não se compõe apenas da parte sólida, pois a atmosfera dele faz parte integrante. Ora, está provado que as plantas se nutrem tanto, e mesmo mais, dos fluidos aeriformes tirados da atmosfera, do que dos elementos sólidos absorvidos pelas raízes. Considerando-se a quantidade de plantas que viveram na Terra desde a sua origem, sem falar dos animais, os fluidos atmosféricos de longa data estariam esgotados, se não se alimentassem numa fonte permanente. Esta fonte está na decomposição das matérias sólidas orgânicas e inorgânicas que fornecem à atmosfera o oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e os outros gases que dela haviam subtraído. Há, pois, uma troca constante, uma transformação perpétua, que se realiza na superfície do globo. Dá-se aqui exatamente como a água, que se eleva em vapores e recai em chuva, e cuja quantidade é sempre a mesma. O crescimento dos vegetais e dos animais, operando-se com o auxílio dos elementos constitutivos do globo, seus restos, por mais consideráveis que sejam, não acrescentam um átomo à massa. Se a parte sólida do globo aumentasse por essa causa, de maneira permanente, seria às custas da atmosfera que diminuiria outro tanto, e acabaria sendo imprópria à vida.
Na origem da Terra, as primeiras camadas geológicas se formaram de matérias sólidas momentaneamente volatilizadas pelo efeito da alta temperatura e que, mais tarde, condensadas pelo resfriamento, se precipitaram. Incontestavelmente elas elevaram um pouco a superfície do solo que, sem isto, se teria detido na camada granítica, mas sem nada acrescentar à massa total, porquanto não era senão um deslocamento de matéria. Quando a atmosfera, expurgada dos elementos que mantinha em suspensão, encontrou-se em seu estado normal, as coisas seguiram o curso regular que tiveram desde então. Hoje, a menor modificação na constituição da atmosfera acarretaria forçosamente a destruição dos seres vivos atuais. Mas então, provavelmente, formar-se-iam novas raças, em outras condições de vitalidade.
Considerada deste ponto de vista, a massa do globo, isto é, a soma das moléculas que compõem o conjunto de suas partes sólidas, líquidas e gasosas, é incontestavelmente a mesma desde a sua origem. Se houvesse uma dilatação ou uma condensação, seu volume aumentaria ou diminuiria, sem que a massa sofresse qualquer alteração. Se, pois, a Terra aumentasse de massa pela adjunção de novas moléculas, seria por efeito de uma causa estranha, pois ela não poderia tirar de si mesma os elementos necessários ao seu acréscimo.
Algumas pessoas pensam que a queda de aerólitos pode ser uma causa de aumento do volume da Terra; outras, sem se ocupar das vias e dos meios, fundam-se no princípio que, desde que os animais e as plantas nascem, crescem e morrem, os corpos planetários devem ser submetidos à mesma lei.
Para começar, a origem dos aerólitos é ainda problemática; durante muito tempo pensou-se mesmo que se podiam formar nas regiões superiores da atmosfera terrestre, pela condensação das matérias gaseificadas oriundas da própria Terra; mas, supondo que tenham uma origem estranha ao nosso globo, que provenham de restos de planetas quebrados, ou que se formem espontaneamente, pela condensação de matéria cósmica interplanetária, caso em que poderiam ser considerados como abortos de planetas, sua queda acidental não poderia dar lugar a um acréscimo sensível e, ainda menos, regular, do nosso globo.
Por outro lado, a assimilação que se pretenderia fazer entre as plantas e os planetas carece de justeza, porque seria fazer destes últimos, seres orgânicos, o que não é admissível.
Segundo outra opinião, o globo pode aumentar pelo afluxo de matéria cósmica interplanetária que ele recolhe através de seu curso no espaço, e que deposita incessantemente novas moléculas em sua superfície. Esta doutrina nada tem de irracional, porque, neste caso, o crescimento ocorreria por adjunção ou superposição, como para todos os corpos inorgânicos. Mas, além de se poder perguntar onde pararia esse crescimento, ela é ainda muito hipotética para ser admitida como princípio. Não é senão um sistema combatido por sistemas contrários, porque, segundo outros, a Terra, em vez de adquirir, consome, por efeito de seu movimento, isto é, ela abandona no espaço uma parte de suas moléculas e assim, em vez de aumentar, diminui. Entre estas duas teorias, a ciência positiva ainda não se pronunciou e é provável que não possa fazê-lo tão cedo, por falta de meios materiais de observação. Nisto fica-se reduzido a formular raciocínios baseados nas leis conhecidas, o que pode dar probabilidades, mas ainda não dá certezas.
Eis, em resposta à questão proposta, a opinião motivada do eminente Espírito que ditou os sábios estudos uranográficos referidos no capítulo VI de A Gênese.
(Sociedade de Paris, julho de 1868 - Médium: Sr. Desliens)
“Os mundos se esgotam envelhecendo e tendem a dissolver-se para servir de elementos de formação de outros universos. Eles devolvem, pouco a pouco, ao fluido cósmico universal do espaço, o que haviam tirado para se formar. Além disto, todos os corpos se gastam pelo atrito; o movimento rápido e incessante do globo através do fluido cósmico tem por efeito diminuir constantemente a massa, se bem que numa quantidade inapreciável num dado tempo
[1].
“Em minha opinião, a existência dos mundos pode dividir-se em três períodos:
“
Primeiro período:
Condensação da matéria, durante o qual o volume do globo diminui consideravelmente, mas a massa continua a mesma; é o período da infância.
“
Segundo período:
Contração, solidificação da crosta, surgimento dos germes, desenvolvimento da vida até o aparecimento do tipo mais perfectível. Nesse momento o globo está em toda a sua plenitude: é a idade da virilidade; ele perde, mas muito pouco, de seus elementos constitutivos. À medida que seus habitantes progridem
espiritualmente, ele passa ao período de diminuição
material;
perde, não só por causa do atrito, mas também pela desagregação das moléculas, como uma pedra dura que, roída pelo tempo, acaba por virar poeira. Em seu duplo movimento de rotação e de translação, ele deixa no espaço parcelas fluidificadas de sua substância, até o momento em que a sua dissolução será completa.
“Mas, então, como a força atrativa está na razão da massa ─ eu não digo do volume ─ diminuindo a massa, suas condições de equilíbrio no espaço se modificam; dominado por globos mais poderosos, com os quais ele não pode constituir contrapeso, produzem-se desvios em seus movimentos, em sua posição em relação ao Sol; ele sofre novas influências, e daí surgem mudanças nas condições de existência de seus habitantes, à espera que ele desapareça do cenário do mundo.
“Assim, nascimento, vida e morte; infância, virilidade e decrepitude, tais são as três fases pelas quais passa toda aglomeração de matéria orgânica ou inorgânica. Só o espírito, que não é matéria, é indestrutível.”
GALILEU.
Em que se tomam os habitantes de um mundo destruído? Fazem o que fazem os moradores de uma casa que é demolida: vão morar alhures, em melhores condições. Para eles os globos não passam de estações temporárias, mas é provável que quando um globo tenha chegado a seu período de dissolução, há longa data já tenha deixado de ser habitado, porque, então, já não pode fornecer elementos necessários à manutenção da vida.
Todo problema é insolúvel na Natureza, se fizermos abstração do elemento espiritual; tudo se explica, ao contrário, claramente e logicamente, se levarmos em consideração esse elemento.
É importante notar que, conforme a ordem de ideias expressas na comunicação acima, o fim de um mundo coincidiria com a maior soma de progresso de seus habitantes, compatível com a natureza desse mundo, em vez de ser o sinal de uma reprovação que condenaria a maioria à danação eterna.
Em seu movimento de translação em torno do Sol, a velocidade da Terra é de 400 léguas por minuto. Tendo a Terra 9.000 léguas de circunferência no equador, no movimento de rotação sobre o seu eixo, cada ponto do equador percorre, po
is 9:000 léguas em vinte e quatro horas, ou 6,3 léguas por minuto.