Transcrevemos as passagens seguintes do relato que o
Siècle faz da obra, em seu folhetim de 22 de junho de 1868:
“É uma espécie de romance filosófico, no qual a maior parte das questões que atualmente apaixonam os espíritos são tratadas de forma original e dramática; o espiritualismo e o materialismo, a imortalidade da alma e o nada, o livre-arbítrio e o fatalismo, a responsabilidade e a irresponsabilidade, as penas eternas e a expiação, depois a guerra, a paz universal, os exércitos permanentes, etc.
“Todas essas questões não são discutidas com muito método e profundeza, mas são todas discutidas com uma certa erudição, com uma evidente boa-fé, quase sempre com alegria, muitas vezes com espírito e algumas vezes com eloquência.
“Em suma, a obra é de um homem liberal, amigo do progresso, da perfectibilidade e do espiritualismo, amigo da paz, embora evidentemente militar. “Eis, portanto, como o autor fala de si próprio:
“
O autor, que neste livro tomou o nome de François Pamphile, tinha a insigne honra de ser cabo no exército francês, quando teve um sonho estranho, que constitui o plano da obra que ides ler, se não tiverdes nada melhor para fazer. Mais tarde o nosso militar escreveu o seu sonho, e depois se divertiu em embelezá-lo quando dispunha de tempo.”
“
O Regimento Fantástico, de Victor Dazur, é pois um sonho, como o
Paris na América, do Sr. Laboulaye, mas é um sonho que vos transporta a um mundo absolutamente imaginário.
“O cabo François Pamphile entra em sua caserna, depois de, com alguns camaradas, ter participado dos prazeres de uma festa pública em Paris. Saturado de barulho, de música, de espetáculos ao ar livre, de iluminação, de fogos de artifício, de barriga cheia e com a consciência tranquila, não tendo tido atrito com ninguém, nem ferido nenhum civil com seu sabre, caiu em profundo sono. Ao cabo de um tempo que ele não pode avaliar, parece-lhe que o seu leito é levado, como se estivesse suspenso a um balão, à guisa de nacela.
“Ele abre os olhos e se vê no espaço; um panorama móvel estende-se abaixo dele; ele vê desaparecer Paris, depois o campo, a Terra. Parece-lhe fazer uma das viagens aerostáticas do nosso colaborador Flammarion, de quem ele se declara um assíduo leitor, do qual louva com entusiasmo o belo livro espiritualista que tem por título a
Pluralidade dos Mundos Habitados. “De repente falta-lhe o ar; ele sufoca; mas ele entra numa outra atmosfera; retoma a respiração; percebe um outro globo, que seus estudos astronômicos o fazem reconhecer como o planeta Marte. Ele se sente atraído para esse planeta, cujo globo cresce rapidamente aos seus olhos. Ele treme ao pensar que poderá ser esmagado ali caindo, segundo as leis da gravidade; receia um choque terrível, mas não, ei-lo estendido sobre uma espessa grama, aos pés de árvores maravilhosas, cheias de pássaros não menos maravilhosos.
“Ele acredita estar num mundo novo, promovido do grau de cabo ao de primeiro homem. Ele chama uma Eva. É a canção do
Rei Dagoberto que lhe responde.
“A admiração do bom cabo redobra ao ver que o cantor é um grande folgazão, vestido com o uniforme de sargento-mor da infantaria de linha francesa.
“─ Quem sois vós? pergunta o sargento, que tem o ar tão surpreso quanto o seu.
“─ Major, responde François Pamphile, sou cabo; venho do planeta Terra, que deixei involuntariamente esta noite; e eu queria que tivésseis a bondade de me dizer o nome do planeta onde caí.
“─ Ora bolas! Este planeta é Soraï-Kanor!
“─ Soraï-Kanor?... Eu supunha que fosse o planeta Marte. Parece que me enganei.
“─ Não vos enganastes. Nosso planeta, que os terrícolas chamam de Marte, é chamado de Soraï-Kanor por nossos astrônomos.
“O cabo admira-se que o sargento saiba o nome dado pelos habitantes da Terra a seu planeta. Mas o sargento lhe diz que só deixou a Terra depois de sua morte terrestre, e que lá era rei da França.
“A esta resposta inesperada, o cabo se descobre, isto é, tira o boné de algodão que tem na cabeça.
“O rei sargento-mor lhe diz que não lhe preste tantas honras, porque ele não passa de um simples suboficial. Na Terra ele se chamava Francisco I; em Marte ele pertencia ao
regimento fantástico, um regimento composto da maioria dos soberanos que haviam reinado no globo terrestre. O coronel é Alexandre o Grande; o tenentecoronel, Júlio César (que não reinou, a bem dizer,) e o major, Péricles (que reinou menos ainda). O Regimento tem três batalhões, e cada batalhão tem oito companhias. O comandante do primeiro batalhão é Sesostris, e o subcomandante, Átila; o comandante do segundo batalhão, Carlos Magno, e o subcomandante,
Carlos 5; o comandante do terceiro batalhão, Aníbal, e o subcomandante, Mitrídates.
“Cada companhia é composta de soberanos de uma mesma nação. A companhia francesa é a primeira do segundo batalhão e tem como capitão Luís XIV, o que prova, em parênteses, que o favor domina em Marte, como na Terra, porque Francisco I, que apenas é sargento-mor, seguramente era maior capitão do que Luís XIV, e ainda tinha a seu favor a antiguidade.
“As cantineiras do regimento fantástico são Semíramis, Cleópatra, Elisabeth e Catarina 2. Assim como todos os oficiais e os soldados do regimento são antigos soberanos ou homens que exerceram a soberania, todas as cantineiras e as servas da cantina são antigas soberanas. Só os músicos são antigos compositores: Beethoven, Mozart, Glück, Puccini, Haydn, Bellini. O regimento não adotou o uniforme francês senão depois do reinado de Napoleão I, cujas campanhas entusiasmaram Alexandre, o Grande. Depois o regimento seguiu todas as variações de nosso uniforme militar, o que não é pouco. Foi também desde o reinado de Napoleão I que a língua francesa foi adotada como língua oficial do regimento. Não foi, entretanto, sob o Império que a língua francesa brilhou mais. Ademais, o vencedor de Austerlitz não faz parte do regimento fantástico. Ele não está em Marte; talvez esteja num mundo superior, talvez num inferior: Francisco I não sabe.
“Outros soberanos jamais figuraram no regimento fantástico; alguns o deixaram após séculos de serviço; outros ainda após milhares de séculos. O regimento nunca muda de guarnição e jamais faz guerra. É uma espécie de regimento penitenciário, no qual os soberanos, homens e mulheres, são postos para expiar os malefícios que cometeram em seus reinos.
“Ainda bem, mas os músicos Beethoven, Mozart e os outros, que malefícios cometeram para serem retidos nesse regimento expiatório? É o que o autor esquece de explicar.
“O suplício habitual dos militares e das cantineiras do regimento é o suplício de Tântalo. Os guerreiros que na Terra se alegravam no sangue e nos massacres guardaram seus instintos belicosos que o som do clarim desperta sem cessar, e que os exercícios e os combates simulados superexcitam, sem que jamais lhes seja possível satisfazer-se, porque o poder divino que na Terra permite a guerra, a interdita em Marte.
“Os voluptuosos e as voluptuosas sofrem um suplício semelhante. Todos, homens e mulheres, conservam a beleza de que gozavam no seu belo período de vida, mas são submetidos a uma causa fisiológica que os condena a uma castidade absoluta.
“Um outro castigo, que os desola ainda mais, é o suplício das lembranças. Uma memória extraordinariamente lúcida lhes recorda os atos da vida terrena. A única coisa que os distrai é uma ocupação contínua, mas a disciplina é rigorosa. A cada instante eles são condenados à sala de polícia, à prisão ou à sala das lembranças. Na sala de polícia e na prisão ainda lhes permitem algumas distrações, mas na sala das lembranças não lhes permitem nenhuma. Ali eles ficam cercados por todos os instrumentos de tortura e de suplício usados em seus reinados; nas paredes são pintados a fresco todos os sofrimentos e todos os morticínios ordenados pelos reis.
“Quando Luís XI está encerrado na sala das lembranças, é posto numa gaiola de ferro, em uso no seu reinado, e colocado em frente ao cadafalso de Nemours, do qual o sangue goteja sobre a cabeça de seus filhos. Felipe, o Belo, é estendido sobre uma fogueira, de onde vê o suplício dos Templários.
Fernando, o Católico, é amarrado a um cavalete, com a cabeça voltada para um auto-de-fé.
“Nosso cabo ouve Nero lamentar-se nestes termos a seu camarada Calígula:
“─
Três quartos do tempo sou punido com detenção ou na sala de polícia. Se reclamo contra uma punição, eles a aumentam. Quando não estou na sala de polícia, estou no pelotão de punição, e quando não estou no pelotão de punição, estou na faxina do quartel. Enfim, sou acabrunhado por vexames de toda espécie, sem contar meus outros sofrimentos. Olha quantos séculos isto dura. Quando isto acabará?”
“─ Mas este vosso regimento fantástico é um inferno, diz o bom Pamphile a Francisco I.
“─ Não, responde-lhe este, porque as penas aqui não são eternas.
O Grande Desconhecido, que é a justiça suprema, não profere condenações eternas, de vez que
faltas finitas, por maiores que elas sejam, não poderiam merecer penas infinitas. Nosso planeta e alguns outros não são infernos, mas purgatórios onde os homens, numa ou em várias existências sucessivas, pagam
as dívidas morais que contraíram numa existência anterior. “Avistando, assim, ora o sargento-mor Francisco I, ora o simples infante Carlos 5, ora o seu colega, o cabo Carlos 7, o cabo Pamphile recebe instruções e revelações sobre o que interessa à Humanidade no mais alto grau. Enfim, numa audiência que lhe concede o coronel Alexandre, o Grande, no círculo dos oficiais, o antigo conquistador lhe expõe um projeto de congresso internacional universal, que ele o encarrega de propor à Terra, para estabelecer para sempre, em nosso globo, a paz, a concórdia e a fraternidade.
“─ Meu coronel, exclama Pamphile entusiasmado, vosso projeto é tão lógico, parece-me de tal modo indispensável e a ideia é tão natural, que me parece que assim que for conhecido na Terra, todo mundo lá em baixo dirá: ‘Como é que não pensamos antes em estabelecer um congresso internacional?’
“A despeito da esperança do bom cabo, duvidamos que os diferentes governos do nosso planeta se apressem em acolher o projeto de Alexandre, mas o congresso da paz que reunir-se-á em Berna no próximo mês de setembro, não pode deixar de levá-lo em consideração. Nós o recomendamos especialmente ao relator encarregado de estudar qual poderia ser a constituição dos
Estados Unidos da Europa. “E. –D. DE BIÉVILLE.”
Se o Sr. Victor Dazur, nome que sem dúvida deve ser um pseudônimo, inspirou-se na
Pluralidade dos Mundos Habitados do Sr. Flammarion, do qual se declara leitor assíduo, ele também rebuscou largamente nas obras espíritas. Salvo o quadro de que se serviu, sua teoria filosófica das penas futuras, da pluralidade das existências, do estado dos Espíritos desprendidos dos corpos, da responsabilidade moral, etc., evidentemente é colhida na doutrina do Espiritismo, da qual ele não só reproduz a ideia, mas muitas vezes até a forma.
As passagens seguintes não podem deixar dúvida sobre este ponto:
“Tu sonhas, meu amigo, pensei eu; tu sonhas! Todos esses soberanos da Terra que recomeçam uma nova existência no planeta Marte, esse gênio diáfano e de asas azuis, tudo isto cheira a Espiritismo... Entretanto, quando estás desperto, não acreditas nessa invenção. Depois, dirigindo-me a Francisco I, eu lhe disse:
“─ Major, vem-me ao espírito uma ideia singular; esta ideia me faz supor que tudo quanto vejo e tudo quanto ouço desde que aqui cheguei não passa do efeito de um sonho. Dizei-me, por favor, a vossa opinião. Pensais, como eu, que estou sonhando?
“─ Mas claro que não! Não estais sonhando, respondeu-me Francisco I com um ar tão indignado, como se eu lhe tivesse feito uma pergunta muito estúpida. Não, não sonhais! Se estivésseis sonhando, desfilariam diante do vosso espírito uma porção de quimeras sem pé nem cabeça. Os acontecimentos de que seríeis testemunha não teria entre si nenhuma relação razoável.
“─ Mas isto não é tudo, major. O que ainda me faz crer que estou sonhando é que eu me apalpei e não encontrei corpo... Apalpo-me ainda agora, e também não me encontro. Contudo, sinto-me viver e me vejo com braços e pernas. Desnecessário dizer que estes braços e estas pernas, sendo impalpáveis, não passam de aparências fantásticas. Eu bem poderia explicar essas aparências, mas para isso ser-me-ia necessário, a mim que não creio no Espiritismo, admitir certa teoria espírita que, certa ou errada, é, em todo caso, muito engenhosa.
“Essa teoria pretende que o Espírito de um corpo é envolvido por um
perispírito, isto é, por um envoltório semimaterial que pode tomar a forma desse corpo e tornar-se visível em certos casos. Uma vez admitido o perispírito, a mesma teoria pretende que um indivíduo por vezes pode ser visto no mesmo instante em dois lugares, mesmo muito afastados um do outro, o corpo dormindo num lugar e a aparência do corpo, isto é, o perispírito, agindo noutra parte.
“Se esta asserção fosse verdadeira, eu estaria pondo em prática a teoria de que acabo de falar. Poder-se-ia ver neste momento o meu corpo dormindo em Paris, enquanto vedes o meu perispírito como se fosse o meu corpo. Mas eu não acreditaria numa coisa tão extraordinária a não ser que ela fosse comprovada.
“Seria ainda adotar o Espiritismo admitir como real essa reunião de potentados realizada aqui, como eles pretendem, para expiar os erros que cometeram quando estavam na Terra.
“─ Se quiserdes, disse-me Francisco I, não acrediteis no que tendes diante dos olhos. Suponde, por um momento, que em vez de estar neste planeta, estejais no domínio ideal da razão, e dizei-me se acreditais que os homens que fazem o mal, seja qual for a sua posição na Sociedade, podem estar isentos do purgatório depois de sua morte terrena.
“─ Major, não sei responder.
“─ Mas eu sei o que pensais. Pensais que o purgatório existe, não importa onde, mas apenas para as pessoas que ocupam posições mais elevadas na escala social. E o que vos leva a pensar assim, é que as faltas das pessoas bem colocadas no mundo são muito mais aparentes que as dos simples particulares. Mas ides modificar imediatamente esta ideia, pensando que, para o Ser supremo, não há faltas ocultas. Com efeito, o Grande Desconhecido vê constantemente, na Terra, simples particulares que relativamente fazem tanto mal na sua pequena esfera de ação, quanto fizeram, em seus Estados, certos tiranos marcados pela História. Os simples particulares de que falo, em vez de exercer a sua tirania num reino, a exercem em sua família e em seu círculo, fazendo sofrer sem piedade mulher, filhos e subordinados. Esses tiranetes só têm uma preocupação, que é gozar a vida, escapando do código penal do país que habitam. Ora, eu vos pergunto, credes que essas criaturas malfeitoras, que às vezes passam por virtuosas aos olhos de quem quer que lhes não conheça a vida, digo eu, que esses seres malfazejos logo sejam transportados a um lugar de delícias?
“─ Não, não creio.
“─ Não admitis que, fazendo o mal, tenham contraído uma certa dívida moral?
“─ Sim, major, eu admito!
“─ Pois então! Não vos deveis admirar que certos planetas sejam verdadeiros purgatórios, nos quais os homens,
em uma ou em várias existências, paguem as dívidas contraídas numa existência anterior. “─ Mas, major, os sofrimentos que todo homem experimenta no curso de sua vida não pagam suficientemente o mal que ele pôde fazer desde a idade da razão até a morte?
“─ Isto só poderia aplicar-se a um número muito pequeno de indivíduos, porque, o mais das vezes, o mal que um homem faz recai sobre certo número de seus semelhantes, o que multiplica tanto mais a soma do mal pessoal, e torna quase sempre a dívida tão grande que esse homem não poderia pagá-la no curso de sua curta existência.
Ora, quando não se pode pagar suas dívidas numa vida, é forçoso pagá-las em outra, porque, no caso de dívidas criminais, o Grande Desconhecido dispôs as coisas de maneira que não há bancarrota possível.
“Admitido isto, admitireis também que é impossível que monstros como Nero, Calígula, Heliogábalo, Bórgia e tantos outros, cujos crimes não podem ser enumerados, tenham podido pagar semelhantes dívidas pelo pouco mal que sofreram em vida. Ora, de duas uma: ao morrer esses homens caíram no nada, ou recomeçaram uma nova existência; se admitirmos que tivessem caído no nada, admitiremos muito naturalmente que devem ter feito uma enorme bancarrota. Concordareis que a ideia de semelhante bancarrota revolta o espírito, ao passo que se admitirmos que cada um recomeçou uma nova existência, o espírito se acha satisfeito ao pensar que
essas novas vidas não poderão ser senão existências de expiação, ou melhor, de purificação.
[2] “─ Major, não é mais simples admitir a danação eterna para os monstros de que falais?
“─ Concordo que é mais simples, mas não mais lógico. A lógica, que deve ser a alma da justiça, recusa admitir a danação eterna, porque
faltas finitas não poderiam merecer castigos infinitos.”
Segue uma dissertação das mais atraentes e das mais lógicas que já lemos contra o inferno e as penas eternas, sobre a justiça da proporcionalidade das penas e sobre a doutrina do trabalho, mas a sua extensão não nos permite reproduzi-la.
“─ Major, diz o cabo Pamphile, eu vos farei notar que a negação do inferno eterno, bem como a proporcionalidade das penas, é o fundo da doutrina dos Espíritos. Ora, eu já vos disse que não acredito no Espiritismo.
“─ Então... acreditai no inferno eterno, se isto vos causa prazer.”
Entre os soberanos que o cabo Pamphile encontra no planeta Marte, há alguns que viviam na época do dilúvio; reis da Assíria, na época da Torre de Babel; faraós na época da passagem do Mar Vermelho pelos hebreus, etc., e cada um dá sobre esses acontecimentos explicações que, em sua maioria, têm o mérito, senão da prova material, pelo menos o da lógica.
Em suma, o quadro escolhido pelo autor para emitir suas ideias é feliz, até a própria negação do Espiritismo, que resulta, em definitivo, numa afirmação indireta. Nós diremos, como o
Siècle, que sob uma forma aparentemente leve, todas as questões aí são tratadas com certa erudição, com uma evidente boa-fé, quase sempre com alegria, muitas vezes com espírito e algumas vezes com eloquência. Acrescentaremos que, não conhecendo o autor, se esse número lhe cair nas mãos, desejamos que ele aqui encontre a expressão de nossas sinceras felicitações, porque ele fez um livro interessante e muito útil.
Se o efeito da injustiça ou do mal que um homem comete em relação a outro homem se detém no indivíduo, a necessidade de reparação será individual; mas se, ao contrário, esse mal prejudica a uma centena de indivíduos, sua dívida será centuplicada, porque será uma centena de reparações a realizar. Quanto mais vítimas ele tiver feito, direta ou indiretamente, mais indivíduos haverá que lhe demandarão contas de sua conduta. É assim que a responsabilidade e o número de reparações, aumentando com a extensão da autoridade de que somos investidos, nos torna responsáveis perante indivíduos que jamais conhecemos, mas que nem por isso deixaram de sofrer as consequências dos nossos atos.
Victor Meunier não está longe de crer também no renascimento do homem na Terra: “A sorte dos que virão
depois de nós, diz ele, não me encontra indiferente, longe disto! Tanto mais porque não me está demonstrado que nós
não nos sucederemos a nós mesmos.” (La Science et les Savants em 1865, 2o semestre).