Era uma cidadã de cor. Trazia o cérebro em desordem e, para todos que a conheciam, era uma louca pacífica. Dependurado nos lábios ela mantinha um cachimbo que nunca acendia. Entrava de loja em loja, pedindo "um mil réis pelo amor de Deus". Jamais vestia o mesmo vestido duas vezes.
Enchia-o de trapos, dando a todos uma impressão de avançada gravidez.
Todos lhe queriam bem. Sim, era amada por todos.
Assim viveu por muitos anos, Maria Rosa.
Sim! Por que não? Ela era a orquídea negra no jardim das misérias humanas.
Desencarnou a pobre nômade das estradas de ninguém... Seu corpo foi plantado numa cova rasa e esquecida do cemitério local. Mas dentro de mim você ficou sempre amada e sempre querida.
Seu vulto humilde muito me ensinou quanto à reencarnação. Vendo-a passar, quantas e quantas vezes perguntava a mim mesmo: como não acreditar na lei da reencarnação, ao saber dos pólos opostos entre a rainha Elisabeth da Inglaterra e você, querida Maria Rosa, que da vida não teve uma só ilusão?
Hoje, eu lhe presto a minha homenagem: eu a amo muito!