Suely Caldas Schubert É muito importante para o Atendimento Fraterno que o atendente conheça algumas noções básicas (ainda que bem simples) acerca dos problemas de personalidade, a fim de evitar-se o equívoco, diante de certos casos, considerados como processos obsessivos quando, na realidade, expressam conflitos, desajustes, traumas, transtornos psíquicos, enfim, que têm como origem o próprio indivíduo, que é um Espírito enfermo, digamos assim.
É propício o esclarecimento de Jorge Andréa a respeito: "Essas estruturas doentes, do Espírito ou da individualidade, imprimem nas células nervosas desvios metabólicos a refletirem uma intensa gama de personalidades doentias, consequência de autênticas respostas cármicas. " A palavra personalidade deriva de "persona", palavra latina que significa máscara.
Designava antigamente a máscara usada no teatro por um ator.
Modernamente, define-se personalidade como o conjunto das características intelectivas, afetivas e volitivas que constituem o modo de ser e de sentir de uma pessoa.
A personalidade resulta de uma interação social. ou seja, do relacionamento do indivíduo com as pessoas que constituem os grupos sociais de que faz parte: lar, escola, trabalho, lazer.
Em sentido mais amplo pode-se dizer que a personalidade de uma pessoa forma-se a partir de uma conjugação de fatores genéticos, pela educação que lhe é transmitida, pelo contexto histórico em que vive, pela interação social, etc.
Em Psicologia há um conjunto muito vasto das Teorias da Personalidade, com uma diversidade muito grande de pontos de vista.
Quando desejamos a solução de um problema, o primeiro passo é buscar a sua causa, a sua origem.
Qual a origem dos problemas de personalidade? Segundo Rollo May, a origem "é uma falta de ajustamento das tensões dentro da personalidade. " O processo de ajustamento das tensões ocorre continuadamente, por isto a personalidade nunca é estática.
E viva, dinâmica, em constante mutação.
Como ocorrem essas tensões? Sempre que uma pessoa experimente um sentimento de que "deve" fazer isso ou aquilo, ou um sentimento de inferioridade, de triunfo ou desespero, as tensôes de sua personalidade estão sofrendo um processo de reajustamento. Por exemplo: lendo um livro ou ouvindo uma palestra toda ideia que nos atraia a atenção e nos convide a uma reflexão mais profunda provoca um novo ajustamento das tensões em nossa personalidade.
Portanto, estabilidade ou equilíbrio da personalidade não significa que ela deva tornar-se estática.
Em verdade, viver é ajustar-se, continuamente, a novas experiências de cada dia.
Para Rollo May, a característica básica da personalidade é a liberdade. Ele afirma que existem quatro princípios essenciais para a personalidade humana: liberdade, individualidade, integração social e tensão religiosa.
Infere-se, pois, que a falta de ajustamento das tensões pode ocasionar conflitos a manifestar-se sob variadas formas e sintomas, desde a timidez, excessivo acanhamento, medo de relacionar-se com as pessoas, ansiedade, angústia, fobias, depressão, até desaguar nos transtornos psíquicos como as neuroses ou, em casos mais graves, como a esquizofrenia, as psicoses, etc.
Essa dificuldade de ajustamento às injunções do dia a dia acarreta um conflito íntimo prejudicando o relacionamento com o meio social em que o indivíduo está inserido e, não raro, pode alcançar até mesmo as pessoas mais íntimas de sua convivência.
Portanto, existe neurose quando os conflitos não podem ser trabalhados, superados, tornando-se desproporcionais à capacidade do indivíduo de lidar com eles.
Em decorrência, surgem os mecanismos de defesa neuróticos, que são situações que a pessoa engendra tentando disfarçar ou fugir de seus problemas interiores. Essa fuga passa por uma vasta gama de subterfúgios, como os vícios, por exemplo, que constituem supostas válvulas de escape, ou o fechar-se em si mesmo, tentando evitar o confronto com as tensões naturais da vida.
Jorge Andréa elucida: "Devemos considerar, como personalidade desviada, as condições dinâmicas que atingem o caráter e cuja intensidade ou grau modificarão a conduta e consequentemente a vida social. Desse modo, estarão enquadrados os indivíduos que destoam da média, apresentando tanto agressividade exagerada como passividade extrema, os desvios sexuais, os alcoólatras, e uma série de disfunções da personalidade.
Geralmente são individuos que acham que suas reações são mais desencadeadas pelo meio em que vivem do que partindo deles próprios. " O ajustamento, a estrutura da personalidade, faz-se pela interação dos componentes bio-psico-sócio-espirituais.
Esses problemas de origem cármica, cujas causas estão no Espírito endividado perante as Leis Divinas, encontram nos esclarecimentos da Doutrina Espírita os recursos terapêuticos imprescindíveis para que alcancem a própria libertação.