Celeiro de Bênçãos

CAPÍTULO 10

Se perdoares



Violentado pela desfaçatez do caluniador que levanta acusações infelizes contra o teu esforço de enobrecimento, pensas: "Deus me vingará!" Aturdido em face da injustiça dos julgamentos apressados que ralam os teus mais elevados sentimentos, murmuras: Terei minha vez oportunamente, e saberei desforçar-me. "
Apontado pelo sarcasmo de adversários gratuitos, não obstante a cordialidade que esparzes pelo caminho, reages: "Ver-lhes-ei o fim. Saberei esperar. " Traído nos mais sublimes propósitos de fidelidade e amor, não suportas, e exclamas: "Alguém cobrará por mim!" Ignorado propositadamente pela pessoa a quem te dedicas e que te retribui a afeição com o desprezo, exclamas: "Confio no amanhã, que me fará justiça!" Acoimado pela suspeita da impiedade, azorragado pela maledicência e pelo remoque, proferes: "São uns miseráveis! Só a morte para tais. "

Em muitas situações, embora os conceitos de amor que lucilam no teu coração, não suportas as constrições e derrapas nas margens lodosas da vingança, que assoma em caráter de falso conforto. Tisna-se, então, a lucidez, perturba-se a esperança e adentra-se no domicílio da tua mente o tóxico letal do ódio. Violentamente, às vezes, apossa-se da tua paisagem psíquica; sorrateiramente, outras, imiscui-se e insufla revolta, terminando por desarranjar a máquina harmoniosa do teu corpo e o programa da tua vida, infelicitando-te, posteriormente. Não se turbe, todavia, a tua mente, nem se perturbem os teus sentimentos, ante as agressões dos frívolos, dos perversos e dos desalmados. Não sabem o que fazem. São doentes em estágio de avançada enfermidade, estertorando lamentavelmente. Não te contagies com eles. Mantém-te em paz contigo mesmo e não te detenhas. Guardando as mágoas - e na Terra são muitas as dificuldades que surgem produzindo mal-estares - padecerás sob imundícies e conduzirás fluidos deletérios. Se perdoares, porém, prosseguirás em clima de renovação superior e em labor otimista. O perdão é sempre mais útil a quem o concede. Se perdoares o vizinho invigilante, ele se sentirá estimulado a não repetir a experiência perniciosa: podera ajudar alguém; concederá ensejo de desculpa a outrem que o haja ofendido; sentir-se-á confiante para recomeçar tudo e volver atrás, anulando o erro cometido...

Se perdoares, auxiliarás a comunidade, medicando com amor o indivíduo que está enfermo a pesar na economia social. Se perdoares, olvidando a ofensa e ajudando o malfeitor, terás logrado a comunhão com o Mestre Inexcedível que, embora incompreendido, traído, abandonado, martirizado e pregado a duas traves, que eram símbolos de infâmia justiçada, perdoou os que O esqueceram e prossegue até hoje amando-os, qual faz conosco próprios, que a cada instante estamos de mil formas, vigorosas ou sutis, traindo, deturpando, menosprezando, usando indevidamente as sublimes concessões que fruímos para a redenção espiritual, ainda sem o sucesso que já deveríamos ter alcançado.

Perdoa, portanto, a fim de seres perdoado.