A pretexto de preservar uma vida cristã, normal, consentânea à atualidade, necessário proceder a exame acurado do comportamento, de modo a melhor aplicar as diretrizes evangélicas imprescindíveis à felicidade. Ninguém advogaria hoje a fuga espetacular à responsabilidade sob a justificativa de servir o Cristo. Improcedente, também, a tentativa de conseguir o aprimoramento espiritual sob a coerção do cilício e a maceração do corpo, esse valioso instrumento que o Senhor concede para a dádiva da evolução.
Todavia, a acomodação hodierna aos hábitos da ociosidade em que muitos se comprazem; o gozo indiscriminado decorrente dos favores da leviandade generalizada; o comportamento dúbio a que muitos se entregam; a religiosidade no Templo e o desequilíbrio nas atividades comerciais como na convivência social, sem dúvida são incompatíveis com a ética do Cristo, que ora os Espíritos classificam, em vigoroso chamamento para a restauração do amor e da paz na Terra, sob as rutilâncias clarificadoras da Caridade.
Desde que não se faz justo deixar caídos o criminoso e o revel, vencidos pelo desconserto íntimo, não é lícito, igualmente, concordar com eles em nome do impositivo da tolerância. Adaptar, por espírito acomodatício, o rigor evangélico aos que se comprazem na ilusão e nos agravos de toda ordem, representa sustentar o crime e estimular a ignorância que se multiplicam infaustosamente. Desde que não se torna mister uma atitude de inimizade para com os maus e infelizes, - por incompatível com as leis do amor - não se justificaria, em nome da fraternidade legítima, um comércio de vulgaridade que fomentaria o desdobrar dos instintos agressivos daqueles que se agradam em atitudes perniciosas.
Em todas as épocas, a vida cristã tem representado expressivo desafio aos que amam a verdade. Somente os que se conseguem impregnar do espírito do Cristo lobrigam as vitórias legítimas sobre si mesmos, com o fruir dos decorrentes resultados da felicidade geral que a todos propiciam. Não são estes melhores, nem piores dias, para os que pretendem exercitar elevação interior, vivência cristã. Necessariamente cientificado da Imortalidade e assegurado da continuidade da vida espiritual, conforme o comportamento sustentado na Terra e os pensamentos vitalizados, enquanto na carne, inseridos nas comunicações dos Espíritos, o cristão-espírita dispõe dos mais vigorosos recursos para o triunfo, vivendo com os homens, como criatura humana que é, não preservando nem usando artimanhas negativas, nem nefastas adaptações ao moderno contexto do pensamento em voga entre os homens, vulgarizando-se e se pervertendo, antes penetrando-se do amor e do bem conforme os viveu e nos ensinou o Excelso Mestre de todos nós.
Ninguém permanece incólume na jornada humana. Ninguém, em regime excepcional, face aos transes morais. Todos reencarnam com objetivos de elevação, e para esse desiderato as provações como as expiações chegam, necessárias, convocando o espírito em depuração ao resgate que lhe facultará liberdade e paz.
Mesmo aos Espíritos missionários, em apostolado de abnegação e amor, com as metas para a redenção humana nos diversos campos da Cultura, da Arte, da Ciência, da Fé, são exigidas as contribuições morais de longo curso, com as quais plasmam nos contemporâneos e nos pósteros as supremas lições de que suas existências se fazem instrumento.
Desafios que a vida oferece aos transeuntes da evolução, os dramas morais significam impositivos valiosos para quem se candidata à felicidade real. Compreendendo a alta significação da forma como se devem encarar os problemas e sofrimentos de toda ordem, os estoicos do passado se condicionavam aos ideais da beleza, adquirindo resistências com que esperavam superar as vicissitudes, liberando-se através do esforço do autoaprimoramento a novas conjunturas afligentes...
Os transes morais, porém, são expurgadouros necessários ao homem para sua evolução espiritual. Raros, somente, sabem enfrentar as situações difíceis com que a vida os requisita ao testemunho e à reparação dos erros. Preparados para a comodidade e educados pelos métodos da ignorância às leis da responsabilidade, os homens se acostumam a resolver, problemas e inquietações pelo suborno, pela ilicitude desta e daquela expressão, permanecendo incapazes para refletir nos momentos graves que advêm inevitavelmente. Surpreendidos pelas realidades evolutivas, convocados ao reequilíbrio mediante os transes morais, complicam as situações, agravam as conjunturas, atirando-se, por fim, aos porões da revolta em que se envenenam sem outra alternativa.
Estes se debatem na busca ansiosa da fortuna; aqueles se desgovernam ante as emoções espoucantes; aquele outros se atiram, sôfregos, às aventuras, tudo malbaratando para. Quando surpreendidos pela pausa que o sofrimento propicia a fim de regularizar dificuldades, deixar-se auto destruir pelos contingentes múltiplos dos equívocos acumulados e vitalizados, em curso demorado...
Sejam quais forem, porém, os transes morais que te cheguem, fita a amplidão da esperança e retempera o ânimo.
Na luta, o triunfo pertence a quem insiste, intimorato, laborando sem termo. Não te agastes porque foste chamado, hoje, ao aparente infortúnio. Escapa-te a lógica dos motivos que te constrangem à dor e às diretrizes de paz que poderás haurir, concluído o resgate. Examinando os transes que te cruciam, tem Jesus em mente e compara... Não digas: "Mas Ele era o Filho de Deus", porquanto também o és. Nem asseveres: "Ele, porém, era perfeito" lembrando que a Sua palavra sábia prescreveu - "Sede perfeitos como o Pai Celestial é perfeito", e nada temas até alcançares a perfeição que a todos nós está destinada.