Raul - Encontramos em O Livro dos Médiuns, mais exatamente no capítulo 19o, item 223 (1a a 5a, Allan Kardec discutindo e apresentando uma questão muito importante e muito grave, que é a circunstância em que o espírito do próprio percipiente, do próprio médium, no estado de excitação de variada ordem, transmite a sua mensagem.
Nos processos de regressões, de múltiplas procedências, a alma do encarnado se expressa, chora suas angústias, deplora suas mágoas guardadas na intimidade, ou apresenta suas virtudes e conquistas, suas grandezas, também guardadas no íntimo. Esse fenômeno em que o próprio espírito do médium se expressa, com qualquer tipo de bagagem, nós o chamaremos de "anímico", conforme Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns.
E aqueles outros fenômenos através dos quais entidades espirituais se manifestem por meio de médiuns, e dizem ser personalidades que verdadeiramente não foram na Terra, esses denominaremos de "mistificação".
Allan Kardec teve a oportunidade de estudar em O Livro dos Médiuns, na parte em que apresenta as dissertações mediúnicas (capítulo 31o), diversas mensagens, das quais ele, depois de tê-las analisado, anota que jamais poderiam proceder de Vicente de Paula, de Maria de Nazaré e de outros tantos espíritos respeitados e considerados pela Humanidade.
É o caso em que certas entidades banais dão nomes de vultos que gozam ou que gozaram no mundo de respeitosa projeção.
Mas, temos ainda um outro tipo de mistificação, que é a mistificação do indivíduo, do "médium", quando, por motivos diversos, não sendo portador de faculdades mediúnicas, ou ainda que seja, mas não sendo dotado da capacidade de comunicar, de permitir a comunicação de tal e qual espírito ele a forja, com interesses os mais estranhos.
Aí encontramos a mistificação por parte do suposto médium.
É importante, porém, que nos lembremos de que todas as nossas ações, como se reporta O Livro dos Espíritos, são conduzidas pelos espíritos. Normalmente são eles que nos dirigem, conforme o item 459, da citada obra. Logo, quando se começa a fraudar, a mistificar por quaisquer interesses, no início é o próprio indivíduo com a sua mente doente, mas, a partir daí, passa a atrelar-se a entidades mistificadoras, submetido, então, à influência espiritual.
A princípio, a criatura é mistificadora sem ser propriamente médium. Depois advém a "sociedade" de forças, surgindo o engodo. No primeiro impulso era fruto do encarnado, depois os espíritos complementam.
Foi perguntado a Chico Xavier, e publicado no livro No Mundo de Chico Xavier1, se alguma vez ele teria sido alvo de mistificação da parte de espíritos.
Ele disse que sim. E quando foi inquirido sobre qual a razão porque Emmanuel lhe permitira essa vivência de algum espírito comunicar-se e dizer-se quem não era, ele afirmou que aquilo se destinava a que ele visse que não estava invulnerável à insuflação negativa.
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1) XAVIER, F. C. No mundo de Chico Xavier, Elias Barbosa, itens 35, 36 e 37, 5a edição, IDE, Araras - SP, 1983.