Nos Bastidores da Obsessão - Novo Projeto

CAPÍTULO 13

Solução inesperada



Após quinze dias de internamento no Hospital do Pronto Socorro, o Sr.

Mateus foi trasladado para o lar com expressivos sinais de breve recuperação orgânica.

Visitando-o na primeira oportunidade com Petitinga, ouvimos a narrativa dos antecedentes do grave delito de que se fizera vítima, impressionando-nos observar a carga de ódio acumulada na mente que destilava, prestes a explodir com revolta e desassossego.

O Sr. Mateus era um homem de quase sessenta anos, sanguíneo, voluntarioso. Perturbado em si mesmo, atravessava a existência carnal saltando de leviandade em leviandade, muitas vezes esquecido dos deveres de esposo e pai, fascinado pelo pano verde, em que se aventurava, atirando fora os parcos recursos que, se aplicados no lar, seriam de alta valia para o bem da família constituída de seis filhas.

Em compensação, Dona Rosa se desdobrava nos deveres domésticos e na costura, até altas horas da noite, para suprir, com o esforço de algumas das filhas, as necessidades domésticas.

Irreligioso por temperamento rebelde, sempre descurara dos deveres espirituais para consigo mesmo.

Em tempos idos fora excelente artista, recebendo agora uma parca pensão do Montepio a que se vinculara antes, por ter sido considerado inapto a prosseguir na profissão.

À medida que a decrepitude das forças se avizinhava e temeroso da desencarnação, fazia-se mais azedo, quase insuportável...

Por ocasião do retorno de Mariana ao lar e impressionado com as informações e esclarecimentos de Petitinga sobre a obsessão e os cuidados que todos nos devemos impor para evitar-lhe as tramas infelizes, pareceu modificar o comportamento, por alguns dias... Depois, como se ficasse alucinado, entregou-se a desmandos, e não poucas vezes, açulado pelos desencarnados afins, ameaçava expulsar do lar, quando necessitava de dinheiro para as aventuras, a esposa abnegada e as filhas.

O ambiente doméstico, com a sua presença, se fazia pestilencial pelas emanações fluídicas abundantes, que ali campeavam desordenadas.

Petitinga, ameno e cortês, após escutar as promessas de desforço do infortunado agredido, relatou-lhe a experiência de Jesus Cristo e as Suas lições, sem lograr, de imediato, qualquer resultado.

De mente viciada por longos anos de desequilíbrios contínuos, o esposo de Dona Rosa sintonizava na faixa do despautério moral e se permitia o conúbio com os seus antigos comparsas, apresentando-se irredutível nos pontos de vista, na conduta, nas atitudes.

Dizia aceitar o concurso do Espiritismo, conquanto fosse apenas para libertá-lo mais facilmente do leito, de modo a facultar-lhe de pronto o retorno aos sítios da sua humilhação, retomando a pureza da sua honra...

Solícito, utilizando-se do ensejo, o zeloso amigo convidou-nos a orar e, em sentida peroração, exorou os recursos divinos para aquela família, mas principalmente para o genitor enfermo, rogando a interferência do Médico Divino que nunca falta, de modo a que o lar dos Soares não fosse arrastado a drama mais grave e a consequências imprevisíveis.

As palavras ungidas de emoção vibravam doces no quarto singelo qual música delicada, envolvendo-nos em consoladora esperança. A sintonia natural, espontânea, com as Altas Esferas se fez imediata, e Saturnino, o abnegado Mentor, tomando o comando mental da Verdade, proferiu expressiva quão valiosa dissertação sobre os deveres do perdão, como normativa de comportamento para a própria felicidade.

— "Felizes são os que perdoam — enunciou, consciente —, porquanto conferem paz a si mesmos e por sua vez liberam da dívida os que os ofenderam, entregando-os, desse modo, às Soberanas Leis encarregadas da evolução dos homens. Os que perdoam e ajudam conseguem ainda maior galardão, porque amparam os maus e os vencem com a luz da misericórdia. No entanto, aqueles que conservam as mágoas intoxicam-se, envenenam-se, dando causa a graves enfermidades que se desatrelam rigorosas, transformando-se em suplícios demorados, cujos responsáveis, no entanto, são os que cultivam os pensamentos inditosos e se comprazem na semeação da ira e do ódio, absorvendo as próprias emanaçoes tóxicas da mente desalinhada.

E os que revidam mal por mal, agressão por agressão, estes já se encontram descambando na direção do abismo, em posição quase irreversivel. .

«O amor é pólen que fecunda a vida, enquanto o ódio é gás que a interrompe... » A advertência vazada em termos suaves fazia-se severa, não dando margem a controvérsias ou mal-entendimentos de natureza alguma.

Conclamou-nos, ainda, o Sábio Instrutor ao cultivo das boas ideias, à vivência da paz íntima, mediante a elaboração de pensamentos enobrecedores, estimulando-nos à correção mental, de cuja fonte — o pensamento — procedem os elos da escravidão ou as asas da liberdade que fixamos às nossas vidas.


Antes de afastar-se aplicou, generoso, demorado passe longitudinal no paciente, exortando-o:
— Mude a ideia do mal em você, meu amigo, antes que a raiva o vença; e esqueça a vingança antes que a vingança o esqueça em situação dolorosa e lamentável... Jesus nos ensinou que: «quando estivéssemos orando e mantivéssemos alguma coisa contra alguém, perdoássemos»

*.

Ore e perdoe para ter saúde e paz.

Dona Rosa, Mariana e Amália, de pé ao nosso lado, orando muito comovidas, deixavam-se arrastar pelas ondas da Espiritualidade momentânea no ambiente, banhadas por discreto pranto, qual ocorria com nós mesmos.

Terminado o intercâmbio inesperado e benéfico, Petitinga sem delongas encerrou o trabalho de socorro e, após as despedidas, saímos na direção dos nossos lares.

— Pressinto que — informou-me o amigo — o nosso Mateus experimentará, em benefício dele mesmo, inestimável lição que o convidará a demorada reflexão sobre o destino e a vida que lhe tem transcorrido sem maiores consequências. Todos esses que se dizem «indiferentes» com referência ao problema da fé, acobardam-se dolorosamente ante as realidades da desencarnação.

Acomodados à irresponsabilidade como vivem, quando neles irrompem os clarões prenunciadores do novo dia, ou chegam as primeiras sombras da travessia pelo vale da morte, debatem-se aflitos, esbravejam, fazem promessas, negociam...

— Como suporta Dona Rosa — indaguei — tão pesada carga em ombros frágeis quais os seus?


— Pelo que estou informado — explicou prestimoso — pelos nossos Benfeitores Espirituais, ela foi-lhe mãe

* Mt 9:25 Nota do Autor espiritual.

descuidada em vida próxima, no pretérito. Acompanhando-o da Espiritualidade, de queda em queda, acumpliciado com os pesados débitos da última existência, após a fuga para a Bélgica, que redundou em homicídio nefando, do qual deve ter sido vítima aquele que ora lhe ergueu a mão fratricida e em cuja reencarnação escapou à justiça por se ter evadido do país, ela, apiedada, rogou a oportunidade de ser-lhe esposa, recebendo nos braços como filhos os inimigos de ambos, para, então, pelo exemplo da paciência, da humildade e da submissão, ressarcir o crime da irresponsabilidade junto a ele, e chamá-lo à observância dos deveres de que se descura acintosamente. Como podemos observar, o caráter exaltado de que dá mostras, o mau-humor contínuo de que se reveste, atestam o fogoso espírito encarcerado, sem possibilidades de revelar-se em toda a pujança do seu primitivismo. Ela, no entanto, avança vitoriosa, e creio mesmo que o seu sacrifício e a sua fidelidade aos postulados que abraça no Espiritismo terminarão por vencer galhardamente o opositor, conduzindo-o à retidão de princípios.

Vale considerar que a sua folha de méritos é igualmente apreciável. O martírio maternal que tem experimentado na atual conjuntura consagra-a nesta vida, reabilitando-a da negligência de equivalente compromisso no pretérito.

«Carinhosamente amparada pelos seus afeiçoados no Plano Espiritual, ela adquire forças para compensar os desgastes na luta ferrenha do lar atormentado, invadido por infelizes visitadores espirituais, que ali teimam por fazer morada, graças aos demais familiares residentes. De certo modo isolada, tanto quanto as meninas Mariana e Amália, dos miasmas fluídicos do ninho doméstico, criaram já sua própria «psicosfera pessoal», que as isenta das agressões dos desencarnados menos afortunados. Como você observa, Mariana tem-se revelado dedicada cooperadora da nossa Casa e, logo mais, estará devotada ao exercício da mediunidade socorrista, conforme esperamos, adquirindo valiosos recursos para a manutenção da saúde e da paz. Amália, cumpridora dos seus deveres de filha e irmã, é excelente servidora, ganhando fora do lar em trabalho modesto e honrado o pão, mediante cuja cooperação ajuda a manutenção das demais irmãs.

A Contabilidade Divina dispõe, também, dos métodos de correção benéfica dos depósitos a favor dos titulados nos seus Livros. » Reflexionando, verifiquei a legitimidade e o acerto dos conceitos emitidos, ao nos despedirmos.

Os dias transcorriam absorvendo-nos nas atividades múltiplas a que nos filiáramos, quando Petitinga voltou a convidar-nos a retomar ao lar da família Soares, atendendo à aflita apelação de Dona Rosa.

Quando lá chegamos, a veneranda Senhora recebeu-nos macerada de sofrimento. O esposo encontrava-se quase agonizante. O médico saíra havia pouco do lar, informando que o prognóstico era desalentador. Ficara hemiplégico, apresentando o doloroso aspecto do desastre orgânico. Todo um lado estava paralisado e os estertores agônicos de que dava mostras, semidesfalecido, confrangiam a alma.

O próprio médico se dizia sem esperanças. Muito mais entristecedor era o quadro aflitivo do lar... A sofrida matrona, com a imensa carga das noites indormidas e os esforços sobre-humanos para manter a família, definhava sob a aspereza das rudes provações...

Petitinga ouviu-a demoradamente, com paciência, enquanto, na sala de refeição, a esposa e mãe narrava a quase tragédia que resultara no não menos danoso problema que agora defrontávamos.

Conquanto a sua humildade e carinho, fora constrangida a admoestar a filha Marta, que continuava nas arriscadas aventuras de feticismo.

Às vésperas, quando chegara, noite avançada, a genitora lhe reprochara o comportamento, advertindo-a quanto à cooperação que deveria oferecer para a paz do lar e a recuperação do pai enfermo, que vencia o primeiro mês da agressão com ótimos resultados, quase recuperado. Rogou-lhe a ajuda espiritual, através da prece e da mudança de atitude em relação à fé, a fim de que os Mensageiros 1nvisíveis pudessem renovar a atmosfera da vida familiar, modificando o carreiro das provações que todos experimentavam como consequência funesta dos erros passados.

Suplicava-lhe não se adentrasse mais no emaranhado labirinto de trevas por onde seguia...

Fora o bastante. A filha, possessa, desrespeitosa, agrediu-a moralmente com palavras fortes e azedas, transformando em altercação violenta o que não passava de sereno convite materno à reflexão, à dignidade, ao equilíbrio.

Furiosa, tentou agredir físicamente a mãe que lhe estava em frente, não conseguindo o intento, graças à interferência providencial de Amália e Mariana, que lhe correram em auxílio.

As forças negativas de que se fazia habitualmente instrumento irromperam intempestivas e o Sr.

Mateus, acordado subitamente, ouvindo o clamor e a balbúrdia, levantou-se do leito precipitadamente, marchando revoltado, colérico, armado com uma acha ameaçadora. A poucos passos, cambaleou e tombou ao solo...

Fora indescritível a cena. A ferida cirúrgica, ainda não cicatrizada de todo, voltou a sangrar e, tomadas providências de imediato, retornou ao Pronto Socorro.

Lá, foram aplicados os recursos compatíveis ao caso e, no momento, se encontrava na «tenda de oxigênio», lutando pela sobrevivência do corpo, com diagnóstico de embolia cerebral.

Receava a nobre senhora não suportar as últimas dores.

Encontrava-se enferma, e embora não desfalecesse na fé, em circunstância alguma, acusava-se cansada, receosa, desalentada...

Vencida por choro convulsivo, apoiou-se no intimorato espírita e, sob a sua aura fortificante, dele recebeu a energia revigorante de que necessitava.

Paulatina-mente foi-se acalmando, recompondo-se.

Além do esposo nesse estado de desespero, Marta recolhera-se ao quarto, possessa pelo ódio surdo, recusando-se a sair.

Mesmo sabendo do que acontecera ao pai, reagia contra ele, continuando na tônica da revolta.


Depois de alguns instantes de reflexão, Petitinga convidou-nos a acompanhá-lo à peça em que Marta se demorava, e, com a autoridade moral que o aureolava, saudou-a. Conquanto não fosse correspondido, o seu verbo correto advertiu-a:

— Marta, minha filha, o dever da solidariedade induz-me a procurá-la, em nome de sua aflita mãe e do seu pai agonizante... Não nos animam quaisquer propósitos de invectivá-la, tecendo considerações injuriosas ou censuráveis aos últimos acontecimentos que abalaram este lar. Nutrimos o são desejo de lutar para que não se acumulem danos sobre novos danos numa avalanche de gravames mais desesperadores, cada vez piores... Você sabe por experiência pessoal que a morte é entrada na vida, reexame de atos, reencontro com a consciência, mesmo quando esta jaz entorpecida pela ignorância ou anestesiada pelo crime... Todos sabemos que a vida nos dá o de que temos necessidade para o nosso progresso espiritual e, consequentemente, pai, mãe, familiares e amigos são peças importantes, indispensáveis para a nossa evolução.

Como nos comportamos em relação a eles, oneramo-nos ou não de responsabilidades negativas novas, que atiramos na direção do futuro... Por isso e por muitas outras razões, você não se pode manter na posição em que se refugia agora, na qual se vem sustentando até aqui...

A filha mais velha dos Soares continuava silenciosa, emitindo raios de surda dólera refreada a custo.


Perfeitamente senhor da situação, Petitinga propôs:

—Se você nos permite, filha, aplicar-lhe-emos passes magnéticos para ajudá-la na difícil decisão e sustentá-la nas provas que lhe advirão como resultado da sua teimosia.

Oraremos juntos, encontraremos Jesus que nos oferecerá braço amigo para prosseguir e venceremos o caminho da reforma íntima sob o divino amparo.


Vencendo o mórbido silêncio, Marta rugiu:

— Agradeço o seu interesse.

Encontro-me muito bem e estaria melhor se não fosse perturbado o meu sossego com a sua presença...


Demonstrando a perícia em lidar com obsessos e obsessores, o então Presidente da União Espírita Baiana, muito calmo, respondeu:

— Deixá-la-íamos no sossego a que você se refere, caso as suas atitudes não fossem fatores de perturbação e desordem neste lar. Aqui estamos em nome de sua genitora, que arca com o ônus de pesados sofrimentos, exercendo a função de mãe e pai para que o lar não padeça miséria econômica nem moral. Onde o seu dever de filha, de irmã, que tudo recebeu e nada retribui? Já que você não ajuda, não tem qualquer direito de criar dificuldades.

Você é adulta e tem responsabilidades perante a Vida. Não deslustre mais a sua consciência, teimando em perseverar no erro espontâneamente aceito. Ajude-nos, filha, a ajudá-la.

— Não necessito do senhor. Eu tenho os meus Guias... Poderosos, eles são as forças atuantes da Natureza; indestrutíveis, governam o mundo; rigorosos, sabem fazer e desfazer...

— E porque não lhes roga auxílio para ser útil e nobre, socorrer e amparar quem lhe ofereceu a roupa carnal? Porque não a seguraram ontem, impedindo o desfecho deplorável que a sua atitude violenta gerou?

— Porque eles são violentos, vingadores e conseguem imediatamente o que a tolerância e o amor não lobrigam. Estivesse a mim entregue a solução dos problemas daqui e já os teria resolvido desde há muito... Crê o senhor que eu não me sinto magoada, verificando que as forças de que sou possuidora, na minha casa, não merecem consideração? Tenho clientes que lograram resultados muito bons com os meus recursos e os meus Guias me prometem: ou o meu povo se lhes submete ou eles os acabam...

— Tais Espíritos, minha filha, não são Guias: são cegos arrastando cegos ao abismo em que todos se precipitarão. Abastardados pela ignorância demoram-se na animalidade, exigindo retribuições materiais por se comprazerem nos fluídos densos e grosseiros de que se não podem libertar. Odiando-se a si mesmos, estabelecem o clima do ódio e, revoltados nos recônditos do ser, espalham rebeldia, ameaçadores, para governarem sob as nuvens sombrias do medo... Fracos, procuram dividir para imperar... Dizendo-se temíveis, vivem temerosos, fugindo à consciência e descendo cada vez a vexames maiores nos quais se enredem, infelizes. Não, filha, não são poderosos, nem indestrutíveis, nem rigorosos; são primitivos que a vampirizam e se nutrem do plasma mental dos que, como você, caem presas fáceis dos seus ardis e mancomunações.

— Pois saiba que eles podem fazer o que os senhores jamais conseguiriam. Libertam as vítimas da obsessão pela força, arrancando os seus perseguidores com os poderes que possuem. E os senhores, que fazem?

— A violência não liberta e a força não convence. A vitória do poder da força é ilusório, porque ela mesma gera a força da reação que a destrói. O que você diz ser libertação em caso de obsessão, invariàvelmente são ardis de que se utilizam os benfeitores com os agressores: vivendo o mesmo tônus vibratório, combinam uma libertação falsa, dando a sensação de liberdade àqueles que lhes estão nas tenazes, para voltarem depois mais violentos, perturbados e perturbadores... Outras vezes investem com recursos próprios de que se utilizam, e, odientos, apavoram os outros perseguidores, transferindo o pagamento do enredado na obsessão para clima mais danoso e mais difícil, portanto... Não se iluda: a sombra sobre a sombra não produz claridade. Uma gota de luz vence a treva; todavia, a abundância da segunda nada consegue em relação à primeira... A impiedade nada produz. A única força eficiente é a que se deriva das reservas morais, a do espírito superior, a que produz a emissão vibratória de alta frequência, que atua como força realmente poderosa, capaz de influir decisivamente na esfera das causas e, pois, consequentemente, no campo dos efeitos.

«Recorde-se de Jesus ante o endemoninhado Gadareno; o moço que sofria de ataques; as febres da sogra de Pedro; o cego de Jericó; o paralítico de Cafarnaum...

seria necessário ir adiante? Lembre-se da Sua força diante dos maus, dos falsos poderosos da Terra. O amor é o pão da vida e, como escasseia, a esperança da Humanidade cambaleia nas sombras da violência temporária, pois que o Reino do Amor logo advirá.

«Unamo-nos desde já, minha filha, no mesmo ideal de serviço, e liberte suas forças psíquicas das constrições que a infelicitam, oferecendo-as a Jesus, enquanto urge o tempo, iniciando vida nova a seu próprio benefício. Não olvide, neste momento, que o seu genitor agonizante entre a vida e a morte, ou como também poderíamos dizer entre a morte e a vida nova, em partindo, poderá deixar em você pesados crepes de remorso, de arrependimento tardio, improdutivo, inquietador. Agora é o momento: é tempo de reabilitar-se...

Saia da noite e rume na busca do dia. Ore e inunde-se de reconforto. Não transfira o seu instante de felicidade... Iremos convidar sua mãe a acompanhar-nos na oração e dê começo, já agora, à sua ressurreição, a um renascimento espiritual... » O poder dos argumentos e a força moral do velho doutrinador acalmaram a atormentada e, a um sinal, dispusemo-nos a buscar Dona Rosa, que esperava do lado de fora, sendo introduzida no recinto em que estávamos.

Solicitado à oração, procurei erguer-me ao Senhor e suplicar-Lhe o concurso. Enquanto isso, o Apóstolo da caridade espiritual ministrava recursos fluídicos e magnéticos na sensitiva comprometida.

Depois da cuidadosa operação espiritual, levantou-se e, visívelmente emocionada, agradeceu, comprometendo-se a visitar o genitor e meditar nas novas diretrizes que se lhe deparavam naquelas dolorosas circunstâncias.

O poder da oração! Quando os homens compreenderem e se utilizarem realmente dos recursos da prece, em muito se modificarão os cenários da vida moral na Terra!...

Cumpridos os deveres no lar dos Soares, demandamos o Hospital do Pronto Socorro para uma visita ao Sr. Mateus, considerando ser aquele o dia permitido.

Conquanto se encontrasse em repouso absoluto, em câmara separada, Petitinga conseguiu do médico de plantão, com quem mantinha relações de amizade, permissão para orar em silêncio junto ao leito do paciente, no que foi atendido.

Conforme descrevera o médico amigo da família, o estado do pai de Mariana era deplorável.

A respiração entrecortada por esgares dolorosos, as marcas da paralisia de todo um lado do corpo, denotavam a gravidade do problema.

Embora compungido, Petitinga, tranquilo, recolheu-se em oração, no que o acompanhamos silenciosamente.

Transcorridos alguns minutos, retiramo-nos, fiéis ao compromisso de evitar perturbar o enfermo.

Já na rua o admirável sensitivo esclareceu-nos que notara a presença de Saturnino e a do Irmão Glaucus que ali estavam amparando o paciente e o assistindo, tendo registrado a intuição de que ele se recuperaria paulatinamente, através do tempo.

Aquele era um sublime recurso de que se utilizava a Lei para ajudar o ancião temperamental na construção da própria felicidade eterna...

Não havia como duvidar da Divina Providência!