Nos Bastidores da Obsessão - Novo Projeto

CAPÍTULO 14

O Cristo consolador



Ante a impossibilidade de o Sr. Mateus continuar no Hospital do Pronto Socorro e a família não o poder manter num Nosocômio particular, após transcorridos vinte dias do acidente que o prostrara, foi recambiado ao lar.

Embora o quadro se apresentasse pouco animador, ele conseguia falar com muita dificuldade, denotando perfeita lucidez.

Dona Rosa, fatigada pelas tarefas costumeiras, agora adicionaria ao labor normal o encargo de enfermagem difícil, junto ao companheiro prostrado pela embolia cerebral, que exigia imenso repouso, ambiente de calma e refazimento, assistência contínua e devotada.

Simultaneamente, porém, o socorro divino não tardou.

O refazimento psíquico de Mariana fê-la reconsiderar as atitudes íntimas de animosidade mantidas contra o genitor, e, à medida que o conhecimento espírita lhe penetrava a mente e o coração, renovava-se-lhe a paisagem interior; o contacto com as lições sublimes do Cristo fazia-a modificar-se inteiramente. Desde as primeiras horas da chegada do Sr. Mateus ao lar, tornou-se voluntariamente a companhia generosa, ajudando-o na higiene, mantendo os horários dos medicamentos, substituindo a mãe ao lado dele, enquanto esta cuidava do ministério do lar. Adalberto, por sua vez, que já frequentava a casa, desde os dias mais difíceis da enfermidade da namorada, interessado cada vez mais pela Doutrina dos Espíritos, foi-se transformando em filho do hemiplégico que, ante o carinho perseverante dos que lhe cercavam o leito, começou a apresentar sinais comovedores de renovação espiritual. Amália, fiel aos deveres do lar e dentro deste, era as mãos que traziam as moedas para as aquisições imediatas, enquanto Marta, que passara a uma atitude de maior reflexão, depois da entrevista com Petitinga se pôs a ajudar a genitora nas costuras, no lar e na arte do bordado, aumentando a receita doméstica de forma expressiva.

Na próxima visita que fizemos à família Soares, o ambiente se encontrava significativamente modificado.

Dona Rosa nos confessou a sua alegria, embora a soma de preocupações que a martirizavam ante a enfermidade do esposo e os problemas naturais, disso decorrentes.

Desde os primeiros momentos mais aflitivos, porém, as mãos da caridade, através de Petitinga, começaram a doar o socorro material, em nome do círculo dos irmãos da fé, de forma a diminuir a crueza das provações naquela casa.


Na oportunidade da nossa visita, o amoroso amigo dos sofredores interrogou Marta, quanto à reaproximação com o genitor. Esta, muito constrangida, respondeu:
— Sinto-me nervosa, agitada interiormente... —falou, encabulada. — Receio um novo atrito, no momento de fazer as pazes, caso papai não me receba como de direito... Encontro-me conflitada em relação à prática infeliz a que me vinculei por largos anos. Tudo me parece, agora, um despertar de cruel pesadelo, no qual eu jornadeasse atada a cordas grossas que me conduziam, inexoravelmente cega, trôpega, de mente açulada por alucinações indescritíveis...

* A ex-quimbandista começou a chorar, O corpo foi tomado por contrações constrangedoras, e, mesmo refreando a aflição, sentia-se-lhe a dor selvagem que a despedaçava interiormente.

Petitinga envolveu-a em ondas de carinho e ternura, acercando-se dela e buscando acalmá-la com palavras de esperança.

— Marta, minha filha, o Evangelho — afirmou convicto — é porta de luz para os que gemem na escuridão.


Caminho redentor que se abre em oportunidades múltiplas para todos nós, os trânsfugas dos deveres sublimes,

* O desconhecimento do Espiritismo por parte de alguns adeptos, na atualidade, que lhe não penetraram as lições preciosas, ou que se ligaram às lides espiritistas para atendimento de Interesses imediatos, materiais — confirmando desse modo a ausência do estudo e da meditação das bases da Doutrina —vem gerando inomináveis confusões. Expõem, por exemplo, alguns desses adeptos, que diante de Entidades muito infelizes, perseguidores violentos, obsessores vigorosos, são necessárias providências fora dos arraiais da Doutrina, em cujos sítios são submetidos tais Espíritos a processos de terror, de força, e a práticas estranhas, que os atemorizam, e por meio das quais os prendem longe das suas vítimas... Arrematada loucura! A severidade das Leis de Causa e Efeito são elucidação imediata a essa informação descabida. Em toda obsessão há cobrador, porque há devedor. Libertar este e prejudicar aquele seria puni-lo outra vez, a ele que foi vítima anteriormente; seria investir contra o Estatuto da Divina Justiça: punir o ignorante ao invés de instrui-lo, libertar um mediante o aprisionamento de Outro, defender alguém prejudicando outrem. A soberana Lei de Amor é a força capaz de modificar a estrutura da vida e penetrar na furna odienta do "eu" atormentado para felicitá-lo. Em qualquer obsessão, portanto, em que o amor e o esclarecimento não realizem os seus misteres, as medidas humanas da temeridade e da violência somente poderão agravar o mal, adiando-o para ocasião em que as reservas do paciente sejam menores e, pois, consequentemente, menos favoráveis à cura, à libertação.

O preclaro Codificador Allan Kardec elucida que se "chama obsessão à ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um Individuo. " E adverte: "Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma Imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral preciso é se contraponha uma força moral. " Considera, todavia, veemente: "Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluído pernicioso, que neutraliza a ação dos fluídos salutares e os repele.

É daquele fluído que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluído mau não pode ser eliminado por outro igualmente mau. Por meio de ação idêntica à do médium curador, nos casos de enfermidade, PRECISO SE FAZ EXPELIR UM FLUÍDO MAU COM O AUXÍLIO DE UM FLUÍDO MELHOR. "Nem sempre, porém, basta esta ação mecânica.

Cumpre, sobretudo, atuar sobre o ser inteligente, ao qual é preciso se possua o direito de falar com autoridade, que, entretanto, falece a quem não tenha superioridade moral. Quanto maior esta for, tanto maior também será aquela. " E, por fim, observa: "Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso meio de que se dispõe para demover de seus propósitos maléficos o obsessor.

Tais são as anotações constantes de "A Gênese", de Allan Kardec, Capítulo 14, "Obsessões e possessões", 14a edição da FEB, dos quais extraimos estes tópicos que merecem, como os demais do oportuno estudo, acuradas meditações.

Outros, militantes apressados, também Informam que, para um bom processo de desenvolvimento ou educação mediúnica, se faz concorde a aplicação de determinadas e esquisitas práticas, a fim de que a faculdade irrompa de uma vez, com resultados benéficos, como se a mediunidade fõsse algo elástico que atendesse à travão da força, dilatando-se de imediato. Como qualquer outra faculdade psicológica ou função fisiológica, a mediunidade requer cuidados especiais, atendimento a requisitos próprios e condições específicas que lhe facultem a educação e o desdobramento de recursos, para atender às finalidades a que se destina.

Nesse sentido "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec, é, ainda, o melhor roteiro para médiuns e pessoas que desejem conhecer as faculdades medianímicas do homem, como conduzi-las e com elas operar, os perigos da má prática mediúnica, etc...

O que ocorre normalmente nesses chamados desenvolvimentos instantâneos, em grupos, mecãnicos, pertence aos capítulos da Sugestão, do Animismo, dos Condicionamentos psicológicos e até mesmo aos estados de nevrose.

Resguardem-se, no cuidadoso estudo e na carinhosa observação vigilante, os que desejam reais e proveitosos resultados da mediunidade e da sua prática, sem precipitação, sem exigências, melhorando-se moral e espiritualmente, os médiuns e os experimentadores honestos, a fim de se credenciarem à assistência dos Bons Espíritos.

— Nota do Autor espiritual.

oferecendo-nos recomeço em qualquer situação e em todo tempo. Para quem realmente deseja elevação, não há tempo perdido, nem oportunidade malbaratada que não traga preciosos ensinos, que podemos aproveitar de futuro. Reanime-se, minha filha! O momento de renovação ocorre como instante de dor: o ar que penetra no pulmão do recém-nascido, ensejando-lhe a vida extra-uterina, provoca-lhe, também, a sensação da dor...

Assim também, o ar balsâmico do Cristo, em lhe penetrando a alma, rompe a couraça de sombra que a envolvia e a claridade rutilante da vida nova lhe produz, compreensivelmente, angústia passageira e passageira apreensão.

— Tenho medo — conseguiu extravasar. — Receio o revide daqueles com os quais me demorava comprometida. Eles são terríveis!... Há muito tempo desejava fugir-lhes ao cerco implacável; mas não tinha forças; não sabia como fazer. Tenholhes sido escrava obediente...

Vejo-os, dizendo-se meus amigos, porém, cruéis para com muitos. Por Deus, eu os temo! Não sei se suportarei manter esta decisão e se conseguirei a liberdade. Como anseio por ser livre para tentar vida nova, novas aspirações que acalento e não tenho podido fruir!...

— «Deus é Nosso Pai» — referiu-se, Petitinga, de face ruborizada, iluminada por transcendente fulguração —, disse Jesus. Assim, Ele é o Pai de todos. Examine essa confortadora informação: Nosso Pai! Ele cuida, portanto, dos filhos mais fracos que Lhe entregam a vida, como dos mais rebeldes que tramam dificultar a vida dos seus irmãos. Diga como Jesus em agonia, e tranquilize-se: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!», e deixe-se arrastar pelas correntes invisíveis e poderosas do Seu amor.

Depois de uma pausa muito expressiva, concluiu: — Inicie desde hoje a fase nova, aproximando-se do seu pai, rogando-lhe perdão. Uma atitude honesta faz-se acompanhar de fluídos convincentes, que envolvem, poderosos, aqueles a quem nos dirigimos. Humilhe-se ante aquele que lhe concedeu, em nome do Pai de todos, a indumentária física, e faça-o sentir-se honrado na condição de chefe da prole. Ajude-o no transe abençoado que ele vive e a força dos seus sentimentos falará mais alto do que as palavras mais brilhantes que lhe escapem dos lábios. Passe, logo depois, a frequentar nossa Casa; estude as Obras do insigne mestre Kardec, bebendo nas fontes augustas da informação espírita a água lustral, lenificadora e nutriente do conhecimento que liberta, e, de alma tocada pela suave brisa do Evangelho, distribua esperança... Quem sabe? Em breve as suas possibilidades medianímicas, colocadas a serviço do Cristo, depois de necessàriamente disciplinadas, poderão amparar e socorrer esses mesmos irmãos que a jugularam na ignorância por tantos anos, transformando-os em amigos e companheiros de jornada...

Não há força que tenha mais força do que a força do amor...

Com permissão de Dona Rosa rumamos, ato contínuo, na direção da alcova onde se encontrava o enfermo.

Mariana, sentada a uma cadeira ao lado do leito, assistia-o para qualquer necessidade.

Carinhosa, saudou-nos iluminada por amplo e generoso sorriso.


Entregando-lhe o «Livro da Vida», Petitinga solicitou-lhe que o abrisse e lesse o texto sobre o qual os seus olhos incidissem. A menina cerrou as pálpebras e abriu o exemplar de «O Evangelho segundo o Espiritismo» que tinha nas mãos, e leu, do Capítulo 6 — O Cristo Consolador —, item 7:

«Sou o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados. Não busqueis alhures a força e a consolação, pois que o mundo é impotente para dá-las. Deus dirige um supremo apelo aos vossos corações, por meio do Espiritismo. Escutai-o. Extirpados sejam de vossas almas doloridas a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade. São monstros que sugam o vosso mais puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais. Que, no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua lei divina. Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo de vossos corações. Ele, então, vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer estas boas palavras: Eis-me aqui, venho até vós porque me chamastes. O Espírito de Verdade. (Bordéus, 1861.) » Mariana concluiu a leitura emocionada, O Alto, inspirando-nos e conduzindonos, respondia, às inquietações de todos nós, com o Cristo Consolador. Conquanto a expressão alterada na face do Sr. Mateus, notámos-lhe lágrimas nos olhos. Marta, visívelmente sensibilizada, tomou a mão direita do genitor, que não fora afetada pela embolia, ajoelhou-se ao lado do corpo semimorto no leito, e, osculando-a, pediu-lhe perdão... A voz, debilitada na garganta intumescida pelo pranto, saía a custo.

Pensávamos em Jesus naquele momento supremo de redenção, rogando- Lhe forças e socorros para nós todos, especialmente para o pai sofredor que nunca supusera experimentar tão significativo atestado de amor filial.

O Sr.

Mateus com muito esforço tornou-se digno do gesto da filha. Cingiu nos seus os dedos de Marta, abençoando-a em silêncio e emotividade com o esquecimento do mal e a esperança do bem.

Era, aquela, uma cena evangélica, evocativa, em todo o seu impacto, dos primeiros dias da Boa Nova nascente...

Inspirado por Saturnino, Petitinga ergueu a voz e, numa eloquente oração, traduziu os sentimentos de todos, ao Cristo de Deus, o Excelso Benfeitor e Guia da Humanidade.

Com a alma túmida de emoções, retiramo-nos da alcova, para poupar o paciente de novos choques emocionais, e retornamos à sala de refeições.


Mariana, que tinha sede de luz, perguntou sem preâmbulos a Petitinga:

— Ante essa prova do socorro dos nossos Guias Espirituais, eu não poderia, sempre que possível, estando ao lado do papai, ler-lhe «O Evangelho segundo o Espiritismo», de modo a nos ir instruindo lentamente nas lições da fé? É claro que procurarei não cansá-lo.

Uma boa leitura, além de edificar, também distrai, não é mesmo?


Petitinga fitou-a, admirado, e concordou prontamente:

— De pleno acordo. É evidente que a messe de luz muito favorece a riqueza da arca que a recebe. Muito bom esse alvitre, essa lembrança. A palavra evangelizante dirigida a ele atenderá, também, aos sofredores espirituais que porventura se lhe vinculem por esta ou aquela razão. Numa casa onde se acende a claridade do Evangelho, erguem-se defesas poderosas, impedindo a invasão das forças desagregadoras da erraticidade inferior. Quando um grupo ora, unido nos liames da comunhão pela prece, estabelecem-se resistências capazes de suportar as descargas da agressão da maldade originada num ou noutro plano da vida.

A prece e a lição edificante transformam-se em potentes ondas de energia vivificadora que beneficia todos os que delas participam.


E para deixar muito bem esclarecido o valor do nobre tentame, argumentou:

— Ainda não conhecemos, devidamente, na Terra, o poder do pensamento. A mente atua dentro e fora do cérebro pelo qual se manifesta, atraindo ou repelindo forças compatíveis ou antagônicas. Todos sofremos os reflexos uns dos outros, na carne, como também daqueles que estagiam fora do invólucro material, com os nossos recursos possíveis de assimilação ou desassimilação. Nenhum homem consegue estacionar, livre das ondas de intercâmbio dessa ou de outra ordem, que nos envolvem incessantemente. Absorvemos como eliminamos as imagens que nos são peculiares, é caminhando com elas e atando-nos às suas amarras ou delas nos libertando, na direção da felicidade.

Isto quer dizer que somos o que produzimos mentalmente, vivendo imanados aos nossos como aos pensamentos que recebemos dos outros...

O Universo todo são permutas. A ideia que o homem plasma e cultiva, exterioriza e difunde, traduz o seu estado, a sua altura moral e espiritual.

Ora, sintonizados com a ideia da Vida Excelsa, plasmaremos imagens superiores e viveremos emoções vitalizantes que nos esboçarão os pródromos da paz interior que, por fim, nos dominará.


Marta, animada pela excelente explicação, indagou:

— E no meu caso, meu amigo? Como o senhor não ignora, há mais de dez anos me encontro anestesiada pelo ópio das forças brutalizantes do Mundo Espiritual Inferior.

No círculo de ação em que tenho labutado, agimos com as "forças da Natureza" e, ao recebermos o aliciamento de muitas Entidades, assumimos também compromissos para com elas. Poderei desfazer tudo isso, pura e simplesmente, sem sofrer danos e sem as desequilibrar?


Após ligeira e necessária meditação, Petitinga elucidou:

— Todo compromisso que assumimos espontaneamente merece consideração. No entanto, só um compromisso nos parece verdadeiro, irreversivel: o que temos para nós próprio, para com a nossa evolução. Esse é intransferível, inderrogável. As Entidades que se nos vinculam ou com as quais nos imanamos tornam-se comensais das nossas emanações psíquicas, nutrindo-se das nossas forças, como ocorre nas obsessões. Aliás, em todo processo em que há uma vinculação constringente de um desencarnado sobre um encarnado, ou vice-versa, deparamonos com uma obsessão em curso ou, quando menos, com uma fascinação a caminho do desastre obsessivo.

A expressão «desfazer os vínculos» deve ser substituída por «modificar as vinculações», porque em verdade você não deseja abandoná-los, mas libertar-se do erro em que eles se demoram, para jornadear na busca da harmonia que lhe faz falta.


E após reflexão mais demorada, arrematou:

— As «forças da Natureza» são os Espíritos, que podem ser definidos segundo Allan Kardec como: «Os seres inteligentes da Criação. Povoam o universo, além do mundo material. » Ora, assim sendo, estagiam em diversos graus de evolução, desde os mais primitivos até aqueles mais elevados...Naturalmente que uma organização fisiopsíquica aclimatada às emanações fluídicas mais grosseiras se ressentirá, em se afastando do conúbio habitual de que se nutria. Jesus, porém, é o pão da vida e resolverá o problema. Não há porque recear. Ele a nutrirá com superior alimento. Acreditamos, também, que tomada a resolução de avançar noutra direção, não há como nem porque olhar para trás, demorando-se em receios, mantendo a sintonia com intuições deprimentes e superstições vulgares, que não merecem consideração, senão quando se deseja esclarecê-las.

Sem dúvida, muitas vezes você experimentará dificuldades... Confie, porém, e avance!

— Face ao exposto — afirmou Marta, convicta, sem titubeios —, pretendo, ainda hoje, libertar-me de talismãs e amuletos, objetos e indumentárias, cerrando, em definitivo, as portas do meu antigo «consultório» e abrindo a alma à luz do Senhor.

E porque ainda estivesse compreensivelmente aclimatada aos hábitos dos cultos externos, extravagantes, ajoelhou-se, e, em tom patético, rogou a proteção dos Céus.


Muito gentil, Petitinga ergueu-a e falou com bom-humor:

— O servo fiel e vigilante está sempre de pé, esperando o serviço que lhe destina o Senhor...

Todos sorrimos com a feliz interferência.

Dona Rosa, que estava exultante, abraçou a filha demoradamente.

Paulatinamente a paz vencia no lar da família Soares, O panorama, conquanto conservasse ainda algumas leves sombras, se apresentava alvissareiro.

O hoje respondia já às aflições do passado e o amanhã se desenhava benéfico, respondendo às inquietações de agora.

Esse, sem dúvida, é o ministério do Espiritismo: trazer de volta Jesus Cristo aos corações sofridos da Terra; repetir as experiências memoráveis de quando Ele esteve entre nós; consolar os infelizes do Além-Túmulo, libertando-os da suprema ignorância das realidades espirituais; desatar os laços constritores que ligam desencarnados em perturbação a encarnados que se perturbam; cuidar dos obsessos e iluminar a consciência de obsidiados e obsessores; semear o amor em todas as modalidades, através das mãos da caridade, em todas as dimensões...

por ser o Espiritismo o CONSOLADOR prometido por Jesus.