Vitória da Vida

CAPÍTULO 4

Vicente Barbur Júnior



"Vicente Barbur Júnior era natural de Ponta Grossa, PR, onde nasceu, em 24 de outubro de 1956 e desencarnou, em 17 de fevereiro de 1974.

Era filho de Vicente Barbur e de Maria Celeste Prado Barbur, sendo seus irmãos Míriam e MarCoronel Augusto.

Vicentinho, como era chamado, iniciou seus estudos no Grupo Escolar Prof.

Júlio Teodorico, cursando depois o Colégio Estadual Regente Feijó; deveria ingressar no 3º ano colegial preparando-se para o vestibular de Engenharia, aos 17 anos.

Trabalhava com seu pai no Curtume Rio Branco e nas horas vagas, aproveitando retalhos de matéria-prima, estimulado pelo pai, desenvolveu um pequeno artesanato de cintos, carteiras, bolsas, etc, com gosto e criatividade.

Seu espírito pesquisador levou-o a liderar um grupo de colegas em um trabalho de produção de fibras de rayon apresentado na Feira de Ciências do Colégio.

Inquieto, de uma atividade incomum, tanto era capaz de arranjar alguém que o ajudasse a construir uma mesa de ping-pong, reunir amigos para, a golpes de picareta, tentarem fazer uma piscina no quintal, como desmontar o rádio da avó para sonorizar o seu clubinho, na sala, em cima da garagem...

Alegre, emotivo, espirituoso, desfrutava da companhia de muitos jovens, rapazes e moças, que em grande número lhe foram levar o sentido adeus...

mas, também aqueles que costumava encontrar no dia a dia de trabalho, os humildes sapateiros - os seus amigos - também choraram, ao saber de sua morte, no balcão vazio, em comovente demonstração de amizade.

Naquela tarde de sábado vimo-lo sair alegremente em companhia do amigo Renato Bueno Gomes para, segundo disseram, irem a um casamento na cidade.

Lembro-me que insisti para que participassem de uma festa de 15 anos, acompanhando a irmã Míriam.

Mas o plano já estava feito e foram ambos a um baile de Grito de Carnaval, em Telêmaco Borba, cidade distante, mais ou menos 100 km de Ponta Grossa.

No retorno, para não chegar em casa muito tarde, apressado, "qual pássaro a retornar do seu primeiro voo mais distante", numa curva mais difícil, sob garoa, deu-se o acidente...

Consola-nos saber que Renato sobreviveu.

Hoje, casado, três filhos, é com incontida emoção que o temos abraçado, por vezes.

Há dois anos 5icente pai, partiu também.

Reunidos, eles são agora, nossa grande saudade.

Para podermos prosseguir, há a esperança de um reencontro, um dia...

e o consolo, apoio e esclarecimento que sempre nos deu a Doutrina Espírita, luarizando nossas horas de imensa saudade!. " (Biografia apresentada pela genitora)

No mês de março de 1974, Divaldo encontrava-se proferindo palestras na cidade de Ponta Grossa (PR) e noutras circunjacentes.

Na tarde de vinte e um do referido mês, antes de participar das atividades programadas na Organização Espírita Cristã "Irmã Scheilla", daquela cidade, viu um Espírito, que lhe disse chamar-se Vicentinho, há pouco desencarnado, que desejava escrever aos familiares desolados com a trágica circunstância da sua partida.

Divaldo convocou alguns amigos e os pais do desencarnado, e, numa sala daquela Entidade, psicografou a admirável mensagem, após 32 dias do passamento do jovem.

Comentando a mensagem do filho, D. Celeste, assim se referiu: "Vicente e eu suportávamos penosamente a presença de muitas pessoas, no ruído natural de conversação; queríamos estar a sós, com nossos pensamentos, com nossa tristeza, com a grande saudade, esforçando-nos para aceitar com resignação a nova e brutal realidade...

Lembramos da presença dos confrades Guaracy Paraná Vieira, Dr. Célio T. Costa, Dr. Franklin Wagner e D. Mercedes de Almeida. Após orarmos, você começou a psicografar com celeridade, em nossa presença, o que esperávamos ser a mensagem de um benfeitor espiritual a dirigir palavras de bom ânimo e orientação para todos os presentes.

Mas escutamos ali, sob indescritível emoção, lida por você, a mensagem do Vicentinho - o seu pensamento vivo, autêntico pela citação de fatos pessoais e familiares, desculpando-se e assumindo a responsabilidade de seus atos com a humildade e a simplicidade que lhe eram peculiares.

Estava aí, conosco, a grande prova da sobrevivência do espírito. " A respeito da mensagem, transcrevemos as palavras do Sr.

Guaracy Paraná Vieira, espírita, jornalista e radialista destacado na Cidade e no Estado, que ouviu os pais do missivista desencarnado: "Todos esses tópicos identificam plenamente Vicentinho, conforme declaração dos pais.

Além desses, outras informações foram oferecidas pelo médium através da palavra articulada: descrição de Vicentinho, do Sr.

Halim, das circunstâncias do desastre, do traje com que foi sepultado o jovem, do avô desencarnado...

Com esses dados, de forma irretorquível, temos a prova de que os mortos vivem, comunicam-se com os homens e continuam a tarefa do amor, conforme preceitua Allan Kardec, o eminente Codificador do Espiritismo. "

Meus queridos pais: Louvado seja Deus!

Ainda me encontro atordoado, sem poder concatenar as ideias...

Tudo aconteceu tão rapidamente...

um pesadelo! Graças a Deus, porém, uma realidade que devia acontecer...

Perdoem-me a aflição, as agonias...

Não sofram mais... não morri... Vocês bem me ensinaram que ninguém morre...

Recordo a estrada de Telêmaco (1), a noite, ou a madrugada? Não sei bem...

Acho que era amanhecer daquele domingo de fevereiro (2), ou era a noite de sábado... (3) Vocês saíram e eu apanhei as chaves do carro sem a ordem de vocês...

Mamãe, quando você escondeu as chaves, recorda? (4) Como se estivesse adivinhando...

Oh! Meu Deus! Perdão, meus queridos... Tudo foi rápido. Quando acordei, tio Halim (5) estava ao meu lado, esperando por mim e me explicou que não tivesse medo...

Quis gritar e não pude... Vovô me amparou e "seu" Álvaro (6) sorrindo me disse que eu "estava vivo"...

Depois eu dormi como num pesadelo, acordando para de novo dormir... Seus pensamentos me chegam como telefonemas...

Compreendo, agora, tudo, embora um pouco confuso...

É como se amanhecesse o dia, sem sair o sol... Não estou sozinho...

Escrevo como um menino que a mestra segura a mão, pensando e as ideias saindo guiadas pela mão da abnegada irmã Scheilla (7), que tem sido um anjo para mim e aqui me trouxe...

Eu estou em tratamento.

A resignação de vocês é um remédio para mim... Também eu sinto saudade, mas sou consolado por ela e pelo tio...

Meu priminho, que veio para cá acidentado pela espingarda (8), já me visitou... "Seu" Álvaro tem sido um amigo constante, como nos dias do Evangelho: (9) canta, toca e nos conforta...

Não sofram, pelo amor de Deus... Nós vamos nos encontrar... Perdoem-me a dor que lhes causei... Continuem no amor às criancinhas como antes... (10) Estou cansado...

Abracem Míriam e Marcelo. (11) Que eles sejam bons como eu não fui, e obedientes...

Minha partida seja um conselho para eles...

Orem por mim e se alegrem.

Voltaremos a estar juntos. Adeus, meus adorados pais!...

Perdoem-me!

Eu deveria voltar e o Senhor fez o melhor...

Com a minha eterna gratidão, beijo vocês, meus irmãozinhos e todos.

Deus lhes pague, pais amados!

Seu eterno filho, Vicentinho (12)


IDENTIFICAÇÕES


(1) - Estrada de Telêmaco - O desastre de automóvel ocorreu na estrada de Telêmaco Borba, PR.

(2) - Domingo de fevereiro - O acidente se deu no amanhecer do domingo dia 17. 02. 74.

(3) - Noite de sábado - O jovem saiu de Ponta Grossa, na tarde de sábado para uma festa de jovens, em Telêmaco Borba.

(4) - Escondeu as chaves - A mãe, considerando a idade do filho (17 anos) e receando uma tragédia, sempre escondia as chaves do carro no lar, utilizando-se do cofre e de outros locais, a fim de Vicentinho não as encontrar.

(5) - Tio Halim - Tio de Vicentinho desencarnado há 25 anos. (Nas reuniões do Evangelho do Lar a família costumava orar, lembrando sempre do tio Halim, para as crianças)

(6) - "Seu" Álvaro - Trata-se de Álvaro Holzmann, eminente espírita pontagrossense, já desencarnado.

(7) - Irmã Scheilla - Entidade veneranda que trabalha pelo próximo em toda parte.

No lar da família Barbur funcionou a Organização "Irmã Scheilla", que prestou relevantes serviços à comunidade, como continua fazendo em sua nova Sede.

(8) - Acidentado pela espingarda - Primo de Vicentinho que desencarnou vitimado por um acidente de espingarda.

(9) - Como nos dias do Evangelho - Álvaro Holzmann dedicava-se à evangelização da criança: era maestro, professor, compositor e pianista.

(10) - Amor às criancinhas como antes - Os pais de Vicentinho dirigiram por vários anos o "Lar Hercília Vasconcellos", de Ponta Grossa, onde se educam meninas órfãs.

(11) - Míriam e MarCoronel - Irmãos de Vicentinho.

(12) - Vicentinho - Nome do desencarnado.