Conflitos Existenciais - Série Psicológica Vol. 13

CAPÍTULO 2

Preguiça



Fatores causais da preguiça

A preguiça, ou propensão para a inatividade, para não trabalhar, também conhecida como lentidão para executar qualquer tarefa, ou caracterizada como negligência, moleza, tardança, é desvio de conduta, que merece maior consideração do que aquela que lhe tem sido oferecida.

Surge naturalmente, expressando-se como efeito de algum tipo de cansaço ou mesmo necessidade de repouso, de recomposição das forças e do entusiasmo para a luta existencial.

Todavia, quando se torna prolongado o período reservado para o refazimento das energias, optando-se pela comodidade que se nega às atitudes indispensáveis ao progresso, apresenta-se como fenômeno anômalo de conduta.

E normal a aspiração por conforto e descanso, no entanto, não são poucos os indivíduos que se lhes entregam, sem que apliquem esforço físico ou moral pelo conseguir.

A preguiça pode expressar-se de maneira tranquila, quando o paciente se permite muitas horas de sono, permanência prolongada no leito, mesmo após haver dormido, cortinas cerradas e ambiente de sombras, sem que o tempo seja aproveitado de maneira correta para leituras, reflexões e preces.

Não perturba aos demais, igualmente não se predispõe ao equilíbrio nem à ação.

Lentamente, essa conduta faz-se enfermiça, gerando conflitos psicológicos ou deles sendo resultante, em face das ideias perturbadoras de que não se é pessoa de valor, de que nada lhe acontece de favorável, de que não tem merecimento nem os demais lhe oferecem consideração.

Esse tormento, que se avoluma, transforma-se em pessimismo que propele, cada vez mais, a situações de negatividade e de ressentimento.

Pode também transformar-se em mecanismo de autodestruição, em face da crescente ausência de aceitação de si mesmo, perdendo o necessário contributo da autoestima para uma existência saudável.

A pessoa assume posição retraída e silenciosa, evitando qualquer tipo de estímulo que a possa arrancar da constrição a que se submete espontaneamente.

Danosa, torna os membros lassos, a mente lenta no raciocínio, apresentando, após algum tempo, distúrbios de linguagem e de locomoção.

Sob outro aspecto, pode apresentar-se como perda do entusiasmo pela vida, ausência de motivação para realizar qualquer esforço dignificante ou algum tipo de ação estimuladora.

O seu centro de atividade é o ego, que somente se considera a si mesmo, evitando espraiar-se em direção das demais pessoas, em cuja convivência poderia haurir entusiasmo e alegria, retomando o arado que sulcaria o solo dos sentimentos para a plantação da boa vontade e do bem-estar.

A avaliação feita pelo indivíduo nesse estágio é sempre deprimente, porque não tem capacidade de ver as conquistas encorajadoras que já foram realizadas nem as possibilidades quase infinitas de crescimento e de edificação.

O tédio domina-lhe as paisagens íntimas e a falta de ideal reflete-se-lhe na indiferença com que encara quaisquer acontecimentos que, noutras circunstâncias, constituiriam emulação para novas atividades.

Esse desinteresse surge, quase sempre, da falta de horizontes mentais mais amplos, da aceitação de antolhos idealistas que impedem a visão profunda e complexa das coisas e das formulações espirituais, limitando o campo de observação, cada vez mais estreito, que perde o colorido e a luminosidade.

Em outra situação, pode resultar de algum choque emocional não digerido conscientemente, no qual o ressentimento tomou conta da área mental, considerando-se pessoa desprestigiada ou perseguida, cuja contribuição para o desenvolvimento geral foi recusada.

Normalmente, aquele que assim se comporta é vítima de elevado egotismo, que somente sente-se bem quando se vê em destaque, embora não dispondo dos recursos hábeis para as ações que deve desempenhar.

Detectando-se incapacitado, refugia-se na inveja e na acusação aos demais, negando-se a oportunidade de recuperação interior, a fim de enfrentar os embates que são perfeitamente naturais em todos e quaisquer empreendimentos.

O desinteresse é uma forma de morte do idealismo, em razão da falta de sustentação estimuladora para continuar vicejando.

Pode-se, ainda, identificar outra maneira em que se escora a preguiça para continuar afligindo as pessoas desavisadas.

É aquela na qual o isolamento apresenta-se como uma vingança contra a sociedade, não desejando envolver-se com nada ou ninguém, distanciando-se, cada vez mais, de tudo quanto diz respeito ao grupo familiar, social, espiritual.

Normalmente, esse comportamento é fruto de alguma injustificada decepção, decorrente do excesso de autojulgamento superior, que os outros não puderam confirmar ou não se submeteram ao seu desplante.

Gerando grande dose de ressentimento, não há como esclarecer-se ao indivíduo, na postura a que se entrega, mantendo raiva e desejo de destruição de tudo quanto lhe parece ameaçar a conduta enfermiça.

Do ponto de vista espiritual, o paciente da preguiça, que se pode tornar crônica, ainda se encontra em faixa primária de desenvolvimento, sem resistências morais para as lutas nem valores pessoais para os desafios.

Diante de qualquer impedimento recua, acusando aos outros ou a si mesmo afligindo, no que se compraz, para fugir à responsabilidade que não deseja assumir.

A preguiça prolongada pode expressar também uma síndrome de depressão, mediante a qual se instalam os distúrbios de comportamento afetivo e social, gerando profundos desconfortos e ansiedade.


Transtornos gerados pela preguiça

A entrega à ociosidade torna débil o caráter do paciente, impedindo-o de realizar qualquer esforço em favor da recuperação.

Sentindo-se bem, de certa forma patologicamente, com a falta de atividade, a tendência é ficar inútil, tornando-se um pesado fardo para a família e a sociedade.

Em relação a qualquer um dos motivos que desencadeiam a preguiça, conforme referidos, a baixa estima e a fuga psicológica são os fatores predominantes nesse comportamento doentio.

O corpo é instrumento do Espírito, que necessita de exercício, de movimentação, de atividade, a fim de preservar a própria estrutura.

Enquanto o Espírito exige reflexões, pensamentos edificantes contínuos para nutrir-se de energia saudável, o corpo impõe outros deveres, a fim de realizar o mister para o qual foi elaborado.

A indolência paralisadora pela falta de ação conduz à flacidez muscular, à perda de movimentação, às dificuldades respiratórias, digestivas, num quadro doentio que tende a piorar cada vez mais, caso não haja uma reação positiva.

Em razão do pessimismo que se assenhoreia do enfermo, a sua convivência faz-se difícil e o seu isolamento mais o atormenta, porque a autolamentação passa a constituir-lhe uma ideia fixa, culpando, também, as demais pessoas por não se interessarem pelo seu quadro, nem procurarem auxiliá-lo, o que equivale a dizer, ficarem inúteis também ao seu lado, auxiliando-o na autocomiseração que experimenta.

Em realidade, não está pedindo ou desejando ajuda real, antes apresenta-se reclamando da sua falta para melhor comprazer-se na situação a que se entrega espontaneamente.

A existência, na Terra, é constituída por contínuos desafios, que sempre estão estimulando à conquista de novas experiências, ao desenvolvimento das aptidões adormecidas, ao destemor e à coragem, em contínuas atividades enriquecedoras.

A mente não exercitada em pensamentos saudáveis, descamba para o entorpecimento ou para o cultivo de ideias destrutivas, vulgares, insensatas, que sempre agravam a conduta perniciosa.

Pensar é bênção, auxiliando a capacidade do raciocínio, a fim de poder elaborar projetos e propostas que mantenham o entusiasmo e a alegria de viver.

Concomitantemente, surge, vez que outra, alguma lucidez, e o paciente critica-se por não dispor de forças para modificar a situação em que se encontra, desanimando ainda mais, por acreditar na impossibilidade da reabilitação.

Faz-se um círculo vicioso: o paciente não dispõe de energias para lutar e nega-se à luta por acreditar na inutilidade do esforço.

Outras vezes, oculta-se no mau humor, tornando-se ofensivo contra aqueles que o convidam à mudança de alternativa, explicando-lhe tudo depende exclusivamente dele, já que ninguém lhe pode tomar a medicação de que somente ele necessita.

A destreza, o esforço, a habilidade, em qualquer área, são decorrentes das tentativas exitosas ou fracassadas a que o indivíduo permite-se, resultando da repetição sem enfado nem queixa para a conquista e a realização pessoal.

Na preguiça ocorrem uma adaptação à inutilidade e uma castração psicológica de referência aos tentames libertadores.

O paciente, nesse caso, prefere ser lamentado a receber amor, experimentar compaixão a ter o companheirismo estimulante, permanecer em solidão a experiênciar uma convivência agradável.

Armado contra os recursos alternativos da saúde, foge daqueles que o desejam auxiliar infundindo-lhe ânimo, e quando é surpreendido por alguma orientação, logo reage com violência intempestiva, afirmando: "Você não sabe o que eu sinto e certamente não acredita no que se passa no meu mundo íntimo...

Pensa que estou fingindo?

Certamente, o outro não conhece o transtorno que se opera no enfermo, mas sabe que o esforço desprendido poderá contribuir eficazmente para alterar a situação em que se encontra.

A partir de então, o amigo e candidato ao auxílio torna-se evitado, é tido como adversário, censor, perturbador da sua paz, como se a indolência algo tivesse a ver com tranquilidade e harmonia íntima...

A quase total insensibilidade em relação a si mesmo, à sua recuperação e ao sofrimento que ocasiona à família, que se desestrutura, complica mais o quadro, porque bloqueia o discernimento em torno dos próprios deveres, transferindo para o próximo as responsabilidades que lhe pesam na consciência e as tarefas que devem ser desempenhadas em seu benefício.

A preguiça mina a autoconfiança e destrói as possibilidades de pronta recuperação.

É natural que atraia Espíritos ociosos, que se comprazem no banquete das energias animais do paciente, tele mentalizado e conduzido às fases mais graves, de forma que prossiga vampirizado.

Os centros vitais da emoção e do comportamento são explorados por essas Entidades infelizes, e decompõem-se, funcionando com irregularidade, destrambelhando a organização somática, já que a psíquica e os sentimentos estão seriamente afetados.


Terapia para a preguiça

Às vezes, o paciente pode receber alguma inspiração superior e interrogar-se: - Por que estou sofrendo desnecessariamente? Até quando suportarei esta situação deplorável?

Isto constitui um despertar terapêutico para a mudança de conduta, sempre a depender do próprio paciente.

Começam a surgir-lhe a vergonha pelo estado em que se encontra, o constrangimento pela inutilidade existencial, dando início ao labor de renovação íntima e ao desejo de reconquistar a saúde, assim como o bem-estar, sem mecanismos escapistas ou perturbadores.

Surgem, então, os pródromos do equilíbrio emocional, o natural desejo pela recuperação, passando a ver a preguiça como algo enfadonho e monótono, irritante e sem sentido, causador de aflições desnecessárias, porquanto nada de útil dela pode ser retirado.

Esse processo inicial de vê-la conforme é, proporciona estímulos para a mudança de comportamento, a aceitação de novos exercícios de despertamento, liberando grande quantidade de energia armazenada, que se encontrava impedida de funcionar em razão dos mecanismos de fuga da realidade.

O próximo passo é a destruição da identidade de preguiçoso, de doente ou inútil, experimentando a alegria que decorre do ato de servir, dos instrumentos ativos para a produção de tudo quanto signifique realização pessoal.

Em seguida, caem os antolhos que dificultam a visão global da vida, o ego cede lutar à necessidade de convivência e de compreensão fraternal, abrindo espaços emocional e mental para mais audaciosas realizações.

Certamente, não se trata de uma simples resolução com efeitos imediatos, miraculosos, que não existem, porque após largo período de ociosidade, todo o organismo emocional e físico encontra-se com limites impostos pela lassidão.

É necessário que as leituras edificantes passem a influenciar os painéis mentais, e as velhas histórias de auto-compaixão a que se estava acostumado, fazendo parte do cardápio existencial, cedam lugar aos estímulos da boa convivência social e afetiva, motivando aos avanços constantes.

Nesse sentido, a oração e a bioenergia oferecem recursos inestimáveis, ao lado de uma psicoterapia baseada em labores bem-direcionados, a fim de que o paciente volte ao mundo real com nova disposição, encontrando estímulos para prosseguir no próprio trabalho realizado.

A atividade bem-dirigida constitui lubrificante eficaz nos mecanismos orgânicos e nos implementos mentais, estimulando as emoções agradáveis de modo que se consiga a saúde integral.