A fatal idade biológica estabelece que tudo quanto nasce, morre.
O processo de desenvolvimento celular, nas suas contínuas transformações, alcança um momento no qual cessa, dando início a outra ordem de fenômenos transformadores.
Por mais envolta em mitos e tradições, mascarando-se e confundindo o pensamento humano, a morte consiste na interrupção dos procedimentos vitais que mantêm o organismo em atividade, determinando-lhe a cessação.
Desde os primórdios do pensamento, que se tem conhecimento de que a morte se afigura como parte da vida, por uns considerada como etapa final do ser e por outros aceita como inevitável, ensejando novas experiências transcendentais.
No arquipelago constituído por aproximadamente setenta trilhões de células que constituem o corpo humano adulto, as suas transformações apresentam-se incessantes, de forma que a complexa máquina orgânica prossiga em trabalho harmônico.
A cada segundo morrem trinta milhões de hemácias que são substituídas por outras.
Da mesma maneira, em cada quinze minutos, uma parte expressiva do corpo cede lugar a outra substituta, graças à qual a vida prossegue inalterada.
A memória das células, por meio de admirável automatismo, repete as experiências das anteriores, de maneira que os fenômenos que produzem continuem no mesmo ritmo, até o momento quando, perdendo-a, por fatores diversos, abre espaço à multiplicação desordenada que dá origem aos tumores...
Preservar o corpo dos agentes destrutivos tem sido a luta da inteligência, hoje através da Ciência e da Tecnologia, de maneira a mantê-lo saudável e operacional, facultando prazer e felicidade.
Apesar disso, o mistério da morte - o que acontece durante e depois dessa etapa — ensejou à Filosofia as reflexões que deram margem ao surgimento de inúmeras escolas de estudos, de debates, de lutas, algumas encarniçadas...
Se, de um lado, quando ocorrem insucessos e sofrimentos na existência, a busca da morte tem sido algo perturbador, como solução enganosa, em luta feroz contra o instinto de conservação, sob outro aspecto, persiste um desejo predominante em a natureza humana para dribrá-la, prolongando a vida e tornandoa eterna no corpo físico...
Há uma tradição na Odisseia, em que as sereias invejaram Ulisses por ser ele mortal, enquanto elas permaneciam nesse estado saturador de imortalidade física.
Por outro lado, nas Viagens Maravilhosas de Gulliver, este visita um país no qual em cada cem anos nascia uma geração de imortais físicos.
Como era natural, Gulliver desejou conhecer alguns daqueles que haviam superado a fatalidade biológica, sendo levado a uma enfermaria onde estavam os macróbios multisseculares, em estado deplorável de degeneração orgânica, com os membros deformados, decompondo-se em vida, em razão da putrescibilidade da matéria de que se constituíam.
É de todo inevitável a desorganização dos tecidos fisiológicos em face da transitoriedade de que se constituem.
Após o nascimento do corpo, a fatalidade biológica, responsável pelas transformações, leva-o ao amadurecimento, à velhice e à morte das suas formas.
Neste mundo relativo, toda organização tende à desagregação imposta através da Lei de Entropia, responsável pela quantidade de desordem de qualquer sistema.
Dessa maneira, toda forma organizada marcha para o caos.
Não poderia o corpo humano, em caráter de exceção, encontrar energia suficiente para uma infinita permuta de calor que se fizesse responsável pela manutenção do seu sistema, da sua organização molecular.
E necessário que haja a morte orgânica, a fim de que ocorram alterações, aperfeiçoamentos.
Tem sido por meio do processo nascer, viver, morrer, que as formas aprimoraram-se através dos milhões de anos, em sucessivas experiências, agasalhando o princípio espiritual que as vem modelando, na busca de melhor estrutura e mais perfeita harmonia.
Morre uma organização celular, facultando o surgimento de outra, como acontece com a planta vergastada pela tormenta que, logo após, se renova com exuberância.
Essa sombra, conforme Platão denominava o corpo, é temporária residência do ser, o Espírito imortal.
A consumpção, porém, é apenas aparente, porquanto as moléculas que o constituem voltam a reunir-se formando outras expressões materiais.
O aniquilamento é pobre visão dos débeis órgãos dos sentidos.
O importante, dessa forma, durante a existência física, não é a durabilidade em que se estrutura, mas a maneira como é vivida em profundidade, mediante a conscientização de cada momento, exornando-a de beleza e de alegria.
O temor da morte, por um lado, é resultado de atavismos arcaicos, dos pavores das forças ignotas da Natureza, quando o homem primitivo lhes sofria o terrível guante, dos medos das eternas punições, sem misericórdia nem compaixão, das fantasias perversas que foram inculcadas através dos milênios na mente humana.
Por outro, é também o receio do enfrentamento da consciência que se desvela, por ocasião do renascimento espiritual além das cinzas e do pó orgânicos, desnudando o ser.
Ainda pode resultar da cultura materialista, que a considera como o apagar da memória, da inteligência, o destruir da razão, dessa maneira, o retorno ao nada...
O quimismo cerebral, por mais se estabeleçam teorias em torno da sua responsabilidade na construção do pensamento, da consciência, da razão, não consegue oferecer a visão real em torno da lógica do existir, dos raciocínios abstratos, como resultado de conexões neuroniais, facultando elucubrações e concepções audaciosas.
O cérebro não produz a mente, razão pela qual a sua morte não deve constituir motivo de temor.
Transtornos depressivos graves também ocorrem como efeito do pavor da morte, induzindo os pacientes a fugirem das reflexões saudáveis para mergulhar, embora sem o desejar, naquilo que receiam.
A única atitude lógica diante da morte é a fixação na vida e nas suas concessões, experiênciando cada momento de forma adequada, mesmo quando tudo aparentemente conspira contra essa atitude.
No diálogo com os seus juízes, Sócrates assim se expressa:
"De duas uma: ou a morte é uma destruição absoluta, ou é passagem da alma para outro lugar.
Se tudo tem que extinguirse, a morte será como uma dessas raras noites que passamos sem sonho e sem nenhuma consciência de nós mesmos.
Porém, se a morte é apenas uma mudança de morada, a passagem para o lugar onde os mortos se têm de reunir, que felicidade a de encontrarmos lá aqueles a quem conhecemos! O meu maior prazer seria examinar de perto os habitantes dessa outra morada e de distinguir lá, como aqui, os que são dignos dos que se julgam tais e não o são.
Mas, é tempo de nos separarmos, eu para morrer, vós para viverdes. " (KARDEC, Allan: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução.)
Não se pode estabelecer por definitivo quando ocorrerá a disjunção molecular.
Fatores complexos, que procedem de existências transatas e realizações atuais, postergam ou antecipam o instante da desencarnação, que pode ser por procedimentos fatais, denominados como tragédias, ou acidentes de qualquer natureza, mediante o curso de enfermidades de breve ou de larga duração.
Indispensável estar-se consciente da ocorrência que terá lugar no momento adequado, nada obstante, sem assumir qualquer tipo de expressão de infelicidade ou de desgosto.
O suceder do tempo é instrumento de aproximação do momento libertador.
Quanto mais se vivência o corpo, mais próxima se encontra a ocasião transformadora da sua estrutura.
Eis por que se deve viver em harmonia em todos os instantes, acumulando experiências, adquirindo sabedoria, evitando ideações perturbadoras que sempre se transformam em conflitos e desequilíbrios.
Quando se está diante de acontecimentos inesperados, tornase indispensável a manutenção do pensamento em torno da brevidade do corpo e da perenidade do Espírito, preparando-se para que, a qualquer instante, haja a interrupção do fluxo vital.
As enfermidades, quando se instalam, apresentando-se como veículo da futura disjunção celular, sempre produzem estados inquietadores, especialmente naqueles que consideram a viagem carnal como única.
Ao tomar conhecimento do diagnóstico afligente de terapia não solucionadora, é normal que, no indivíduo desprevenido, irrompa um sentimento de ira, de revolta contra o mundo, as demais pessoas ou si mesmo, em mecanismo tormentoso de transferir culpas e responsabilidades, como se não viesse a ocorrer o mesmo drama além das suas fronteiras.
Nesse estágio, as interrogações são injustificadas: Por que eu?
Com tanta gente no mundo, logo eu, que fui acometido dessa doença perversa?
Em realidade, milhões de outros indivíduos experimentam o mesmo transe, porque a enfermidade faz parte do processo de degenerescência do corpo.
Algumas já se encontram eficazmente combatidas, enquanto outras somente agora estão sendo detectadas, graças aos equipamentos sofisticados, ao conhecimento mais profundo sobre o organismo, e outras ainda são de origem recente, em decorrência de fatores igualmente destruidores.
E comum suceder nesse período um sentimento de negação da doença, como reação ao que se considera como uma injustiça da vida ou da Divindade, quando o paciente vincula-se a alguma crença religiosa teórica.
Porque o problema permanece, mesmo sem superar essa fase, o doente entra em um outro comportamento, que é o de falsa esperança em torno de alguma solução, em vã expectativa de milagre ou terapêutica ainda não tentada, que ocasionará a reconquista da saúde, que nem sempre mereceu os cuidados adequados enquanto vigia no organismo.
Portadores de problemas causados pela drogadição, pelo alcoolismo, pelo tabagismo, sempre quando se encontram sob o látego rigoroso dos processos degenerativos, consequência do vício infeliz, costumam justificar-se que já o abandonaram e não compreendem como se encontram numa situação deplorável dessa natureza.
Não se querem dar conta de que o mecanismo de destruição foi de largo porte e já realizou o seu mister.
Desvincular-se do vício não proporciona recuperação dos tecidos gastos, daqueles que foram destruídos, dos danos causados de maneira irreversivel.
Apenas faculta alguma sobrevida assinalada pelo sofrimento, pela amargura que provém do arrependimento tardio.
Surgem, normalmente, nessa oportunidade, amigos desavisados que apresentam propostas ilusórias, facultando negociações com o Criador, como se a transformação moral do indivíduo não fosse um processo edificante para ele mesmo.
Ficalhe então a falsa ideai de que havendo uma modificação no comportamento moral e mental, através de promessas que certamente não serão cumpridas, advirá a alforria, e a morte não terá o seu curso natural.
Como consequência, porque não ocorre nenhuma transformação conforme esperava, o desânimo se apossa do paciente, que entra em depressão e mágoa, enquanto silenciando e fechando-se em angústia, como se essa atitude pudesse trazerlhe conforto e libertação.
Toda a existência deve ser utilizada para vivenciar-se o processo de evolução, e não apenas para deixar-se arrastar pelas sensações do prazer em espetáculos de egoísmo incessante, longe da responsabilidade e dos deveres morais.
Por fim, o paciente desperta para a realidade do que lhe sucede e permite-se conduzir pelos processos naturais do organismo, algumas vezes adquirindo forças e resignação, também decorrentes do auxílio que lhe é ministrado pelos Espíritos guias que o preparam para a libertação que não tardará.
A morte física deve ser sempre encarada como fenômeno normal, que o é, do processo existencial...
Quando ocorram distúrbios orgânicos prenunciadores da desencarnação, que não se façam acompanhar de dissabores nem de sofrimentos demasiados, transformando a ocorrência em maravilhoso dom de espera, fruindo-se as concessões da vida, que prossegue e pode ser experiênciada de outra maneira que não a habitual.
Quando o príncipe Sidharta Gautama realizou a sua viagem pelo interior do seu país, a fim de conhecer a vida, ao defrontar a velhice, a enfermidade e a morte, compreendeu de imediato a vacuidade das ilusões, e buscou interpretar o sentido existencial, o objetivo psicológico da caminhada humana.
Reflexionando, mergulhando no profundo abismo de si mesmo, constatou que tudo são sofrimentos necessários ao aprimoramento do ser rea l — o Espírito imortal!
Todo indivíduo inteligente deve interrogar-se em torno da transitoriedade do corpo físico e dos objetivos da vida humana, meditando com equilíbrio, a fim de encontrar as respostas sábias para aplicá-las no cotidiano.
Uma doença grave, uma paralisia, uma amputação ou qualquer outra ocorrência prenunciadora de morte não deve destruir ou perturbar os dias de que se dispõe, sendo viável que o paciente adote uma conduta edificante, propiciadora de bem-estar para si e de satisfação para aqueles com os quais convive.
A morte não tem o direito de esfacelar os afetos, de desarmonizar os sentimentos, de perturbar a marcha da evolução, porque, em vez de destruir a vida, somente transfere o viajante para outra dimensão, para outra realidade, facultandolhe a continuação dos anelos, o prosseguimento da afetividade, a ampliação da esperança em torno de melhores dias do futuro.
E normal que, desejando-se viver, a velhice, a enfermidade e a morte sigam empós.
Há muita beleza em todas as expressões da vida, particularmente na etapa terminal da existência, bastando que se adquira a óptica própria e se adaptem os sentimentos à situação na qual se transita.
Psicologicamente, a felicidade pode apresentar-se de maneiras variadas, apenas alterando a face da realidade que se deve adaptar às circunstâncias do momento.
O corpo é, portanto, abençoado presídio celular temporário que retém o Espírito, impedindo-lhe a lucidez plena da realidade, facultando-lhe o germinar das divinas potências que lhe jazem adormecidas no imo e que procedem de Deus, herdeiro que é das Suas sublimes concessões.
A morte, desse modo, deve ser cuidadosamente estudada e comentada em todas as oportunidades existenciais, a fim de que seja liberada dos artifícios que lhe foram colocados pela ignorância e pelas religiões do passado.
Fazendo parte do processo normal da vida, não pode ser deixada à margem dos acontecimentos, como se merecesse consideração apenas quando se apresenta, arrebatando um ser querido ou anunciando-se como preparada para conduzir o próprio indivíduo.
Educando-se o cidadão com vistas ao seu triunfo social e econômico, moral e cultural, é necessário colocar-se também em pauta uma programação para a conscientização em torno da morte, tendo em vista ser uma fatalidade da qual ninguém se livra.
Preparando-se para morrer de maneira digna e natural, o ser humano altera completamente a paisagem social em que se encontra, por estabelecer condições para que o fenômeno transcorra sem choque nem traumatismo, ante a certeza do reencontro que facultará o prosseguimento das afeições, a liberação das mágoas, a ampliação da capacidade de compreender e de desenvolver os valores espirituais que exornam a todos.
Muitos males podem ser evitados, quando se estabelece um programa consciente para a morte, que faculta aquisição de recursos morais de imediata aplicação, capacitando o ser humano para a compreensão da jornada efêmera em que se encontra e do prosseguimento da realidade que enfrentará após o despir dos trajes orgânicos.
Mantida como um mito que somente alcança os demais, sempre quando se anuncia, causa pânico, revolta, desequilíbrios outros que esfacelam os ideais em que se apoiam os indivíduos, quando não os precipitam, paradoxalmente, na sua direção, mediante atitudes perversas das extravagâncias com as quais se pretende desfrutar os últimos dias de vida ou o hediondo suicídio...
Esse engodo em torno da perenidade do corpo tem sido responsável pela amargura em que muitos se afundam quando convidados a reflexionar em torno da morte de outrem que lhe é querido, ou tem-se tornado responsável pelo desequilíbrio de diversos, não raro arrebatando outras existências também, que não se conformaram com a ocorrência previsível...
A inevitabilidade do acontecimento exige que se tenha sempre em consideração o seu impositivo, de modo que as ilusões cedam lugar à realidade, e mesmo as fantasias que constituem recurso de devaneio e de prazer para muitos, sejam diluídas sem aflições nem desencantos.
Dessa maneira, surgem os compromissos com os atos saudáveis, os pensamentos corretos e as confabulações edificantes, propiciando valores emocionais que libertam das injunções fisiológicas após a ocorrência libertadora.
Quando isso não se dá, as fixações doentias, os hábitos insanos, as condutas perturbadoras atam o Espírito a essas e outras paixões, proporcionando-lhe sofrimentos inimagináveis, até que se diluam os vestígios materiais pela decomposição cadavérica.
Mesmo quando isso ocorre, as impressões permanecem dando a ilusão de que não houve a interrupção da organização material, e o Espírito, alucinando-se, nega-se a compreender o estado em que se encontra, tombando em distúrbios complexos e aflitivos.
O amadurecimento psicológico do indivíduo trabalha-o para considerar que, por mais longa se lhe apresente a existência, chegará sempre o momento em que será interrompida, e, dessa forma, equipa-se de sentimentos de renúncia e de abnegação, tornando-se grato pelas experiências adquiridas, assim como anelando pela conquista de outras realizações enobrecedoras.
A saúde emocional legítima examina o fenômeno desencarnatório sem abrir campo a qualquer tipo de transtorno, proporcionando uma vivência significativa e profunda de cada instante, de cada realização, de todo sentimento expresso.
A conscientização, portanto, em torno da efemeridade da vilegiatura carnal, amadurece os sentimentos, que se desapegam da posse e superam os caprichos do ego, dando maior valor às realizações do Self, que passa a merecer melhor contribuição de esforços e de atividades iluminativas.
A psicoterapia preventiva trabalha em favor da autoconsciência em torno da vida e da morte, constituindo a realidade única, a imortalidade do Espírito.
A psicoterapia curadora, quando a morte ameaça ou arrebata alguém muito caro, propõe o despertar da razão, sem pieguismo nem rebeliões, objetivando a análise direta e sem disfarce das vantagens de que se reveste a diluição do corpo, candidato ao envelhecimento, às desorganizações, à perda da estrutura com que se apresenta.
Livre do medo da morte, o cidadão avança pelos rios do destino na barca da autoconfiança, desbravando os continentes existenciais com alegria, sem qualquer tipo de limite, porque o seu horizonte é o Infinito para onde ruma.
Joanna de Ângelis, que realiza uma experiência educativa e evangélica de altíssimo valor, tem sido, nas suas diversas reencarnações, colaboradora de Jesus: a última ocorrida em Salvador (1761 - 1822), como Sóror Joana Angélica de Jesus, tornando-se Mártir da Independência do Brasil; na penúltima, vivida no México (1651 - 1695), como Sor Juana 1nésde la Cruz, foi a maior poetisa da língua hispânica.
Vivera na época de São Francisco (século XIII), conforme se apresentou a Divaldo Franco, em Assis.
Também vivera no século I, como Joana de Cusa, piedosa mulher citada no Evangelho, que foi queimada viva ao lado do filho e de cristãos outros no Coliseu de Roma.
Até o momento, por intermédio da psicografia de Divaldo Franco, é autora de mais de 60 obras, 31 das quais traduzidas para oito idiomas e cinco transcritas em Braille.
Além dessas obras, já escreveu milhares de belíssimas mensagens.