Conflitos Existenciais - Série Psicológica Vol. 13

CAPÍTULO 9

Crueldade



Psicogênese da crueldade

Na raiz da crueldade existe um transtorno profundo da personalidade.

Essa alienação perversa origina-se em conduta criminosa vivenciada em existência pretérita, quando o Espírito, sentindo-se injustiçado por não entender as leis de equilíbrio que vigem no Cosmo, tomou a adaga da falsa justiça e desforçou-se de quem acreditou ser responsável pela sua desdita.

Possivelmente o crime não foi desvelado, ficando, no agressor, as marcas do sentimento perverso que ora ressumam em crueldade.

Também é provável que a Justiça haja descoberto o homicida e tenha-o levado ao tribunal para prestar contas à sociedade, após o que lhe foi aplicada a punição compatível, conforme os cânones legais.

Nada obstante, em vez de o calceta utilizar-se da corrigenda para o refazimento emocional, descambou pelos sombrios corredores da revolta e, na convivência com outros companheiros igualmente desditosos, introjetou o veneno do ódio, mais infelicitando-se.

Na atualidade, encontram-se-lhe assinaladas na conduta as reações de mágoa e de vingança contra a Humanidade, que passou a detestar.

Convidado ao renascimento, imprimiu nos tecidos sutis do cérebro as impressões grotescas que lhe influenciam as conexões neuroniais, dando lugar a uma personalidade alienada, insensível, hedionda.

Em face da Lei de Causa e Efeito, renasceu em um lar desagregado, a fim de experimentar os efeitos infelizes das suas ações nefastas, padecendo a injunção de sofrimentos impostos pela máe enferma ou alcoólica, do pai desarvorado e destituído de compaixão, que lhe aplicaram injustificadas punições ou o expulsaram do lar, atirando-o na voragem das ruas infectas e sombrias da criminalidade.

Sob outro aspecto, num ambiente mais róseo, econômica e moralmente, desenvolveu a inveja e a amargura, não conseguindo superar a inferioridade espiritual que o precipitou novamente nos desvãos da perversidade, cultivando desdém contra as demais criaturas, desejando crivá-las de espículos dolorosos.

Em alguns quadros da esquizofrenia, encontramos o paciente perverso, que é totalmente destituído de sentimento de culpa ou de consciência de dever, mantendo-se impassível diante do mais tenebroso comportamento que se permite.

Com imensa capacidade de dissimular os sentimentos, pode manter-se e conduzir-se de maneira afável quanto gentil assumindo uma personificação saudável - para logo expressar-se na sua realidade cruel, quando maltrata e predispõe-se a dizimar aquele contra quem volta o temperamento doentio.

A ausência de amor real, especialmente procedente da genitora, produziu-lhe desvios emocionais, em face de o cérebro padecer a escassez de progesterona e serotonina, que lhe alteram a formação saudável, desarmonizando-lhe as sinapses.

Eis por que, normalmente, o criminoso rude e cruel é fruto de uma convivência infeliz com a mãe desnaturada, que não teve condições de amar ou atender o filho, aplicando-lhe sovas contínuas, agredindo-o com expressões danosas, desenvolvendo nele a capacidade de odiá-la, que se refletiu na sociedade, que ao enfermo emocional também parece culpada pelos sofrimentos experimentados.

Toda vez quando agride ou fere, mata ou estupra, no seu inconsciente está fazendo-o à mãe ou ao pai detestados, que pretende destruir.

De alguma forma, essa é a história de criminosos seriais, de bandidos profissionais remunerados para o crime, que apresentam altíssimo índice de crueldade, sem que se dêem conta do estado em que se encontram.

As punições legais que lhes são aplicadas, infelizmente, nada conseguem no que diz respeito à sua modificação emocional.

Mais correto seriam as tentativas de tratamento psiquiátrico, para torná-los úteis, no cerceamento à liberdade, pelo menos a si mesmos e, mais remotamente, à sociedade, à qual não se sentem vinculados.

Em pessoas de comportamento normal, porém, sem resistências emocionais nem espirituais, a ingestão do ódio, em face de preconceitos e injustiças que lhes são impostos, pode desenvolver a crueldade sobrecarregada com o peso da culpa e da auto compaixão, que lhes tornam o fardo ainda mais afligente.

Na amargura que as domina, surgem crises de arrependimento e, muitas vezes, formulam propósitos de renovação, que se podem fixar quando encontram apoio, afetividade e compreensão fraternal.

A crueldade é morbo terrível que ainda assola muitas emoções.


Desenvolvimento da crueldade

Em face dos conflitos que se generalizam nas criaturas humanas, o enfermo emocional quase nunca encontra entendimento ou fator que lhe desperte os sentimentos embotados.

Conseguindo captar simpatias, aparenta ser portador de comportamento normal, não deixando transparecer o que se lhe passa no íntimo.

Pequeno incidente, porém, no trato com os demais, pode atear a labareda que o incendeia, irrompendo o desejo de punir quem lhe criou qualquer embaraço real ou imaginário.

Dissimula, então, o impulso infeliz e planeja, não poucas vezes, com riqueza de detalhes, a melhor maneira de infligir-lhe sofrimentos, experimentando bem-estar antecipado ante a perspectiva do êxito que o transforma em sadista.

Naturalmente, essa conduta cruel teve manifestações na infância, quando cominou padecimentos a aves e animais outros, a crianças que maltratou, desenvolvendo uma indiferença por tudo e por todos, que o imunizou à emoção e à piedade.

Diferindo de outros psicopatas, não foge ao convívio social, que no íntimo despreza, para poder estar mais próximo das futuras presas que elege, motivado pela inveja, pelo despeito ou simplesmente porque se encontra ao lado de alguém, que está no momento errado, no lugar equivocado...

Quanto mais se aplica à crueldade, o doente mais adquire habilidade para ocultá-la e torná-la pior, ela alcançando níveis perversos impensáveis pela mente saudável.

Surpreendido, nos primeiros tentames, não tem explicação plausível para a morbidez, nem justificativa coerente para a ação nefária.

O prazer decorrente do crime oculto estimula-o ao prosseguimento da ação doentia, não se detendo diante de novos cometimentos infelizes.

Portador de vida interior muito ativa, em face da conduta que se permite, é sagaz e rápido no raciocínio, escamoteando a verdade e comprazendo-se em iludir até tombar nas armadilhas que programa para os demais.

Não experimenta qualquer arrependimento pelos atos praticados, o que o leva a ceifar a vida de pessoas que deveriam ser queridas: genitores, familiares outros, amigos, com a mesma indiferença com que interromperia a existência de um ser abjeto.

Nem todos, porém, são induzidos ao homicídio, podendo permanecer na periferia da prática hedionda, maltratando, de maneiras outras, aqueles que se lhes acercam, mediante indiferença real ou bem-trabalhada, desdenhando os valores morais e sociais que dignificam a Humanidade, fazendo-se hábeis na arte de ironizar e mentir, colocando-se acima do Bem e do Mal, como se fossem inatingíveis no ignóbil procedimento a que se entregam.


Allan Kardec, na questão de n° 752, interrogou as Entidades venerandas:
"Podemos ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição?"

Recebeu como resposta sábia: É o próprio instinto de destruição no que ele tem de pior, porque se a destruição é, às vezes, necessária, a crueldade jamais o é.

Ela é sempre a consequência de uma natureza má?

Os indivíduos cruéis são sonâmbulos emocionais que torpedeiam quanto podem os objetivos nobres e dignificadores da espécie humana.


Terapia para a crueldade

Diante desses infelizes infelicitadores são necessárias condutas de segurança moral, a fim de que as suas provocações bemurdidas não se transformem em razão de sofrimento ou de angústia geral e /ou pessoal.

Credores de compaixão, mais necessitados se encontram de tratamento cuidadoso, mediante psicoterapias especializadas, nas quais o psicoterapeuta pode recorrer à regressão de memória, para diminuir-lhes o fluxo dos sentimentos contraditórios que ressumam do inconsciente, alterando-lhes as fixações de perversidade como mecanismo de vingança infeliz.

Praxiterapias valiosas, bem aplicadas, conseguem gerar interesse por atividades dantes desconsideradas, desviando a mente da obstinação cruel.

Conflitos Existenciais Conversações pacientes e contínuas, músicas relaxantes, danças e todo o arsenal psicoterapêutico ao alcance dos nobres psicólogos, conforme a Escola a que se vinculem, são recursos valiosos para auxiliar o paciente cruel.

Em casos especiais, a terapia psiquiátrica auxiliará na regularização das neurocomunicações, restabelecendo, a longo prazo, o correspondente equilíbrio.

Ao mesmo tempo, a terapêutica espírita da bioenergia consegue efeitos salutares, por alcançar os delicados campos de energia no Espírito reencarnado, renovando-lhe o raciocínio e orientando-o.

Muito provavelmente, nos casos de crueldade, encontram-se vinculados os Espíritos que foram vítimas do paciente e dele se utilizam para o comércio doentio da vampirização, roubando-lhe forças preciosas e vingando-se, dessa forma, do padecimento que lhes foi imposto.

Nesse caso, as atividades de desobsessão constituem recurso inabordável, rico de valiosos processos libertadores, em face dos diálogos que podem ser mantidos com os enfermos desencarnados, auxiliando-os no entendimento das Leis Divinas e quanto à necessidade de também alcançarem a felicidade que lhes está reservada.

Unindo-se, portanto, os recursos terapêuticos das doutrinas psicológicas com aqueles do Espiritismo, o paciente torna-se o campo experimental positivo, no qual o amor e a caridade dão-se as mãos para auxiliar, rompendo as algemas do passado e delineando a paisagem feliz do futuro.

Todos os indivíduos, compreensivelmente com as suas exceções inevitáveis, experimentam, uma que outra vez ou com certa insistência, repentinas crises de crueldade, quando são agredidos, maltratados ou discriminados...

Conveniente a manutenção da terapia preventiva, mediante a reflexão ponderada, a meditação, a oração e a prática incessante da caridade, que robustecem os sentimentos e aumentam a capacidade de resistência pessoal à invasão dos agentes destrutivos da saúde e da paz.