Herança da natureza animal predominante no ser humano, a tendência ao litígio, à competição, à dissensão torna-se, a pouco e pouco, com essa característica do primarismo de que não se libertou, agressiva e hedionda.
Dissentir é, muitas vezes, uma atitude saudável, quando não se está de acordo por uma ou outra razão.
No entanto, transformar a sua discordância em motivo de litígio é injustificável, somente compreensível por tratar-se de remanescente da inferioridade moral do opositor.
A fim de manter o seu ponto de vista, o litigante, não raro, urde mecanismo de violência, recorrendo à calúnia, à infâmia, à agressão inqualificável.
Vestígio das fases iniciais da evolução, na luta pela vida, o ser racional permanece, quando assim se encontra, em atitude de autodefesa, em razão da insegurança em que se demora, partindo para a agressividade, para o litígio perturbador, no qual o ego predomina e se satisfaz.
À medida que o adversário vê o triunfo do outro, aquele a quem combate, mais impiedoso se torna, recorrendo a expedientes de desmoralização, pela impossibilidade de superá-lo através dos valores do Espírito.
Ontem, eram utilizados a tocaia, o duelo, o combate físico para atender as paixões inferiores.
Hoje, guardadas as proporções, ainda se utilizam de equivalentes recursos, à socapa, sob disfarces de defesa dos nobres ideais, para alijamento dos perigosos inimigos, que são aqueles aos quais combatem.
Os litígios são reminiscências do passado, sinais de identificação do atraso em que permanece grande número de membros da sociedade humana.
Não estranhes, no ideal a que te entregas, a presença do opositor, o desafio para litígios.
Não se encontram esses companheiros lutando pela causa que dizem defender, antes laboram estimulados pela inveja, pelo despeito, pelo amor-próprio ferido.
Sentindo-se inferiorizados, exaltam-se, exibindo e esgrimindo as armas da arrogância, da crueldade, anelando pelo sofrimento, pela ruína, pela queda do outro, daquele a quem elegeu para derrotar.
De forma alguma, dê-lhes espaço nos teus sentimentos.
Quem se dispõe a uma tarefa de enobrecimento, equipa-se de coragem para arrostar as consequências da decisão e da ação.
Ignora, portanto, aqueles que se te fazem crucificadores, mesmo quando disfarçados de benfeitores, de defensores da verdade a verdade deles...
Silencia e prossegue.
Retifica o que se te apresente equivocado, dúbio, incorreto e faze o melhor ao teu alcance.
Sempre haverá razões para os litigantes.
Eles vivem emocionalmente das polêmicas que sustentam.
Afinam-se uns com os outros, até o momento em que se desavêm, pois não conseguem viver sem impor-se, sem chamar a atenção, sem o alimento da presunção...
A morte, que te tomará o corpo, buscá-los-á também, e passarão esquecidos, ou recordados somente por aqueles com os quais mantêm afinidade.
Além da cortina de sombras do corpo, eles mudarão a forma de pensar, de entender, de comportar-se, e se recuperarão.
Jesus não transitou no mundo sem os sofrer.
A cada passo enfrentava-os, era desafiado pelos litigantes.
Allan Kardec também os encontrou entre aqueles que se diziam filiados à Doutrina de que ele se fizera o codificador.
Todos os homens e mulheres de bem lhes experimentam a militância, a oposição.
Sê tu aquele que não litiga, mas faz o bem; que não revida, porém permanece com firmeza no ideal até o fim da existência física.
Divina Energia tudo penetra suavemente, enriquecendo de vitalidade todos os organismos que a recebem.
Quando alguém se desloca emocionalmente para as áreas da perturbação, das discussões inúteis, dos campeonatos do ego, deixa de beneficiar-se com o seu tônus, passando a produzir toxinas e venenos que desarmonizam os delicados equipamentos orgânicos.
Nunca faltam motivos para disputas renhidas de resultados perturbadores.
A sabedoria dos que se elevam acima das mesquinharias da vaidade e da presunção nunca se detém nos pauis que produzem intoxicação e morte.
Ceder espaços e tempo da emoção para justificar-se, impor-se, responder críticas, constitui recurso daninho, que cedo se converte em desconcerto interior.
A consciência da ação correta não se compadece com a anarquia, a perseguição gratuita da ociosidade.
Paira, inalterada, em sintonia com as forças vitalizadoras do Bem, que proporcionam saúde e paz.