Luz Imperecível

CAPÍTULO 69

VONTADE DIVINA E REALIZAÇÃO



Mt 12:50


Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe.

PORQUE, QUALQUER QUE FIZER - Não há distinção. Não é o participante deste ou daquele grupo religioso. Qualquer. Lembremo-nos do convite: se alguém quiser vir após mim. (Mt 16:24) . Fazer: realizar, materializar, dar expressão. Muitos ficam na intenção. Segundo O Livro dos Espíritos, Deus juga as intenções, mas recompensa de acordo com as obras. Não valem o pretendo, tenho vontade, se pudesse.

Em face dos conhecimentos que hoje nos felicitam, o Livre-Arbítrio, a se estender pelos meandros das circunstâncias de cada instante, passa a ter um significado mais amplo, a exigir critério e discernimento na escolha e encaminhamento das experiências. O Evangelho, como código de afirmação de vida, está sempre propondo redirecionamento de postura nas ações diárias, como medida saneadora da consciência e direcionadora do Espírito para pisos mais elevados.

A VONTADE DE MEU PAI - Os discípulos procuram cumprir as instruções do Senhor. Na ânsia de aprender, alunos e Mestre estão sintonizados. Jesus ministra um curso de Espiritualidade, ensina e exemplifica, conferindo, assim, novas dimensões à vida e à criatura. Como aprendemos em João: Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. (Jo 6:38) o objetivo de Jesus era fazer, e continua sendo, as determinações do Pai. Sintonizando-nos com Ele, estaremos fazendo o mesmo e passamos a ser seus irmãos.

Aderindo ao sistema da evolução consciente estará o ser aceitando como premissa da nova vida o seu ajuste às determinações do Criador. São os clamores do coração, visitado pelos padrões assimilados, convocando-o a operar, sob a claridade do conhecimento incorporado. A fixação do objetivo e a determinação em alcançá-lo, constituem a força que superará o desânimo ou a ansiedade no caminho a percorrer. É esta força que, na forma de comando direcionador e operacional, proporcionará que cada qual atue em consonância com os ditames de Deus, recolhendo Dele os caracteres da redenção.

QUE ESTÁ NOS CÉUS, - Plural, porque não se refere apenas aos planos espirituais mais elevados, mas a todas as expressões da natureza que mostram a realidade e a presença de Deus. Onde está o equilíbrio, o belo, o harmonioso, aí se encontra Deus.

Ao buscá-Lo em nossas reflexões movimentamos o espelho da alma, ajustando-o na direção do mais Alto. Neste divino movimento, abrem-se para o espírito, ao nível das vibrações, as faixas representativas dos céus, em cujas reentrâncias identificamos o Pai Celestial dentro de nós mesmos, a irradiar mor, trabalho, esperança, segurança, reconforto, bem estar. em abençoada indução às mudanças de comportamento e consequente sensibilização para o cumprimento da parte que nos cabe na obra da criação. Ajustando-nos a tais imperativos no laboratório da existência, para além das intenções, estaremos sintonizando com o pensamento Dele, em suave transporte de júbilo espiritual.

ESTE É MEU IRMÃO, E IRMÃ E MÃE. - Os liames consanguíneos ficam restritos à sua verdadeira função. União temporária de espíritos, geralmente devedores, com vistas ao aperfeiçoamento de cada um.

Neste ponto temos muito valorizada a atuação de Maria, Legítima irmã espiritual do Divino Mestre. Aceitando a missão de ser mãe Dele, realizava a vontade de Deus junto a nós. Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. (Lc 1:38) . Preciosa lição de despego, de Amor fraterno, de universalismo: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do Evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no século futuro a vida eterna. (Mc 10:29 e Mc 10:30) . E, ainda: Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; (Mt 5:5) . Sob este aspecto, quando notamos que uma pessoa não é ambiciosa; interessa-se só o que é seu; se satisfaz com o necessário, confiamo-lhe os bens, certos de que não lhe ocorrerá a cobiça de se apropriar deles. Por isso, os mansos herdarão a terra. Assim, o que não é ganancioso se beneficia com o que é do irmão. O egoísta se limita, se restringe. Quem sabe renunciar ou só se prende à Lei do Uso, se inicia para a comunidade.

Com os parentes se dá a mesma coisa. Sentimo-nos bem na casa de nosso próximo. Todos nos acolhem com alegria, quando o sentimento do nosso substitui o meu.

Como foi dito podemos ter a mãe do semelhante como nossa mãe; a filha, como nossa filha; a irmã, como nossa irmã. Há a ampliação do conceito da família, no pensamento e na realidade. E de propriedade também. E isso se dá no mundo material, desde já, como também na pátria espiritual. As perseguições surgem por causa da incompreensão, do egoísmo feroz, do desejo de posse.

Finalmente caminhamos para a época de compreensão, já preconizada por Paulo: Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais; aos mancebos como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, em toda a pureza (1TM 5:1-2).

Extraordinário tempo em que os mais velhos serão tidos como nossos pais e mães; os mais ou menos de nossa idade, como irmãos e irmãs; os mais novos, como filhos e filhas. Antes de ser conquista de uma comunidade, será o apanágio de cada um. Fruto do esclarecimento.

A exemplificação do que foi dito, temos no Calvário: Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa. (Jo 19:26-27).

Ora, se o Mestre tivesse outros irmãos, certamente confiaria a eles a custódia de sua mãe.

Quanto ao temo mulher, era, na época, a palavra mais respeitosa com que um homem podia se dirigir ao elemento do sexo feminino. Assim, dirigiu-se Jesus, de outra feita, à sua mãe: mulher, eu tenho eu. (Jo 2:4) .

A abordagem desse assunto por Jesus apresenta um circuito de valores que toca essencialmente a individualidade em sua faceta espiritual.

Projetando-nos para fora dos aspectos familiares convencionais, passamos a interrelacionar no piso das dimensões vibratórias, compensadas com quantos operem na mesma faixa. Os laços se estreitam e se fortalecem em configuração peculiar de onde surgem irmãos na soma de sustentação e segurança da tarefa e irmã no processo de complementaridade, proporcionando pleno atendimento pela permuta dos componentes razão/sentimento. Mãe, quando, na relação entre os seres a vibrarem na mesma linha vibratória, um deles sugere, ao influxo do Amor, caminho ou ação capaz de gerar as mais abençoadas indicativas de trabalho no engrandecimento da obra de Deus.