Não obstante o conceito einsteniano de que o Universo marcha para o caos, há uma fatalidade desenhada em plenitude, que está reservada para a energia pensante.
Ser espiritual, o homem é um incessante despertar.
Pela sua natureza energética se vincula à angelitude e, através do seu processo de evolução, conduz a herança animal por onde transitou, retendo-se nas amarras do instinto e esforçando-se pela aquisição da consciência, a fim de liberar-se dele, para favorecer o desdobrar de todas as potências latentes, que procedem da sua origem transcendental.
Mergulhado no tropismo divino e por ele atraído, sai da obscuridade da ignorância e da perturbação (inconsciência) para galgar os abençoados espaços do conhecimento e da sabedoria (consciência).
Nascer de novo no corpo é desdobrar as possibilidades virgens em que se encontra, para conseguir a consciência de si, libertando-se das condensações grosseiras da ignorância.
Esse esforço ocorre através das injunções dolorosas da enfermidade, que se apresenta como processo depurativo e libertário das faixas inferiores nas quais se demora.
Analisando a Lei de Causa e Efeito, os imperativos da evolução se fazem mediante o ressarcir dos enganos, dos erros, dos delitos, retificando-os e aprimorando as tendências superiores, que passam a desabrochar.
Esse processo, todavia, é semelhante a um parto transcendental, gerador de aflições no começo, a fim de facultar e favorecer a vida logo mais.
Constituído por trilhões e trilhões de células na transitoriedade carnal, seu aparelho neurovegetativo, dividindo-se em dois ramos: simpático - responsável pela consciência; e parassimpático - envolvido com a inconsciência —, expressa a sua realidade profunda, que lentamente emerge e cresce, guindando-o à sublimação.
Obedecendo ao imperativo das polaridades que se manifestam no mundo terrestre, tudo trabalha em favor da unidade, marchando para o equilíbrio, a harmonia.
Na filosofia chinesa, essa representação da perfeição está simbolizada no círculo, metade Yang e outra Yin, oferecendo a grandiosa manifestação do conjunto harmônico.
Nas expressões sexuais, por exemplo, as polaridades masculina e feminina, no ser psicológico e no ser anatômico, fundemse para a procriação, gerando vida e completando-se na unidade.
A consciência, por sua vez, é yang (masculino, racional, extrovertido, alegre, positivo) e a inconsciência é yin (feminino, introvertido, melancólico, negativo), harmonizando-se num conjunto de equilíbrio.
Membro do organismo universal, o ser humano, na sua organização celular, miniaturiza o cosmo no corpo somático, demonstrando que a unidade individual deve repre-sentar a harmonia, que vigorará quando todos os homens se equilibrarem nos ideais do progresso, avançando para a Grande Realidade.
Naturalmente, para sair da inconsciência, da introspecção para a lucidez, ocorre um choque entre como se está e o que se é — centelha divina ergastulada na carne - resultando em momentâneo desequilíbrio emocional, que decorre da saudade de como se vive e ansiedade pelo que se pretende e deverá alcançar.
Por efeito, quase sempre se estabelece um conflito interior, no qual predomina o passado com suas heranças atávicas, às quais se estava habituado, e os apelos da felicidade liberada de formas e limites, porém ainda desconhecida.
Posteriormente, irrompem os dilaceramentos orgânicos, as infecções bacteriológicas, em razão do enfraquecimento das defesas imunológicas por decorrência dos distúrbios emocionais, convidando à conscientização de si mesmo, com a consequente recomposição dos campos psicomorfológicos, responsáveis pela saúde.
—por mudança de área evolutiva moral — surge a imperiosa necessidade de, conscientemente, comandar o corpo, a aparelhagem celular, para manter o bem-estar psicofísico, que é também uma fatalidade evolutiva.
A harmonia íntima, que decorre do discernimento das finalidades da vida, propicia a natural integração da criatura no conjunto cósmico, contribuindo para a preservação da Unidade Universal.
Nesse sentido, cada órgão que constitui o conjunto somático é unidade em interdependência com os outros e, por sua vez, cada célula é um ser próprio, com função espe cífica, trabalhando com a sua quota em favor do todo, no qual se encontra mergulhada.
Do seu equilíbrio e automatismo — a mitose — resulta a ordem dos equipamentos por ela constituídos, sendo-lhe delegada uma função relevante, que é mantida pela ação da mente individual, geradora da energia de que se constitui.
Por isso, é sensível às mudanças morais, reagindo conforme o direcionamento mental e comportamental do Espírito encarnado.
Essa marcha ascensional é desafiadora, somente podendo ser empreendida e realizada quando luz a conscientização do processo de evolução no ser, que não pode tardar.
O panorama complexo faz-se delineado desde o despertar da responsabilidade em torno da vida, passando a desenvolver todas as possibilidades latentes como condição de herança de Deus no imo de cada ser.
Harmonizando-se as polaridades - duplas, em embrião - e desenvolvendo o yang e o yin correspondentes à anatomia identificada com a psicologia individual, o emocional-espiritual propiciará compensações futuras em forma de equilíbrio e de paz.
A doença pode, portanto, ter função psicológica, sem fator cármico, decorrendo do doloroso processo inevitável da evolução.
Buscando a identificação fraternal uns com os outros homens - Lei de Amor - deve-se tentar o mesmo afeto com os órgãos e, com respeito profundo, consciente da evolução, experimentar o desafio de avançar no rumo da Unidade na qual, por enquanto, o ser se encontra em distonia...
Todos devem, pois, esforçar-se, para em equilíbrio cooperar a favor do conjunto harmônico, sendo plenos, por sua vez, em si mesmos.
O problema da interpretação da realidade mais avulta quanto melhor se penetra na estrutura das coisas.
A visão inicial, objetiva, capta a imagem do capricho dos átomos, aquilo que eles expressam sob a força da aglutinação de suas moléculas.
A medida que se recorrem às lentes de grande alcance, vai mudando a aparência até lograr-se detectar os espaços subatômicos, onde se movimentam as partículas...
No campo psicológico dá-se o mesmo fenômeno.
Sob a máscara da personalidade, encontram-se expressões insuspeitáveis da realidade, que somente a largo tempo e com o auxílio das lentes da percepção profunda se consegue identificar.
A criatura humana é um complexo de expressões que se alternam conforme as circunstâncias e se exteriorizam de acordo com os acontecimentos que penetram nas aparências, desvelando a realidade em cada indivíduo.
Mesmo essa, periodicamente, cede a outras mais significativas, que se encontram adormecidas e despertam ampliando o seu campo de manifestação, até sobrepor-se predominando e desvelando o ser legítimo.
Na larga viagem da evolução, o Espírito assume inumeráveis expressões comportamentais que lhe imprimem características, a princípio inconscientemente, para em caráter de lucidez burilá-las e ultrapassá-las, qual foco irradiante de luz, momentaneamente velada por uma lâmina de vidro embaçada, que se libertou da película impeditiva.
As experiências da evolução propõem a fixação dos valores legítimos - aqueles que são de duração permanente - enquanto os secundários, que são transitórios, servem apenas como recurso pedagógico para a aprendizagem.
Essas manifestações, que defluem das heranças perturbadoras, formam o quadro dos transtornos psicológicos e outros, que maceram o ser e o levam a estados de angústia, de inquietação, de desordem mental...
Na raiz, portanto, de qualquer transtorno neurótico jaz um conflito moral.
O grande desafio, no processo da seleção de valores, constitui a identificação de quais comportamentos éticos e morais são os recomendáveis.
Uma imensa gama de preconceitos criou uma rede de conceituações hipócritas, que confundem os códigos sociais com os morais, deixando campo para escapismos e justificativas diante de algumas atitudes, assim como geradores de consciência de culpa em outras.
Tal comportamento social tem gerado reflexões que concluem por condutas cínicas, nas quais, pela ausência de padrões corretos, universais, ensejam o desvario, a agressividade, o pessimismo, a anarquia...
Podemos, porém, estabelecer parâmetros para a identificação dos valores éticos de maneira simples e inequívoca: são eles saudáveis em todas as culturas, aceitos e recomendáveis, classificados como expressão do bem, pelos resultados positivos que propiciam.
Aqueloutros, os que são reprocháveis pelos danos que ocasionam, em todo lugar têm a mesma figuração, considerados, desse modo, perniciosos, portanto, negativos.
A ação do bem em favor de si mesmo, do grupo social e da comunidade, tendo em vista todos os seres sencientes, constitui um princípio ético imbatível, porque fruto do amor, do respeito à lei natural vigente em toda parte.
Tudo quanto se considera virtude faz parte desse valor ético e dessa moral, que trabalham o ser profundo e o estimulam ao crescimento, ao desdobramento das potencialidades adormecidas.
Da mesma forma, o primarismo e suas manifestações egoístas, quais a perversidade, o desamor, a traição, o ódio, o orgulho e todas as mazelas que perturbam o ser, após a sensação de prazer momentâneo que o ilude, são atitudes prejudiciais, desprezadas por todas as mentes lúcidas e laboriosas, encarregadas do processo de crescimento da Humanidade.
Esses paradigmas oferecem ao ser inteligente os meios para alcançar a realidade superando a ilusão, porquanto portadores das estruturas permanentes do bem-estar, da paz, da autorrealização.
Nessa seleção de valores surge a questão do julgamento, a análise de qual conduta adotar durante os fenômenos da evolução humana.
Em face do prazer embriagador fascina e emula ao gozo, do qual se desperta com tédio, frustração, por efeito da transitoriedade de que se faz intermediário.
Colocando-se a felicidade na satisfação das necessidades fisiológicas e sociais, é inevitável que o despertar seja sempre deprimente, cansativo, destituído de significação real.
Por isso, jornadeiam de uma para outra satisfação as multidões em aturdimento, sempre sedentas de novas experiências, de novos gozos.
O despertar das emoções elevadas elege outra gama de alegrias interiores, que se expressam em júbilos profundos, compensadores, que plenificam, emulando a novas conquistas iluminativas.
A vida psicológica, na busca da realidade, tem como suporte a conduta moral sem conflito, consciente da responsabilidade.
Seguindo um natural processo de superação dos atavismos primitivos, surgem patamares que se vão conquistando, logrando novos descortinos sempre ascensionais.
Cabe ao ser humano, fadado à realidade, superar os obstáculos e superar-se, descobrindo as finalidades existenciais e raciocinando em termos de vida plena, constante, de sabor eterno, iniciar e prosseguir no autoencontro, mantendo a serenidade no curso da evolução.
Diante de um equívoco, de um fracasso, entesoure-se a experiência e recomece-se o tentame.
A realidade profunda jaz sob a personalidade do ser em trânsito, ainda mergulhado na ilusão, a um passo, certamente, da decisão de conquistá-la e ser feliz.
No inevitável processo da evolução do ser, o despertar da consciência abre-lhe as percepções para a realidade de si mesmo, e o consequente entendimento dos objetivos da existência corporal.
Imediatamente, a necessidade do autoconhecimento constitui-lhe um desafio que deve ser vencido a esforço tenaz, porquanto lhe propiciará a identificação dos recursos intelecto-morais disponíveis e dos prejuízos comportamentais que decorrem dos vícios e paixões primitivas, remanescentes dos níveis de sono e de indiferença ora ultrapassados.
Conhecidos os próprios limites íntimos e as ricas possibilidades diante de si, ampliam-se os horizontes do discernimento e as opções pela libertação dos atavismos perniciosos, ensejando-o avançar, mesmo sob a imposição de sacrifícios.
Afinal, sacrificar-se pelo bem e pela plenitude é uma preferência feliz, já que o sofrimento resultante constitui experiência valiosa para novas e futuras realizações.
Avaliados os obstáculos impeditivos ao crescimento íntimo, fácil se torna investir coragem e decisão, a fim de extirpara carga de inferioridade que, por sua vez, embora proporcione sensações de prazer, também fomenta infortúnio, insatisfação, ansiedade, tormento - sofrimentos, pois, inecessários, por serem destituídos de valor, de edificação real.
Nesse empenho, ressumam os resíduos enfermiços decorrentes das fixações perversas, que o idealismo purifica mediante novos contingentes mentais de concentração e esperança nas virtudes.
A resolução para o autoconhecimento faz-se acompanhar do desejo de transmutar os sentimentos servis em emoções sutis, que compensam a ausência dos choques de brutalidade, dos anelos que se concentram na região do baixo ventre, sincronizados na área sacral.
Transmutando as energias deletérias em outras carregadas de aspirações criativas - reprodução biológica consciente e responsável, arte, cultura, ação enobrecedora — o ser diafanizase, saindo dos impulsos da animalidade para as conquistas da angelitude.
Durante esses cómenos, na luta que se trava, a seiva do amor passa a nutrir com vigor o candidato, tornando-se lhe, quando canalizada para as finalidades santificadoras, o recurso mantenedor das aspirações ditosas.
Na sua primeira manifestação, o amor deflui do instinto da posse, do uso do prazer egoísta, atravessando um período de inferioridade, não obstante, rompendo as algemas nas quais se ergastula, para alterar o conteúdo que exterioriza e vai sublimando.
Na sua expressão de primarismo ele é todo sensação impetuosa, na qual a satisfação dos instintos torna-se meta a alcançar, aí permanecendo o tempo que corresponda à conquista da lucidez, ao despertar da consciência, que então elege outras expressões de felicidade, mais consentâneas com a paz, fora do vaivém do gozo - cansaço, prazer — arrependimento, satisfação - frustração, incessante tormento.
Duas circunstâncias propelem a criatura ao avanço iluminativo: a insatisfação sistemática, que passa a considerar outras formas de bem-estar - amizade, serviço fraternal, interesse comunitário -, ensejando o abandono paulatino dos velhos e arraigados hábitos para as novas experiências da solidariedade, do progresso do grupo social, da beleza.
O segundo instrumento propiciador do avanço é a reencarnação, na qual os impulsos de crescimento espiritual - após o cansaço nos patamares da perturbação - propelem para a vivência dos princípios morais e as transmutações pessoais, intransferíveis.
Nesse estágio medial do amor, robustecem-se os impulsos de elevação e ele se espraia sem exigência, todo doação, semelhante a um perfume no ar, cuja origem permanece desconhecida.
A fase superior é assinalada pela paz íntima, que não necessita de retribuição, nem se entorpece sob as chuvas da ingratidão.
Enternecedor, torna-se agente anônimo da felicidade dos outros, porque está enriquecido da harmonia geradora de emoções transcendentes, que dispensam o contato físico, a presença, a relação interpessoal.
O amor é o poder criador mais vigoroso de que se tem notícia no mundo.
Seu vigor é responsável pelas obras grandiosas da Humanidade.
Na raiz das realizações dignificadoras, ele se encontra presente, delineando os projetos e impulsionando os idealistas à sua execução.
Alenta o indivíduo, impulsiona-o para frente e faz-se refúgio para a vitória sobre as dificuldades.
No amadurecimento psicológico do ser, ei-lo (o amor) direcionando todos os ideais e sustentando, em todos os embates, aquele que lhe permite desabrochar, qual lótus esplendente sobre as águas turvas e paradas do charco no qual pousa em triunfo...
A sua irradiação acalma, dulcifica, sustenta, porque se origina em Deus, a Fonte Geradora da Vida.
Nas faixas iniciais do seu desenvolvimento, pede socorro, enquanto afirma que o oferece; deseja receber, embora aparente contribuir; quer satisfazer-se sempre, não obstante dê a impressão de agradar...
Trabalhado pela consciência, torna-se equânime, dando e recebendo; espraiando-se e recolhendo; permutando...
Por fim, alcança a plenitude criadora e esquece-se de si mesmo, para atender, iluminar e seguir adiante.
Sem essa força criadora instalada na consciência lúcida de quem não se autodescobre, a permanência nas paixões anestesiantes e no jogo forte dos instintos é imperativa.
Todo o curso da evolução (tomada de consciência) tem como estrutura o autoconhecimento - que proporciona o autoamor - passo decisivo para que essa força criadora desabroche com todas as potências que lhe são pertinentes.
Sob o seu pálio, o sofrimento se descaracteriza e perde o conteúdo atormentante que o assinala, passando a ser um élan de alegria e de felicidade.
São Francisco de Assis, amando, não se dava conta dos problemas orgânicos que nele se instalaram.
Santa Josefa Meléndez, amando, superava as perseguições espirituais que tentavam martirizá-la, perseverando alegre e confiante na libertação pela morte.
Os grandes e amorosos missionários do mundo jamais se deram conta das doenças, perseguições e conflitos geradores de sofrimentos que recebiam como estímulos para prosseguirem.
Além deles, milhões de pessoas anônimas que alcançaram a maturidade psicológica - a consciência desperta entregam-se ao nobre afã, sem interesse de retribuição ou de aplauso, profundamente pacificadas pela força criadora máxima, que é o amor.