abitualmente, a pessoa que se equivocou lamenta a ocorrência, o passado, ou faz uma consciência de culpa, afligindo-se, perturbando-se.
O passado, porém, já aconteceu e os seus alicerces não podem ser ignorados, nem evitados.
Cabe a cada um diluí-los, erradicá-los.
Uma análise tranquila das ocorrências infelizes desperta a consciência para encontrar meios de diminuir-lhes as consequências, criando condições propiciatórias para um futuro mais equilibrado, através das oportunidades e realizações presentes.
A cada instante se podem produzir fenômenos salutares, que se alongarão em cadeia de acontecimentos ditosos.
Qualquer indivíduo que se envolveu, no passado próximo, em problemas e erros, certamente gerou também simpatias e agiu corretamente.
Agrediu e infelicitou pessoas, no entanto, simultaneamente, entendeu e amou outras, produzindo vínculos de afeição e cordialidade.
Ninguém há destituído de valores positivos e conexões emocionais generosas.
Mesmo quando os conflitos decorrem como efeitos reencarnatórios, que se manifestam como psicopatologias de angústia, de medo, de insegurança, sob o aguilhão do remorso de algo inexplicável, a conscientização do bem que se haja feito, e ainda se poderá fazer, produz um lenitivo que suaviza os conflitos, facultando a disposição sincera para reabilitar-se.
No exame dos insucessos, uma atitude deve prevalecer - a do autoperdão - por considerar-se que aquela era a maneira que caracterizava o estado de evolução no qual se encontrava, porquanto, se houvesse mais conquistas, terse-ia agido de forma diferente, sem atropelos nem desaires.
O autoperdão é uma necessidade para luarizar a culpa, o que não implica em acreditar haver agido corretamente, ou justificar a ação infeliz.
Significa dar-se oportunidade de crescimento interior, de reparação dos prejuízos, de aceitação das próprias estruturas, que deverão ser fortalecidas.
Graças a essa compreensão, torna-se mais fácil o perdão dos outros, sem discussão dos fatores que geraram o atrito, com imediato, natural olvido do incidente.
Logo depois, faz-se inadiável trabalhar a culpa, corrigir o ressentimento, caso se haja sido a vítima ou o algoz.
Na primeira situação, considerar que as circunstâncias de então fomentaram o acontecimento e agora elas estão alteradas, muito diferentes, portanto, exigindo um novo comportamento, que se coroará de resultados bons.
A simples mudança mental propicia uma visão diversa do fato, mais favorável e benéfica.
Na segunda, por haver desencadeado conflitos e prejudicado, o reconhecimento do erro é o próximo passo para a recuperação pessoal e apaziguamento com o ofendido.
Em se tratando de ação pretérita, remota, a disposição psicológica para a renovação do comportamento influencia a Lei de Causa e Efeito, que proporciona respostas emocionais gratificantes.
Quando próximo esse passado, mediante as visualizações que possibilitam o encontro mental com o prejudicado, encarnado ou não, a apresentação do arrependimento e os propósitos de não repetir o incidente, com sincero afeto, são precioso instrumento para o equilíbrio.
O acontecido não pode ser mais evitado, no entanto, deve ser considerado, dele se retirando os melhores resultados, sem gerar novos agentes prejudiciais.
Um homem sábio, que foi violentamente abalroado por outro, na rua, antes de recuperar-se, sofreu grosseira reação verbal do antagonista, que ficou enraivecido. Mantendo-se tranquilo, na primeira pausa, disse-lhe: - Infelizmente não tenho tempo para analisar quem atropelou quem.
No entanto, se foi o senhor quem se chocou contra mim, eu o desculpo, e se foi o contrário, peço-lhe desculpas.
E seguiu adiante, deixando o violento envergonhado de si mesmo.
Seria ideal que a vítima compreendesse a situação e desculpasse o agressor, porém, se isso não ocorre, não é de importância capital.
O essencial é o gesto daquele que se arrepende, que se reequilibra e resgata os prejuízos causados.
Muitas vezes, deseja-se retornar ao passado com a experiência do presente, na expectativa de que se não cometeria os mesmos erros.
Isso talvez ocorresse, no entanto, é provável que, se possuísse o conhecimento e não dispusesse das reservas de forças morais, a pessoa não agiria corretamente.
Todo conhecimento bem vivido e analisado transforma-se em patrimônio de experiência valiosa, ensinando, quando negativo, a técnica de como não se deve agir em determinadas situações.
Lição anotada, aprendizagem garantida.
A técnica da visualização, com o objetivo de recuperação, deverá ser repetida com frequência até o momento em que desapareça o fator conflitante, preponderando a autoconfiança em relação aos comportamentos futuros para com o desafeto.
Torna-se relevante a conquista da segurança íntima, de forma que a conduta esteja orientada pela consciência, mantendo-se sempre vigilante em todos os momentos, particularmente nas ações.
Esse comportamento tornar-se-á habitual, passando a integrar a personalidade que fruirá de harmonia pelo bom direcionamento aplicado à existência.
Será uma forma de unificar o ego ao Self, permitindo que o Eu profundo, o Espírito, comande o corpo, controle as reações e automatismos, heranças que são da agressividade animal, dos instintos primários ainda em predomínio.
A marcha é longa e enriquecedora.
Cada degrau conquistado aproxima o ser do patamar almejado, que o aguarda.
Em face dos substratos do passado, arquivados no subconsciente, quase sempre negativos, neurotizantes, a pessoa pressupõe que o seu será um futuro carregado de problemas, de desafios, exigindo-lhe continuar abraçado à cruz dos sofrimentos.
Porque não desalojou dali os hóspedes indesejáveis da perturbação, as mensagens que capta em relação ao futuro são assinaladas por incertezas e preocupações.
Ninguém se pode evadir do processo de crescimento interior, e esse imperativo da evolução apresenta-se com dúvidas a respeito de como enfrentá-lo e que fazer enquanto o aguarda.
A atitude correta está em viver cada momento intensamente, porquanto, cada minuto que se acerca e passa, é o futuro chegando e transformando-se em passado.
É um erro considerar como futuro o que se relaciona ao remoto, ao qual se atiram realizações que deveriam ser executadas agora, definindo circunstâncias e tempo.
A soma dos segundos transforma-se em milênios. É mais exequível realizar-se em cada pequeno lapso de minuto do que aguardar a sucessão dos anos.
Quando se deseja realmente fazer algo, estabelece-se horário e define-se ocasião.
Essa ordem, registrada no subconsciente, faculta que se consume o programa estabelecido. Quando não se deseja inconscientemente fazê-lo, estatui-se: um dia...
Na primeira oportunidade... Esse dia e essa oportunidade não existirão, porque não foram definidos.
Assim também é esse futuro, não delimitado, vazio, ameaçador.
À medida que se conclui uma tarefa, outra se delineia e torna-se factível a sua realização.
Diante de vários compromissos indefinidos, os rumos se confundem e a capacidade psíquica de discernimento perde a escala de valores, que seleciona, pela importância, quais os que têm primazia para execução.
Nessa inevitável balbúrdia, atropelam-se os significados de qualidade, passando a ter preferência os mais simples e insignificantes, enquanto os outros são atirados para um oportunamente que não se deseja que chegue.
Não atendidos e registrados, dão curso à instabilidade emocional, a incertezas e preocupações.
Desse modo, será feito amanhã o que não seja possível realizar-se hoje, porém, sem angústia, sem remorso.
Um mestre, informado que lavrara um grande e arrasador incêndio numa floresta próxima, convidou os discípulos para que, juntos, fossem plantar cedros no terreno calcinado, após lavrá-lo.
Inquieto, um discípulo retrucou-lhe: - Por que plantar o cedro hoje, se ele demora dois mil anos para desenvolver-se e alcançar a plenitude?
Sem perturbar-se, o sábio respondeu-lhe: - Aqueles que foram queimados nunca nos informaram quem os houvera plantado, embora oferecessem sombra e vida sempre.
Ademais, já que demoram tanto para atingir a exuberância, não percamos tempo, a fim de não lhes atrasarmos o desenvolvimento.
Jesus, o Psicoterapeuta ímpar, em excelente receita de paz, propôs: - "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã;
porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo.
Basta a cada dia o seu mal.
"n Oxalá tenha-se em mente que a experiência resulta da vivência do fato, e que o mal é a tentativa incorreta de agir na busca do melhor.
Assim, cada instante merece o investimento da atenção, dos cuidados que se pretende direcionar para as ocorrências do futuro.
Agindo com precisão hoje, são eliminadas desde já, evitando-as mais tarde.
O desenho do planejamento futuro é realizado com o material que se está usando neste momento.
Gerando decisões salutares, tomando atitudes corretas e corrigindo as equivocadas, programa-se o porvir agradável, compensador.
Para tanto, o cultivo dos pensamentos enobrecedores faz-se inadiável.
É necessário pensar alto, a fim de colher resultado satisfatório.
Quem pensa a mesma coisa, recebe sempre aquilo que já tem.
Variar para melhor, é candidatar-se ao superior, ao não fruído.
Como decorrência da acomodação aos hábitos e ideias já digitados no subconsciente, a pessoa esconde suas aspirações e valores nobres nos conflitos a que se acostuma e nos quais se compraz, nos transtornos neuróticos, na insatisfação, que lhe constituem escusa para não lutar, permanecendo sem o autoauxílio, e transferindo para os demais a culpa do seu insucesso, da sua irresponsabilidade, da sua aceitação sem resistência.
A luta fortalece o caráter e capacita o ser para os contínuos desafios, que lhe facultam o crescimento interior.
Essa realização é intransferível, como a sabedoria que se aprende, mas não se doa.
Constituído de recursos valiosos, esses necessitam dos fatores que lhe propiciem desabrochar e crescer. Vivendo bem cada momento, em profundidade, o futuro torna-se natural, acolhedor, gratificante, porquanto será conforme os atos de ontem - em reencarnações passadas — e de hoje - na existência atual -, que alterará o mapeamento do amanhã.
Se, em vez disso, como mecanismo de fuga contra a renovação, a pessoa programa dores e desconforto, sem confiança nos acontecimentos porvindouros, certamente está desejando exatamente conforme receberá.
Há uma fatalidade inevitável: a colheita dar-se-á de acordo com a sementeira.
Não há violência, nem transmutação de espécimes, de valores.
Todo fator que possa desencadear consciência de culpa, no comportamento, necessita ser eliminado, substituído por outros, criadores de confiança e serenidade, sem sombras psicológicas que ocultem a realidade, o desenvolvimento dos valores internos.
Uma psicoterapia especial, entre outras, ressalta na fixação pela repetição de frases idealistas, de autossugestão otimista, de interiorização mediante a prece, de meditação no serviço de amor ao próximo, através do amor a si mesmo.
Enquanto assim agir, o futuro se estará fazendo presente, e logo passado, sem qualquer insegurança ou incerteza maceradora, enriquecido pelas propostas agradáveis das perspectivas de êxito, tornadas realidade.
(1) Mateus
Aturdindo-se com as preocupações a que empresta importância demasiada - opinião dos outros, aparência, conquista das coisas externas, convívio social e disputas insignificantes -, a pessoa descuida-se de si mesma e permanece ignorante da sua realidade profunda, das suas potencialidades latentes.
Considerando, com uma óptica pessimista, que apenas a sua é uma existência trabalhosa e difícil, perde os parâmetros do equilíbrio para uma análise correta sobre os acontecimentos, descambando no abismo da auto compaixão, das depressões, da infelicidade.
A sua autoestima esmaece, vaticinando a ruína da jornada e não se esforçando para reverter a ordem dos pensamentos derrotistas, que vitaliza durante os largos períodos de ócio físico e mental.
A vida apresenta-se com as mesmas características para todos os seres vivos.
Ocasiões são mais severas, circunstâncias surgem penosas, enfermidades se apresentam desgastantes, problemas caracterizam períodos que devem ser enfrentados com naturalidade e valor, como se fossem impostos a resgatar pela honra de existir.
Excetuando-se as conjunturas expiatórias da miséria socioeconômica, das enfermidades congênitas e degenerativas, dos comprometimentos físicos, mentais e morais decorrentes das reencarnações repletas de loucura, os acontecimentos aflitivos fazem-se experiências iluminativas para o crescimento interior.
Essas provações constituem recursos propiciatórios para a evolução.
Assim não ocorressem, e seria já a Terra o paraíso anelado, e a vida física se tornaria de natureza eterna.
A sua fragilidade e impermanência, as transformações biológicas a que está sujeita atestam a limitação do seu curso e a finalidade educativa para o Eu superior que a organiza.
É necessário um exame profundo, sério, constante do Si, da sua constituição, dos objetivos que deve perseguir, dos meios a utilizar, de como encontrar os recursos para lográ-lo.
Essa análise tem por meta a autoconscientização, mediante a qual se aplainam as arestas, e o curso do rio existencial desliza na direção do mar da paz.
Para tanto, é imprescindível o autoexame dos comportamentos mentais, emocionais e físico-sociais.
Tudo começa na mente e aí estão as matrizes das próximas ações.
O exercício do bem-pensar, eliminando as ideias perniciosas a que se está viciado, constitui passo decisivo para o autodescobrimento.
Cada vez interrogar-se mais a respeito de quem é, e quais as possibilidades de que se pode utilizar para o desenvolvimento íntimo, significa um meio adequado para interpenetrar-se.
Sistematicamente manter-se vigilante contra os hábitos prejudiciais da auto compaixão, da censura ao comportamento dos outros, da autopunição e autodesvalorização, da inveja e de outros componentes do grupo das paixões dissolventes e anestesiantes.
Preencher os lugares que ficarão vagos com a eliminação desses sórdidos comparsas mentais, com a presença do altruísmo, da fraternidade, do autoamor.
Reconhecer-se fadado ao triunfo e avançar na sua busca, sem pieguismo ou presunção, torna-se a próxima etapa do programa de autodescobrimento.
Insistentemente reagir aos pensamentos inquietadores, estabelecendo a confiança no Poder Criador, de Quem procede, e em si mesmo, gerando harmonia e coragem para os enfrentamentos, certo de que está destinado à gloria estelar que alcançará a esforço pessoal.
Aquele que se conhece, sabe de quais recursos se podem utilizar para o desempenho das tarefas e funções que lhe cumpre executar, aceitando-as como parte do processo existencial, no qual está inserido.
Essa compreensão dá-lhe dignidade, enriquecendo-o de entusiasmo a cada conquista, como perspectiva da próxima vitória.
Se identifica fragilidade num ou noutro ângulo do caráter e da personalidade, direciona suas resistências morais nesse rumo e fortalece-se.
Errando, não se lamenta, porquanto aprendeu como fazer noutro ensejo. Não anuindo ao desequilíbrio, igualmente não se culpa por ele, nem a ninguém, porque descobre o valor da aprendizagem que enceta.
Acertando, não se jacta, pois sabe que longo é o caminho pela frente.
O autodescobrimento enseja humildade perante a vida, sem postura humilhante, porque faculta a irradiação do amor desde o centro do Si, consciente da sua realidade e origem divina.