Analisando-se o atual comportamento humano, não padece dúvida de que a sociedade terrestre encontra-se enferma.
Os altos índices da violência individual e coletiva que assola o mundo, apresentam-se assustadores, numa triste demonstração da predominância dos atavismos ancestrais, que não foram superados pelo advento da razão, do discernimento, dos sentimentos de amor.
A agressividade ronda as existências, ameaçando-as de extermínio sob todos os aspectos considerados: sejam a Natureza em si mesma, os vegetais, os animais e os demais seres humanos...
A perversidade e a hediondez dão-se as mãos, ampliando as forças em favor da desordem e do pri-mitivismo.
Sucessivas ondas de criminalidade avolumam-se e espraiam-se incessantes, a quase tudo e todos arrastando para o abismo do desespero.
O desrespeito às leis e a indiferença pelo destino da humanidade aumentam o pânico nas pessoas mais frágeis e a depressão, resultante também de muitos outros fatores, torna-se de natureza pandêmica.
As massas parecem anestesiadas pelo sofrimento, havendo perdido o rumo e a confiança em melhorfuturo, deixando-se arrastar por líderes inescrupulosos que as hipnotizam, na política, na economia, na religião, nos divertimentos vulgares e promíscuos, mediante os quais lhes amolentam os últimos bastiões de dignidade e de respeito pela vida.
A paz, atemorizada, não consegue atrair para os seus programas, todos quantos anelam pela sua presença no coração, mas não sabem como conseguila.
Há desvios de toda ordem, levando a lugar nenhum, nesses caminhos tortuosos da busca da saúde e da auto-realização.
Governos e associações dedicados ao Bem não encontram ressonância nas consciências nacionais e internacionais para a erradicação da pobreza, das doenças e de outros males que se propagam velozmente.
Tentativas de salvamento do planeta são rejeitadas com descaso por nações poderosas, e enquanto proclamam os direitos humanos que desrespeitam, afastam-se das conferências que tentam manter a igualdade das raças, em total desprezo pela liberdade que proclamam e fingem defender mediante o uso de armas destrutivas...
Ameaças de guerras hediondas pairam no ar, como se a sociedade não se encontrasse em conflitos declarados e não-declarados, exaurindo os cofres do poder econômico, que poderíam ser abertos para a solidariedade, através da educação, do trabalho remunerado, da saúde, da extinção de enfermidades cruéis que se instalaram e permanecem no mundo...
A arrogância de uns poderosos e a submissão humilhante de outros deles dependentes, demonstram a predominância da força bruta sobre a inteligência e os valores morais, proclamando a vitória da insensatez sobre o equilíbrio...
Inegavelmente, os horizontes do futuro apre-sentam-se, do ponto de vista imediato, sombreados pelo desespero e pela anarquia, porquanto é visível e assustadora a presença do crime de todo jaez ante os braços cruzados da cultura submetida ao talante dos dominadores de um dia...
Apesar dessa paisagem triste, que se vem alastrando pelos diversos quadrantes do orbe terrestre, uma tênue luz de esperança começa a diluir-lhe as sombras dominantes, no rumo de um meio-dia claro de Sol e de bênçãos.
Essas infelizes ocorrências são os frutos espúrios dos tormentos individuais, daqueles que dominam as pessoas, assinalando-as com as aflições.
Como a sociedade influi no comportamento individual, este, por sua vez, é o aglutinador do grupo social, interdependendo-se mutuamente, em incessante fluxo de energias.
Embora as soluções devam ser propostas pelos grupamentos, será no indivíduo que se devem trabalhar as bases do ajustamento, as diretrizes do reequilíbrio, os valores éticos em benefício da sua saúde física, emocional, psíquica e moral, ante o compromisso inadiável da aquisição da paz.
Todo o empenho possível deve ser direcionado ao cidadão deste momento, que se encontra aturdido, assim como às gerações novas que deverão ser atendidas com carinho e programas educacionais sérios, de modo a recuperar-se a saúde geral e salvar o planeta que padece a alucinação dos seus habitantes.
Indispensável, pois, se torna, a formação de uma cultura de amor, porquanto é necessário aprender-se a amar, superando-se os conflitos internos e modificando os sentimentos que se armam contra, quando deveríam desarmar-se para somente amar, facultando a instalação de um clima existencial de respeito pela vida em todas as suas expressões.
Aprofundar-se a sonda investigadora das causas das aflições humanas no cerne do ser, constitui dever de todos, de modo a encontrar-se as causas profundas e predominantes, geratrizes da conjuntura perturbadora, erradicando-as e substituindo-as por outras de caráter dignificante.
O indivíduo, na sua condição de célula básica do grupo social, necessita de orientação e acompanhamento, de oportunidade para o exercício da sua cidadania, de recursos que lhe promovam o bem-estar e a dignidade.
As doutrinas materialistas infelizmente vêm contribuindo cada vez mais em favor do desconserto moral da criatura humana, oferecendo-lhe uma visão pessimista do mundo e da existência, desse modo contribuindo em favor do utilitarismo e do imediatismo, da preocupação exclusiva consigo mesma, em detrimento das demais, como se alguém pudesse viver feliz com o egoísmo e a indiferença em torno da sua realidade de ser imortal.
O ser integral está além do corpo físico, devendo ser considerado como o princípio inteligente que é, o envoltório semimaterialque o reveste, e a forma física em que se movimenta enquanto no processo da evolução terrestre.
Responsável pelos atos que pratica, semeia e colhe conforme o nível de evolução em que se encontra, avançando, incessantemente, no rumo da sua destinação gloriosa, que é a perfeição relativa que o aguarda.
Nesse sentido, o Espiritismo oferece-lhe um valioso arsenal de experiências e de conhecimentos que o capacitam para os enfrentamentos internos e as refregas externas, preparando-o para a valorização da vida, o autoconhecimento, a fim de penetrar na área onde dormem as seguras diretrizes para a felicidade, que devem ser despertadas.
Portador da mais excelente psicoterapia para o equilíbrio e a ventura, centra os seus valiosos recursos no exercício do amor, ampliando-o em chamas de iluminação libertadora da ignorância, que culmina em a vivência da caridade.
* Esta é a contribuição de um grão de mostarda na seara imensa das doutrinas psicológicas, assim como de terapêuticas valiosas para a recuperação da saúde humana e a sua paz.
Reconhecemos o seu pequeno significado, mas resolvemo-nos por oferecê-la, assim mesmo, especialmente em homenagem ao Sesquicentenário de O Livro dos Espíritos, do egrégio codificador Allan Kardec, este especial tratado de higiene mental e psicoterapêutico, em gratidão ao mestre lionês pelo invulgar trabalho de construção do novo mundo, da sociedade feliz do futuro.
Salvador, 24 de dezembro de 2006.
Joanna de Ângelis
As citações de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, foram extraídas da 29a.
Edição da FEB, em tradução do Dr. Guillon Ribeiro. As que se referem ao Evangelho de Jesus, retiramo-las da tradução segundo o original grego (sem citar o autor), publicado pelas Sociedades Bíblicas Unidas (Londres, Nova York e Rio de Janeiro).
Nota da autora espiritual.