O ser humano está fadado à plenitude, ao estado numinoso.
Todo o empenho deve ser encetado, a fim de que o processo de autoaprimoramento moral e espiritual dê-se com segurança, sem retrocessos na decisão nem temor diante dos avanços e das conquistas logradas.
Remanescente das heranças ancestrais, a sua marcha ascensional é feita de vitórias do Self sobre a sombra densa que lhe dificulta o discernimento ou vincula-o aos hábitos doentios que deve superar, mediante a instalação de outros de ordem saudável, no que se lhe tornarão mais fáceis os passos no rumo do futuro.
Profundamente vinculado a Deus, de Quem procede, já foi possível nele identificar-se um gene específico, encarregado da crença no Soberano Genitor.
Dessa forma, a busca da iluminação, isto é, da conquista da autotranscendência, é-lhe um impositivo da evolução, que não mais se compadece do estado de sombra por onde perambula, impulsionando-o aos tentames contínuos até o momento em que se sente invadido pela paz que dEle dimana.
A princípio, essa necessidade manifesta-se em forma de vazio existencial, que se lhe faz um tormento de insatisfação, diante da qual nada consegue como contribuição para a conquista da harmonia ou da alegria de viver.
Pode armazenar coisas, dispor de recursos financeiros e afetos, facilidades de natureza múltipla e, no entanto, permanece a ausência de algo indefinível, que pode ser defluente de problemática pretérita, quando desdenhou ou utilizou-se equivocadamente das concessões do amor e da paz, ou da ingente necessidade de Deus.
Não sabendo como realizar essa busca interior, foge do mundo e malbarata as bênçãos de que é possuidor, na inutilidade do insulamento, distante da solidariedade e da convivência com todas as criaturas, que fazem parte da sua imensa família universal que lhe é necessária para o crescimento espiritual.
Nesse estado de abandono de tudo e de todos, pode ocorrer-lhe o êxtase, a negação do ego e das suas necessidades, no entanto, faz-se inadiável a convivência com a vida em geral, a fim de poder tornar-se útil, contribuindo em favor dos demais.
Em diversas ocasiões, mal orientado busca a auto-iluminação utilizando-se de diversas técnicas de flagícios ou de sacrifícios em relação ao corpo, como se fosse ele o obstáculo (shatan) à realização que busca afanosamente.
Exercícios exaustivos são propostos em favor tia auto-realização, facultando o mergulho em estados alterados de consciência, dos quais retorna com mais vazio, anelando fugir para encontrar-se.
O jovem príncipe Sidharta Gautama, quando procurou encontrar-se e preencher-se, tentou fugir do mundo e disciplinar o corpo mediante injunções penosas, descobrindo, por fim, que não seria dessa forma ou do gozo que o lograria, mas através do equilíbrio, o caminho do meio, que lhe facilitou a conquista.
É, certamente, através do amor, da autonegação, isto é, da identificação do Self soberano ante as imposições relativas do ego, que ocorre a iluminação de dentro para fora, ensejando a harmonia e a completude indispensáveis à transcendência, que produzirá o preenchimento interno.
A iluminação interior independe da educação das faculdades paranormais, mediúnicas em particular, dos estados de exaltação e do transe, do êxtase ou de quaisquer outras manifestações parafísicas.
Ocorre, mediante o desenvolvimento dos inesgotáveis recursos internos que procedem de Deus, do acalmar das ansiedades da emoção e das imposições orgânicas.
O ser iluminado vive, por antecipado, o estado nirvânico, a plenitude, sem que tenha necessidade de abandonar os impositivos da reencarnação.
A conquista do Reino dos Céus não o afasta do mundo, antes condu-lo à convivência do século, de modo a tornar-se lição viva e estímulo para os outros, sem fazer-se mundano ou igualmente necessitado de experiênciar outra vez o império das paixões...
O espírito que se é, na sua essência crê em Deus, na vida e nos valores dignificantes.
A fé é genética, porque defluente de um gene específico, responsável pelos estímulos neuronais, responsáveis, especialmente, pela produção de algumas monoaminas, tais como a serotonina, a noradrenalina, a dopamina, ora identificada como a substância geradora da felicidade.
Reencarnando-se, à medida que se intelectualiza derrapa em conflitos filosóficos e em imposições religiosas dogmáticas que o levam à dúvida, empurrando-o para a descrença.
Enquanto a fé procede da constituição genética, portanto, a espiritualidade, a confissão religiosa, o culto de qualquer denominação resultam da herança sociológica, filosófica, doméstica.
A crença é espontânea, natural, enquanto a participação religiosa e a definição de uma delas, são consequências da educação, da convivência no lar ou no grupo social, sujeitas a alterações racionais ou comportamentais.
Essa crença pode apresentar-se sob dois aspectos: a) natural, que é espontânea, conduzindo a criatura a viver sem indagações de onde se encontra, se há segurança no lugar em que se hospeda, no veículo de que se utiliza, sem considerar se o seu condutor é saudável, depressivo ou esquizofrênico, colocando a sua vida em risco, ali-mentando-se sem a suspeita de que poderá estar sendo envenenado, de aceitar a medicação sem o receio de estar sendo intoxicado, exceção feita aos estados de consciência alterada, na paranoia, na depressão, nas psicoses...
b) raciocinada, quando é fruto da lógica, da análise, da pesquisa de laboratório, da razão, portanto, adquirida pela experiência, pela vivência dos fatos.
No primeiro caso, vemos a confirmação da tese em inúmeros comportamentos, especialmente nas terapias placebo, quando pacientes graves ou portadores de enfermidades de demorado curso, medicados com substâncias inócuas (drágeas de açúcar, de massa, de farinha de trigo), informados dos excelentes conteúdos de que se fazem portadoras, apresentam melhoras consideráveis, estimulando a produção de monoaminas responsáveis pelo reequilíbrio e mesmo pela reversão do quadro desesperador.
Por outro lado, os efeitos nocebo também ocorrem quando o médico demonstra cansaço ou desânimo, apresenta diagnósticos severos sem a preparação psicológica do paciente, de imediato a piora é facilmente percebida, tornando o quadro muito mais difícil de tratamento.
Multiplicam-se os casos de enfermos que, diante do diagnóstico rude e agressivo, desesperam-se, agravando a enfermidade, e mesmo vindo a morrer em face da notícia, o que se configurou denominar como morte pelo diagnóstico.
A iluminação ocorre quando se é capaz de compreender quem se é, de onde se veio e para onde se vai, culminando com o esclarecimento em torno do que deve realizar na Terra...
A ignorância desses postulados mantém na escuridão, no tormento das dúvidas e aflições.
A iluminação, portanto, rompe a treva densa do desconhecimento, facultando a experiência contínua do equilíbrio e da harmonia que levam ao numinoso.
Santo Agostinho asseverou que a iluminação dá luz divina à alma, pelo que a inteligência se torna capaz de atingir um conhecimento verdadeiro da realidade do ser em si mesmo, descobrindo a finalidade existencial.
Ele próprio adquiriu-a após ouvir o brilhantismo iluminativo de Santo Ambrósio nos seus memoráveis sermões na catedral de Milão.
Orador exímio e retórico, Agostinho de Hipona, maniqueísta, vivia aturdido no báratro dos conflitos.
Interessado mais no orador e retórico, que era Ambrósio, foi ouvi-lo, e, deslumbrado pela forma do discurso e pelo seu conteúdo, iluminou-se, passando a viver o Cristo interno e viajando no rumo do autoconhecimento.
A iluminação interior procede da busca do vir-a-ser harmonizando-se com o ser que já foi conquistado e por cujo empreendimento todos se devem empenhar pelo conquistar. É também o descobrimento (revelação) do Ser Supremo pelo espírito em crescimento, em busca de estágios mais dignificantes e elevados, que demonstram a essência da própria origem.
Essa jornada é tranquila, consciente, sem os traumas das buscas infrutíferas, de tempo indeterminado, porque pode ocorrer de um para outro momento, sem prazo fixo, sem determinação de fatores propiciatórios.
Inúmeros são os caminhos para consegui-la, relativos ao estágio de evolução em que se encontra cada indivíduo, como é fácil de compreender-se.
Aquele que possui maior capacidade de concentração, de reflexão, de vida interior, mais facilmente pode iluminar-se do que outro, inexperiente e inquieto, ansioso ou tomado de receios injustificáveis.
A iluminação interior tem sido identificada por denominações diversas, como por exemplo: Buda (em Sidharta Gautama),Cristo e Messias (como em Paulo, em Santa Teresa D’Âvila), satori (no Zenbudismo), samadhi (no Yoga) ou conforme algumas escolas de esoterismo e ocultismo: auto-realização, libertação, nirvana, plenitude...
Psicologicamente pode ser denominada como au-totranscendência, plenitude, estado numinoso...
Nas tradições de muitas correntes religiosas, encontram-se os símbolos que a representam, como a estrela de Davi, (no judaísmo), lótus de mil pétalas (no hinduísmo), Santo Graal (no Cristianismo) e através de diversas imagens, como a rosa mística, a chama eterna, a chama violeta, o lago tranquilo...
Desse modo, observa-se que a busca da auto-ilumi-nação tem tido vigência desde priscas eras, quando o ser humano passou a compreender a necessidade de integração na Consciência Cósmica, na auto-superação.
Isto porque, o conceito de imortalidade não é novo, encontra-se exarado no inconsciente profundo do ser humano a respeito de si mesmo.
A iluminação é, portanto, a grande meta que todos devem buscar, a fim de alcançar o melhor de si mesmo.
Deflui, dessa busca, a compreensão em torno do impositivo de viver-se o presente com caráter integral, sem saudades do passado, que não pode ser alterado, senão mediante as ações atuais, ou ansiedades pelo futuro, que talvez não seja alcançado na vilegiatura em que se movimenta, sendo questão para depois...
Por isso, o buscador da auto-iluminação deve permanecer atento à manutenção da mente aberta a novas conquistas, a passos mais avançados no processo evolutivo.
Toda e qualquer tentativa em favor do processo de auto-iluminação deve ser iniciada através da mecânica do amor, que conduz a inteligência, orientando-a no sentido da grande vertical da evolução.
Uma das maneiras mais vigorosas para expressar-se, encontra-se nesse amor em forma de compaixão, que está presente na origem da própria vida, demonstrando que, ao alcançar o conhecimento de si mesmo, o sentimento nobre de compaixão (solidariedade, misericórdia, companheirismo, caridade) apresenta-se de forma natural, inesperada, não programada.
É através da sua vibração de generosidade que se desdobram os sentimentos de benevolência para com todos, de simpatia e afeto por todas as formas de vida, mesmo não sencientes: montanhas, pedras e metais diversos, vales, rios e mares, florestas e jardins...
A busca da auto-iluminação pode assemelhar-se ao esforço exercido durante a contemplação das águas de um rio, que fluem contínuas na direção do mar ou do oceano onde se mesclam.
Absorta na observação da corrente a mente consciente perde-se num esvaziar de pensamentos para acalmar-se, transmitindo paz.
O encontro das diferentes águas sempre se dá através de um choque.
O mesmo ocorre no momento da auto-iluminação, que pode ser afligente, dolorosa no começo (Saulo, às portas de Damasco, em pleno deserto, visitado por Jesus) ou suave e doce (o príncipe Sidharta à sombra da árvore bodhi - a figueira).
O indivíduo que se apiada do sofrimento do seu próximo - vegetal, animal ou humano - desejando ajudá-lo, facilmente se ilumina, em face do conhecimento que possui em torno do significado existencial da vida na Terra.
Esse fenômeno é resultado das tendências universais resultantes do processo da evolução moral, manifestando-se nesse expressivo sentimento de compaixão, dos mais altos que a psique humana pode exteriorizar.
A biologia demonstra essa harmonia que vige em todas as formas vivas, quando, por exemplo, as individualidades - células, órgãos - sucumbem a benefício do conjunto que formam, eliminando os interesses de cada uma.
Cada qual falece para que o organismo continue vivo, até o momento em que a energia vital mantenedora da totalidade se extingue e advém a morte global...
Também, os seres humanos devem sacrificar-se com amor e compaixão em benefício de todas as outras vidas, assim contribuindo para que tudo expresse a sua realidade coletiva, sem nenhuma perda de individualidade.
Quando esse pensamento inunda todo o ser, é concretizada a realidade que parte sempre da mente, a usina geradora das forças da vida, facultando a perfeita conexão com o corpo.
Na complexidade dos raciocínios e pensamentos - em média cinquenta mil por dia em cada pessoa comum - na grande maioria, deprimentes, récalcitrantes, angustiantes, desencadeadores de ansiedade e de mal-estar, é compreensível que se instalem distúrbios de conduta, da emoção, orgânicos.
A educação pelo equilíbrio e saudável direcionamento dos mesmos produz uma redução expressiva na variedade, contribuindo para a qualidade selecionada, que ensejará, no momento oportuno, a iluminação, a ausência de interrogações perturbadoras, de culpas portadoras de aflições, de conflitos construídos pela insegurança e pelo medo...
Deve nortear essa busca o sentimento de solidariedade e de compaixão, jamais o interesse escuso de natureza egoísta, qual seja: alcançar a paz interior, a fim de ver-se livre de problemas e de sofrimentos, fugindo ao dever de compartilhar as dores gerais e de trabalhá-las, de maneira que cedam lugar ao bem-estar de todos.
Enquanto vicejem as infelizes imagens egóicas no ser, não haverá libertação das mazelas e das escamas que impedem a iluminação interior.
Merece recordar-se que Saulo, após o encontro com Jesus, experimentou peculiar cegueira, que somente desapareceu quando o venerando Ananias, aquele a quem ele ia aprisionar em Damasco, para conduzi-lo a ferros a Jerusalém, foi visitá-lo na hospedaria por solicitação do Mestre Nazareno, e, impondo-lhe as mãos nos olhos apagados, devolveu-lhe a visão, retirando asescamas que os cobriam...
Tal ocorreu, porque Ananias era iluminado - havia predominância da compaixão nos seus sentimentos, porquanto, na condição de vítima potencial socorreu o seu virtual algoz!
Significando a libertação das máculas adquiridas durante a longa viagem antropológica, por meio dos fenômenos das sucessivas reencarnações e das fixações dos instintos no processo de aquisição da inteligência, nessa fase que intermedeia o logro da intuição, iluminar-se é alcançar por antecipado esse estado de paz, no qual se transita mais com o psiquismo do que com o organismo fisiológico.
Indispensável que os ideais de enobrecimento so-breponham-se aos interesses imediatos, de forma que as monoaminas responsáveis pelo bem-estar, pela harmonia, sejam produzidas através dos estímulos mentais nos neurônios responsáveis.
Através desse mecanismo acontecem mudanças cerebrais significativas, umas lentas e outras mais rápidas, pelo acionar das regiões frontal e posterior do cérebro, produzindo a irrupção dos sentimentos de paz, de alegria, de satisfação interior, numa transformação de conduta para melhor.
Esses sentimentos estão vinculados àqueles de natureza religiosa, que conseguem disparar essas reações mediante a captação de símbolos e imagens, visuais ou sonoras, como as melodias litúrgicas, o crepitar da chama de velas, o odor do incenso e da mirra, o som do sino, que levam à meditação em torno das suas origens...
Nos casos mais lentos, o processo de excitação mental se dá mediante a diminuição das atividades da área cerebral de orientação que, intermediada pelo tálamo, comunica-se com o sistema límbico através do hipocampo, da amídala e do hipotálamo.
Nesse aspecto, a herança genética desempenha papel fundamental, especialmente no que diz respeito ao gene de Deus, propiciador da espiritualidade inata no indivíduo, responsável pelo seu nível de emoção transcendental.
Assim considerando, a autotranscendência é um sinal dessa hereditariedade, que se faz responsável pela ocorrência.
E compreensível que haja fatores de natureza fisiológica, a fim de que se expressem os fenômenos na organização física do indivíduo, propiciando-lhe as sensações e emoções compatíveis às respostas mentais.
Novamente o aspecto da compaixão adquire significado, porquanto a busca da Natureza e das suas várias expressões, como fases da evolução da vida, deve ser considerada como essencial, a fim de alcançar o sentimento de humanidade.
Não se pode amar e sentir compaixão apenas dos seres pensantes, sem uma correspondência com os demais que constituem a ordem universal, particularmente no planeta-mãe, que é a Terra.
Esse sentimento vem do interior do indivíduo, qual uma semente adormecida que, diante dos fatores meso-lógicos e específicos desabrocha rica de força, alcançando a finalidade para a qual se encontra destinada.
Assim sendo, o germe da espiritualidade deve encontrar-se no imo do ser, e somente é possível porque originado em um gene específico, qual ocorre com aquele que foi denominado como o de Deus...
ocorrendo, ora de chofre, ora lentamente.
Degrau a degrau, ascende-se ao patamar da plenitude, ou quando se está preparado emocionalmente em etapas anteriores, osalto se dá como se ocorresse a ação da catapulta de um relâmpago, anulando tudo de uma vez e permanecendo-se como claridade inconfundível.
Não se trata de um trabalho do intelecto, de uma programação mental adrede estabelecida, mas de um jorro interno, como de uma explosão, ou como efeito de uma projeção externa, procedente do Mundo transcendental, instalando-se no íntimo do ser e fluindo para fora sem cessar.
Transforma-se, de imediato, o aspecto do indivíduo, que se faz sereno, de olhar manso e brilhante, de voz dúlcida - sem fingimento - cuja vibração enternece e impregna quantos a escutam.
A harmonia toma-lhe conta do comportamento e todo ele é um archote que arde sem crepitar, sem oscilar, mantendo a mesma luminosidade.
Fisiologicamente, como resultado da emoção profunda, as glândulas suprarenais descarregam cortisol na corrente sanguínea com efeito calmante e não somente depressor...
Nesse fenômeno transformador, experimenta-se a sensação do despertar de um letargo ou de um pesadelo afligente, com a consequente sensação de estar-se consciente do próprio Si, em decorrência da presença da adrenalina, também secretada pelas supra-renais...
Os desafios existenciais prosseguem, mas não se tornam perturbadores, porque a autoconsciência conduz à autotranscendência, eliminando os distúrbios da ansiedade e da insegurança, da aflição psicológica e dos conflitos inquietadores.
Não se trata de uma serenidade semelhante à das águas paradas, pantanosas, que ocultam decomposição orgânica ou lodo perigoso, mas da harmonia interna que se movimenta no tumulto sem sofrer qualquer transtorno.
Igualmente, não induz a uma atitude sempre passiva, indiferente às ocorrências do mundo, aos desafios terrestres e aos conflitos humanos.
Faz-se dinâmica, atuante, contribuindo em favor das transformações sociais, culturais, econômicas, morais...
Pensa-se, equivocadamente, que o iluminado dis-tancia-se do mundo de tal forma, que nada mais lhe interessa.
Em realidade, a conscientização é vertical no rumo divino, não somente horizontal, em direção ao convencional, ao imediato.
Com o entendimento da realidade profunda e do significado psicológico legítimo em torno do existir, instala-se na mente e no sentimento a eleição pelo essencial, que recebe preferência, sem desprezo pelos complementares, os secundários, que são as realizações exteriores.
O Buda, autoconsciente, movimentou-se na direção das massas desorientadas, a fim de ensinar-lhes o caminho do meio, o roteiro de segurança para a felicidade, que não se encontra nas coisas pelas quais se luta com sofreguidão, mas sim, na harmonização interna que pode administrar todas as demais ambições.
Francisco de Assis, após ser impregnado pelo Cristo, renunciou a tudo que eram posses transitórias, para cuidar somente de uma coisa - o amor! E arrebanhou, na sua dinâmica de entrega total, incontáveis criaturas que o seguiram, enquanto ele, por sua vez, acompanhava Jesus.
Gandhi, na sua autotranscendência, ofereceu-se como exemplo vivo do amor e da solidariedade, conduzindo milhões de vidas à compreensão de que a violência somente produz agressividade e rebelião, e que, por meio da nãoviolência é possível libertar-se a criatura das suas paixões e das imposições dos outros.
Albert Schweitzer, iluminado, fez do socorro médico e espiritual aos infelizes da então África Equatorial Francesa e do mundo todo, o recurso mais importante para a felicidade pessoal e coletiva.
A iluminação interior não se restringe apenas aos aspectos da fé religiosa, mas também aos ideais de humanidade, de benemerência, de arte, de ciência, de pensamento...
Pasteur não cessava de investigar a causa da raiva; Jenner, a da febre aftosa;
Semmelweis, a da assepsia; Oswaldo Cruz, a da malária...
Por sua vez, Handel mergulhou nas harmonias celestes para expressá-las no Messias; Johann Sébastian Bach agoniou-se até captar Jesus, a Alegria dos homens; Beethoven, embora a surdez absoluta, debateu-se nos pelagos internos e traduziu a majestade da vida, em a Nona Sinfonia (a Coral); Schiller, Goethe, Walt Whitman da mesma forma, porém, antes deles Virgílio, Dante, na sua transumanização também expressaram diferentes graus de iluminação interior.
Miguel Ângelo atingiu a plenitude da beleza ao materializar a Criação, na Capela Sistina e no Moisés...
O reino de Deus está dentro de vós, asseverou Jesus, por isso que é necessário o autodescobrimento, a fim de o encontrar, porque todos somos seres espirituais e não as formas de que necessitamos para evoluir através das experiências carnais.
Inevitavelmente, todos temos de olhar-nos interiormente, de despertarmos para a realidade interna e procurarmos nas fontes do sentimento, os melhores e mais eficientes recursos, a fim de libertarmo-nos das injunções penosas do ego, necessárias por um período, escravizadoras mais tarde.
Com essa compreensão profunda, o ser, mesmo adulto, torna-se inocente, em estado de infância, de pureza, de não-perturbação, não-malícia...
Confirmando-o, Jesus pediu que deixassem ir as crianças ter com Ele, porque delas é o Reino dos Céus, demonstrando que a simplicidade da emoção e a autoconfiança que todas possuem deve retornar ao ser adulto, quando se desembarace dos atavios angustiosos e dos prejuízos morais que o detêm aprisionado nos vícios e nas paixões doentias.
Quando ocorre a iluminação, surge um sentimento de amor e de reconhecimento pela vida, por todos os seres que o anteciparam, por todos quantos trabalharam pela modificação das estruturas do mundo, tornando-o melhor, mas não se detém apenas nessa compreensão.
Também alarga o amor em direção ao futuro, às sociedades que virão, aos construtores do bem e da fraternidade.
Rompe-se a máscara que oculta o que se é, impondo a aparência que não corresponde aos valores morais internos, mas que deve impressionar, ensejando a auto-realização pessoal.
Buscando a iluminação interior, cada qual observa a melhor maneira de conduzir-se e entrega-se à ação operosa e triunfante da verdade adormecida no imo e necessitada de expandir-se...
Iluminado, já não existe no ser o ego separado do Self, mas uma perfeita integração de ambos, num processo de cristificação infinita.
Temas para reflexão: "919 - Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e resistir às atrações do mal? "Um sábio da antiguidade já vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo. "
* "Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. "Portanto, quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus. "E qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta, a mim me recebe. " Mateus