O ser humano está fadado à felicidade, que lhe constitui um grande desafio.
Para lográ-la, deve investir todos os valores que se lhe encontrem ao alcance.
Felicidade, porém, não é algo diferente de infelicidade.
Ninguém deve considerar a felicidade como um estado de plenitude, de ausência de ação, mediante a qual o nada fazer geraria contentamento ou despreocupação.
Essa inércia, se viesse a ocorrer, levaria o indivíduo ao estado amorfo, de tédio dourado, em que a ociosidade conspiraria contra a harmonia emocional.
É impossível uma existência feliz distante do trabalho, da solidariedade e das ações de engrandecimento moral do Self bem como dos indivíduos com os quais se é colocado para conviver.
Quando o conforto excessivo é facultado e os ob-jetivos de trabalho parecem conseguidos, não mais existindo, pelo menos aparentemente, novas realizações a serem conquistadas, ocorre uma perda de interesse pela existência, conspirando contra a saúde emocional e física, sempre culminando com a morte prematura.
A ingenuidade psicológica estabeleceu que a felicidade existe onde se encontram o prazer e a comodidade, a fortuna e o repouso, em violenta agressão à vida que se desenvolve em ações incessantes, formadoras de abençoados recursos para a sustentação do corpo e o equilíbrio da mente.
Essa visão tem sido responsável por muita infelicidade injustificada, que mais decorre da óptica defeituosa de quem observa os poderosos, e, sem os conhecer, conclui que são felizes, quando apenas encontram-se assoberbados de coisas, preocupações, atitudes e solidão...
A busca, pois, da felicidade, é essencial, para ser experimentada desde o momento em que se a enceta.
Não será o conseguir, que a instalará na mente e no comportamento, porém, o empreendimento em si mesmo para lográ-la, que faculta, por antecipado, a satisfação de bem-estar.
Muito distante da posse de tesouros que embelezam a vida, mas não preenchem os vazios existenciais, a felicidade apresenta-se como realização interior e esforço pelo seu prosseguir.
Na amizade sincera e não nas paixões sexuais, encontram-se razões básicas para as experiências felizes, motivadoras de novas e amplas conquistas.
Nos relacionamentos fraternais e nas atividades altruísticas apresentam-se os fatores para a existência tranquila, que também não significa falta de preocupação ou de responsabilidade.
Trata-se, realmente, do esforço para agirse sem estresse, sem ansiedade desgastante, sem angústia dissolvente.
As populações que vivem do trabalho, modesto que seja, que se sentem beneficiadas pela justiça social, nas quais existe assistência educacional, médica e fraternal, ensejam mais felicidade aos seus membros, do que naquelas industrializadas, de altos PIB’s e de excelente tecnologia, porquanto aí, as intensas lutas pela sobrevivência, mesmo entre os poderosos, produzem desarmonias interiores e desgastes psicológicos.
Por outro lado, a competição desenfreada para a conquista de mais, aturde os indivíduos, que perdem o direcionamento do ideal, do necessário, do equilibrado, para conseguir além das possibilidades de aplicar e utilizar em próprio benefício.
Não serão, no entanto, como se pensa, os lugares exóticos, silenciosos, distantes de tudo, onde se encontram os fatores propiciatórios à felicidade, mas nos burgos ativos, não competitivos, trabalhadores, não ambiciosos, onde se pode desfrutar de tranquilidade e confiança no futuro.
Nesses lugares, os níveis de vida são mais elevados do que nos centros de grande importância social e tecnológica, em razão da ausência dos fenômenos geradores de problemáticas cardiovasculares, cânceres, distúrbios emocionais decorrentes da insatisfação.
Onde todos trabalham e contentam-se com o quanto ganham, mais facilmente se realizam, mesmo que os frutos do esforço não sejam em forma de grandes estipêndios.
Sabendo como administrar os recursos que amealham através do esforço pessoal, os indivíduos aspiram a menos e alegram-se com menores quantidades de quinquilharias e exibicionismos de poder e de fortuna, que provocam inveja e raiva.
Muitos complexos de inferioridade defluem da mágoa de não se estar nas mesmas condições de outros que são tidos como privilegiados, somente porque se encontram no topo, passeiam na futilidade e parecem não enfrentar nenhuma forma de preocupação, quais se fossem deuses recém-descidos do Olimpo, em visita triunfal entre os seres humanos...
Trata-se de ilusão essa torpe visão da realidade.
Pessoa alguma, na Terra, existe, que esteja isenta dos processos fisiológicos de desgaste, de envelhecimento, de enfermidade e de morte, e portanto, igual a todas as outras.
Por outro lado, os tormentos íntimos nem sempre se refletem na face, na aparência bem maquiada, permanecendo como roedores inclementes até chegarem aos resultados, quase sempre funestos, da sua presença infeliz.
Desse modo, a busca da felicidade deve caracterizar-se pelo conhecimento de si mesmo em relação aos demais indivíduos, pela conscientização das próprias aspirações, pelos objetivos que sejam colocados como fundamentais para a vida.
Não existe, portanto, uma fórmula mágica para a felicidade, nenhuma receita misteriosa ou mapa desconhecido para alcançá-la.
Cada indivíduo, conforme sua constituição emocional, física e psíquica, tem as próprias aspirações, o que estabelece a variedade de expressões a seu respeito, demonstrando que, aquilo que para uns é realização plenificadora, para outros, talvez não tenha qualquer significado relevante.
Alguém pode aspirar à quietude de um burgo onde possa renovar-se após o cansaço e a exaustão do trabalho, caminhando por trilhas ricas de vegetação e céu azul, enquanto que outros são capazes de ambicionar uma residência palaciana suntuosa, com criadagem submissa e tesouros que deslumbrem a vista e estimulem à soberba...
Há o encantamento do artista ante a beleza, do cientista ante a investigação, do religioso na ânsia do êxtase, do pensador na elaboração de ideias grandiosas, como também dos oprimidos sonhando com a liberdade, dos famintos anelando pelo pão, dos enfermos lutando pela conquista da saúde, dos solitários encontrando companhia, dos simples de coração anelando pela dádiva do trabalho e da paz...
Variando, de acordo com os níveis de inteligência e de consciência, a felicidade é peregrina que viaja de uma para outra ambição sempre risonha, aparentemente difícil de ser retida, mas de fácil conquista, quando se ama e não se espera receber a retribuição.
Os psicólogos clínicos têm-se voltado, nos últimos tempos, para o estudo da raiva, da inveja, da insatisfação, procurando entender-lhes os conteúdos perturbadores.
Por outro lado, os neurocientistas vêm-se preocupando, cada vez mais, em detectar, no cérebro, os hormônios desencadeadores da alegria, da felicidade, assim como da mágoa e da depressão.
Lentamente vão surgindo a compreensão e a decodi-ficação dos elementos que respondem pelos sentimentos nos processos bioquímicos da organização cerebral, altamente responsáveis pelos comportamento e pelas emoções.
Façamos uma distinção entre sentimentos, que são as vivências do que é percebido pela emoção de maneira consciente, enquanto que a emoção é o efeito espontâneo do organismo a qualquer ocorrência, produzindo descargas de adrenalina pela corrente circulatória, que se encarrega de pôr brilho nos olhos, colorir a face, sorrir...
A emoção produz o sentimento que passa a ser o júbilo ou o constrangimento, a expectativa ou a frustração...
Desse modo, as emoções funcionam automaticamente, sem consciência direta da ocorrência, enquanto que os sentimentos são percepções conscientes das ocorrências.
Para que se apresente a felicidade, assim como outros sentimentos, torna-se necessário que o cérebro seja convidado a traduzir os sinais que recebe do corpo, logo transformando-os.
Em decorrência, a mente não está localizada apenas no cérebro, mas se expande por todo o organismo.
Nada obstante, por mais se procure encontrar respostas próprias para as emoções e os sentimentos na organização fisiológica, enquanto não se remonte ao espírito como ser independente da matéria, sempre se apresentarão interrogações complexas em torno da personalidade e da estrutura psíquica, emocional e física do ser humano.
Indubitavelmente, os mecanismos neurobiológicos manifestam-se conforme os impulsos que procedem da mente do ser reencarnado, comandante consciente ou não da maquinaria física pela qual o espírito se comunica e se movimenta no proscênio terrestre.
A felicidade, desse modo, é o sentimento agradável que resulta das emoções saudáveis, aquelas que acalmam e enriquecem de júbilo, eliminando as sensações perturbadoras.
Pode-se, desse modo, experimentar a felicidade, mesmo em estados orgânicos deteriorados, em face da compreensão da ocorrência e da sua aceitação, que é uma espécie de entendimento pela razão.
Quando a atitude é consciente e positiva, objetivando o bem-estar, experiênciase o momento de felicidade, que se prolonga enquanto permanece a emoção.
Muitas vezes, o indivíduo desestruturado considera-se infeliz, porque os sentimentos estão confusos, resultado de raivas, de constrangimentos, de insucessos.
Nada obstante, não se trata de infelicidade, mas de situação na qual se apresentam processos negativos e perturbadores, que podem ser revertidos, logo haja calma e compreensão do incidente desagradável que deu lugar ao aborrecimento, assim como ao êxito.
Essas expressões transitórias dos sentimentos, que se apresentam ambivalentes, podem ser modificadas através de atitudes positivas e confiantes nos potenciais íntimos, portadores de resistências morais e de significados dignificantes.
As emoções negativas estimulam mais o hemisfério direito do cérebro que se apresenta ativo, enquanto que as positivas encontram-se no lóbulo frontal esquerdo, produzindo os correspondentes sentimentos de infelicidade e de felicidade, respectivamente.
Graças a esse mecanismo são arquivadas as nossas preferências e satisfações, alegrias, afeições, tanto quanto os nossos desgostos e ansiedades, mal-estares e animosidades, que se transformam em sentimentos de uma ou de outra ordem.
Tudo quanto é agradável e prazenteiro é arquivado no lado esquerdo do cérebro, enquanto as questões perturbadoras e afligentes repousam no lado direito.
Os indivíduos que exercem grande controle sobre as emoções e as ocorrências do quotidiano, desenvolvem mais o hemisfério direito, tornando-se introspectivos, inseguros, insatisfeitos, pessimistas, enquanto que aqueles que estimulam o lado esquerdo, fazem-se portadores de melhor humor, de alegria e de confiança em si mesmos, assim como em relação ao seu próximo com o qual convivem ou se relacionam.
Os primeiros exsudam infelicidade, em face da preservação dos sentimentos negativos, enquanto que os segundos proporcionam mais agradável convivência, inspiram alegria e correspondem facilmente aos convites do bemestar.
Isto ocorre, porque os extrovertidos produzem quantidade maior de linfócitos, que os imunizam contra bactérias e vírus ou os destroem quando existem.
Por esta razão, considera-se o riso saudável como de natureza terapêutica, em face da presença de imunoglobulinas que, na saliva, têm objetivos de contribuir para a digestão, mas também para a defesa do organismo em relação a alguns agentes enfermiços.
O cultivo da felicidade contribui para a longevidade humana, a saúde e as realizações nobilitantes.
A felicidade, desse modo, pode ser adquirida e preservada, não se aguardando que se transforme em uma parasitose, mas em um significativo sentimento de gratidão à vida.
Pode-se aprender a ser feliz como se consegue adquirir experiência e conhecimento em torno de outras atividades humanas.
O atavismo pieguista, no entanto, a falsa necessidade de inspirar compaixão em vez de amor, o predomínio do ego sobre o Selfestabelecem parâmetros para situar a felicidade dentro de limites individualistas e falsos, nos quais se expressam sentimentos desordenados e instáveis, que agradam àquele que assim procede, desde que submetendo os demais ao seu talante.
Não se trata essa postura como de felicidade, mas de inarmonia pessoal.
A felicidade sempre gera sol de alegria onde se instala, mantendo juventude e ampliando as possibilidades de auto-realização com ênfase no progresso moral e espiritual do ser humano.
Deve-se, pois, aprender a ser feliz, selecionando os sentimentos altruístas e positivos daqueles morbosos, pessimistas e negativos.
Trata-se de uma realização interior, que independe de outrem.
Quase sempre se pensa que determinadas companhias e afetos propiciam felicidade, passando-se a depender de outrem.
Quando isso ocorre, porque o outro também aguarda encontrar essa guarida para a sua insegurança, unem-se ou aproximam-se dois infelizes, buscando sustentação um na limitada capacidade do outro.
O que ocorre, quando se está com alguém é prazer, manifestando-se sentimentos de bem-estar e de fraternidade, não devendo, porém, tornar-se razão para que, no fato, se estabeleça a felicidade, porque, ao interromper-se o vínculo, ou modificar-se a situação, isso não deve ser tido como infelicidade.
É muito comum, quando desencarna alguém que é querido ou cuja convivência é frutuosa, interrogar-se: - "E agora! Que será de mim?", sem que se pense no outro, naquele em quem foi depositado o sentimento de felicidade.
Será que a afeição tem por finalidade o bem-estar pessoal, ao invés da satisfação do relacionamento entre ambos?
Felicidade, portanto, independe de outras pessoas, sendo construção própria e intransferível.
A felicidade constitui-se da sabedoria de poder-se administrar as ocorrências do quotidiano, retirando das situações mais difíceis a quota edificante e produtora de harmonia, considerando-as como propostas educativas e aprendizado oportuno para os futuros embates.
Ser feliz é a meta da existência, e lográ-la, é o desafio psicológico aguardando amadurecimento do ser humano.
No momento quando se materializa a felicidade, isto é, quando se a considera como resultado de posses econômicas, de poder social, político, religioso, artístico, científico ou cultural, ela se faz frustrante, em decorrência das oscilações que existem nos relacionamentos humanos e das circunstâncias existenciais que se alteram a cada momento.
O conceito de uma felicidade estática é equívoco do sentimento, porquanto o processo da evolução é inestancável e as variações do amadurecimento psicológico são contínuas, em face das experiências que são armazenadas no trânsito existencial.
Em cada faixa biológica da vida física, em decorrência do desenvolvimento orgânico e intelectual, os conceitos alteram-se, e tudo quanto, em uma fase, é significativo e relevante, portador de grande expressão, logo depois cede lugar a novas aspirações e a conceitos mais profundos.
Assim ocorre também em relação à felicidade, que, de acordo com a faixa etária e as conquistas morais, espirituais do ser humano, passa a adquirir significado diferente.
Quando se é jovem, as metas por alcançar, parecem constituir-se como essenciais à aquisição da felicidade.
Nada obstante, logo que são logradas, perdem a empatia de que se revestiam antes de conseguidas.
Por isso, a felicidade é um sentimento que deve ser trabalhado em padrões de harmonia emocional, de complementação sexual, de realização profissional, de vitória sobre os conflitos, de interiorização espiritual, a fim de saber-se o que realmente tem sentido, em relação àquilo que é de natureza secundária, e momentaneamente desfruta de especial significação.
O místico alcança a felicidade no momento do seu êxtase; os genitores, quando os filhos logram a realização social e profissional; o cientista, quando consegue entender e decifrar o enigma da sua busca; o artista, no instante em que a obra é reconhecida ou tem-na como concluída e perfeita, e assim, sucessivamente...
A felicidade do agricultor apresenta-se quando o mesmo contempla a plantação enriquecida de flores, frutos, sementes, abrindo-se à colheita.
O indivíduo, de acordo com os objetivos que estabelece para a existência, empenhando-se em nunca desistir dos seus sonhos - claro que dos ideais de enobrecimento - consegue permanecer fiel, mesmo quando não compreendido, perseguido ou desprezado, experiência a felicidade durante todo o período em que se demora devotado na luta pela sua realização.
Nem sempre, portanto, a felicidade estará presente apenas no término, quando se logra o objetivo anelado, mas essencialmente durante todo o transcurso da sua realização.
A felicidade é conseguida quando cada qual se torna administrador da própria existência, podendo estabelecer os métodos de conduta saudável e segui-los, edificando-se e realizando outras vidas.
Há fatores sociológicos, econômicos, políticos, que contribuem em favor da aquisição da felicidade individual e coletiva.
Nos pequenos e prósperos burgos onde o estresse não aflige, porque se dispõe de tempo para todas as realizações, inclusive para os divertimentos renovadores, onde as competições cedem lugar à cooperação, diante de regime democrático, no qual todos são convidados a participar da administração e das decisões locais, certamente os fatores propiciatórios à felicidade são muito maiores do que nas urbes desgastantes, onde todos são desconhecidos e inimigos fraternos, indiferentes uns aos outros, ambiciosos e agressivos.
Nos reduzidos núcleos de atividade, há interesse pela vida do próximo, participação nas suas realizações e solidariedade nos seus sofrimentos, enquanto que, nas grandes populações tudo é automático, os encontros são rápidos e superficiais, as amizades quase inexistem, porque parece haver uma necessidade emocional de todos estarem vigilantes em relação pessoal com os demais.
De certo modo, a postura de vigilância é saudável, ante as tragédias do quotidiano, as ocorrências desastrosas, os relacionamentos perturbadores, no entanto, essa cautela não deve ser levada a extremos geradores de inquietação e de estresse.
Quando cada membro da sociedade procura adaptar-se ao sistema, melhorando-o com a sua contribuição e ampliando o círculo de amizade sincera, modificam-se os quadros de ocorrências negativas, favorecendo o bem-estar possível.
Quando a pessoa sente-se desamparada, ignorada, sem possibilidade de encontrar entendimento, logo se apresentam os componentes da inquietação e da revolta íntima, quando não resvala para a depressão.
Torna-se necessário que se expandam o sentimento de solidariedade e o contributo da amizade para que o grupo social seja mais ativo em relação aos seus membros, buscando ampará-los em um tipo de amplexo espiritual que dê ideia e seja realmente de segurança e de proteção.
Quando a solidariedade é cultivada, proporciona ampliação da capacidade de conviver com as diferentes condutas sem prejuízo para a harmonia do grupo.
Compreendendo-se, que cada indivíduo traz conflitos graves, expressos ou disfarçados, à semelhança daqueles que são do seu Self, essa sombra se dilui, cedendo lugar à claridade da alegria de viver e da esperança de ser-se feliz.
A ausência de controle sobre o próprio destino, a incerteza em torno do futuro, a insegurança no comportamento constituem processos geradores de infelicidade, conhecimento da impossibilidade de conseguir-se realizações prazenteiras, objetivos libertadores.
A mente, sempre ela, é convidada ao equilíbrio, à fixação de pensamentos edificantes, reservando-se a irrestrita confiança em Deus, o Pai afável de todas as criaturas...
Uma conduta, portanto, religiosa, destituída de qualquer tipo de fanatismo e de exclusivismo, é fator de segurança para o encontro com a felicidade, mesmo que sob injunções difíceis que se tornam suportadas com resignação dinâmica e coragem para superá-las.
Nunca será demais repetir-se que o espírito elabora o seu destino, sendo o semeador e o colhedor de tudo quanto realize.
No âmago do ser, encontra-se em germe o tesouro que lhe cabe conquistar, impresso nos genes, exteriorizando-se nos neurotransmissores, expressando-se no comportamento psicológico ou na organização fisiológica.
Alterar esse destino a cada momento faz-se possível, cm razão da neurogênese, que ora assevera que os neurônios se renovam, nascem em todas as épocas da existência e cuja função pode ser orientada pela mente.
O hábito salutar da meditação e da oração, de caminhadas e exercícios que liberam toxinas cerebrais e renovam a oxigenação do encéfalo, predispõe às realizações enobrecedoras, mediante o esforço físico bem direcionado, propiciando felicidade.
Uma vida ativa, assinalada pela produção equilibrada de serviços, produz pensamentos favoráveis ao bem-estar, por expressar auto-realização, utilidade existencial.
Herdeiro de conceitos equivocados sobre o destino na Terra, tida, por muito tempo, como vale de lágrimas, lugar de degredo, paraíso perdido, o ser humano criou arquétipos de infelicidade para ser feliz, num comportamento masoquista e doentio, sem nenhum sentido ético.
A Terra é escola de renovação espiritual e de dig-nificação moral, onde todos aprendemos a descobrir os valores adormecidos no íntimo, o Deus em nós, o Arquétipo primordial.
As preocupações desordenadas com a aparência como fator de auto-realização vêm desviando as pessoas da sua realidade, da beleza interior que se reflete no exterior, assim como as exigências descabidas dos padrões de beleza estimulando o surgimento da anorexia e da bulimia de efeitos devastadores na conduta psicológica, respondem por atitudes infelizes que não se justificam racionalmente.
Esses pacientes, sem dúvida, encontram-se dominados por conflitos de inferioridade, procurando realizações externas ante a autodesconsideração em que se firmam, realizando projeções do que gostariam de ser ou de como estar, impondo-se aflições punitivas.
A felicidade, porém, apresenta-se com simplicidade, destituída de atavios e complexidades que somente a enfeitariam sem produzi-la em realidade, qual mecanismo de fuga em relação à sua conquista verdadeira.
Assim, é possível desfrutar-se de felicidade em qualquer situação, desde que não se estabeleça que terá de permanecer duradoura, incessante, sem desafios emocionais e físicos, de trabalho e de renovação interior, tornando-a monótona e tediosa.
Afinal, a vida física é de efêmera duração, sendo uma escolaridade para ser alcançada a plenitude espiritual em definitivo após o trânsito carnal.
O prazer está mais vinculado aos sentidos físicos, embora se expresse também na área emocional, como satisfação, contentamento, em face dos resultados adquiridos nas lutas empreendidas, convertendo-se em gozo, muitas vezes confundindo-se.
A felicidade advém do autoconhecimento, da identificação do Self com o ego que se adapta às imposições superiores, passando a vivenciar as emoções e os sentimentos de beleza, de harmonia e de tranquilidade.
Facilmente experimentam-se prazeres, gozos, boas disposições e mais especificamente felicidade, quando se atingem estados de elevação e de superação das tendências primitivas, das más inclinações.
Normalmente se buscam prazeres de resposta imediata em consumismo, em posturas hedonistas, dando largas à libido e às paixões.
Porque são muito rápidos, quase sempre deixam uma sensação de desencanto ou de ansiedade por novas vivências, o que conduz ao aturdi-mento ou à usança de expedientes de diversa elaboração, gerando dependência e posterior inquietação.
Os prazeres são necessários à existência física, sem os quais a mesma perdería o sentido, caso estivesse assinalada somente pela luta, pelos desafios, pelas insatisfações e tormentos.
Nada obstante, deve-se anelar por satisfações mais significativas e não variáveis, que assinalem profundamente os sentimentos, ensejando o prolongamento dos esforços em favor da evolução.
O prazer ocorre com pequenos resultados, enquanto que a felicidade deve ser trabalhada, conquistada, passo a passo, ao largo do tempo.
Jamais será uma dádiva do destino, uma concessão gratuita da Divindade.
Enquanto o corpo fica em lassidão após determinados prazeres do estômago, do sexo, dos esforços em qualquer área, em que se experimentam prazeres, a felicidade nunca proporciona cansaço, mal-estar ou estresse por novos logros.
A mente fica, então, desperta, o que proporciona prazer quando se observa algo agradável e encantador, ensejando o momento de felicidade que vem depois.
O prazer induz à posse, ao acúmulo, à obstinação pela conquista de coisas, enquanto que a felicidade deflui da superação dos tormentos de possuir, de preservar, de multiplicar.
O prazer dos relacionamentos felizes com as demais pessoas proporciona a felicidade de encontrar-se lúcido e útil ao grupo social, trabalhando em favor da harmonia geral, pela contribuição valiosa da presença e da convivência fraternal.
Pode-se asseverar, nesse caso, que o amor e a amizade são desencadeadores de felicidade, em razão do significado psicológico dessas qualidade morais do espírito em crescimento na escala da evolução.
A identificação daquilo que proporciona prazer e felicidade é muito importante no desenvolvimento da harmonia interior e na busca da realização existencial.
Cada indivíduo, por estagiar em um nível próprio de evolução, experimenta de forma especial o prazer e a felicidade, o que lhe faculta elaborar projetos e desenvolver esforços para alcançar esses estados.
No respeito a si mesmo, ao próximo e a Deus, reside o elemento básico para a harmonia emocional do ser humano, para o seu amadurecimento psicológico, para que se consiga a felicidade, que é de valor inestimável.
Ninguém vive, por outro lado, sem as emoções negativas, em razão dos embates, das heranças ancestrais, dos arquétipos que permanecem no âmago de todos.
Todavia, trabalhar para convertê-las em edificantes, positivas, é dever a que todos estão convidados, de modo a diluí-las como um sol benfazejo desfazendo a névoa que obscurece a paisagem...
Por meio de exercícios mentais e físicos, torna-se possível viver em alegria e bem-estar, desfrutando-se de prazeres e conseguindo-se a felicidade, à medida que se liberta das injunções perversas do estresse, das aspirações ambíguas e dos sentimentos de insatisfação e intolerância.
É indispensável, para tanto, um treinamento de controle dos sentimentos controvertidos, gerador de hábitos agradáveis e apaziguamento interior das ambições destituídas de sentido psicológico superior.
O ser humano está fadado à felicidade, sem dúvida, avançando no rumo da auto-realização mediante prazeres e satisfações que complementam a existência.
(...) "O homem deseja ser feliz e natural é o sentimento que dá origem a esse desejo.
Por isso é que trabalha incessantemente para melhorar a sua posição na Terra, que pesquisa as causas de seus males, para remediá-los.
Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada momento o magoam, a que perturba todas as relações sociais, provoca as dissensões, aniquila a confiança, a que o obriga a se manter constantemente na defensiva contra o seu vizinho, enfim a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a suafelicidade e, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança.
E quanto mais haja sofrido por efeito desse vício, mais sentirá a necessidade de combatê-lo, como se combatem a peste, os animais nocivos e todos os outros fiagelos.
O seu próprio interesse a isso o induzirá. (784). "O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade oéde todas as virtudes.
Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar a suafelicidade neste mundo, tanto quanto no futuro. " Comentários de Allan Kardec à questão 917.
* "O meu reino não é deste mundo". (Jo