Gratidão na família Gratidão na convivência social Gratidão pela vida No incomparável Sermão da Montanha, após o canto sublime das Bem-aventuranças, Jesus enunciou com sabedoria e vigor: Amai aos vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz nascer o seu Sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos. (Mateus
A recomendação tradicional impunha o revide ao mal com equivalente mal, e ainda permanece essa conduta enferma em muitas legislações ensandecidas, impondo punições assinaladas pela crueldade em relação àqueles que são surpreendidos em erro, distanciadas da justiça e da reeducação do criminoso, que são fundamentais.
Certamente, não se espera que o tratamento concedido ao perverso seja negligente em referência aos seus atos ignóbeis; o que não se deve é proceder de maneira equivalente, aplicando-lhe penas que são compatíveis com o seu nível primitivo de evolução, sendo lícito ensejarlhe meios de reparar os danos causados, de recuperar-se perante as suas vítimas e a própria consciência, de reintegrar-se na sociedade...
Essa atitude, a de conceder-lhe oportunidade de agir com equilíbrio, é caracterizada pelo perdão às suas atitudes arbitrárias, sem conivência, porém, com o seu delito, mas também sem cerceamento da graça do amor que retira o criminoso da masmorra sem grades em que se encarcera, conduzindo-o à sociedade que foi ferida e aguarda-lhe a cooperação para ser cicatrizada, superando a sua hediondez.
De certa forma, a proposta de Jesus, no que concerne ao amor em retribuição ao mal, é também a maneira psicológica saudável da gratidão, pelo ensejar a vivência da abnegação e da caridade.
Não implica silenciar o deslize que foi praticado, porém reconhecer que este proporciona o surgir e expandir-se os sentimentos superiores da compaixão e da misericórdia que devem viger nos indivíduos e nos grupos sociais.
A gratidão é a mais sutil psicoterapia para os males que se instalam na sociedade, constituída esta, em grande parte, por Espíritos enfermos.
Quando alguém consegue ofertá-la com espontaneidade e sem alarde, produz um clima psíquico de harmonia que o beneficia e aos demais que o cercam, porque não ressuma o morbo da revolta ou da queixa sistemática...
A gratidão deve transformar-se em hábito natural no comportamento maduro de todos os seres humanos.
Para que seja conseguida, necessita de treinamento, de exercício diário, em razão da sombra vigilante que propele à conduta da distância, da indiferença ou mesmo da ingratidão.
O ingrato, além de imaturo psicológico, é vítima da inveja, da competitividade doentia, do primarismo evolutivo.
A ingratidão viceja nos grupamentos sociais onde predominam o egoísmo e a sordidez.
O grande desafio existencial é o de bem viver-se e não o do pressuposto viver-se bem, entulhado de coisas e ansioso por novas aquisições entre tormentos íntimos e desconfianças afligentes.
Nesse sentido, é muito grata a recomendação de Jesus, conclamando ao amor mesmo em relação aos adversários, porque eles, sim, são os doentes, pois que elegeram as atitudes agressivas e destrutivas, acumulando resíduos de inconformismo e de ira, que terminam produzindo-lhes lamentáveis somatizações.
Quando se consegue não devolver o mal na sua idêntica e morbífica moeda, o Self exulta, e o seu eixo com o ego torna-se menor em distância separativa, proporcionando-lhe a diluição lenta das suas fixações.
Entretanto, quando se consegue amar o adversário, recordá-lo sem ressentimento, compadecer-se da alienação a que se entrega, todo um contingente de arquétipos perturbadores cede lugar a emoções saudáveis, que proporcionam alegria de viver e de lutar, estimulando o crescimento interno e a sua contínua ascensão ideológica.
Não sendo vitalizado pelo rancor, o ódio auto consome-se, não encontrando revide, a ofensa perde o seu significado, e não se retribuindo o equivalente mal que lhe foi direcionado, este desaparece.
Opor-se e resistir ao mal fortalece a energia deletéria que é enviada, porque proporciona ressonância vibratória e, no revide, recebe a potência da resposta.
Não valorizar o mal nem lhe atribuir sentido é a maneira mais eficaz de culminar amando os agressores e os perversos.
Uma observação ligeira da natureza leciona a vigência da gratidão em toda parte.
A tempestade vergasta a terra e despedaça tudo quanto encontra ao alcance, semeando pavor e destruição.
Logo que passa, a vida renova a paisagem, recompõe a flora e a fauna, restitui a beleza, num ato de gratidão à ocorrência agressiva.
O solo sulcado pela enxada bem-acionada agradece ao lavrador que o feriu, reverdecendo, transformado e estuante de vida.
Mesmo a erva má que medra no lugar também agradece, coroando-se de flores na quadra primaveril.
Nem sempre, porém, o ser humano consegue viver a psicologia da gratidão.
Pode iniciar o dia em júbilo e gentileza, à medida, porém, que as horas passam e sucedem-se os incidentes no convívio familiar, no trânsito, no trabalho, passa a agir com impulsos agressivo-defensivos, seguindo a correnteza dos desesperados...
Noutras vezes, antes de dormir encontra-se disposto e grato, exteriorizando alegria de fluente das ocorrências.
Apesar disso, fenômenos oníricos perturbadores, episódios de insônia, distúrbios gástricos tomam-no e, ao despertar, o mau humor assinala-o, tornando o seu dia desagradável e o seu comportamento irreconhecível.
E natural que assim ocorra.
Passado, porém, o fenômeno perturbador, cumpre que se volva às atitudes gratula-tórias anteriores, insistindo-se sem desânimo para automatizá-las, a fim de que permaneçam mesmo nos momentos desafiadores e desconfortáveis.
Há um arraigado hábito no ser humano de recordar-se dos insucessos, dos maus momentos, das contrariedades, das tristezas e das agressões sofridas em detrimento das muitas alegrias e benesses que são deixadas em plano secundário nos painéis da memória.
Esse comportamento produz o ressumar do pessimismo, da queixa, do azedume, da depressão.
Uma reflexão rápida seria suficiente para transformar aqueles acontecimentos enfermiços, ricos de torpes evocações, em motivo de gratidão, pois que, inobstante as ocorrências desagradáveis, a existência modificou-se totalmente, sobreviveu-se a tudo, vieram êxitos, tiveram lugar experiências iluminativas, amizades gentis, sucederam fatos positivos dantes não esperados...
Gratidão, desse modo, por todos os acontecimentos, deve ser sempre a atitude mental e emocional de todos os seres humanos.
A estrada do êxito é pavimentada por equívocos e acertos, tropeços e corrigendas, sendo, no entanto, o mais importante a conquista do patamar almejado que cada qual tem em mente.
Perseverando-se e treinando-se gratidão, o sentido de liberdade e de infinito apossa-se do Self que se torna numinoso, portanto, pleno.
Acreditava-se que, em razão do grande desenvolvimento das ciências aliadas ao contributo tecnológico, o ser humano conseguiria, por fim, a harmonia e o crescimento moral.
Nunca houve tantas conquistas intelectuais e atividades de natureza cultural com ampla gama de recreação como acontece hodiernamente.
O conforto e as facilidades oferecidas pelos instrumentos eletroeletrônicos facilitam a vida de bilhões de seres humanos, embora, lamentavelmente, grande fatia da Humanidade ainda se encontre mergulhada na miséria, ou abaixo da linha da pobreza, conforme se estabeleceu, padecendo escassez de pão, de vestuário, de medicamento, de trabalho, de educação, de dignidade...
Jamais houve tantos divertimentos e técnicas de lazer, assim como facilidades para os relacionamentos, para a fraternidade, para a harmonia entre as pessoas.
No entanto, não é o que ocorre na sociedade terrestre, na qual campeiam a solidão, a ansiedade e o medo em caráter pandêmico.
As enfermidades, resultantes das somatizações dos distúrbios psicológicos, desgastam incontável número de vítimas que se lhes tombam inermes nas malhas constritoras.
É assustador o número dos transtornos de comportamento na área da afetividade, das doenças cardiovasculares, do câncer, apenas para citar algumas doenças mais assustadoras.
Desconfiado, em razão do medo que se lhe instala na emoção, o novo ser humano superconfortado refugia-se na solidão, mantendo comunicação com as demais pessoas por intermédio dos recursos virtuais, evitando o saudável contato corporal enriquecedor.
Os padrões ético-morais, em consequência, alteraram completamente as suas formulações e o vale-tudo assumiu-lhes o lugar, no qual têm prioridade o cinismo, o deboche, o despudor, a astúcia.
A ânsia pela aquisição da fama amesquinha esse indivíduo intelectualizado, mas não moralizado, e inspira-o à assunção de qualquer conduta que o leve ao estrelato, à posição top, conforme os infelizes conceitos estabelecidos por outros líderes não menos atormentados.
A moral, a dignidade, o bem proceder tornaram-se condutas esdrúxulas, ultrapassados pelos expertos das fantasias do erotismo e da insensatez.
É necessário destacar-se no grupo social, ser motivo de admiração e de inveja, planar nas alturas, ser inacessível, estar cercado de admiradores e uma corte de bajuladores que detestam os ídolos que parecem admirar, lamentando não estarem no lugar deles, que os tratam com desdém e enfado...
No início, submetem-se a todas as exigências da futilidade para chamarem a atenção, e quando se tornam conhecidos, ocultam-se atrás de óculos escuros, perucas, fogem pelas portas dos fundos dos hotéis, a fim de se livrarem dos fanáticos que os aplaudem até o momento em que surgem outros mais alucinados e exóticos...
A anorexia e a bulimia instalam-se na juventude ansiosa que se submete aos absurdos programas de emagrecimento para conquistar a beleza física, recorrendo aos anabolizantes, aos implantes, às cirurgias perigosas, numa luta intérmina para alcançar as metas estabelecidas.
Nesse báratro, a família esfacelou-se, a comunhão doméstica transtornou-se, a sombra coletiva passou a dominar o santuário do lar e a desagregação substituiu a união.
Mães emocionalmente enfermas e imaturas disputam com as filhas os namorados, repetindo a tragédia de Electra, e pais saturados de gozo entregam-se ao adultério como forma de destaque no grupo social que os elege como dignos de admiração.
O desrespeito campeia, originando-se nos genitores que consideram a prole uma carga que lhes dificulta a mobilidade nas áreas insensatas do prazer ou como forma narcisista de exibição, aguardando que dêem continuidade aos seus disparates ou expondo-a, desde muito cedo, em caricaturas de adultos nos programas de TV e de rádio, de teatro e de cinema, em lamentáveis processos de transferência frustrante dos próprios fracassos.
O ego destaca-se, perverso, em todos os cometimentos, e a ingratidão assinala a maneira de ser de cada um.
Pensa-se exclusivamente no interesse pessoal, embora a prejuízo dos outros, e a competição desleal esfacela os relacionamentos, que se assinalam, com raríssimas exceções, trabalhados pela hipocrisia e pela animosidade mal disfarçada.
Nesse comenos, a traição, o descaso por aqueles que auxiliaram no começo da jornada, a ingratidão manifestam-se em escala assustadora.
A ingratidão, porém, é doença da alma que necessita de urgente tratamento nas suas nascentes.
O ingrato é alguém que perdeu o endereço da felicidade e, aturdido, deambula por caminhos equivocados.
Ninguém nasce grato, nem consegue a gratidão de um salto.
Aprende-se gratidão mediante a sua prática, que deve ser iniciada na família, essa sociedade em miniatura, na qual a afetividade manifesta-se com naturalidade.
A família não é apenas o grupamento doméstico, mas a reunião de Espíritos reencarnados com programa de evolução espiritual adrede estabelecido.
Perante a condição imposta pelas leis da vida, quase sempre não se possui a família na qual muito se gostaria de estar incluso, aquela constituída por pessoas afáveis e generosas, mas o renascimento dá-se ao lado dos Espíritos que se necessitam uns aos outros para o mister da evolução.
Muitas vezes, alguns núcleos familiares transformam-se em praças de guerra em contínuos combates, nos quais cada um reage contra o outro ou detesta-o, longe do compromisso de reabilitação e de identificação pessoal.
Certamente, é nesse difícil reduto que o Espírito deverá desenvolverse, transformar os maus em bons sentimentos, exercitando a fraternidade e a gratidão.
Conseguir a prática da gratidão em relação aos familiares hostis constitui um desafio à sombra pessoal dominante no clã...
Nem sempre se conseguirá o melhor resultado, no entanto, criado o hábito de compreender o outro, tendo-o na condição de enfermo ou necessitado, transforma-se em método eficaz para o desiderato.
Quando se enfrentam obstáculos mais graves, mais amplas conquistas se assinalam, após vencidos.
No lar, essas dificuldades devem facultar o sentimento de gratidão pela oportunidade de ressarcir débitos anteriormente adquiridos, desenvolver a paciência, exercitar a tolerância e a compaixão, aprimorando o Self.
Do lar, os sentimentos de amizade e de compreensão distendem-se na direção da sociedade, que é a grande família na qual todos deverão utir-se para a construção da felicidade coletiva.
Quando, por acaso, os desafios apresentem-se quase insuportáveis, um poema de alegria deve ser entoado no íntimo daquele que se empenha pelo triunfo, aceitando as circunstâncias, às vezes perversas, alterando-as, uma a uma, para melhor.
Lutas desse porte elevam o ser humano à condição enobrecida de criatura integral, ajudando-a a desenvolver o deus interno, que necessita dos estímulos fortes, tanto interiores quanto externos para romper o casulo do ego e insculpir-se no Self.
Para o sucesso do empreendimento, o amor e a gratidão constituem as forças dinâmicas ao alcance do lutador.
Não existe ninguém que seja impermeável ao amor, a um gesto de bondade, à gratidão sincera.
Uma família gentil e harmônica, e existem incontáveis que o são, já é, em si mesma, um hino de louvor, de gratidão à vida.
Mas aquela que é turbulenta e trabalhosa transforma-se no teste de resistência ao mal e a porta que se abre ao bem, aproveitando os inestimáveis valores oferecidos pela ciência assim como as bênçãos da tecnologia para instaurar na Terra, desde hoje, os pródromos do mundo melhor de amanhã.
Nenhuma sombra individual e coletiva que foi construída ao longo do processo evolutivo sobrevive antes se integra mediante a gratidão no eixo do Self em equilíbrio.
Os resultados inevitáveis dessa conquista logo se manifestam: cura dos desajustes e das doenças, surgimento da saúde integral, da alegria de viver, do bem-estar, conquista do numinoso.
A gratidão no lar anula o individualismo egoico, preservando a individualidade que alcançará a individuação.
O processo antropológico da evolução lentamente retirou o ser humano do individualismo egoico para a parceria sexual por impulso do instinto, a fim de que, depois, em razão dos pródromos da afetividade biológica, tivesse origem o sentimento do grupo familiar envolvendo a prole.
A partir daí surgiram os mecanismos gregários para a construção do grupo social, formando a tribo em convivência harmônica, para que, através dos milênios, o instinto pudesse deixar-se iluminar pela razão, ampliando as afinidades no conjunto que seria a sociedade.
Mesmo nesse período tribal, a animosidade contra os demais grupos assinalava-lhe o primitivismo agressivo-defensivo.
Foi muito lentamente que os interesses comuns uniram aqueles que mantinham as mesmas afinidades, dando lugar às primeiras experiências sociais.
A beligerância, no entanto, que lhe permanecia inata, desencadeava as guerras cruéis, qual sucede até hoje, demonstrando a predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual.
A elaboração da sociedade resultou da necessidade de preservação de cada grupo, dos recursos e valores diversos, em tentativas de auxílios recíprocos, de sustentação dos seus membros, de crescimento econômico e cultural.
O Self em desenvolvimento foi superando a sombra coletiva, enquanto a individual começou a cristalizar-se, gerando a dualidade de comportamento: o eu opositor ao outro eu.
Animal gregário por excelência, a sua sobrevivência no planeta que o alberga depende do valioso contributo social, que o impulsiona ao desenvolvimento intelecto-moral, etapa a etapa através da esteira das reencarnações.
Alcançando o atual nível de cultura, de civilização e de tecnologia, o sentimento de gratidão pelas gerações passadas deve viger, ensejando a compreensão das conquistas do vir a ser.
A busca da sua plenitude propele-o à contínua luta pela superação dos vestígios do comportamento primitivo que ainda lhe remanescem no cerne, impedindo-lhe a au-torrealização.
Os sentimentos, substituindo ou modificando os instintos agressivos, ampliam-lhe os horizontes em torno do sentido e do significado existencial, a fim de que possa crescer no rumo da plenitude.
Adquirindo a consciência individual, a razão indu-lo para a contribuição digna em favor da coletiva, ao tempo que trabalha pela incessante renovação e abandono das paisagens mentais em clichês viciosos que se lhe insculpirão, gerando os hábitos propiciadores à harmonia de conduta e à alegria de viver.
Teimosamente, a sombra mantém-no no egoísmo, encarcera-o nas paixões grosseiras, enquanto o Self se lhe opõe, dando lugar a uma batalha perturbadora que se transforma em conflito.
O despertar para a perfeita vitória sobre tais amarras não deve constituir meta afligente, a fim de que se consiga a pureza espiritual, a conduta irreprochável, a vivência destituída de problemas.
É inevitável, conforme acentuam Kierkegaard, Paul Tillich, Rollo May e outros estudiosos da Psicologia Existencial assim como do socialismo religioso, que estejam presentes na psique e no comportamento do indivíduo a ansiedade, o medo, a culpa, a solidão...
Heranças ancestrais da jornada evolutiva, esses transtornos permanecerão por longo período ainda até a libertação paulatina e a conquista da individuação.
Nesse sentido, merece especial atenção o corpo emocional do indivíduo, que se apresenta enfermo como decorrência da sombra que o leva a negar tudo quanto lhe pode modificar os hábitos para melhor, influenciando-o a permanecer na angústia devastadora ou na ansiedade, mantendo a culpa, consciente ou não, em atitude autopunitiva arbitrária.
Da mesma forma como se reservam espaços para os cuidados com o corpo, torna-se indispensável que se cuide de preservar a serenidade do Self com silêncios interiores que propiciem a reflexão e a meditação, com diálogos salutares com a consciência, numa atitude de prece sem palavras, mantendo a vinculação com as fontes da vida.
Somente por meio desse hábito pessoal será possível superar as conjunturas negativas propiciadas pela sombra, sem entrar em luta renhida, assimilando as suas lições e diluindo aquelas que são perturbadoras para dar lugar ao bem-estar e à resistência para as atividades de auto iluminação e de convivência social nem sempre equilibrada.
Os interesses dos grupos humanos são muito variados, gerando constantes atritos e desgastes na área da emotividade, o que exige autocontrole, disciplina da vontade e espírito de paz, a fim de não entorpecer os valores éticos, os significados morais e objetivos da existência, deixando-se arrastar pelo aluvião de conflitos...
A saúde emocional é propiciadora da harmonia do Self, motivando à compreensão de que o processo de inserção na sociedade gera dificuldades e propõe desafios que melhor fazem o indivíduo crescer na direção da aspiração numinosa.
Mediante esse comportamento alteram-se as condições ambientais do planeta, tendo-se em vista que tudo quanto existe interage uma na outra expressão, formando a unidade.
O leve rociar da brisa num jardim liga-se a uma tormenta no lado oposto da Terra, assim como um pensamento de amor contribui para a sinfonia universal da harmonia cósmica.
As ambições desmedidas que têm conduzido a sociedade à conquista de contínuas tecnologias, sem pensar nos danos ocasionais que também causam à natureza, resultam nos milhares de fragmentos de satélites e de foguetes que se desintegram; e os que escapam do aniquilamento no contato com a atmosfera, atraídos pela gravidade do planeta, constituem na atualidade o terrível lixo espacial decorrente dos grandes engenhos do pensamento desarvorado sem as reflexões indispensáveis...
As providências que atualmente vêm sendo tomadas não têm efeito retroativo em relação ao que se encontra em volta da Terra e não é consumido na sua queda natural na superfície do planeta.
Imaginou-se ingenuamente que tais fragmentos cairiam sempre nos mares e oceanos, assim mesmo poluindo-os, o que não se pôde confirmar, porque têm tombado em organizações urbanas, no campo e em toda parte. .
Diante do quadro de sombra individual e coletiva que domina a sociedade moderna, a gratidão assume um papel relevante, porque iniciando na emoção superior no reduto doméstico, no próprio indivíduo e, por si mesmo, amplia-se na direção dos grupos sociais, considerando sempre tudo quanto a vida tem proporcionado gratuitamente sem nada pedir em volta, exceto que se mantenha o equilíbrio necessário para o prosseguimento do processo de evolução.
Desfrutam-se de mil favores e conquistas enquanto na vilegiatura carnal, sem nenhum sacrifício e sem nenhuma gratulação em torno do seu significado e das respostas oferecidas.
A gratidão social é a resposta do coração feliz pelas excelentes oportunidades de que frui durante toda a existência terrena.
Através dessa conduta, atenuam-se as competições malsãs entre os indivíduos e os grupos, as intrigas e as malquerenças, os ódios e os ressentimentos morbosos...
Reflexionando-se em torno do grupo social no qual se moureja, a gratidão enriquece o Self que absorve a sombra sem a antagonizar, e a plenitude se instala no ser humano.
A vida é um maravilhoso milagre do Universo.
ínsita em todas as expressões imagináveis, é Lei de Amor funcionando no seu mais profundo significado.
Não importando a designação que se dê à sua fonte geradora, constitui o maior desafio à inteligência, especialmente no que diz respeito à sua finalidade quando alcança o esplendor no ser humano.
Havendo adquirido discernimento e razão, a vida se lhe corporifica nos cem trilhões de células do organismo, em incomparável mecanismo de harmonia e de interdependência, sob o controle da psique, em última análise, do Self original, do qual procedem todas as manifestações físicas.
Conseguindo, nessa fase, a capacidade de logicar, faculta-lhe penetrar nos antes insondáveis mistérios do Cosmo, no macro ou no micro, culminando na ideação, na percepção do abstrato, sobretudo nos sentimentos de amor, de ternura, de compaixão, de esperança e de alegria.
As manifestações primárias lentamente são substituídas pela transcendência, e o Si mesmo participa da elaboração do próprio destino assim como das ocorrências que lhe facultarão a conquista do infinito, nunca lhe permitindo retroceder ou permanecer em postura parasitária, inadequada ao processo da evolução.
A busca da plenitude revela-se-lhe como a máxima aspiração que deve ser tornada realidade.
Nada obstante, a fim de consegui-la, fazemse indispensáveis os instrumentos da vontade consciente e das necessidades prementes, superando as injunções da sombra que segue ao lado da claridade mental.
A plenitude é a glória de ser-se o a que se está predestinado pela injunção da força criativa, independendo das coisas, e sim resultante da essência de que cada qual é único e deverá unir-se à inteligência cósmica, tornando-se realmente consciente da unidade universal.
A plenitude dilui e absorve a sombra, fazendo desaparecer todas as suas marcas ancestrais que dificultavam o processo de auto iluminação.
Ao lado disso, proporciona a cura real das mazelas antigas arquivadas no insondável do ser, no seu corpo perispiritual, encarregado de modelar as formas físicas e todos os equipamentos da sua fisiologia e da sua psicologia.
Recompondo o corpo emocional mediante a superação dos traumas, dos medos, da culpa, da ansiedade possível, traça novos mapas delineadores dos processos de desenvolvimento, expressando-se em harmonia e bem-estar, à medida que são alcançados os patamares elevados onde se encontra a sua destinação.
Dessa maneira, são vencidos os estresses, as desarmonias vibratórias, e facilitada a comunicação equilibrada de todas as células com as suas memórias ativadas, facultando a harmônica homeostase.
Embora desempenhando funções totalmente diversas, essas células, no seu circuito perfeito no organismo, trabalham em conjunto em favor do todo, sem exaltação ou timidez, em razão do controle da mente sobre o corpo.
Há sempre tentativas humanas para a boa vida, o que equivale a dizer o acúmulo de bens e de conforto, exigências do ego, em detrimento da vida boa e serena conforme anela o Self.
A busca, portanto, da transformação para melhor a cada instante é o hino de louvor e de gratidão à vida que se experiência em consonância com a harmonia cósmica.
Nesse cometimento não ocorrem imediatas alterações significativas do ser, mas na maneira como vive, cada qual se mantendo na sua estrutura superior em contínua ascensão espiritual.
Afirma-se que o mundo é o resultado de contrastes, o que não deixa de ser verdade, pelo menos aparentemente.
No entanto, são esses contrastes que promovem o raciocínio, impulsionam para as ações saudáveis, ajudam a desenvolver as faculdades sublimes do Self, pois que fosse ao contrário, tudo em ordem e igual, não haveria motivação nem razão para lutar pelo numinoso, alcançando-se um final degenerativo, sem significado, destituído de objetivo, por desconhecerse o outro lado da ocorrência evolutiva.
A responsável pelos desafios e seus múltiplos aspectos é sempre a natureza, que arranca o indivíduo do estado de entorpecimento para o conduzir ao de lucidez. Em tudo estão presentes as duas faces: o claro e o escuro, o alto e o baixo, o yang e o yin, a tristeza e a alegria, o bem e o mal...
A oposição das forças no Universo responde pela existência dele mesmo, assim ocorrendo de maneira equivalente no cosmo humano.
A sombra, muitas vezes, disfarça-se e dá a ilusão de que se pode ser essencialmente bom, nobremente generoso, completamente afetuoso, sem máculas nem problema emocional.
Essa façanha escraviza muitas pessoas desatentas, atraindo-as para o fanatismo religioso, racial, desportivo ou de qualquer outra natureza, gerando graves distúrbios de conduta e recalques de sentimentos.
E normal e saudável deixar-se vivenciar por uma raiva momentânea, por uma tristeza justificada, por uma reação ante a agressividade, não se permitindo, no entanto, transformar esses fenômenos emocionais em estado generalizado de comportamento.
Esses transtornos procedem da obscuridade ainda existente no ser que se vai libertando das injunções penosas para fruir o bem-estar, não importando a situação em que se encontre.
A sombra, dessa forma, não constitui um adversário perverso, mas um auxiliar no processo da autorrealização anelada, pois que a vitória sobre as circunstâncias, às vezes denominadas aziagas, faz-se responsável pelo equilíbrio emocional.
Muito se teme cair em erro, quando se trata de pessoa que aprendeu a discernir a verdade da impostura, a realidade da fantasia, a conquista em relação à perda...
Não houvesse essa dicotomia, essa possibilidade, e o sentido existencial perderia o seu significado, porque tudo estaria pronto, terminado, levando ao tédio, ao desinteresse pela vida.
É indispensável que o lado favorável de todas as ocorrências esteja à frente, após a sombra, em convite fascinante que será atendido no momento oportuno.
Quem não tropeça jamais avança, porque todo caminho apresenta dificuldade e somente isso acontece a quem se encontra de pé, prosseguindo adiante.
Nesse sentido, torna-se indispensável procurar a harmonia entre o que se é e o que se aspira a ser, evitando que a raiz dos acontecimentos se encontre demasiado profunda, distante da sua capacidade de arrancá-la quando necessário.
O organismo sabe que necessita estar vivo e, para tanto, os órgãos funcionam dentro dos vários segmentos que se interligam, demonstrando o que se deve fazer em relação ao existir e ao Universo, ao ter e ao ser...
Desse modo, a consciência experimenta um contínuo despertar, um natural estado de lucidez que capacita o indivíduo ao contínuo labor, ao enfrentamento das dificuldades, porque sabe da fatalidade evolutiva a que está vinculada.
Essa é a tarefa soberana do Self, que se expressa em gratidão.
Buscar, portanto, a transcendência constitui o móvel básico do despertar para a realidade e para a superação da sombra.
A sombra dificilmente será derrotada, como se estivesse num campo de batalha com o Self, mas conquistada por ele, formando um conjunto de apoio à individuação.
Embora se tenha conhecimento dessa necessária atitude de compaixão em relação à sombra, uma certa indiferença assalta muitos lutadores que temem o empreendimento por lhes parecer impossível conseguir o êxito.
Por outro lado, são acometidos por uma certa melancolia, em razão do hábito de viver o paradoxo do bem e do mal-estar, ao qual se está acostumado.
A dor, de certo modo, logra induzir o ser humano a essa atitude, com o objetivo de libertá-lo da sua pungente aflição, influenciando-o a lutar com destemor, sem pressa nem receio de perda.
Nunca se perde a batalha pela plenitude, porque toda conquista representa um tesouro que se acumula a tudo quanto já se possui emocionalmente.
Quando alguém percebe que necessita conscientizar a sombra em gratidão à vida, logo se esboroam os planos perversos de manutenção da ignorância de Si mesmo.
Nesse cometimento, muitas vezes equivoca-se o pretendente à vitória, experimentando momentaneamente a predominância do oposto, ao tempo em que, conseguida a primeira etapa, as demais se lhe tornam mais fáceis e edificantes, pelo imenso prazer que experimenta em cada conquista.
Todo indivíduo normal possui alguns conflitos básicos, como segurança e insegurança, amor e ódio, medo e coragem, aceitação e rejeição, alegria e tristeza.
Quando é vencido um deles, logo surgem as perspectivas para a conquista do outro em contínuo esforço de auto aprimoramento.
Vivendo-se num caldo de cultura de violência, de sexo desajustado, de drogadição, de transtornos psicológicos de alta gravidade, as incertezas a respeito de tudo se fazem naturais, constituindo a trilha que deverá ser vencida para a integração no conjunto daqueles que adquiriram a plenitude.
Assim sendo, a gratidão pela vida em todas as formas como se apresenta, em cada indivíduo, é o sublime desiderato a alcançar, pleno e feliz por viver.
A tempestade vergasta a terra e despedaça tudo quanto encontra ao alcance, semeando pavor e destruição.
Logo que passa, a vida renova a paisagem, recompõe a flora e a fauna, restitui a beleza, num ato de gratidão a ocorrência agressiva.