mensageiro com recado de Marta e Maria, de Betânia.
Dizia simplesmente: Senhor, aquele que amas está doente.
—Essa doença não é para a morte, mas para glória de Deus, a fim de que, por ela, seja glorificado o Filho de Deus.
—Voltemos à Judeia!
Os discípulos estavam apreensivos.
Da última vez em que lá estiveram houvera ameaças de morte.
—Mestre, há pouco os judeus procuravam apedrejar-te, e voltas para lá?
—Não são doze as horas do dia? Se alguém caminha durante o dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo.
Mas se alguém caminha à noite, tropeça, porque não há luz.
Explicava, por metáfora, que ainda não era tempo de morrer.
O dia estava claro.
Não chegara a noite do sacrifício.
—Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou para despertá-lo.
Os discípulos ficaram aliviados.
—Senhor, se ele dorme, se salvará!
—Lázaro morreu.
Por vossa causa, alegro-me de não ter estado lá, para que creiais.
Mas vamos a ele.
Não obstante o Mestre ter assegurado que nada lhe aconteceria, os discípulos sentiam maus agouros.
Tomé, chamado Dídimo, comentou com os companheiros: Afirmativa temerária, considerada a fragilidade do grupo.
Na hora decisiva do testemunho, ocorrería lamentável debandada.
Chegando em Betânia, souberam que Lázaro fora sepultado.
A família estava no período de luto, que durava sete dias, segundo as tradições.
Como a cidade ficava perto de Jerusalém, praticamente um subúrbio, amigos de lá vieram para as condolências.
Informada de que Jesus estava chegando, Marta foi ao seu encontro.
—Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido...
Jesus a consolou, afirmando que os que nele acreditavam nunca veriam a morte.
Pouco depois, veio Maria.
Jesus comoveu-se com o sofrimento das irmãs.
Perguntou onde estava Lázaro.
—Vejam como ele o amava!
Lamentavam que Jesus não houvesse chegado a tempo para evitar sua morte.
—Senhor, já cheira mal.
Está sepultado há quatro dias.
Jesus a tranquilizou, dizendo-lhe que acreditasse, porquanto veria a glória de Deus.
A pedra foi afastada.
—Pai, graças te dou, porque me ouviste.
Eu sabia que sempre me ouves, mas digo isso por causa da multidão ao meu redor, para que creiam que tu me enviaste.
—Lázaro, vem para fora!
Em breves momentos surgia o redivivo, à luz do dia, mãos e pés enfaixados, com o rosto envolto num lenço.
—Desatai-o e deixai-o andar.
Podemos imaginar o impacto junto aos presentes.
Um homem a voltar da sepultura!
Anteriormente, o Mestre operara prodígios da mesma natureza, com o filho de uma viúva, em Naim, e a filha de Jairo, um doutor da Lei.
Mas a morte acabara de ocorrer. Talvez nem mesmo estivessem mortos.
Enganos aconteciam na verificação do óbito.
Ali era diferente.
Jesus trouxera Lázaro para a vida, quatro dias após o sepultamento!
Foi seu maior feito aos olhos do povo, mas também a gota d’àgua, a precipitar acontecimentos que culminariam com sua morte.
O episódio transpirou em Jerusalém.
Os senhores do Sinédrio reuniram-se para discutir o assunto.
—Que faremos? Esse homem realiza muitos sinais.
Se o deixarmos assim, todos crerão nele e virão os romanos e destruirão nosso lugar santo e nossa nação!
Não se tratava do mero temor de represálias.
Era a reação da cúpula judaica, que se sentia ameaçada por aquele taumaturgo atrevido.
—Vós de nada entendeis.
Não compreendeis então que é melhor para vós morrer um só homem pelo povo, e não pereça toda a nação?
A partir dali teve início a conspiração para eliminar o profeta galileu.
A questão central em relação ao episódio diz respeito, obviamente, à ressurreição de Lázaro.
Significativo Jesus tenha afirmado que sua doença não era para a morte e, depois, que ele dormia.
Quando os discípulos se tranquilizaram, considerando que se estava dormindo, logo ficaria bem, proclamou que estava morto.
Parece incoerente, mas não é.
Lázaro estava em transe letárgico, quando as funções orgânicas ficam extremamente reduzidas, a ponto da pessoa parecer morta.
Quem o visse naquela situação imaginaria contemplar um cadáver.
Para os homens, morto.
Para Jesus, dormindo.
• Doença grave.
O paciente entra em estado de coma.
O organismo desacelera ao máximo o funcionamento, concentrando todas as energias para debelar o mal que está provocando a morte, numa resistência desesperada e final.
• Indução medicamentosa.
Há substâncias que provocam o coma artificial.
Na célebre história de Shakespeare, a jovem Julieta tomou uma poção especial que a deixou com a aparência de morta, para que pudesse fugir com seu amado.
O ardil acabou resultando numa tragédia. Desolado, supondo-a morta, Romeu cometeu suicídio.
Quando ela despertou, vendo-o morto, matou-se também.
• Hipnose Indivíduos sensíveis podem ser induzidos ao transe letárgico.
Hipnotizadores inescrupulosos costumam fazer deles instrumentos para pantomimas teatrais que fazem sucesso.
• Transe mediúnico.
Em determinados desdobramentos, particularmente na chamada bilocação, quando o Espírito afasta-se do corpo e se materializa alhures, há enorme dispêndio das energias do médium, com o auxílio de mentores espirituais.
Para tanto, ele entra em estado letárgico.
• Auto-indução.
Há faquires indianos que se fazem sepultar vivos.
Entram em estado letárgico por sua própria iniciativa.
Com o organismo funcionando em ritmo lento, o consumo de oxigênio é mínimo.
Daí conseguirem sobreviver por horas e até dias. É algo semelhante aos animais que hibernam, como o urso polar, que fica meses dormindo, em sono profundo, autêntica letargia.
Há pessoas apavoradas com a ideia de serem enterradas vivas.
—Velem meu corpo até que comece a cheirar mal!
É um bom sinal, sem dúvida, mas pode complicar.
Se o óbito ocorre em inverno rigoroso, repentinamente, demandará alguns dias para entrar em decomposição.
Não é necessário impor tal constrangimento aos familiares.
E chamar o médico que assiste o paciente.
Ele terá condições, examinando o cadáver, para informar se o defunto realmente "defuntou".
O temor de ser enterrado vivo pode ser decorrente de desagradável experiência: termos permanecido presos ao cadáver, após o sepultamento, em existência anterior, em virtude de comprometimento com vícios e paixões.
E fácil superar esse condicionamento.
Basta que vivamos virtuosamente, cumprindo os nossos deveres.
Segundo a expressão de Jesus, é preciso caminhar - buscar o auto-aprimoramento, a reforma íntima, o esforço do Bem, enquanto é dia, enquanto é tempo de viver.
Assim, quando chegar a noite, o tempo de morrer, partiremos tranquilos, consciência em paz, amparados por amigos e familiares que nos acolherão na vida espiritual.