Setenta Vezes Sete

CAPÍTULO 11

SEMANA DECISIVA



Mateus 21:1-11 Marcos 11:1-11 Lucas 19:28-44 João 12:12-
A suposta ressurreição de Lázaro agitava o povo, convencendo a multidão de que|

Jesus era o Messias.

Ele se isolou por algum tempo, provavelmente algumas semanas, em Efraim, pequena localidade, a vinte e cinco quilômetros de Jerusalém.

Retornou na Páscoa.

Aproveitaria o fluxo de peregrinos que compareciam às festividades, para transmitir seus ensinamentos.

Passou por Betânia, onde esteve com amigos e discípulos.

Depois seguiu para a Cidade Santa.


Em Betfagé, lugarejo junto ao Monte das Oliveiras, recomendou a dois discípulos:

—Ide à aldeia que está à vossa frente.

Entrando nela, encontrareis um jumentinho, sobre o qual ninguém montou ainda. Soltai-o e trazei-o a mim. E se alguém vos perguntar: "Por que fazeis isso?", respondereis: "O Senhor precisa dele, mas logo o devolverá Assim foi feito.

Encontrado o animal, deram o recado aos proprietários, que aquiesceram.

Provavelmente já conheciam Jesus e fossem simpatizantes.

Jesus montou o jumentinho e seguiram viagem.

Talvez os próprios discípulos não tenham, em princípio, entendido o significado daquele gesto.

Segundo os costumes judeus, qualquer animal a ser utilizado numa cerimônia solene, de caráter religioso, deveria ser chucro, nunca montado.

Jesus dava aspecto solene à sua entrada na cidade santa, mas de forma muito especial.

Chegava, não como um conquistador, um guerreiro armado, montado num cavalo, mas numa missão de paz, sobre humilde jumento, sem outras armas além do Amor e da Sabedoria.


* * *

Era a derradeira jornada.

Em uma semana, alguns dos acontecimentos mais marcantes do Evangelho se sucederíam.

Culminariam com a crucificação, na sexta-feira, e gloriosa ressurreição no domingo.

Muita gente se aproximava, mesmo porque era grande o fluxo de peregrinos que chegavam para as celebrações.

Ramos eram jogados nas vias de acesso, formando um tapete verde, conforme os costumes da época, para recepção de pessoas ilustres.


E o povo, entusiasmado, acompanhava as proclamações:

—Hosana ao filho de Davi!

—Bendito o que vem em nome do Senhor!

—Hosana no mais alto dos céus!

—Bendito o Reino que vem, do nosso Pai Davi!

—Hosana no mais alto dos céus!

Havia uma empolgação.

Para muitos, a salvação de Israel estava chegando com aquele homem montado num burrico.


Os fariseus, sempre temerosos de represálias romanas, e nada satisfeitos com aquela mobilização popular, reclamaram:

—Mestre, modera teus discípulos.


Jesus respondeu:

—Eu vos asseguro que se eles se calarem, as pedras gritarão.

Não havia como conter o entusiasmo da multidão.


Indignados, esbravejavam os fariseus:

—Nada se consegue.

Todos vão atrás dele.


* * *

Jesus comoveu-se na contemplação de Jerusalém.


Confirmando o que lhe estava reservado, conforme revelara anteriormente, proclamou:

—Ah! Se neste dia também tu conhecesses o que leva à paz! Agora, porém, isso está oculto aos teus olhos.

Pois dias virão sobre ti em que os teus inimigos te cercarão com trincheiras, te rodearão e te apertarão por todos os lados.

E deitarão por terra a ti e a teus fdhos que estão dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo em que foste visitada.

Lamentavelmente, aqueles vaticínios se confirmaram.

Recusando sua mensagem de mansuétude e paz, o judaísmo dominante acirraria cada vez mais o confronto com Roma, uma causa perdida, diante dos exércitos da invencível senhora do Mundo.

Conforme as previsões de Jesus, Jerusalém seria arrasada quarenta anos depois, pelo general romano Tito, que mais tarde seria imperador.

Não deixaria pedra sobre pedra, destruindo, inclusive, o templo, que nunca mais seria reconstruído.

Os judeus seriam dispersos pelo mundo, desaparecería o Estado judeu que somente seria reinstalado em 1948, quando a ONU criou o Estado de Israel.

Infelizmente, os judeus de hoje conservam o mesmo espírito belicoso de seus ancestrais, em intermináveis disputas com os países vizinhos.

Muitas lágrimas teriam sido evitadas naquela região conturbada, se a mensagem pacificadora do Cristianismo fosse assimilada pelos descendentes de Abraão.


* * *

* *

O cortejo que acompanhava Jesus causava grande agitação na cidade.


Aglomerava-se o povo. Perguntava-se:

—Quem é esse homem?

—E o profeta Jesus, de Nazaré, na Galileia.

O Mestre passou pelo Templo, sempre acompanhado pela multidão.

Maravilhou a todos com seus prodígios, curando enfermos, consolando aflitos, e causando paroxismos de fúria no pessoal do templo.

À noite, retirou-se para Betânia com os discípulos, onde pernoitou.


* * *

Quando analisamos os acontecimentos que se precipitaram, vem a indagação: Se Jesus tinha plena consciência de que estavam tramando sua morte, por que retornou a Jerusalém?

Não seria mais proveitoso que partisse para sua amada Galileia, onde poderia continuar, com segurança e tranquilidade, o abençoado apostolado?

Realmente, o Mestre poderia ter vida longa, longe das maquinações dos senhores do templo.

Mas, se assim fizesse, seu trabalho ficaria incompleto.

O que deu vitalidade ao Cristianismo, e possibilitou ao movimento cristão sobrepor-se às perseguições, foi exatamente o empenho de Jesus em vivenciar seus ensinamentos, dispondo-se, para tanto, ao sacrifício da própria vida.

Sem esse testemunho final, ele teria sido apenas mais um profeta judeu.