Após a entrada triunfal em Jerusalém, Jesus pernoitou em Betânia.
retornou, em companhia dos discípulos.
—Nunca mais nasça de ti algum fruto!
A noite, o grupo permaneceu no Monte das Oliveiras, entre Jerusalém e Betânia.
Pela manhã, passando novamente pela figueira, os discípulos tiveram uma surpresa: secara até a raiz!
—Como aconteceu tão depressa?
—Veja, Mestre, secou a figueira que condenaste!
—Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até se a este monte disserdes: ergue-te e precipita-te no mar, assim será feito. Por isso vos afirmo: tudo quanto pedirdes, orando com fé, crede que o recebereis.
Surpreendente o castigo imposto à árvore.
"7bMateus
Reportava-se ao mal extirpado do coração humano pelo sofrimento.
Imagem forte, mas compatível com a lógica.
Estamos sujeitos a um mecanismo de causa e efeito que faz retornar para nós o bem ou o mal que praticamos, a fim de aprendermos o que devemos e o que não devemos fazer.
Aqui é diferente.
Jesus, que sempre abençoava, tem um comportamento inusitado.
E se dirige a quem?
Ao criminoso, ao assassino, ao homem mau?
Nada disso!
Condena humilde e inocente vegetal!
Chocante, incompatível com sua grandeza, principalmente por um detalhe, conforme informa o evangelista Marcos: não era tempo de figos.
Bem, podemos considerar que estamos diante de uma interpolação.
Esta passagem não teria acontecido.
Foi enfiada nos Evangelhos, em determinada época, como censura à nação judaica, dizimada pelos romanos nos anos setenta, por não produzir frutos de adesão ao Cristianismo.
Algo semelhante ocorrería no plano individual.
Quem não se convertesse corria o risco de ver secar a própria alma, que de nada mais serviría senão para arder no inferno.
Também podemos admitir que estamos diante de um simbolismo, revestido de ação dramática e chocante para melhor fixação, recurso usado, frequentemente, por Jesus.
Os discípulos jamais esqueceríam a figueira que secou, a representar as intenções e vocações não realizadas, estéreis por inércia das pessoas.
Há espíritas com grande potencial de trabalho que nunca se decidem a "arregaçar as mangas".
Poderíam produzir frutos abençoados nas lides do Bem, mas se demoram na indiferença.
Situam-se como figueiras estéreis.
Alguém dirá que não chegou a hora.
Não é bem assim.
Em qualquer realização, particularmente de caráter espiritual, não há hora predeterminada.
Nós fazemos a hora, que se vincula ao exercício da vontade.
Não somos vegetais, que aguardam estação apropriada para produzir.
Seres pensantes, a consciência do dever, que nos induz a superar o comportamento egoístico, é muito mais um exercício da vontade do que uma imposição do tempo.
Espíritos há que se demoram, séculos acomodados às suas fraquezas e viciações.
Quase a totalidade da população brasileira é ligada ao Cristianismo, sejamos católicos, espíritas, evangélicos...
No entanto, estamos longe de constituir uma sociedade cristã, capaz de erradicar a fome, a miséria, a injustiça social, males que afligem tanta gente.
Por quê?
É que as pessoas não se decidem a vivenciar em plenitude os ensinamentos de Jesus, nos domínios da solidariedade.
O Espiritismo nos adverte que é preciso fazer a nossa hora - hora de trabalhar, de servir, de renovar, de ajudar, de participar...
—Estou fazendo acontecer a construção de um mundo melhor, com o meu empenho, a minha dedicação, o meu esforço em favor do próximo?
Muito poderemos realizar, até transportar montanhas, se tivermos fé, como ensina Jesus.
Há contestadores, a proclamar que oram muito e pouco conseguem.
Equivocam-se.
Esperam que Deus ouça seus desejos.
Ignoram o principal, na oração: Ouvir o que Deus deseja de nós.
Enquanto nossas preces exprimirem meros apelos em favor do próprio bem-estar, experimentaremos frustrações, mesmo porque, geralmente, o que pedimos está em desacordo com o que necessitamos.
Há o doente que anseia pela cura; o homem que luta com acerbas dificuldades; o deficiente físico que busca o corpo perfeito; a mãe que deseja livrar o filho da morte...
Não obstante, enfrentam situações compatíveis com suas necessidades, em contingências, não raro, inamovíveis.
Se orarem com a mera intenção de modificar o quadro de suas provações, deixarão o santuário da oração tão infelizes quanto entraram.
Mesmo quando lidamos com situações superáveis, não podemos esperar que o Céu tudo providencie.
Deus nos inspira nos caminhos a seguir, mas não pretendamos que nos carregue no colo.
Consideremos a afirmativa de Jesus sobre o poder da fé.
—Senhor, tenho fé em ti.
Guardo a certeza de que com o teu poder, esta montanha será transportada daqui para acolá!
Espero um minuto, uma hora, um ano, uma vida...
O colosso não vai mover-se um só milímetro!
Mas, se confiante na ajuda de Deus, tomo o carrinho, a pá e a picareta, e me disponho a desmontá-la, poderá demorar algum tempo e exigir muito trabalho, mas conseguirei o meu propósito.
Deus nos dá a inspiração, a força, o equilíbrio, mas o trabalho de remover obstáculos e dificuldades, a fim de realizar nossos sonhos, é inteiramente nosso.
Recordo ilustrativo episódio de um padre francês, cuja igreja estava situada no coração de uma região outrora residencial, agora industrializada.
Muitas fábricas, nenhum morador, culto às moscas.
Era preciso transferir a igreja.
Como fazer?
Dizer ao templo: transporta-te daqui para acolá?
Pois foi exatamente o que ele fez, não por exercício de magia, mas com a fé indômita de quem confia em Deus e faz a sua parte.
Conseguiu um terreno da Prefeitura e começou a desmontar a igreja, telha a telha, tijolo a tijolo, trabalho perseverante, metódico, envolvente...
Começo difícil.
Apenas ele e alguns paroquianos.
Mas a fé é um fenômeno envolvente.
Dezenas de voluntários foram atraídos por aquele padre indômito que encasquetara levar sua igreja para novo endereço.
Rapidamente, a antiga construção foi desmontada, transportada e reconstruída no local escolhido.
Admirável realização de um homem consciente de que tudo é possível quando nos dispomos a fazer o melhor, confiantes em Deus e em nós mesmos.
As vezes, artistas dotados de sensibilidade conseguem exprimir, em momentos de inspiração, a ideia mágica de que tudo depende de nós.
E disso que nos fala Ivan Lins, em famosa canção: Depende de nós...
Quem já foi ou ainda é criança, Quem acredita ou tem esperança, Quem faz tudo por um mundo melhor...
Depende de nós, Que o circo esteja armado, Que o palhaço seja engraçado, Que o riso esteja no ar, Sem que a gente precise sonhar.
Que os ventos cantem os galhos, Que as flores bebam orvalho, Que o sol descortine mais as manhãs.
Depende de nós, Se este mundo ainda tem jeito, Apesar do que o homem tem feito, Se a vida sobreviverá.
Depende de nós...
Quem já foi ou ainda é criança, Quem acredita ou tem esperança, Quem faz tudo por um mundo melhor...
Depende de nós, leitor amigo!
A propósito, permita-me uma pergunta impertinente: O que você está fazendo por um mundo melhor?