É fácil chorar a dor com quem chora, oferecendo a pérola líquida que expressa cooperação e sentimento.
Junto à dor a alma experimenta o anseio de atender, contribuindo com o tesouro abençoado da solidariedade.
Ao doente se distende o vidro portador de medicamento, e ao esfaimado, raros somente negam a dádiva do pão.
Ante a dor, mesmo o coração empedernido chora e alonga as mãos procurando socorrer.
É natural descer para ajudar, quando se está em cima.
Há, entretanto, uma caridade diferente e esquecida, atrás de cujas portas fechadas, poderás atender a almas perdidas em cruéis despenhadeiros, emaranhadas em cardos pontiagudos.
Poderemos considerá-la como sendo o júbilo que decorre da participação da felicidade alheia.
Estar em baixo, na escassez, e abençoar a fartura de quem está no alto.
Experimentar gáudio e contentamento com o sucesso dos amigos, sem nada pedir, sem nada desejar.
No silêncio da aflição e da angústia, participar da felicidade que sorri no coração do vizinho e do amigo.
Não poucas vezes, no entanto, deixamos que o despeito e a inveja destilem o veneno da revolta no campo da nossa alma.
Se a vitória está com um velho amigo, afastamo-nos dele, justificando: "Está diferente!" Se ele nos busca, tentando ajudar-nos, reagimos com falsa humildade: "Tudo está bem!" Todavia, de escantilhão murmuramos, ferimos, azorragamos, caluniamos...
No recesso do ser, a invigilância arma ciladas para a cólera contida, e se o coração em mira tomba, por fatores de outra ordem, exclamamos: "Quem não esperava? Todo orgulho sempre recebe castigo"... e, no ádito, permitimos o sorriso mentiroso da felicidade, procurando socorrer, não para ajudar, mas para situarnos na posição de quem está superior, oferecendo auxílio...
Espírita, meu irmão, sabes que há muita lágrima molhando finos lenços de cambraia de linho e muitas feridas ocultas em pesados tecidos de brocado ou renda, que nem todos identificam.
Serpe impiedosa é a cobiça. Não a alimentes, para que ela não te envenene.
Ajuda, também, aquele que aparenta ser feliz, orando por ele.
Foge à inveja, como quem se furta ao contágio de enfermidade cruel.
Distancia-te da maledicência.
Afoga, na oração, a vida perniciosa do despeito.
Humilde alfinetada pode ser portadora de terrível infecção, tanto quanto singela gota de veneno pode ser mensageira da morte.
Usa a palavra gentil, como a flor se deixa identificar pelo aroma que espalha.
Quando tudo estiver difícil e escuro em teu coração ou em redor dos teus passos, recorda que a noite de tormenta, além das nuvens pesadas, está recamada de milhões de fulgurantes astros e que o cardo amaldiçoado, em silencioso abandono, também se arrebenta em floração noturna que balsamiza o ar transparente e voejante.
Recorda o Carpinteiro Galileu que, atendendo a Simão, o rico cobrador de impostos, lhe abençoou a fortuna, fazendo inesquecível repasto no seu suntuoso palacete, embora no auge do ágape, pobre mulher endemoninhada, procurando-lhe o socorro, tenha recebido a seiva da vida eterna, como doce alento para nós todos, no conceito de que "por muito amar, todos os seus pecados eram perdoados". E demora-te feliz, onde estejas, com as altas provações que o dinheiro e o poder ou as demais concessõesempréstimos divinos poderiam solucionar se os tivesses, e vês chegarem em fartas messes para os outros corações.