Messe de Amor

CAPÍTULO 11

INVEJA



É fácil chorar a dor com quem chora, oferecendo a pérola líquida que expressa cooperação e sentimento.

Junto à dor a alma experimenta o anseio de atender, contribuindo com o tesouro abençoado da solidariedade.

Ao doente se distende o vidro portador de medicamento, e ao esfaimado, raros somente negam a dádiva do pão.

Ante a dor, mesmo o coração empedernido chora e alonga as mãos procurando socorrer.

É natural descer para ajudar, quando se está em cima.

Há, entretanto, uma caridade diferente e esquecida, atrás de cujas portas fechadas, poderás atender a almas perdidas em cruéis despenhadeiros, emaranhadas em cardos pontiagudos.

Poderemos considerá-la como sendo o júbilo que decorre da participação da felicidade alheia.

Estar em baixo, na escassez, e abençoar a fartura de quem está no alto.

Experimentar gáudio e contentamento com o sucesso dos amigos, sem nada pedir, sem nada desejar.

No silêncio da aflição e da angústia, participar da felicidade que sorri no coração do vizinho e do amigo.

Não poucas vezes, no entanto, deixamos que o despeito e a inveja destilem o veneno da revolta no campo da nossa alma.

Se a vitória está com um velho amigo, afastamo-nos dele, justificando: "Está diferente!" Se ele nos busca, tentando ajudar-nos, reagimos com falsa humildade: "Tudo está bem!" Todavia, de escantilhão murmuramos, ferimos, azorragamos, caluniamos...

No recesso do ser, a invigilância arma ciladas para a cólera contida, e se o coração em mira tomba, por fatores de outra ordem, exclamamos: "Quem não esperava? Todo orgulho sempre recebe castigo"... e, no ádito, permitimos o sorriso mentiroso da felicidade, procurando socorrer, não para ajudar, mas para situarnos na posição de quem está superior, oferecendo auxílio...


* * *

Espírita, meu irmão, sabes que há muita lágrima molhando finos lenços de cambraia de linho e muitas feridas ocultas em pesados tecidos de brocado ou renda, que nem todos identificam.

Serpe impiedosa é a cobiça. Não a alimentes, para que ela não te envenene.

Ajuda, também, aquele que aparenta ser feliz, orando por ele.

Foge à inveja, como quem se furta ao contágio de enfermidade cruel.

Distancia-te da maledicência.

Afoga, na oração, a vida perniciosa do despeito.

Humilde alfinetada pode ser portadora de terrível infecção, tanto quanto singela gota de veneno pode ser mensageira da morte.

Usa a palavra gentil, como a flor se deixa identificar pelo aroma que espalha.

Quando tudo estiver difícil e escuro em teu coração ou em redor dos teus passos, recorda que a noite de tormenta, além das nuvens pesadas, está recamada de milhões de fulgurantes astros e que o cardo amaldiçoado, em silencioso abandono, também se arrebenta em floração noturna que balsamiza o ar transparente e voejante.

Recorda o Carpinteiro Galileu que, atendendo a Simão, o rico cobrador de impostos, lhe abençoou a fortuna, fazendo inesquecível repasto no seu suntuoso palacete, embora no auge do ágape, pobre mulher endemoninhada, procurando-lhe o socorro, tenha recebido a seiva da vida eterna, como doce alento para nós todos, no conceito de que "por muito amar, todos os seus pecados eram perdoados". E demora-te feliz, onde estejas, com as altas provações que o dinheiro e o poder ou as demais concessõesempréstimos divinos poderiam solucionar se os tivesses, e vês chegarem em fartas messes para os outros corações.