O amor é possuidor de coragem imbatível, onde quer que se apresente.
Assevera-se equivocadamente que o amor torna a pessoa fragilizada, dependente, sujeita a ser enganada, em razão da confiança que deposita em outras criaturas que não são dignas sequer de respeito, menos de consideração.
O argumento, destituído de qualquer legitimidade, serve de bengala psicológica para aqueles que sofrem de conflitos e de insegurança, encontrando motivo para evadir-se da prática do sentimento elevado.
O amor fortalece sempre aquele que o cultiva, porque o vitaliza, e quando se direciona a alguém, de maneira nenhuma torna-o submisso a esse afeto.
Dá-lhe, ao inverso, uma visão correta dos valores que exornam o caráter do outro, sem que isso lhe diminua o sentimento que vigora em forma de estímulo e socorro, nunca para usufruir e beneficiar-se.
Certamente há muitas pessoas que não sabem entender o sublime fenômeno do amor, e se utilizam dessa dádiva com que os demais as honram, não correspondendo à confiança, procurando tirar proveito, enganar, explorar...
O amor, porém, não se equivoca quando é verdadeiro e tem as suas raízes fincadas nos objetivos elevados da lídima fraternidade.
É claro que percebe as manhas e deficiências morais daquele a quem se dirige, exatamente por ser nobre e produtivo, nunca se submetendo a quaisquer caprichos.
Se, por acaso, cede, em alguns momentos, talvez seja para demonstrar a qualidade de que se constitui, porém perfeitamente lúcido, conseguindo discernir os aparentes dos verdadeiros valores morais.
O amor é possuidor de coragem imbatível, onde quer que se apresente.
Quando Jesus jornadeava sob o peso da cruz pela via dolorosa, em abandono por quase todos aos quais se doara, estoicas mulheres que O amavam, romperam com o preconceito e desacataram o status perverso que as considerava inferiores, para segui-lO ao Calvário e ali ficarem até o momento extremo.
Impulsionadas por essa energia incoercível, enfrentaram os doestos e as chocarrices dos maus e dos insanos sem qualquer receio, conscientes do dever de acompanhar Aquele que as convidara para o banquete da felicidade, ajudando-as a vencer todas as barreiras que as isolavam do mundo social, submetendo-as aos caprichos e às paixões primitivas dos dominadores das suas existências.
... E tornaram-se símbolo de vitória sobre as injunções penosas que as restringiam.
O amor deu forças a Jesus na Cruz, de forma que suportou todas as crueldades que Lhe foram impostas com sobranceria e misericórdia.
Fê-lo silenciar diante dos falsamente fortes, que pareciam ter poder sobre a Sua vida, permanecendo calado diante da massa ignara que tanto amava, para comunicar-se com o criminoso ao Seu lado, no momento extremo, concedendo-lhe esperança de renovação e de imortalidade em triunfo.
Resistindo à debilidade orgânica sob o exaurir das energias, foi o amor que Lhe facultou prosseguir durante as horas agônicas em irrestrita confiança em Deus.
Não bastassem todos os testemunhos, demonstrando a excelência desse incomparável sentimento, ainda pôde rogar ao Pai que perdoasse a ignorância e a ignomínia daquelas criaturas perdidas em si mesmas, que O matavam.
O amor é portador de expedientes inesperados, abrindo portas que pareciam fechadas e ampliando o seu campo de ação quando tudo são limites e pequenezes.
Foi o amor que levou o Mestre a reconvocar Simão Pedro ao ministério espiritual, arrancando-o do remorso resultante da negação e da culpa, de tal forma que, renovado, mais tarde se deu também em holocausto, tocado pela magia irradiante desse sublime sentimento.
Também foi o amor que inspirou o Rabi a buscar Judas nas regiões penosas do Mundo Espiritual inferior, para facultar-lhe oportunidades de redenção e de progresso através dos tempos, edificando-o para sempre.
Não há conjuntura difícil que o amor não solucione, nem situação penosa que não suavize e acalme.
A pessoa que ama não é ingénua, que possa ser facilmente enganada, nem é sagaz, astuta, para dominar. É lúcida, consciente do significado da vida e dos objetivos que deve perseguir, investindo-se de sentimentos relevantes, para que alcance, patamar a patamar, as Esferas da Imortalidade vitoriosa.
Quando não é autêntico, o amor é irracional, deixando-se amesquinhar e vencer pelos agiotas e chantagistas da emoção perturbada. Facilmente se rebela e se desconcerta, tombando no desânimo e na mágoa, porque as suas não são as estruturas de segurança que facultam a elevação e conduzem ao bem verdadeiro.
O investimento no amor é o de maior segurança e rentabilidade, porque de sabor eterno, sem perigo de perder-se ou ser defraudado sob qualquer aspecto.
Há uma claridade interna que vige no amor, na qual tudo se esclarece e se torna fácil de entendimento.
Como luz, o amor é fonte inexaurível de energia benéfica, facultando saúde e promovendo a paz.
Enquanto existe, não se lhe extingue a luminescência nem lhe escasseia a harmonia.
Quando amas, tornas-te generoso e afável, mas não pródigo em excesso ou dedicado em extremo, caso as circunstâncias não te favoreçam com os meios para expores os sentimentos de afetividade e companheirismo.
Por isso, ninguém pode prejudicar-te ou desmerecer-te a confiança, em razão da claridade interior que te leva ao discernimento dos parâmetros que devem orientar a expansão da tua afabilidade.
Diante do leito do filhinho enfermo, noites a fio, pais abnegados têm forças para resistir a todos os lances dos dramas cruéis, sustentados pelo amor, sem dar-se conta de si mesmos, dos seus limites e das suas possibilidades.
Ama, portanto, a cada criatura, especialmente aquelas que não são dignas de amor, como filhos doentes que estão no seio da Humanidade esperando a tua doação, a fim de crescerem e de se libertarem das imperfeições morais em que se firmam.
Amando sempre, alcançarás o objetivo existencial e terás resistência para todos os embates que a vida sempre reserva.